AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO FUTURO PONTO DE CAPTAÇÃO NO RESERVATÓRIO PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO RIBEIRÃO JOÃO LEITE

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1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO FUTURO PONTO DE CAPTAÇÃO NO RESERVATÓRIO PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO RIBEIRÃO JOÃO LEITE Andréia Gomes dos Santos Arantes 1 ; Rosalmina Cipriano da Silva 2 ; Wedeusleia Alves Oliveira 3 ; RESUMO Os reservatórios são ambientes complexos que apresentam um sistema intermediário entre rios e lagos com características morfométricas e hidrológicas específicas (MARGALEF, 1983). O ribeirão João Leite comporta uma das maiores obras de saneamento do Brasil e a única barragem de acumulação do estado de Goiás projetada para assegurar o abastecimento público de água para Goiânia e regiões conurbadas até o ano de No entanto, a bacia do ribeirão João Leite apresenta elevado grau de antropização com a presença de significativas fontes poluidoras pontuais e difusas. Este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade da água do futuro ponto de captação do reservatório do Ribeirão João Leite. Palavras-chave: Reservatório João Leite, abastecimento público de água, qualidade da água FUTURE WATER QUALITY EVALUATION POINT RESERVOIR IN FUNDING FOR PUBLIC SUPPLY ABSTRACT The reservoirs are complex environments that have an intermediate system between rivers and lakes with morphometric and hydrological characteristics specific (MARGALEF, 1983). The stream Leite holds one of the largest sanitation projects in Brazil and the only state of Goiás accumulation dam designed to ensure the public water supply to Goiania and conurbation regions by the year However, the creek basin John milk has a high degree of human disturbance on the presence of significant point and diffuse pollution sources. This study aims to evaluate the water quality of the future point of capture of Ribeirão João Leite reservoir. Keywords: reservoir João Leite, public supply, water quality 1 Técnica em Meio Ambiente pelo CEFET-GO. Química pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Especialista em Gestão e Química do Meio Ambiente pela UFG. Mestranda em Engenharia Sanitária e Ambiental (PPGEAS UFG). Trabalha no reservatório do ribeirão João Leite da Saneamento de Goiás (SANEAGO). andreiaarantes@saneago.com.br 2 Biomédica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Bióloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Trabalha no reservatório do ribeirão João Leite da Saneamento de Goiás S/A (SANEAGO). rosalminacipriano@hotmail.com 3 Bacharel em Processamento de dados pela Faculdade Anhanguera de Ciências Humanas. Técnica em Saneamento Ambiental pela Escola Técnica Federal de Goiás. Graduanda do curso de Ciências Biológicas pela Faculdade Araguaia. Endereço: Av. Militar km05 Estrada Vicinal - Jardim Guanabara- Goiânia - GO - CEP: Brasil - Tel: 055 (62) wedeusleia@saneago.com.br

2 1. INTRODUÇÃO Desde as primeiras civilizações até o presente os reservatórios têm sido utilizados como base do desenvolvimento regional tendo em vista o atendimento das necessidades humanas dentre elas a produção de alimentos, geração de energia elétrica, fornecimento de água para abastecimento público e irrigação (TUNDISI, 1999). Entretanto, com o aumento da diversificação dos usos múltiplos da água e o crescimento das demandas industriais, agrícolas e populacional a quantidade e a qualidade das águas vêm sofrendo consideráveis impactos. Os reservatórios são ambientes complexos que apresentam um sistema intermediário entre rios e lagos com características morfométricas e hidrológicas específicas (MARGALEF, 1983). O ribeirão João Leite comporta uma das maiores obras de saneamento do Brasil e a única barragem de acumulação do estado de Goiás projetada para assegurar o abastecimento público de água para Goiânia e regiões conurbadas até o ano de No entanto, a bacia do ribeirão João Leite apresenta elevado grau de antropização com a presença de significativas fontes poluidoras pontuais e difusas. Dessa forma, o monitoramento ambiental é uma atividade fundamental no gerenciamento dos recursos hídricos para a avaliação da quantidade e qualidade da água e dos possíveis problemas agregados de contaminação e poluição, além de ser útil para o planejamento e elaboração de um banco de dados confiável (TUNDISI, 2011). No Brasil, a classificação dos corpos d água e as diretrizes ambientais para o seu enquadramento bem como os limites para parâmetros relacionados à qualidade da água são fixados pela resolução do CONAMA, n 357 de 17 de março de Este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade da água do futuro ponto de captação do reservatório do Ribeirão João Leite. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Caracterização da área de estudo A bacia do Ribeirão João Leite situa-se numa área de aproximadamente 778,94 km 2 e 61,20 km de extensão de curso hídrico e localiza-se entre os paralelos 16º13 e 16º39 sul e os meridianos 48º57 e 49º11 oeste. Esse ribeirão pertence à sub-bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte, que integra a bacia do Rio Paranaíba e por sua vez da bacia do Rio Paraná (SANEAGO, 2006). A barragem do ribeirão João Leite (Figura 1) está localizada junto ao morro do Bálsamo, limítrofe a uma parte da área do Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco e a uma distância aproximada de

