A prosperidade económica

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Marcela Casado Gonçalves
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1 A prosperidade económica 1 Marcadamente pós - industrial (¹), a economia americana apresenta um claro predomínio do sector terciário, que ocupa 75% da população activa e é responsável por 70% do PIB (2). Em conformidade, a América é hoje, o maior exportador de serviços do Mundo (20% do total mundial), sobretudo na área de seguros, transportes, restauração, cinema e música. Este predomínio do terciário não significa, porém, a atrofia dos sectores agrícola e industrial, que ocupam um lugar cimeiro no conjunto das economias desenvolvidas. Altamente mecanizadas, sabendo rentabilizar os avanços científicos (cultivo de produtos transgénicos, por exemplo), as unidades agrícolas e pecuárias americanas têm uma elevadíssima produtividade. De tal forma que as grandes empresas não desdenham o investimento na agro - pecuária, como é o caso da Boeing, que também se dedica à criação de gado, e da Coca-Cola, proprietária dos vinhedos e pomares citrinos. Assim, e apesar de algumas dificuldades geradas pela concorrência externa (sobretudo da União Europeia), os Estados Unidos mantêm-se os maiores exportadores de produtos agrícolas, com uma cota de 15% das exportações mundiais. Pelo seu dinamismo, a agricultura americana alimenta ainda um conjunto de indústrias, desde a produção de sementes e maquinaria agrícola até à embalagem, comercialização e transformação dos seus produtos. Este verdadeiro complexo agro-industrial envolve mais de 20 milhões de trabalhadores e representa cerca de 18% do PIB americano. (1) - Por economia pós-industrial entende-se uma economia que se alicerça sobre a alta tecnologia e os serviços que garantem um nível de vida elevado. (2) - V. Gráfico 1.

Este predomínio do terciário não significa, porém, a atrofia dos sectores agrícola e industrial, que ocupam um lugar cimeiro no conjunto das economias desenvolvidas.

2 Responsável por um quarto da produção mundial, a indústria dos Estados Unidos sofreu, nos últimos 30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores tradicionais, como a siderurgia e o têxtil, entraram em declínio e, como eles, decaiu também a importância económica da zona nordeste, o Manufacturing Belt, até aí o coração da indústria americana. Esta zona, que se mantém o centro financeiro da América do Norte (Nova Iorque, Chicago), alberga ainda as sedes sociais das grandes empresas e algumas das mais prestigiadas universidades americanas. No entanto, o declínio da velha indústria e a descolonização de alguns ramos para as regiões do sul relegou-a para segundo lugar da hierarquia industrial, em favor do Sun Belt, uma extensa faixa dão sudoeste assim chamada em virtude do seu clima agradável. 2 Em crescimento acelerado desde os anos 60, a região do Sun Belt beneficia de uma situação geográfica privileg9iada para os contactos com o Pacífico e a América Latina (₃), e do dinamismo das indústrias de alta tecnologia que aí se instalaram (electrónica, aeronáutica, aeroespacial, etc.). O partido que os Estados Unidos retiram da sua implantação na América e na área do pacífico reforçou-se durante a presidência de Bill Clinton. Numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da União europeia, Clinton procurou estimular as relações económicas com a região do Sudeste Asiático, revitalizando a APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico), criado em No mesmo sentido, o presidente impulsionou a criação da NAFTA (Acordo de Comércio Livre da América do Norte), que estipula a livre circulação de capitais e mercadorias (não de pessoas) entre os EUA, o Canadá e o México. Em consequência da sua participação na NAFTA, o Canadá e o México beneficiaram da pujança económica americana mas, em contrapartida, viram aumentar a dependência face ao seu vizinho: mais de três quartos do comércio externo do Canadá faz-se, hoje, com os Estados Unidos e a proporção mexicana cresceu de 75%, em 1993, para 81%, em A quando da criação da NAFTA, e com vista a estender as suas condições a todo o continente, Clinton iniciou também o processo de conversações para a (3) - Aproveitando a sua vizinhança com o México, os Americanos deslocalizaram algumas unidades industriais para lá da fronteira, de forma a aproveitar o baixo custo de mão-de-obra. Estas unidades são conhecidas como maquiladoras.

