RELATÓRIO DE VIVÊNCIA DO VERSUS AMAZONIA /02/16 (Sábado)
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- Carla Canário de Carvalho
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1 RELATÓRIO DE VIVÊNCIA DO VERSUS AMAZONIA 2016 Vivente: David Gomes Araújo Júnior Município de referência: Tefé Externo/Município de origem: Sobral/CE 20/02/16 (Sábado) Primeiro dia de vivência estava muito ansioso para essa nova experiência, principalmente por acontecer em uma região tão desconhecida quanto a minha realidade do sistema de saúde da qual tenho referência. O primeiro contato com região foi a viagem até o município onde tivemos uma aproximação com a dificuldade de locomoção da população na referida região, fizemos uma viagem de 13h de barco conhecendo todo percurso que a população diariamente faz quando apresenta a necessidade de chegar até capital que é Manaus. Na ocasião da viagem aproveitamos para se conhecer melhor, tanto nos viventes como o nosso facilitador. Podemos destacar que este percurso foi válido, pois já começamos a discussão sobre a impressão que cada um tinha em relação as ações de saúde que são desenvolvidas pelo SUS na referida cidade onde tínhamos sido referenciado que é Tefé. Outro ponto positivo foi que a população que estava no barco junto conosco viajando ficou curioso com o projeto por ver 6 pessoas uniformizadas e também conversando sobre o sistema único de saúde do Brasil com tanto empoderamento de falas, a partir daí começamos uma conversa com dois viajantes que estavam no barco, esse momento foi muito importante pois a partir dali já começamos a desenvolver a militância que tanto o VERSUS prega, além de ter sido uma oportunidade de aproximação da realidade dos usuários daquela região, pois foi possível identificar a visão da população em relação ao SUS daquela região, proporcionando uma aproximação maior com a vivência. Pra finalizar trago a citação de autor que acho que resumo bem esse primeiro contato que o VERSUS proporcionou, Paulo Freire traz que para mudar a compreensão teórica da prática, não pode desconhecer, como tenho afirmado sempre, a leitura do mundo que vêm fazendo os grupos populares, expressa no seu discurso, na sua sintaxe, na sua semântica, nos seus sonhos e desejos.
2 21/02/2016 (Domingo) No segundo dia de vivência tentamos nos aproximar mais ainda da realidade da comunidade a qual estávamos inseridas que é a comunidade do município de Tefé. Ao amanhecer do dia fomos de encontro à comunidade da região e sua praticas cotidianas, então fomos conhecer o mercado municipal, pois é um local onde a população bastante frequenta, chegando lá foi possível conhecer a cultura alimentar local e também conhecer um pouco sobre as praticas de saúde ligado a sabedoria popular, aproveitamos para conhecer mais sobre as frutas regionais e seus benefícios a saúde é importante destacar que estas informações estavam sendo colhidas a partir do vendedores e até mesmo dos próprios compradores das especiarias, aproximando cada vez mais os viventes da realidade local. Logo depois aproveitamos para conhecer os municípios, tentando identificar seus equipamentos de saúde e social existentes. No mesmo dia tivemos contato com prelazia de Tefé, onde nos proporcionou participar de um dos momentos do encontro da PJ (pastoral da juventude), onde foi possível contribuir falando um pouco sobre o projeto e também convidar os adolescentes da região a participar da intervenção que iriamos realizar no município, além de nos ter proporcionado um convite para uma entrevista na rádio local de Tefé para falar sobre direito à saúde no programa que é conduzido pela própria Prelazia do município. E como próprio Paulo Freire diz A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade. Então é isso que estamos buscando quanto viventes do VERSUS amazonas, unir as duas coisas e promover a transformação a fim de construir novas realidades e novos conhecimentos na comunidade, com um só objetivo fortalecer mais ainda o SUS local.
