Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas e bolsista do Programa de Educação Tutorial PET/SESu MEC. catiusia_gabriel@yahoo.com.

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1 UMA PROPOSTA ALTERNATIVA PARA ABORDAR A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL Catusia Gabriel 1 Aline Jaime Leal 2 Resumo: O desenvolvimento social e econômico vem promovendo uma modernização da sociedade e produzindo uma forma de pensar e agir centrada no progresso. Esse desenvolvimento tem causado problemas sociais e ambientais. Aliado a isso, o crescimento populacional gera um aumento de consumo e, conseqüentemente, uma maior produção de resíduos. Dentre os problemas ambientais ocasionados pelo crescimento populacional, está a problemática do lixo, a qual foi abordada neste trabalho. Desenvolvemos uma atividade baseada nos três momentos pedagógicos. Num primeiro momento, lemos o poema O Bicho de Manuel Bandeira e assistimos o curta-metragem Ilha das Flores de Jorge Furtado. Com base nesses dois recursos discutimos vários temas como: propaganda e consumo, a responsabilidade com a produção de lixo, o que podemos fazer para mudar a situação. Após, os educandos classificaram alguns materiais em: reciclável, não reciclável, reutilizável e orgânico. A atividade promoveu uma discussão em que os educandos participaram expondo suas vivências e opiniões. Por fim, eles sugeriram maneiras de minimizar o consumo e a produção de lixo. A escola é o principal espaço de formação de cidadãos e, portanto, essa atividade contribuiu para a inserção dos educandos nas questões ambientais. Palavras-chave: Educação ambiental. Lixo. Consumo. As relações homem-natureza O desencadeamento do processo de modernização da sociedade, de um modo geral, produziu uma forma de agir e pensar que se centrou no estímulo ao progresso, relegando na maioria das vezes, os custos sociais e ambientais. Depredando a natureza, seja em busca de matérias-primas e de metais preciosos, seja na exploração da terra, na poluição do ar e da água (Thesing, 2004). 1 Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas e bolsista do Programa de Educação Tutorial PET/SESu MEC. catiusia_gabriel@yahoo.com.br 2 Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas e bolsista do Programa de Educação Tutorial PET/SESu MEC. bio_aline2007@yahoo.com.br

2 2 As ações passadas e presentes apresentam um ambiente esculpido e estruturado segundo a cultura e o comportamento humanos. Este ambiente apresenta contrastes gritantes gerados por um desenvolvimento econômico e social desordenado. O desenvolvimento moldou o planeta em diferentes sistemas e hoje se tem um caos instalado (Sulzbach, 2004). O fato do homem se sentir superior aos demais animais contribui para que esse processo de degradação do meio ocorra. Esse pensamento foi consolidado por vários filósofos ou pensadores, que na grande maioria das vezes, retrataram a relação homem-natureza baseados numa visão antropocêntrica. A exemplo Tomás de Aquino, para quem o homem excede os animais, em razão e inteligência ; Rousseau, que diferencia o homem das outras criaturas pelo livre-arbítrio, promotor do desenvolvimento e emancipação; Montesquieu credita ao homem o conhecimento intrínseco à existência. O antropocentrismo radicado nas idéias dos grandes pensadores gera uma linha divisória entre homem e natureza e, conseqüentemente, cria a concepção de que a natureza existe para servir ao homem. No final do século XVIII, novos estudos das relações homem-natureza surgem, mas desta vez, ao contrário dos grandes filósofos, as evidências são outras. Em 1798, Thomas Malthus publica o famoso Ensaio sobre a população, onde prevê a escassez de recursos no futuro. Segundo as idéias de Malthus, qualquer população humana cresce em progressão geométrica, mas os recursos necessários à sua sobrevivência crescem em progressão aritmética. Embora a matemática proposta não se enquadre exatamente nos moldes de crescimento atual, Malthus estava certo ao chamar a atenção para o ponto fundamental: a inevitável tensão entre o crescimento populacional e o crescimento dos recursos disponíveis (Fernandez, 2004). Mais recentemente, trabalhos como o de Paul Ehrlich, The population Bomb publicado em 1966 e o de Garret Hardin, Tragedy of the Commons de 1968, reforçaram a teoria malthusiana, relacionando a degradação ambiental e a dos recursos naturais ao crescimento populacional. Além do crescimento populacional, o padrão de consumo também é um fator determinante no aumento da geração de resíduos e destruição dos recursos naturais. A produção excessiva de lixo é um grande problema ambiental, pois requer mais locais para a sua deposição final. No Brasil, cerca de 80% do lixo produzido é depositado em lixões a céu aberto, sem nenhum tratamento e controle, o que põe em risco a saúde da população, principalmente a que vive próxima dessas áreas. A coleta seletiva do lixo ainda é insipiente na maioria dos municípios do país e em Santa Maria isso não é diferente. Por isso, a problemática do lixo é um tema extremamente relevante para atividades realizadas na escola.