3 constituição de uma Área de Livre Comércio das Américas (AlCA), que englobará os países do Norte e do Sul, com excepção de Cuba. As negociações, que se têm arrastado em virtude da oposição de alguns sectores que temem o reforço de hegemonia económica americana, concluíram-se no decurso de 2005, dando origem à maior área de comércio livre do mundo. 3 Numa época em que as grandes indústrias de base recuam perante as novas tecnologias (4), a capacidade de inovar é determinante para o desenvolvimento e o prestígio de um país. Liderando a corrida tecnológica (5), os EUA asseguram, na viragem para o século XXI, a sua supremacia económica e militar. Tal como nos tempos da guerra fria, os EUA são, hoje, a nação que mais gasta em investigação científica, disponibilizando verbas que excedem o conjunto dos seus parceiros do G8. Para além dos centros que dele directamente dependem, o Estado federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa privada, quer através do seu financiamento (em 50%), quer das gigantescas encomendas de sofisticado material militar e paramilitar. O avanço técnico fica, também, a dever-se à criação precoce de parques tecnológicos os tecnopólos -, que associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas, que trabalham de forma articulada. Um dos mais famosos situa-se em Sillicon Valley, na Califórnia, e foi berço da Internet. No início dos anos 90, o fim da Guerra Fria trouxe ao mundo a esperança de uma época nova, de paz e cooperação entre as nações. Dessa esperança se fez eco o presidente dos EUA, Georges Bush (pai), ao defender a criação de uma nova ordem mundial orientada pelos valores que, em 1945, tinham feito nascer a ONU. É invocado esta ordem nova, que se pretende criar, que as Nações Unidas aprovam uma operação militar multinacional com o fim de repor a soberania do Kuwait (Golfo Pérsico), invadido em Agosto de 1990, pelo Iraque. (4) - Segundo Leo Burnst, a tecnologia traduz-se numa teoria sobre a técnica (tecnos + logos), que abarca todos os meios e processos que permitem resolver problemas de técnica através de conhecimentos teóricos e científicos, com método. Ao contrário da ciência, a tecnologia não tem hipótese de ser desinteressada. (5) - V. Gráfico 2.

4 A libertação do Kuwait (conhecida como a Guerra do Golfo) iniciou-se em Janeiro de 1991 e exibiu, perante o mundo que a seguiu em directo pela televisão, a superioridade militar dos Estados Unidos (6). O exército iraquiano, o quarto maior do mundo, com quase um milhão de homens, nada pôde contra as sofisticadas tecnologias de guerra americanas. Em apenas seis semanas, as operações militares estavam concluídas. Esta inaugurou a hegemonia mundial americana. O fim da URSS deixou os Estados Unidos sem rival de vulto na cena político-militar: o Japão, gigante económico, pouco dispende na defesa e a União europeia, não conseguir encontrar uma verdadeira política externa comum. 4 Assim, o poderio económico afirmou-se inequivocamente, apoiado pelo gigantismo económico e pelo investimento maciço no complexo industrialmilitar (7). Única superpotência, os EUA têm sido considerados, na última década, os polícias do mundo, em virtude do papel preponderante e activo que têm desempenhado na geopolítica do Globo. Assim: - Multiplicaram a imposição de sanções económicas; - Reforçaram o papel da OTAN; - Assumiram um papel militar activo. Este último motivo serviu de suporte à polémica invasão do Iraque, que, em 2003, derrubou o regime de Sadam Hussein. No entanto, a guerra fez crescer o sentimento antiamericano no mundo. Abriu também, na área do golfo, um foco de grande instabilidade que se tem mostrado muito difícil de controlar. Texto adaptado pela professora Isabel Marques (6) - Fortemente mediatizada, a Guerra do golfo difundiu a ideia de que era possível fazer uma guerra limpa, praticamente sem perdas humanas. A realidade não terá sido bem assim: estima-se que tenham morrido cerca de soldados iraquianos, civis e que o número de feridos tenha sido ainda mais elevado. (7) - Foi esta esmagadora superioridade que deu a vitória da Guerra fria à administração Reagan. O arrojado projecto iniciativa de Defesa Estratégica (conhecido como a Guerra das estrelas), anunciado em 1983, era inigualável por qualquer outra potência, tanto a nível orçamental como tecnológico. Subalternizado durante o mandato do presidente Clinton, o projecto de constituir um anel de defesa antimíssil para a protecção do território americano voltou-se a activar em 2001 (ainda antes do 11 de Setembro), embora se tenha deparado com algumas dificuldades de execução.

Em apenas seis semanas, as operações militares estavam concluídas. Esta inaugurou a hegemonia mundial americana.

5 Gráfico 1- Evolução da estrutura da população activa dos EUA Sector primário Sector Secundário Sector Terciário Gráfico 2 Orçamento da investigação nos países do G8 Canadá 3,6 3,8 7,2 8,9 12,8 Rússia Itália Reino Unido 77,6 19,7 15,9 França Alemanha Japão EUA

1980 1990 1997 Gráfico 2 Orçamento da investigação nos países do G8 Canadá 3,6

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