3 22/02/2016 (Segunda) Então começa mais um dia de vivência aqui em Tefé e hoje é o dia em que fomos conhecer a secretária de saúde do município depois de varias conversas com moradores conseguimos identificar onde era a sede, só que vale ressaltar que a maioria da população da cidade não conhecia o local onde a secretária se encontrava. Ao chegar a sede não encontramos a secretária de saúde, portanto aproveitamos a viagem para conversar com os outras coordenações de saúde existente no mesmo departamento, como por exemplo vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, coordenação do PNI (Politica nacional de imunização), CERESST e NASF onde fomos recebidos pela nutricionista que nos proporcionou uma roda de conversa sobre como acontece a atenção a saúde que o NASF proporciona dentro daquela comunidade. Ainda na vigilância epidemiológica podemos conhecer melhor os principais agravos que acometi a população do município e que nos chamou a atenção foi os altos índices de DST s e HIV, principalmente numa população jovem o que nos deixou mais assustado ainda com esta taxa de contaminação do município. Já a tarde fomos conhecer como estava organizado sistema de saúde de Tefé, onde a enfermeira Tereza nos explanou um pouco sobre a situação equipamentos de saúde local, o que mais chamou a atenção foi a existente de 6 postos de saúde que não possuíam nenhum equipe de saúde completa, sem apresentar nem enfermeiro no projeto, o que se torna preocupantes com qualificação destes profissionais que atendem diretamente a comunidade e foge totalmente a ética do profissional como também a linhas da politica nacional da atenção básica. Continuando nossa visita aproveitamos para conhecer uma UBS onde observamos a forma de como acontece a assistência direta na comunidade, umas das coisas que mais chamou atenção foi quantidade de ACS em cada equipe de saúde, essa discussão reforça a importância de termos um controle maior destas áreas para que não possa sobrecarregar nenhum profissional da unidade, para que assim eles possam também contribuir nas ações de promoção e prevenção da saúde de Tefé. 23/02/2016 (Terça) A partir de nossa vivência no domingo de conhecer a cidade e se aproximar da comunidade, organizamos uma reunião com líderes da comunidade que foi possível identificar a presença da religião como um aspecto social muito forte na região. Então conseguimos a contribuição do pároco local e na manhã de terça-feira tivemos uma
4 reunião com os coordenadores de pastorais da prelazia, onde nos apresentamos e objetivo do projeto e aproveitamos o momento para proporcionar um momento de discussão sobre o sistema de saúde do município e quais seriam os principais problemas e agravos na saúde publica da região, foi dai que surgiu a ideia de promovermos uma intervenção na comunidade de forma lúdica que trabalhasse a prevenção de DST s já que assim como havíamos observado na vigilância epidemiológica os indicadores apontam para um crescimento alarmante dessas patologias relacionado a falta de prevenção nas relações sexuais. Na reunião fechamos assim parceria com igreja para promover essa intervenção de promoção da saúde na comunidade, onde igreja se prontificou em mobilizar a comunidade para participar do evento. Logo a tarde seguimos para conhecer o Hospital Regional, quanto a estrutura podemos dizer a apresentava o básico para um bom funcionamento do hospital, porém após a visita ficamos aguardando o transporte então tivemos a ideia de conversar com profissionais e usuários sem presença da gestão do hospital, foi pela primeira vez no município que sentirmos a sensação de acuados, os profissionais não foram receptivos, se deparamos com um atendimento de emergência a qual podemos identificar que no hospital não existe um protocolo de atendimento, o que nos faz refletir sobre a administração do hospital e nos fez pensar também ate agora em todos os locais por onde passamos nunca gestor ou coordenador daqueles serviço encontrava-se presente, sempre são outros profissionais de confiança que faziam repasse das informações. Esse episódio de descaso com paciente, o desespero de um mãe filho sem ter nenhum apoio de um profissional para esclarecer o sintomas que a criança estava apresentando, nos fez refletir sobre tipos de profissionais que estão atuando no sistema e que forma como eles trabalham reflete totalmente na imagem do SUS. Os homens agem sobre o mundo, modificam-no, e são modificados pelas consequências de suas ações. Certos processos, e que o organismo humano compartilha com outras espécies alteram o comportamento de tal forma que ele obtém um intercâmbio mais seguro e mais útil com um ambiente particular. Quando o comportamento apropriado tem sido estabelecido, suas consequências trabalham por meio de processos similares, aumentando sua força. Se por acaso o ambiente se modifica, velhas formas de comportamento desaparecem, enquanto novas consequências constroem novas formas.
5 24/02/2016 ( Quarta) Então se deu inicio a um novo dia de vivência e pela manhã aproveitamos para conhecer a comunidade do Abial que se configura como um bairro do município de Tefé, a história da comunidade perpasse pela invasão do movimento de sem terra. O bairro possui alto índice populacional e apresenta somente uma unidade básica de saúde com duas equipes. Ao realizar a visita tivemos que atravessar o rio onde podemos identificar uma barreira geográfica que população tinha em relação aos outros serviços de saúde que somente era oferecido no centro de Tefé que ficava do outro lado do rio. Ao se deparar com a estrutura da unidade ficamos deslumbrados com tamanho, mas era de esperar, pois atender quase habitantes se faz necessários espaços para se promover saúde. Porém ao se observar mais de perto e através de perguntas ao gestor da unidade, podemos identificar que aquela unidade foi pensada primordialmente em uma Maternidade, como projeto não vingou adaptaram a estrutura para uma UBS, mas lembrando de que a obra foi abandonada, ou seja, ainda tinha muito espaço precisando ser terminados e com falta de acabamento, deixando a unidade com aspecto de abandono. Outro problema identificado foi quanto o atendimento dos profissionais da unidade, eles estão tão sobrecarregados que acabam tendo que esquecer os outros paciente simples para da ênfase somente aos casos especiais. Isso vai contra a proposta da atenção primária que visa promover saúde, muitos desses pacientes estão bem hoje, mas se não tivermos um olhar ampliado ele pode ganhar consequências muito mais serias que outros que estavam sendo observado a todo tempo não vieram a desenvolver. A partir desse dia de vivência foi possível perceber que gestão do sistema de saúde do município ainda se apresenta muito fragmentado, pois alguns processos de continuidade dos programas não são realizados na própria unidade precisam ser realizados em outros departamentos o que faz quebrar continuidade do processo terapêutico, provocando desconforto no usuário e dificultando muita das vezes o processo de devolutiva dessa rede de acompanhamento do usuário.