3 6,5 km do núcleo urbano de Goiânia formando um reservatório de acumulação/regularização com volume de 129 hm 3, em sua cota máxima operacional, destinado ao abastecimento público. Figura 1 Foto aérea da barragem e reservatório do ribeirão João Leite 2.3 Amostragem O ponto de amostragem (Figura 2) situa-se próximo ao barramento e reflete as contribuições físicas, químicas e biológicas ao longo do reservatório, além de ser o ponto da futura captação do Sistema Produtor de Água do Ribeirão João Leite. As coletas foram realizadas quinzenalmente durante 12 meses no ano de Figura 2 - Local das coletas 2.4 Medições in-situ As medições realizadas em campo foram feitas com sonda multiparamétrica da marca HIDROLAB modelo Quanta obtendo-se a temperatura da água, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, ph e a turbidez. 2.5 Análises físico-químicas As análises físico-químicas foram executadas pelo Laboratório de Água da SANEAGO seguindo-se as recomendações do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater

4 22ª. edição, As variáveis determinadas foram: fósforo total, nitrato, nitrito, amônia, ferro solúvel e manganês total. 3. RESULTADOS Na tabela 1, estão expressos os valores médio, máximo e mínimo das variáveis físicoquímicas obtidas no decorrer do ano de De acordo com a Resolução CONAMA (2005) enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos as águas doces serão consideradas classe 2. Como os corpos d água superficiais do estado de Goiás ainda não estão enquadrados em classes os resultados serão avaliados considerando o enquadramento do manancial pela Resolução CONAMA (2005) como Classe 2. Tabela 1 Valores médios, mínimos e máximos das variáveis físico-químicas no reservatório João Leite. Parâmetros MÍNIMO MÉDIA MÁXIMO CONAMA 357/2005 Classe II UNIDADE ph 6,95 7,56 8,82 6,0 a 9,0 - OD 5,53 7,16 8,53 5,0 mg/l O2 Turbidez 2,13 5,05 7,05 100,0 ut Condutividade NR µs/cm Temperatura 22,61 25,89 28,30 NR C Fósforo Total 0,00 0,02 0,10 0,03 mg/l P Nitrato 0,05 0,12 0,20 10,0 mg/l N-NO3 Nitrito 0,002 0,01 0,03 1,0 mg/l N-NO2 Amônia 0,01 0,21 1,40 3,7 mg/l N-NH 3 Ferro Solúvel 0,01 0,06 0,22 0,3 mg/l Fe Manganês 0,01 0,09 0,22 0,1 mg/l Mn As medidas do potencial hidrogeniônico (ph) são de extrema utilidade no fornecimento de informações sobre qualidade da água, processos químicos e biológicos, além de apresentar relações fundamentais com a acidez e alcalinidade (MACÊDO, 2013). Os resultados de ph (Figura 3)situaram-se entre 6,95 a 8,82 apresentando maior tendência a basicidade (acima de 7,0). No entanto, permanece dentro da faixa de 6,0 a 9,0 estabelecida pelo CONAMA 357 (2005) para a Classe 2. Valores elevados de ph em reservatórios normalmente estão relacionados com a presença de população de algas que ao realizarem fotossíntese, retiram muito gás carbônico do meio reduzindo a acidez (MACÊDO, 2013).

5 µs/cm 10,0 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 ph CONAMA 357/05 MÍNIMO CONAMA 357/05 MÁXIMO Figura 3 Valores de ph registrados no reservatório João Leite durante o ano de A condutividade elétrica da água constitui uma das variáveis mais importantes em Limnologia oferecendo informações sobre processos que ocorrem no sistema aquático e a detecção de fontes poluidoras (ESTEVES, 1998). Avaliando todos os resultados, a condutividade (Figura 4) apresentou valores bastante homogêneos durante o período de estudo com valores médios de 117 µs/cm e amplitude de variação de 102 a 117 µs/cm Condutividade Figura 4 Valores de condutividade elétrica registrados no reservatório João Leite durante o ano de A turbidez da água é a medida de sua capacidade em dispersar a radiação sendo que ocasionada principalmente pela presença de partículas suspensas (bactérias, fitoplâncton, detritos orgânicos e inorgânicos) e em menor proporção os compostos dissolvidos (ESTEVES, 1998). Os dados de turbidez (Figura 5) apresentaram baixos valores característicos de ambiente lêntico com valores variando entre 2,13 a 7,05 NTU com média de 5,05 NTU ao longo do ano. Figura 5 Valores de turbidez registrados no reservatório João Leite durante o ano de 2014.

