PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 371 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Osvaldo Cruz, em que são agravantes LUIZ SERGIO MAZZONI FILHO, LORENZO TAVARES FINOTTI e ROSELI APARECIDA ZANONI ANDREOTTI GIMENES, é agravado MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 12ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U." de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores EDSON FERREIRA (Presidente) e OSVALDO DE OLIVEIRA. São Paulo, 28 de agosto de SOUZA NERY RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 372 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AGRAVANTES: LORENZO TAVARES FINOTTI, LUIZ SÉRGIO MAZZONI FILHO E ROSELI APARECIDA ZANONI ANDREOTTI GIMENES AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE OSVALDO CRUZ VOTO Nº AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECRETAÇÃO DE INDISPONIBILIDADE DE BENS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FRAUDE EM CONCURSO. Os indícios da fraude aos concursos 001/2015 e 001/2016 da Comarca de Osvaldo Cruz apresentados em ação civil pública bastam para que a indisponibilidade de bens dos envolvidos seja decretada para a segurança do processo e do erário. Agravantes que são candidatos aprovados em concurso, para o cargo de advogado e que anteriormente eram ocupantes de cargo em comissão. Indícios de que o concurso foi montado para aprovação de pessoas certas e determinadas. Provas que foram maliciosamente incineradas pelos envolvidos. AGRAVO NÃO PROVIDO. Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto em face da r. decisão que, em ação civil pública, acolheu em parte o pedido de antecipação de tutela feito pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e (a) determinou a suspensão dos concursos públicos municipais 001/2015 e 001/2016, ficando proibida qualquer nova nomeação de candidatos até a resolução final; (b) decretou a indisponibilidade de bens móveis (veículos), imóveis e aplicações financeiras de Edmar Carlos Mazucato, até o limite de R$ ,97. Lorenzo Tavares Finotti, Luiz Sérgio Mazzoni Filho e Roseli Agravo de Instrumento nº /6

3 fls. 373 Aparecida Zononi Andreotti Gimenes até o limite de R$ ,00, e dos demais 39 réus até o limite de R$ ,00 para cada. 1 Agravam os réus, alegando, em síntese, que a ação civil pública está pautada em denúncia anônima, desacompanhada de qualquer prova, tendo sido investigados supostos atos de improbidade administrativa por ocasião da realização de licitação e concursos públicos, tendo sido o ora agravante aprovado no concurso 001/2015. Aduz que a inicial narra a ocorrência de irregularidades, mas não atribui qualquer fato certo a qualquer autor determinado, limitando-se a concluir por dolo genérico de 39 réus. Ressalta que o juiz bloqueou os bens de todos os réus, mas o Ministério Público do Estado de São Paulo pugnou pela manutenção do bloqueio apenas dos réus que assumiram efetivamente as funções junto à Municipalidade. Sustentam que o Prefeito Municipal Edmar, em agravo de instrumento, conseguiu a liberação de seu patrimônio, e que no presente feito não existe nenhum apontamento específico contra os agravantes, prova de prejuízo material do erário ou de enriquecimento ilícito de qualquer dos acusados. 2 O pedido de antecipação de tutela recursal foi deferido, pelo Desembargador VENICIO SALLES. 3 A contraminuta foi entregue, com 1 Fls de lavra do Juiz ANDRÉ GUSTAVO LIVONESI. 2 Fls Fl Agravo de Instrumento nº /6

4 fls. 374 alegação de que os agravantes praticaram atos ilegais que configuram improbidade administrativa, ou ao menos do resultado se beneficiaram. 4 É o relatório. Alega o Ministério Público do Estado de São Paulo, na ação civil pública em questão, que o réu Edmar Carlos Mazucato, agindo na condição de Prefeito, em conluio com os demais réus, praticou ato de improbidade, ou ao mesmo do resultado se beneficiou, uma vez que durante os exercícios de 2015 e 2016 efetuou a contratação irregular de diversos funcionários públicos mediante fraude de processo de licitação, com a contratação da empresa CEMI Consultoria Empresarial e Imobiliária, havendo esquema fraudulento para frustrar ilicitamente os concursos 001/2015 e 001/2016. Aduz que a denúncia anônima foi apurada e que verificou-se que os concursos públicos em questão estão contaminados por evidentes fraudes, posto que Edmar Carlos, de forma confessa, em conluio com a empresa CEMI e demais réus, desapareceu com as provas originais dos dois concursos em tela, tanto do caderno original de perguntas, quanto do caderno de respostas, e apesar de requisitadas, os réus não apresentaram as provas ao Ministério Público do Estado de São Paulo, de modo que não há como fazer a confrontação ficando prejudicada a comprovação de que os candidatos realmente fizeram as provas dos concursos. 4 Fls Agravo de Instrumento nº /6

5 fls. 375 Alega que o edital do concurso é nulo, pois viola a recomendação do Tribunal de Contas e os princípios da transparência e da publicidade previstos na Constituição. Relata que os réus incineraram as provas originais, não havendo como saber se realmente as provas existiram e se os candidatos as fizeram. Argumenta que os candidatos aprovados no concurso 001/2015 e que foram efetivamente nomeados, também já foram contratados por prazo determinado pela Prefeitura, inclusive, alguns deles, ainda estão com o contrato temporário vigente. Quanto aos ora agravantes, aduz que foram aprovados para o cargo de advogado, e que anteriormente eram ocupantes de cargos em comissão, tendo sido exonerados após a declaração de inconstitucionalidade da Lei Municipal 2.676/09, no julgamento da ADIN nº Pelo que se nota, os agravantes, candidatos nos concursos em questão foram incluídos no rol passivo da ação civil pública com acerto pelo MP, uma vez que, ao menos numa análise perfunctória dos fatos, teriam concorrido para o ato ímprobo, amoldando-se na figura apresentada pelo artigo 3º da Lei 8.429/92, de 02 de junho. As provas foram incineradas, o que demonstra má-fé em elevado grau, de modo que os bens devem continuar indisponíveis para que haja segurança Agravo de Instrumento nº /6

6 fls. 376 jurídica ao processo e ao erário, que evidentemente foi prejudicado com tal fraude. Os indícios de irregularidade estão presentes e são evidentes, bastando para a medida cautelar de indisponibilidade acertadamente decretada pelo juízo. As provas são realizadas ao longo do processo, em dilação probatória, não necessitando que estejam na inicial, como querem fazer crer os agravantes. Deste modo, ausente a fumaça do bom direito, o que é o bastante para o indeferimento do pedido. Ademais, o risco da demora apresentase para o erário e não para os agravantes, que não tiveram êxito na sua comprovação. Ante o exposto, meu voto propõe seja negado provimento ao agravo de instrumento, ficando mantida a decisão recorrida, retornando a indisponibilidade da forma como foi decretada. José Orestes de SOUZA NERY Relator (assinatura eletrônica) Agravo de Instrumento nº /6