6 25/02/2016 (Quinta) Esse novo dia de vivência aproveitamos para conhecer melhor como se organizava a gestão da saúde do município então fomos conhecer os setores na qual se subdividiam a secretária de saúde. Pela manhã conhecemos as vigilâncias em saúde onde aproveitamos para discutir quais as principais agravos que eram notificados no município. Foram então apresentados os índices para o grupo e o que mais chamava atenção foi a casos de violência interpessoal e índice de diagnósticos DST s, demos então continuidade a discussão e podemos perceber que o município não faz nenhuma ação de prevenção e educação em saúde de DST s. Ao identificar está problemática tivemos uma conversa com os profissionais que compõe a CTA, um dos problemas levantados foi a falta de profissionais, falta de materiais e educação permanente que auxiliassem nesse processo de construção de ações de promoção de saúde na comunidade. No mesmo dia aproveitamos para conhecer o serviço de atenção a saúde mental, o município conta com um do CAPS tipo II, onde desenvolve ações e processos terapêutico a portadores de síndromes ou doenças mentais. Tivemos uma roda de conversa com os profissionais onde relataram que esse tipo de serviço vem como uma de humanizar o tratamento para estes tipos de paciente, porem eles encontram dificuldade em achar profissionais capacitados e também são desprovidos de uma equipe multiprofissional especifica para serviço, já que eles utilizam o apoio do NASF para realizar processos terapêuticos alternativos a fim de oferecer um serviço de melhor qualidade a estes usuários. Compreende-se então a necessidade de uma política de educação permanente que vise subsidiar estes profissionais que trabalham em áreas especializadas em processo terapêuticos a fim de melhora a qualidade de atenção à saúde dos usuários do sistema no município, promovendo espaço de formação e construção de conhecimento. 26/02/2016 (Sexta) Então chegou ultimo dia de vivência e aproveitamos manhã para visitar a Agrovila uma comunidade de descendentes indígenas onde tem um histórico de controle social muito forte, hoje a comunidade se configura como assentamento, portanto possui uma comunidade organizada e com algumas políticas internas próprias. Quanto ao serviço de saúde oferecido na comunidade eles contam com posto de saúde que passou por uma recente ampliação, porém só conta com 3 profissionais sendo eles uma Agente de saúde
7 comunitária, microscopista e uma Técnica de Enfermagem. A gerência do serviço está sob a técnica de enfermagem como também realiza o acolhimento e primeiros procedimentos, em casos específicos os usuários são encaminhados para município. Na unidade não se faz nenhum programa de saúde, todos que precisam desse tipo de acompanhamento são encaminhados para sede do município onde possuem uma Unidade básica de saúde de referência. A partir dessa vivência foi possível observar mais uma vez o quanto o sistema está fragmentado e o quanto Tefé precisa evoluir nesse aspecto, pois o processo de rede de saúde não consegue sobreviver a um sistema desmembrado e sem interligação ou que proporcione uma devolutiva intersetorial. Na tarde de sexta organizamos com a parceria da secretária de saúde de Tefé e a comunidade local (no caso: as pastorais da Prelazia), um momento de promoção da saúde no centro do município, a ideia era mostrar que era possível realizar ações em conjunto e também proporcionar um melhor dialogo entre os dois setores, como também identificamos que o município não tem habilidades em estar promovendo espaços educação em saúde. Foi dai que surgiu a ideia de construirmos um labirinto das Sensações de DST s em praça pública como forma de demonstrar a gestão que e possível promover esses espaços de uma forma mais dinâmica e também de mostrar as pastorais que possível falar sobre saúde sexual sem promover promiscuidade. A escolha desse tema foi devido a uma visita na vigilância epidemiológica e ao conhecermos o sistema de informações e índices do município, identificamos um alto índice alarmante de DST e também de transmissão de HIV. No decorrer da atividade tivemos uma forte aceitação da comunidade e adentramos a noite devida alta procura da população em participar da atividade tivemos também a presença de gestores do município e membros das pastorais. No final deixamos todo material que foi produzido com a gestão do centro especializado em DST s para que fosse disseminada a ideia em todo município e também aproveitassem para trabalhar com outra temática, a fim de ampliar o olhar da saúde de Tefé para ações de educação e promoção da saúde.
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