Autos nº

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO REGIONAL DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS 3ª VARA CÍVEL DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS - PROJUDI Rua João Ângelo Cordeiro, s/n - São José dos Pinhais/PR - CEP: Fone: (41) sjp3civel@tjpr.jus.br Autos nº Processo: Classe Processual: Procedimento Ordinário Assunto Principal: Práticas Abusivas Valor da Causa: R$ ,00 Autor(s): MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARANÁ (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) Rua Paulino de Siqueira Cortes, São Pedro - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR - CEP: Réu(s): NEIDE RESENDE RIBEIRO DE OLIVEIRA (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) RUA: TOMAS MORUS, ARISTOCRATA - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR GRUPO PEDRA COMÉRCIO E ASSESSORIA E SERVIÇOS LTDA. (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) Rua Padre Bittencourt, Centro - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR - CEP: ARILDO NIZER (RG: SSP/PR e CPF/CNPJ: ) rua Barão do Cerro Azul, CENTRO - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR SILVIO BARBOZA DE MELO (RG: SSP/PR e CPF/CNPJ: ) rua Friedrich Nietzsche, 26 - Aristocrata - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR LOURIVALDO ANTONIO DE OLIVEIRA (RG: SSP/PR e CPF/CNPJ: ) Rua Thomas Morus, Aristocrata - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR - CEP: ESPAÇO AMBIENTAL HOME HOTEL LTDA (CPF/CNPJ: / ) Estrada Ribeirão do Mel, s/n - Queimada - TIJUCAS DO SUL/PR - CEP: ANA LUCIA MOURAO DE MELO (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) rua Friedrich Nietzsche, 26 - Aristocrata - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR Vistos. Trata-se de Ação Civil Pública, promovida pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face de ESPAÇO AMBIENTAL HOME HOTEL LTDA., GRUPO PEDRA COMÉRCIO ASSESSORIA E SERVIÇOS LTDA., SILVIO BARBOZA DE MELO, ANA LÚCIA MOURÃO DE MELO, LOURIVALDO ANTONIO DE OLIVEIRA, NEIDE RESENDE RIBEIRO DE OLIVEIRA e ARILDO NIZER, na qual se alega, em síntese, que os requeridos Espaço Ambiental Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, com o auxílio de terceiros, no final do ano de 2012, deram início a loteamento

2 clandestino, para fins urbanos, nos imóveis rurais situados na localidade denominada Ribeirão do Mel, no município de Tijucas do Sul, cujo empreendimento clandestino passou a ter a denominação de Espaço Ambiental Home Hotel, sem a prévia e indispensável aprovação de projeto de loteamento pelo município de Tijucas do Sul, sem o prévio e indispensável licenciamento ambiental emitido pelo Instituto Ambiental do Paraná, sem a anuência da COMEC e do INCRA, e sem o prévio e indispensável registro do loteamento aprovado no Cartório de Registro de Imóveis. Que os requeridos, ainda, praticaram graves danos ambientais em razão da supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração do bioma Mata Atlântica. Por fim, alega a afronta aos direitos dos consumidores, pela venda de loteamentos irregulares, supostamente mascarados pela destinação hoteleira. Pleiteia o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela, para o fim de que que seja determinado aos réus o cumprimento de diversas obrigações de fazer e de não fazer, conforme especificado na inicial. Pois bem. Segundo o artigo 273 do Código de Processo Civil, é viável conceder-se a antecipação dos efeitos da tutela, desde que haja prova inequívoca, e o Juiz se convença da verossimilhança das alegações, além de estarem presentes uma das circunstâncias mencionadas nos dois incisos do dispositivo, quais sejam, (I) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, ou se esteja diante de (II) abuso de direito ou manifesto propósito protelatório do réu. Teori Albino Zavascki[1]: Sobre os requisitos da concessão que busca a agravante, a lição do Ministro (...) Estabeleceu o legislador, como pressupostos genéricos, indispensáveis a qualquer das espécies de antecipação da tutela, que haja (a) prova inequívoca e (b) verossimilhança da alegação. O fumus boni iuris deverá estar, portanto, especialmente qualificado: exige-se que os fatos, examinados com base na prova já carreada, possam ser tidos como fatos certos. (...). Assim, o que a lei exige não é, certamente, prova de verdade absoluta que sempre será relativa, mesmo quando concluída a instrução, mas uma prova robusta, que, embora no âmbito de cognição sumária, aproxime, em segunda medida, o juízo de probabilidade do juízo de verdade. Daniel Mitidiero[2]: Ainda sobre o assunto, esclarece a doutrina de Luiz Guilherme Marinoni e Inequívoca é uma qualidade atribuída à prova. Melhor explicando: o legislador pretendeu deixar claro que o juiz somente deve conceder a tutela antecipatória quando for provável que aquele que a postula obterá um resultado final favorável. No caso concreto, o ofício de n.º 325/2014 da Prefeitura de Tijucas do Sul (evento 1.21), assim como a resposta à consulta prévia formulada pela COMEC (evento 1.22) e o auto de infração do IAP (evento 1.15), demonstram, de forma inequívoca, a verossimilhança do direito alegado. A partir de tais documentos, somados aos apresentados em eventos 1.23 a 1.41, constata-se que loteamento, sob a denominação de Espaço Ambiental Home Hotel, supostamente sem a prévia e indispensável aprovação de projeto de loteamento pelo município de Tijucas do Sul, sem o prévio e indispensável licenciamento ambiental emitido pelo Instituto Ambiental do Paraná, sem a anuência da COMEC e do INCRA, e sem o prévio e indispensável registro do loteamento aprovado no

