AVALIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE OPERADORES DE MÁQUINA DA COLHEITA FLORESTAL
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- Mirella Barreiro Coradelli
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1 AVALIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE OPERADORES DE MÁQUINA DA COLHEITA FLORESTAL Emília Pio da Silva 1 ; Luciano José Minette 1 ; Amaury Paulo de Souza 1 ; Marcio Alves Marçal 2 ; Cleverson de Mello Sant Anna 1 ; Haroldo Carlos Fernandes 1. 1 Universidade Federal de Viçosa emilia.ergo@ufv.br 2 Universidade Federal da Ciência da Saúde em Porto Alegre - marcio@nersat.com.br Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a organização do trabalho de operadores de máquina da colheita florestal. A coleta de dados foi realizada em uma empresa de base florestal que realiza colheita mecanizada. Foram realizadas observações in loco, sistemáticas, do dia típico de trabalho. Observou-se que a atividade era realizada em três turnos diferentes e que as pausas eram insuficientes. Além disso, o trabalhador permanecia durante toda a jornada de trabalho na postura sentada, os membros superiores mantinham posturas estáticas e inadequadas e as horas-extras era um mecanismo comum. Ao término desta pesquisa evidenciou-se que a organização do trabalho pode gerar agravos a saúde do trabalhador. Palavras-chave: organização do trabalho; operadores florestais; saúde do trabalhador. 1. Introdução Nos últimos anos, as questões ligadas à organização do trabalho têm sido intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnologias e sistemas de produção e principalmente, por serem responsáveis por transtornos à saúde do trabalhador, incluindo as lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT). A organização do trabalho refere-se à forma como o processo de trabalho é estruturado, como as tarefas são planejadas, distribuídas e executadas e quais os métodos de supervisão utilizados. O trabalho pode proporcionar prazer ou sofrimento, pode ser estimulante e gratificante ou, ao contrário, pode ser prejudicial à saúde física e psíquica do trabalhador, conforme a situação que ele ocorre (MUSSI, 2005). As implicações dos fatores organizacionais do trabalho surgem, normalmente, no dia-a-dia dos trabalhadores. O que torna tudo isso relevante é 1
2 que estes problemas podem ser agravados pelo ambiente de trabalho, resultando em doenças ocupacionais. Há várias maneiras de os fatores organizacionais aumentarem os riscos de doenças no trabalho. Segundo Ragasson et al. (2005), os fatores organizacionais representam importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças ocupacionais. Entre eles citam-se: turno e ritmo de trabalho, pausas, hierarquia, horas-extras, estímulo à produção, rotatividade de mão-deobra, relacionamento interpessoal, falta ou insuficiência de treinamento, supervisão inadequada, pressão de tempo e produtividade, insatisfações com o emprego e salário. Nas pesquisas ergonômicas há valorização dos aspectos físicos. Essa valorização pode estar relacionada às análises quantitativas que, geralmente, são mais fáceis de serem realizadas. No entanto, o fato dos aspectos organizacionais do trabalho não serem de fácil definição e mensuração, não os exclui da investigação das doenças ocupacionais. Diante disso, esta pesquisa teve como objetivo avaliar a organização do trabalho de operadores de máquinas da colheita florestal. 2. Material e Métodos 2.1. Local do estudo A pesquisa foi realizada em uma empresa de base florestal. As áreas de atuação da empresa estão localizadas na região centro-leste do estado de Minas Gerais, entre as coordenadas Latitude 18º29 25 a 20º15 52 S e Longitudes 42º07 50 a 43º W Coleta de dados Esta pesquisa teve uma abordagem qualitativa e descritiva. A análise visou obter informações e dados para diagnosticar os problemas existentes na organização do trabalho dos operadores de máquinas da colheita florestal. 2
3 Para a descrição dos aspectos da organização do trabalho foram realizadas observações in loco, sistemáticas, do dia típico de trabalho. Foram observadas as atividades dos operadores de harvester e forwarder almejando entender e descrever o dia-a-dia de trabalho, ou seja, o comportamento dos trabalhadores no posto de trabalho. 3. Resultados e Discussão A colheita de madeira mecanizada acontecia basicamente em duas etapas, realizadas pelo harvester e forwarder. As observações mostraram que a atividade era realizada em três turnos (8 às 16 horas/16 horas às 24 horas/ 24 horas às 8 horas), com jornada de 8 horas e com pausa de 40 minutos para almoço, lanche ou jantar. Os turnos de 8 horas às 16 horas e 16 horas às 24 horas possuíam um supervisor para monitoramento das atividades. O turno de 24 às 8 horas foi considerado o pior pelos trabalhadores, devido ao sono que relatam sentir, maior atenção e esforço visual e sono diurno não restaurador. De acordo com Fischer et al. (2004), para os trabalhadores do turno noturno, o sono diurno é perturbado por motivos fisiológicos, já que é difícil adormecer e dormir por um longo período