Introdução. Notas de pesquisa
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- Pietra Palhares Anjos
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1 Notas de pesquisa Sobrevivêcia específica de pacietes com câcer de pulmão tratados o sistema público de saúde o Brasil e uma aplicação da Tábua Associada de Decremeto Úico Carlos Philipe Barbosa Polato * Pamila Siviero ** Carla Jorge Machado *** Gisele Macedo da Silva Bofate **** Eli Iola Gurgel Adrade ***** Fracisco de Assis Acurcio ****** Mariâgela Leal Cherchiglia ******* Itrodução Segudo o Natioal Cacer Istitute (212) dos Estados Uidos, algumas medidas de sobrevivêcia por câcer são importates, etre as quais duas se destacam. A primeira é a sobrevivêcia líquida específica por câcer (et cacer-specific survival), que é uma estatística importate para formulação de políticas públicas destiadas à redução da mortalidade pelo câcer: trata-se da probabilidade de sobreviver ao câcer a ausêcia de outras causas de morte. Essa medida ão é iflueciada por mudaças a mortalidade por outras causas e, portato, forece um idicador útil para rastrear a sobrevivêcia ao logo do tempo e possibilita comparações etre diferetes países. A seguda é a probabilidade bruta de morte (crude probability of death) (medida progóstico do paciete), que correspode à probabilidade de morrer de câcer a preseça de outras causas de morte. Trata-se de uma medida mais idicada para avaliar o impacto do diagóstico de câcer em um ível idividual, uma vez que a mortalidade por outras causas desempeham papel fudametal o padrão de mortalidade de uma população. Ela mesura os padrões de mortalidade eperimetados * Hospital Muicipal Odilo Behres, Belo Horizote-MG, Brasil (philipepolato@hotmail.com). ** Uiversidade Federal de Alfeas, Alfeas-MG, Brasil (pclsiviero@gmail.com). *** Uiversidade Federal de Mias Gerais UFMG, Belo Horizote-MG, Brasil (carlam@ufmg.br). **** Eército Brasileiro EB, Belo Horizote-MG, Brasil (gimacedosilva@hotmail.com). ***** Uiversidade Federal de Mias Gerais UFMG, Belo Horizote-MG, Brasil (iola@medicia.ufmg.br). ****** Uiversidade Federal de Mias Gerais UFMG, Belo Horizote-MG, Brasil (acurcio@ufmg.br). ******* Uiversidade Federal de Mias Gerais UFMG, Belo Horizote-MG, Brasil (cherchml@medicia.ufmg.br). R. bras. Est. Pop., Rio de Jaeiro, v. 3, Sup., p. S193-S198, 213
2 Sobrevivêcia específica de pacietes com câcer de pulmão tratados o sistema público... em uma coorte de pacietes com câcer, a qual outras causas de morte estão atuado simultaeamete. No Brasil, os estudos sobre sobrevivêcia específica por câcer são baseados apeas a seguda medida (chamada aqui de probabilidade bruta). Nesta situação, idivíduos que morrem por outras causas são classificados como cesuras e uma tabela de vida é obtida, ou, aida, uma estimativa com base o estimador de Kapla-Meier (CINTRA et al., 28; MIGOWSKI; SILVA, 21). Há outra forma muito utilizada por demógrafos e atuários, mas aida pouco empregada a saúde pública, que coverge com a ideia de sobrevivêcia líquida específica por câcer, cuo poto de partida é a obteção de uma tabela associada de decremeto úico (BOWERS et al., 1997; BORGES; BELTRÃO, 21). Especifica-se, este trabalho, como produzir estimativas de sobrevivêcia com base a geração de uma tabela associada de decremeto úico, além de se obter a difereça etre estimativas de óbito e de sobrevivêcia acumulada alcaçadas com base as probabilidades brutas (por meio das tábuas de múltiplos decremetos) e líquidas (proveietes da tábua associada de decremeto úico). Para este eercício, foi escolhido o câcer de pulmão, dado que é o segudo câcer mais icidete em homes e o quito em mulheres o Brasil, ecetuado-se o câcer de pele ão melaoma (INCA, 211). Nos Estados Uidos, o câcer de pulmão é a primeira causa de morte por câcer em homes e mulheres (SIEGEL, 212). Assim, este trabalho, realizou-se aálise de sobrevida por câcer de pulmão iferior a um ao e superior a cico aos dos respectivos pacietes. Dados e métodos Os dados referem-se a pacietes submetidos à radioterapia e/ou quimioterapia com ou sem cirurgia associada para tratameto do câcer de pulmão o SUS, etre 1 de aeiro de 22 e 31 de dezembro de 23. As iformações são dispoibilizadas o subsistema Autorização para Procedimetos de Alto Custo/Compleidade Apac do Sistema de Iformações Ambulatoriais SIA/SUS, com seleção dos procedimetos de radioterapia e/ou quimioterapia. A aplicação da técica de pareameto