3 3 O papel do educador A capacitação de educadores ambientais representa um importante instrumento de difusão dos princípios e conceitos de meio ambiente e sustentabilidade, visto que os docentes constituem agentes de transmissão de conhecimentos e formação de massa crítica (Lopes et al., 2002). A educação ambiental é importante para desenvolver sujeitos capazes de repensar suas ações cotidianas e relacioná-las com os problemas ambientais, podendo assim, mudar suas atitudes com relação à preservação do meio em que está inserido. Os hábitos e atitudes comportamentais são heranças de várias gerações e são adquiridos por razões culturais ou por pressões econômicas (Sulzbach, 2004). Sendo assim, mudá-los é uma tarefa muito difícil e gradual, que não se alcança com atividades isoladas. Os educadores precisam explorar melhor o caráter transdisciplinar da educação ambiental, realizando atividades conjuntas, que incluam todas as disciplinas do currículo escolar. Hoje, percebe-se que cada um de nós é chave importante tanto na degradação quanto na conservação do que ainda resta. A visão de que mudarmos nossos hábitos não significaria nada, está sendo derrubada e com isso nós educadores podemos mostrar para os nossos educandos como eles são importantes neste processo de mudança de valores e atitudes. (Thesing, 2004). Uma proposta alternativa para abordar a problemática do lixo Chamamos de lixo uma diversidade de resíduos sólidos de diferentes procedências, dentre eles os resíduos sólidos urbanos gerados em nossas residências (Fadini et al., 2001). A responsabilidade tanto na produção quanto na destinação de seus resíduos pode incentivar os educandos a mudarem seus hábitos. Nesse contexto, propomos uma atividade que sensibilize os educandos sobre a problemática do lixo, com intuito de torná-los reflexivos e críticos quanto ao seu papel nesse processo. A atividade foi desenvolvida com base nos três momentos pedagógicos. Num primeiro momento, utilizamos o poema O Bicho de Manuel Bandeira e o curta-metragem Ilha das Flores, produzido em 1989 por Jorge Furtado para incitar uma discussão sobre o tema proposto.

4 4 O Bicho (Manuel Bandeira) Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato, O bicho, meu Deus, era um homem. O filme vem sendo utilizado em muitas atividades pedagógicas e também em várias disciplinas, com diferentes abordagens. A principal característica desse curta é a capacidade de emocionar pessoas de qualquer faixa etária e nível social, pois relata a realidade vivida por pessoas que moram e dependem do lixão Ilha das Flores, localizado em Porto Alegre RS, para comer. Além da questão lixo, o filme também aborda o consumo e a geração de riquezas de uma forma indireta fazendo-nos pensar qual a nossa participação em todo esse processo. O narrador encera o filme com a frase: Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. Essa mensagem foi utilizada para questionar os educandos sobre a relação dinheiro versus liberdade. Muitos questionamentos surgiram a partir do filme e do poema, gerando uma rica discussão. Propomos questões como o papel da mídia e dos anúncios no consumo, as mensagens subliminares veiculadas nas propagandas, a responsabilidade com a produção de lixo, o que podemos fazer para mudar a situação e, por fim, se os homens realmente são livres.

5 5 No segundo momento, solicitamos que os educandos separassem vários produtos e figuras de alguns materiais em: reciclável, não reciclável, reutilizável e orgânico. Também questionamos o tempo de decomposição dos produtos. O mais interessante foi a dificuldade encontrada pelos educandos em distinguir os conceitos de reutilizar e reciclar. Essa questão foi muito debatida com o intuito de esclarecê-los. Finalmente, encerramos a atividade com sugestões dos educandos para minimizar a produção de lixo e contribuir para a reciclagem. Uma reflexão sobre a atividade proposta Cresce a consciência de que temos só este planeta para habitar, pequeno e com recursos limitados. Importa tratá-lo com cuidado para que possa abrigar os humanos e os demais seres (Boff, 2005). A escola é o espaço, onde podemos desenvolver esta consciência, principalmente com práticas que aproximem os problemas ambientais divulgados na mídia com o dia-a-dia de cada um. Pela questão do lixo estar presente no cotidiano dos educandos, estes participaram da discussão proposta na atividade, expondo suas vivências e opiniões. Além disso, através da separação dos materiais para reciclagem, a atividade possibilitou uma aprendizagem que pode ser transmitida para outras pessoas. Nossa atividade abordou a problemática do lixo de uma forma simples e objetiva, sendo possível sua aplicação tanto no ensino fundamental quanto no médio. Outro ponto a ser considerado e o uso de recursos pedagógicos como vídeo, discussões e atividades práticas como a separação dos materiais recicláveis. Dessa forma, obtemos maior interesse por parte dos educandos, visto que, geralmente, a maioria das aulas é teórica. Apesar de todo o empenho destinado às questões ambientais, ainda há muito para ser feito e, portanto, os educadores devem estar cada vez mais aptos a transmitir as informações e, principalmente contextualizá-las com a realidade dos educandos (Jacobi, 2005). Atualmente, este é o grande desafio dos educadores e, assim, devemos nos empenhar na tentativa de formar cidadãos mais conscientes. Referências bibliográficas FADINI, P. S.; FADINI, A. A.B. Lixo: desafios e compromissos. Cadernos Temáticos de Química Nova Escola. Edição Especial. Maio/2001. FERNANDEZ, F. O Poema Imperfeito. Editora UFPR. 2. ed. Curitiba/PR p.

6 6 JACOBI, P.R., Educação Ambiental: o desafio para a construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo. v.31. n LOPES, E. C.; RODRIGUES, L. C. R. Capacitação de Professores para o Ensino de Educação Ambiental no Vale do Aço, Minas Gerais. Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste MG) SULZBACH, L. M. A Educação Ambiental como processo de resgate a vida. Revista Um Olhar sobre a Educação Ambiental. Secretaria da Educação, Rio Grande do Sul. p THESING, L. I. V. Educação Ambiental. Revista Um Olhar sobre a Educação Ambiental. Secretaria da Educação, Rio Grande do Sul. p