quando o sono começa durante a fase ascendente do ritmo da temperatura corporal e por condições ambientais desfavoráveis (luz, barulho e etc...) ou compromissos domésticos. Consequentemente, o sono é mais curto e frequentemente interrompido. Os trabalhadores eram orientados a fazerem pausas durante toda a jornada de trabalho, sendo que nesses períodos deveriam realizar ginástica de distensionamento e alongamento. No entanto, essa não era uma regra rígida e por isso, na maioria das vezes, as pausas não aconteciam ou não eram realizadas de forma eficiente. De acordo com Couto et al. (2007), na medida do possível é indicado deixar que o trabalhador faça seu próprio período de pausa, o que corrobora com os princípios adotados pela empresa. Porém, pode-se perceber que os 3
4 trabalhadores não estavam usando esses princípios de forma adequada. As pausas devem ser suficientes para equilibrar a biomecânica do organismo, compensando, ainda, a carga mental. Para a atividade de operação de máquinas florestais, as pausas eram recomendadas devido à necessidade dos trabalhadores permanecerem sentados durante toda a jornada de trabalho. Além de adotar posturas estáticas e realizarem movimentos repetitivos exigidos pelo sistema de comando da máquina. A postura sentada é menos fatigante que a de pé. Porém, nessa condição, o pescoço e as costas dos trabalhadores ficam submetidos a longos períodos de tensão, o que pode provocar dores localizadas. Sendo assim, a postura sentada deve ser evitada por períodos prolongados. Além disso, as posturas estáticas e os movimentos repetitivos exigem uma tensão contínua de certos músculos, provocando fadiga muscular localizada, o que resulta em dores, desconforto e queda de desempenho do trabalhador (MAIA, 2008). As áreas de trabalho, geralmente eram distantes das regionais da empresa e por isso era disponibilizado transporte aos trabalhadores. Todos os dias, os trabalhadores viajavam até a frente de trabalho. Essas viagens duravam mais de uma hora dependendo da localização da área de colheita, o que resultava em um maior cansaço físico diário do trabalhador. Esse aspecto pode ser observado no depoimento dos trabalhadores: (...) a gente sai muito cedo de casa e chega tarde. (...) a gente fica muito cansado, por que demora chega em casa. A atividade era organizada no sistema de meta de produtividade e essas metas eram definidas de acordo com os seguintes itens: declividade do terreno, comprimento e diâmetro da madeira, distância, índice por região, disponibilidade da máquina. Segundo IIDA (2005), a pressão para manutenção da produção é uma das maiores causas de estresse. Caso a equipe de trabalho não conseguisse atingir a meta mensal estabelecida era necessário realizar hora-extra. As horas trabalhadas a mais 4
5 eram contabilizadas em um sistema de banco de horas de trabalho. Deste modo, quando o trabalhador precisava ausentar-se, as faltas eram descontadas desse banco de horas. Cada trabalhador era responsável pelo monitoramento da sua máquina e caso acontecesse algum problema mecânico era de responsabilidade do mesmo acionar o serviço de manutenção. A comunicação entre os trabalhadores durante a jornada de trabalho era bastante restrita em função das características da atividade. Cada trabalhador ficava limitado à cabine da máquina onde, muitas vezes, realizavam até mesmo as refeições. Essas condições contribuem para a ocorrência de estresse, tédio e monotonia no trabalho (IIDA, 2005). A empresa oferecia equipamentos de proteção individual (EPI) para todos os operadores de máquina. No entanto, foi observado que muitas vezes os operadores não utilizavam os equipamentos adequadamente. Foram encontrados os seguintes equipamentos de proteção: capacete, óculos, protetor auditivo, luva, perneira e bota. 4. Conclusão A organização do trabalho dos operadores de máquina da colheita florestal apresenta aspectos que podem comprometer a saúde do indivíduo. Os fatores que podem gerar agravos a saúde do trabalhador são: trabalho noturno, ausência de pausas, metas de produtividade, hora-extra, dificuldade na comunicação entre os trabalhadores. Agradecimentos À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de doutorado concedida a primeira autora. 5
6 5. Referências Bibliográficas COUTO, H. A.; NICOLETTI, S. J.; LECH, O. Gerenciando a LER e os DORT nos tempos atuais. Belo Horizonte: Ergo Editora, FISCHER, F. M.; MORENO, C. R. C.; ROTENBERG, L. Trabalho em turnos e noturno na sociedade 24 horas. São Paulo: Editora Atheneu, IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgar Bluncher, MAIA, I. M. O. Avaliação das condições posturais dos trabalhadores na produção de carvão vegetal em cilindros metálicos verticais f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Ponta Grossa, RAGASSON, C. A. P.; LAZZAROTTO, E. M.; RUEDELL, A. M. Estudo das condições de trabalho. In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL, 2., 2005, Cascavel-PR. Anais... Cascavel-PR, Disponível em: < projetos/gpps/midia/seminario2/index.htm>. Acesso em: 9 ago
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