6 mg/l Fe mg/l Mn mg/l O2 C As medidas de oxigênio dissolvido em corpos d água são essenciais para a manutenção de condições oxidantes (aeróbias) para degradar a matéria orgânica e para manter os processos metabólicos de produção, energia e reprodução (Porto et al, 1991). A concentração de oxigênio dissolvido (Figura 6) apresentou valores médios de 7,16 mg/l O 2 e amplitude de variação de 5,53 a 8,53. Durante o período analisado permaneceu dentro do limite estabelecido pelo CONAMA 357 (2005). Em relação à temperatura da água (Figura 7) o valor mínimo observado foi de 22,6ºC em agosto/14 e a máximo foi de 28,3ºC em janeiro/14. As variações ocorridas ao longo do ano evidenciam o estabelecimento de duas estações: a seca (entre maio a setembro) e a chuvosa (outubro a março). 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 OD CONAMA 357/05 Figura 6 Valores de oxigênio dissolvido registrados no reservatório João Leite durante o ano de ,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 Temperatura Figura 7 Valores de temperatura da água registrados no reservatório João Leite durante o ano de Os resultados das concentrações de ferro solúvel (Figura 8) apresentaram-se maiores nos meses de maio, junho e julho, no entanto, permaneceram abaixo do limite estabelecido pelo CONAMA 357 (2005). Do mesmo modo a concentração de manganês total (Figura 9) apresentou variação entre 0,01 a 0,22 mg/l com concentrações abaixo do limite definido pelo CONAMA 357 (2005) (0,1 mg/l) em quase todos os períodos de coleta, exceto nos meses de maio, junho, julho e agosto o que pode ser justificado pela ocorrência do processo de circulação. 0,350 0,300 0,25 0,2 0,250 0,200 0,150 0,15 0,1 0,100 0,050 0,000 0,05 0 Ferro Solúvel CONAMA 357/05 Figura 8 Valores de ferro solúvel registrados no reservatório João Leite durante o ano de Manganês CONAMA 357/05 Figura 9 Valores de manganês total registrados no reservatório João Leite durante o ano de 2014.

7 mg/l P Segundo Esteves (1998) o fósforo é apontado como o principal responsável pela eutrofização artificial e a sua determinação na forma de fosfato pode ser utilizada como parâmetro para a classificação do estado trófico de lagos. Em relação às concentrações de fósforo total os valores obtidos estiveram abaixo do limite definido pelo CONAMA 357 (2005) praticamente durante todos os meses, exceto, em janeiro, março e junho (Figura 10). O nitrato juntamente com o íon amônio representa as principais fontes para os produtores primários. Já o nitrito é encontrado em baixas concentrações em ambientes oxigenados e está diretamente ligado à poluição orgânica (ESTEVES, 1998). A série nitrogenada apresentou valores bem inferiores aos limites estabelecidos pelo CONAMA 357 (2005). Os valores com maior amplitude para o nitrato e nitrito foram registrados nos meses de outubro, novembro e dezembro, período caracterizado pela estação chuvosa e consequente aumento do aporte de nutrientes para o reservatório (Figura 11). 0,120 0,100 0,080 0,060 0,040 1,60 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,020 0,40 0,000 0,20 0,00 Fósforo Total CONAMA 357/05 Nitrato Nitrito Nitrogênio Amoniacal Figura 10 Valores de fósforo total registrados no reservatório João Leite durante o ano de Figura 11 Valores de nitrato, nitrito e amônia registrados no reservatório João Leite durante o ano de CONCLUSÕES A maioria dos resultados físico-químicos obtidos para o futuro ponto de captação do reservatório do ribeirão João Leite se encontram dentro dos limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005. Ressalta-se a atenção quanto à carga externa de nutrientes, eventos de precipitação intensa e períodos de intensa radiação solar propícia à floração de algas. Considerando que reservatório do ribeirão João Leite está em plena atividade físico-química e biológica e que o mesmo localiza-se em área que sofre intensa ação antrópica, reforça-se a importância do monitoramento contínuo que é uma ferramenta necessária para subsidiar ações de manejo no referido reservatório com vistas a assegurar uma água bruta de melhor qualidade.

8 5. AGRADECIMENTOS Agradecemos a toda equipe técnica da Coordenação do Sistema Barragem, aos técnicos e biólogos do Laboratório de Água e à companhia de Saneamento do Estado de Goiás S/A- SANEAGO. REFERÊNCIAS APHA (American Public Health Association), Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Washington, DC: APHA. CONAMA. Resolução n 357 de 17 de março de Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, MACÊDO, J. A. B. (2013). Métodos laboratoriais de análises físico-químicas e microbiológicas. CRQ. Belo Horizonte, 1056p. MARGALEF, R. (1983). Limnologia. Ed.Omega. Barcelona, 1010p. OLIVEIRA, W. N. Avaliação da qualidade ambiental da paisagem da bacia hidrográfica e do reservatório do Ribeirão João Leite. (Dissertação de Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente). Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, PORTO, R. L. L. et al. (1991). Hidrologia Ambiental. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Associação Brasileira de Recursos Hídricos. v p. SANEAGO. (2006) Situação ambiental da bacia do ribeirão João Leite (Relatório). Goiânia. SANTOS, E.H.M. et al. (2010). Relação entre uso do solo e comportamento hidrológico na Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, vol.14 nº.8, pp TUNDISI, J.G; MATSUMURA-TUNDISI. (2011). Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Paulo: Rima.