determiístico-probabilístico permitiu a geração de um cadastro úico de pacietes que realizaram tratameto radioterápico e/ou quimioterápico o SUS etre 2 e 26. Para cada paciete foram reuidos todos os dados sobre tratameto ocológico ambulatorial (radioterapia, quimioterapia, combiado) realizado o SUS. Os dados relativos à ocorrêcia de óbitos foram cofirmados por meio de pareameto determiístico-probabilístico etre a Base Oco e o Sistema de Iformações sobre Mortalidade SIM, dispoibilizado para 23 a 28. Para a coorte de idivíduos, obtiveram-se as probabilidades brutas de sobrevivêcia mesais etre dois meses eatos até o tempo eato de 6 meses (cico aos). S194 R. bras. Est. Pop., Rio de Jaeiro, v. 3, Sup., p. S193-S198, 213
3 Sobrevivêcia específica de pacietes com câcer de pulmão tratados o sistema público... Após este período de tempo, optou-se por ão calcular ovas estimativas em decorrêcia de várias saídas da coorte por remissão do paciete com câcer de pulmão (ou sea, saídas diferetes de óbito). O fudameto básico da teoria de múltiplos decremetos cosiste em cosiderar a distribuição de duas variáveis aleatórias relacioadas a um úico idivíduo: o tempo até o térmio de determiado status, T(); e a causa desse térmio, J() (BORGES; BELTRÃO, 21). No caso específico de estudos de sobrevivêcia, T() idica o tempo até a morte, ao passo que J() represeta as m causas que podem levar o idivíduo à morte. Assim, em um ambiete multidecremetal, o qual diversas causas cocorrem para levar o idivíduo ao óbito, tora-se possível defiir a probabilidade de morte por todas as causas ( q ), que pode ser epressa por: q = m = 1 q ode q represeta a probabilidade bruta de morte etre os meses e (+), por determiada causa (), ocorrer em um ambiete multidecremetal, ou sea, a preseça de outras causas de morte atuado de forma simultâea. Supõe-se, aida, que um grupo de l idivíduos está sueito a forças determiísticas e competitivas de decremetos. Nesse setido, é possível defiir o úmero de óbitos esperados a preseça de outras causas de decremeto: d l q = l l ode l = +1 t idica o úmero de sobrevivetes ao mês. Tais idivíduos morrerão em algum mometo futuro por meio de uma das m causas de morte. Assim, defie-se o úmero de óbitos esperados por cada uma das m causas: d = l q = l l+ m em que l represeta o úmero de sobrevivetes ao mês que morrerão pela causa, sedo l = l = 1 Na sequêcia, obteve-se o úmero de óbitos acumulados a partir da mês zero até o mês : d = = d d Foram obtidas, em seguida, a fução acumulada de mortalidade F ( ) = e a fução l acumulada de sobrevivêcia S( ) = 1 F ( ). Na teoria dos múltiplos decremetos, para cada uma das m causas de morte, é possível defiir, aida, um modelo que depeda eclusivamete de uma úica causa de morte. Deomiado de probabilidade codicioal líquida de morte, este modelo idica qual seria a probabilidade de morrer por determiada causa, se apeas essa causa estivesse atuado. Assim, com base as iformações da tabela de múltiplo decremeto, é possível costruir R. bras. Est. Pop., Rio de Jaeiro, v. 3, Sup., p. S193-S198, 213 S195
4 Sobrevivêcia específica de pacietes com câcer de pulmão tratados o sistema público... tábuas de decremeto úico associadas à tábua de múltiplo decremeto (BOWERS et al., 1997). Nesse setido, obteve-se a probabilidade codicioal líquida de morte da tábua associada de decremeto úico por câcer de pulmão. Com a =,5 [ ] q q p q ' = 1 ( ) ode p idica a probabilidade de um idivíduo vivo o mês sobreviver até o mês (+); q refere-se à probabilidade de um idivíduo que estava vivo o mês morrer pela causa t ates do mês (+) e q represeta a probabilidade de um idivíduo sobrevivete o mês morrer ates do mês (+), idepedetemete da causa. As três fuções são obtidas a tábua de múltiplo decremeto. Assim, com o obetivo de calcular a probabilidade codicioal líquida de morte por câcer de pulmão, submeteu-se uma coorte hipotética de l()=1. idivíduos que estariam com câcer de pulmão o mês zero a estas probabilidades mesais. Obteve-se o úmero de óbitos esperados a ausêcia de outras causas. d ' = L m L m' ode L represeta o úmero de pessoas-ao vividos etre os meses e (+) e m correspode à taa de mortalidade etre os meses e (+), sob o pressuposto de força da mortalidade costate a cada mês (BOWERS et al., 1997). Na sequêcia, calculou-se o úmero de óbitos acumulados a partir do mês zero até o mês : d' = d' = Por fim, foram obtidas, as fuções acumuladas de mortalidade e sobrevivêcia. d' l F '( ) = e S' ( ) = 1 F '( ) Resultados O Gráfico 1 apreseta as probabilidades acumuladas de óbito por câcer de pulmão, de idivíduos diagosticados etre 22 e 23, calculadas por meio da tábua de múltiplo decremeto (F()) e da tábua associada de decremeto úico (F ()). A sobrevivêcia iferior a um ao (ou doze meses) foi de 47,6% a preseça de outras causas (S(12)=1 F(12)=47,6%) e de 43,9% a ausêcia de outras causas (S (12)=1 F (12)=43,9%) (7,8% meor). Aos 6 meses, os valores ecotrados foram de 26,% quado o câcer de pulmão cocorria com outras causas para levar o idivíduo à morte (S(6)=1 F(6)=26,%) e 16,2% se a úica causa de morte fosse o câcer de pulmão (S (6)=1 S196 R. bras. Est. Pop., Rio de Jaeiro, v. 3, Sup., p. S193-S198, 213
5 Sobrevivêcia específica de pacietes com câcer de pulmão tratados o sistema público... F (6)=16,2%), o que implica 59,% de redução. Etede-se, etão, o ível de subestimação da sobrevivêcia quado se utiliza apeas a fução de sobrevivêcia dada em preseça de outras causas de óbito. Ademais, quado se trata da sobrevivêcia superior a cico aos (ou 6 meses), a subestimação é aida maior, decorrete da difereça acumulada ao logo dos meses. GRÁFICO 1 Probabilidades acumuladas de óbito por câcer de pulmão em idivíduos diagosticados com a doeça Brasil ,8,6 F() e F'(),4, Tempo desde o diagóstico (meses) F() Fote: Miistério da Saúde. Sistema de Iformações Ambulatoriais SIA/Autorização para Procedimetos de Alto Custo/Compleidade Apac; Sistema de Iformações sobre Mortalidade SIM. F'() Coclusão Os resultados ecotrados sugerem a subestimação da sobrevivêcia específica por câcer, quado se utiliza a probabilidade bruta de morte, em um ambiete multidecremetal, em detrimeto da sobrevivêcia líquida, calculada por meio da tábua associada de decremeto úico. Assim, levata-se a importâcia de utilizar as medidas de maeira couta. Nesse setido, espera-se que ovos estudos a área de saúde pública possam empregar também esta ova medida, com o obetivo de ampliar a compreesão da mortalidade e da letalidade por câcer do pulmão e por outras doeças. Referêcias BORGES, G. M.; BELTRÃO, K, I. Tábua de múltiplos decremetos para a saída da atividade o fucioalismo público federal. I: 19 SINAPE Simpósio Nacioal de Probabilidade e Estatística. Aais... São Pedro, 21. BOWERS, N. L. et al. Actuarial mathematics. Illiois: Society of Actuaries, CINTRA, J. R. D.; GUERRA, M. R.; BUSTAMANTE-TEIXEIRA, M. T. Sobrevida específica de pacietes com câcer de mama ão-metastático submetidas à quimioterapia aduvate. Rev. Assoc. Med. Bras., v. 54,. 4, ago. 28. INSTITUTO NACIONAL DO CANCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Coordeação Geral de Ações Estratégicas. Coordeação de Preveção e Vigilâcia. Estimativa 212: icidêcia de câcer o Brasil. Rio de Jaeiro: Ica, 211. R. bras. Est. Pop., Rio de Jaeiro, v. 3, Sup., p. S193-S198, 213 S197
6 Sobrevivêcia específica de pacietes com câcer de pulmão tratados o sistema público... MIGOWSKI, A.; SILVA, G. A. Sobrevida e fatores progósticos de pacietes com câcer de próstata cliicamete localizado. Rev. Saúde Pública, v. 44,. 2, abr. 21. Dispoível em: < org/scielo.php?script=sci_arttet&pid=s &lg=e&rm=iso>. NATIONAL CANCER INSTITUTE. Measures of cacer survival Dispoível em: < cacer.gov/survival/measures.html>. SIEGEL, R.; NAISHADHAM D.; JEMAL, A. Cacer statistics, 212. Ca Cacer J Cli,. 62, p. 1-29, 212. Autores Carlos Philipe Barbosa Polato é mestre em Saúde Pública (UFMG). Médico aestesiologista do Hospital Odilo Behres. Pamila Siviero é doutora em Demografia (Cedeplar/UFMG). Professora aduta da Uiversidade Federal de Alfeas. Carla Jorge Machado é Ph.D. pela Uiversidade Johs Hopkis/EUA. Professora associada da Uiversidade Federal de Mias Gerais (UFMG). Gisele Macedo da Silva Bofate é mestre e doutorada em Saúde Pública (UFMG). Detista do Eército Brasileiro. Eli Iola Gurgel Adrade é doutora em Demografia (Cedeplar/UFMG). Professora associada da Uiversidade Federal de Mias Gerais (UFMG). Fracisco de Assis Acurcio é doutor em Ciêcia Aimal (área de cocetração epidemiologia da UFMG). Professor titular da Uiversidade Federal de Mias Gerais (UFMG). Mariâgela Leal Cherchiglia é doutora em Saúde Pública (USP). Professora associada da Uiversidade Federal de Mias Gerais (UFMG). Recebido para publicação em 2/6/212 Aceito para publicação em 14/1/212 S198 R. bras. Est. Pop., Rio de Jaeiro, v. 3, Sup., p. S193-S198, 213
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