UNIÃO POLIAFETIVA: APLICAÇÃO DA TEORIA DO POLIAMOR E SUA POSSIBILIDADE JURÍDICA.
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- Glória Ana Clara Alvarenga Amado
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1 UNIÃO POLIAFETIVA: APLICAÇÃO DA TEORIA DO POLIAMOR E SUA POSSIBILIDADE JURÍDICA. Maria Iracema de Castro Meira maria_iracema_18@hotmail.com Orientadora: Prof a. Ma. Maria Cristina Baluta Universidade Estadual de Ponta Grossa Resumo: O estudo trata das uniões poliafetivas, cada vez mais presente na sociedade brasileira; nas quais se constrói uma relação entre mais de duas pessoas, de forma consensual, onde os envolvidos vivem como uma única família, na comunhão plena de suas vidas. Busca-se desta forma aplicar os estudos referentes à teoria do poliamor, que define essas relações e a possibilidade dessas uniões no serem reconhecidas no ordenamento jurídico brasileiro; estruturando-se na ideia de alargamento do conceito de família tradicionalmente aceito pela sociedade, com fundamento nos princípios da igualdade, da liberdade sexual e da dignidade humana. Palavras-chaves Poliafetividade, afetividade, possibilidade. Introdução O conceito de família, na evolução histórica e social vem sendo ampliado, passando a englobar todas as formas de convivência que se estruturam a partir de um comprometimento amoroso. O mais importante passa a ser a idealização do indivíduo em estar inserido em uma entidade familiar, na qual seja possível integrar sentimentos, esperanças e valores; podendo realizar, a partir destes elementos, seu projeto de felicidade. Nesse panorama, se faz necessário reconhecer os efeitos jurídicos e, além disso, dar visibilidade da ocorrência de vínculos afetivos que sempre existiram de forma concomitante, com reflexos emocionais e sociais. Desta forma, visa o presente resumo, explanar a ocorrência dos relacionamentos poliafetivos, cujos envolvidos experimentam, de forma consensual, esta realidade, pretendendo a construção de uma entidade familiar, bem como, a possibilidade da configuração desta relação como união estável e suas possíveis consequências jurídicas. Objetivos
2 Abordar a evolução comportamental das relações familiares no passar do tempo; explanar a teoria do poliamor; verificar a possibilidade de uniões poliafetivas no Brasil e suas consequências no cenário jurídico brasileiro. Método e Técnicas de Pesquisa O método de abordagem do tema foi o histórico e o dedutivo, por meio de uma abordagem inicial histórica e partindo da compreensão de uma regra geral para compreender um caso específico. Ainda, foi usada a técnica de pesquisa documental indireta. Resultados No início da história da humanidade as relações pessoais foram marcadas por relacionamentos em grupos, motivados pela escassez do sexo oposto e pela cultura existente no seio de cada grupo humano primitivo, quando a relação que imperava era a sem barreiras, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e, cada homem a todas as mulheres. (ENGELS, 2010) Neste sentido a família segundo a percepção de Morgan relatado por Engels nunca permanece estacionada, passando de uma forma inferior a uma forma superior, conforme a evolução da sociedade. (ENGELS, 2010) Com o passar do tempo, principalmente com o crescimento populacional, a sociedade instituiu a ideia de monogamia, influenciada por fatores geográficos, sociais, culturais e religiosos. Nesta medida, nota-se que a família é uma construção social organizada por meio de regras comportamentais culturalmente elaboradas. (DIAS, 2009) No Brasil, o reconhecimento da união estável na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, trouxe um tímido alargamento do conceito de família. Entretanto, com o julgamento de duas ações propostas no Supremo Tribunal Federal: a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 132, houve a extensão da interpretação do artigo 1723 do Código Civil Brasileiro que dispõe É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família., de modo a permitir o reconhecimento das uniões homoafetivas como entidades familiares. Com estes julgamentos, o STF reconheceu a extensão do conceito de família, usando dos princípios da igualdade e da dignidade humana como fundamentação para casos em que há ausência ou lacuna na lei que regule tais possibilidades. (PASSOS, 2014) Com a evolução social vê-se o aflorar de uma inovadora concepção de família, baseada em laços afetivos de carinho e de amor; sendo o afeto considerado o alicerce da sustentação da família. O vínculo afetivo passa a ser elemento fundante da família, capaz de unir as pessoas com identidade de projetos de vida e propósitos comuns, com comprometimento mútuo. (DIAS, 2009) E é neste âmbito de
3 reconhecimento de novas entidades familiares que surge a Teoria do Poliamor, que pretende explicar as uniões poliafetivas. Poliamor pode ser definido como uma relação conjugal envolvendo simultaneamente mais de duas pessoas, de forma consensual, onde os envolvidos vivem como uma única família em comunhão de objetivos de vida. Para a configuração deste tipo de relação é necessário que haja uma convivência entre mais de duas pessoas; que esta união seja pública, contínua, duradoura, consensual, admitida por todos os envolvidos, os quais devem ter como objetivo principal o de construírem uma família. Importante diferenciar o poliamor da poligamia, muito comum nos países de religiões predominantemente mulçumanas, onde somente o homem pode ter mais de uma mulher, sem que haja prévio consentimento das mulheres já envolvidas com este. No poliamor há uma relação em que deve prevalecer o consentimento de todas as pessoas envolvidas, de forma que haja amor e relação de afeto entre todos os seus integrantes, refletindo uma ideia de cumplicidade, igualdade e concordância a partir de uma vontade própria e livre. De mesma forma, não se pode confundir poliamor com família paralela, já que neste caso há traição, ocultação e dissimulação, sem que haja concordância de um dos cônjuges e configurando lesão ao dever jurídico da fidelidade, consagrado nos artigos 1566, I e 1727, ambos do Código Civil Brasileiro. Analisando a letra da Lei não haveria como reconhecer a legitimidade jurídica das uniões poliafetivas; porém com o reconhecimento das uniões estáveis homoafetivas pelo Supremo Tribunal Federal, houve uma abertura do conceito de união estável disposto na Constituição Federal. Sob a perspectiva do princípio da igualdade, da liberdade sexual e da dignidade humana, o Direito deve proporcionar proteção às múltiplas entidades familiares, para que haja entre os integrantes desta família sentimento como o afeto,solidariedade, união, respeito, confiança, amor e um projeto de vida comum, permitindo assim o pleno desenvolvimento pessoal de cada indivíduo que participe dessa relação. Discussão O reconhecimento e a regulação das uniões poliafetivas é algo que se impõe na contemporaneidade, considerando que os envolvidos devem ter seus direitos garantidos, como forma de preservar a dignidade humana das pessoas conviventes e dos seus respectivos filhos. Situações como: dissolução da união ou morte de um de seus membros; direitos sucessórios; partilha de bens e percepção de alimentos plenamente protegidos. A possibilidade de casamento poliafetivo se dá pela ausência de vedação constitucional; já que, como já demostrado acima, houve a quebra do paradigma de que só haveria casamento válido se realizado entre homem e mulher. Com base nas decisões da ADI nº 4277 e da ADPF nº 132, bem como com a edição da Resolução 175 do CNJ, o casamento entre pessoas do mesmo sexo passa a ser autorizado.
4 O principal argumento da doutrina contrária a este modelo de família está na justificativa de que este tipo de união atingiria o princípio da monogamia; contudo, a teoria dos direitos fundamentais explica que os princípios não são absolutos, podendo ser relativizados em confronto com outros princípios. (PASSOS, 2014) Deve ser ressaltado que na ocorrência de um casamento poliafetivo não há bigamia; haja vista se tratar de um único casamento, realizado em um único ato jurídico, devendo neste caso, pelo princípio da igualdade, adotar-se igual regime de bens para todos os envolvidos. (PASSOS, 2014) O reconhecimento da entidade familiar poliafetiva é patente no sentido da flexibilização dos relacionamentos visarem à procura das pessoas em realizar o sonho de serem felizes, com a preservação do respeito mútuo e da liberdade individual. Para tal desiderato, deve existir acima de tudo uma comunhão afetiva que proporcione aos membros de qualquer tipo de ambiente familiar, a construção de um projeto de vida em conjunto. Considerações Finais Diante da faticidade das diversas formas de entidades familiares, verifica-se que o reconhecimento das uniões poliafetivas é factível, baseando-se nos princípios da liberdade, dignidade e igualdade da pessoa humana. A regulamentação dessas relações resultariam em consequências jurídicas importantes para seus membros, principalmente no sentido patrimonial, gerando uma segurança para os mesmos e inserindo na sociedade uma realidade muitas vezes ignorada, mas que merece destaque por ser comum em muitas famílias. A pretensão não é a de esgotar o tema, mas trazer à reflexão acadêmica o instituto da poliafetividade; principalmente porque o Direito não pode ficar omisso às mudanças sociais, independentemente de juízos de valores. Referências DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5. Ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, Poliafetividade, alguém duvida que existe?. Disponível em: < > Acesso em 15 jul. 2015
5 . Adultério, bigamia e união estável: realidade e responsabilidade. Disponível em: < _adult%e9rio%2c_bigamia_e_uni%e3o_est%e1vel_- _realidade_e_responsabilidade.pdf> Acesso em 15 jul Sociedade de afeto. Disponível em < Acesso em 15 jul ENGELS, Friedrich, A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Tradução de Leandro Konder. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular, p. PASSOS, Anderson. Família de ontem e de hoje: estudo sobre os aspectos constitucionais e civis do Poliamor. LetrasJurídicas, Maceió. Ano 52, n.º 1, pgs , dez Disponível em: < o_sobre_os_aspectos_constitucionais_e_civis_do_poliamor>. Acesso em 15 jul ROCHA. Marco Tulio de Carvalho. O conceito de família e suas implicações jurídicas. [S. L.] Elsevier.
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