3 Cartório de Registro de Imóveis, estão sendo colocados à venda pelo Grupo Pedra, possivelmente ferindo direitos consumeristas e colocando em risco o meio ambiente. De outro turno, inexiste qualquer demonstração de que o loteamento tenha sido previamente regularizado junto ao Município de Tijucas do Sul, afirmando o Município que os empreendimentos vistoriados estão regulares no município para uso EXCLUSIVO de exploração de atividade turística hotel até 31/12/2014 (evento 1.21), o que, aparentemente, não se trata da hipótese do empreendimento em tela, já que as vendas dos lotes eram feitas para moradia dos eventuais compradores. Vislumbro, outrossim, o periculum in mora dos pedidos encartados na inicial, na medida em que a irregularidade do loteamento vem afetando sobremaneira tanto os compradores, como o próprio meio ambiente. Ademais, eventuais alienações que vierem a se efetivar poderão prejudicar novos consumidores, desatentos ao fato de possíveis irregularidades no local. Cuidando-se, destarte, de loteamento realizado sem a observância da legislação, impõe-se, ao menos nesse momento, vedar a alienação de seus lotes, bem como qualquer alteração física da gleba (pelo proprietário ou por terceiros). Por todo o exposto, defiro a tutela antecipada pleiteada, para o fim de determinar: a) a proibição aos requeridos Espaço Ambiental Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo, Ana Lúcia Mourão de Melo, Lourivaldo Antonio de Oliveira, Neide Resende Ribeiro de Oliveira e Arildo Nizer, por si ou por intermédio de terceira pessoa física ou jurídica, da Página 26 de 31 realização de quaisquer novas obras de melhoria ou de infraestrutura, e de qualquer alteração ao ambiente nos imóveis rurais situados na localidade denominada Ribeirão do Mel, no município de Tijucas do Sul e registrados nas matrículas nº e , assim como do seu loteamento ou desmembramento não autorizado, sob pena de incidência de multa de R$ ,00 (dez) mil reais por cada descumprimento; b) a proibição aos requeridos Espaço Ambiental Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, por si ou por intermédio de terceira pessoa física ou jurídica, de fazer propagandas de vendas de lotes, quer através de jornais, faixas, ou distribuição de panfletos, ou qualquer outro meio que venha a demonstrar a intenção de vender, atraindo, assim, os interessados para uma possível comercialização de lotes situados nos imóveis rurais situados na localidade denominada Ribeirão do Mel, no município de Tijucas do Sul e registrados nas matrículas nº e , e que atualmente integram o empreendimento denominado Espaço Ambiental Home Hotel, sob pena de incidência de multa de R$ ,00 (dez) mil reais por cada descumprimento; c) a proibição aos requeridos Espaço Ambiental Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo, de comercializar, a título oneroso ou gratuito, qualquer lote decorrente do loteamento clandestino em comento, sob pena de incidência de multa de R$ ,00 (dez) mil reais por cada descumprimento;

4 d) a proibição aos requeridos Espaço Ambiental Home Hotel Ltda., Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., Silvio Barboza de Melo e Ana Lúcia Mourão de Melo de receber, por si ou por interposta pessoa física ou jurídica, a qualquer título, o Página 27 de 31 pagamento relativo aos contratos de venda de lotes já entabulados, assim como de protestar promissórias ou qualquer outro título que tenham recebido como forma de pagamento das vendas de lotes ou frações ideais do referido loteamento clandestino, sob pena de incidência de multa de R$ ,00 (dez) mil reais por cada descumprimento; e) a determinação de imediata suspensão do pagamento das prestações restantes pelos adquirentes dos lotes do loteamento clandestino em comento, com a posterior notificação de todos os adquirentes, consoante relação de nomes a ser acostada; f) a sustação de todos os protestos realizados pelo requerido Grupo Pedra Comércio Assessoria e Serviços Ltda., por si ou por intermédio de terceira pessoa física ou jurídica, assim como a proibição de formalização de novos protestos, em face dos adquirentes de lotes do empreendimento denominado Espaço Ambiental Home Hotel, e a comunicação dessa determinação aos Cartórios de Protestos do Estado do Paraná por meio do sistema mensageiro, assim como aos órgãos de proteção ao crédito (SERASA, SPC e SCPC e congêneres) para afastar a inscrição dos nomes dos adquirentes dos seus cadastros. Expeçam-se ofícios aos órgãos de restrição ao crédito, bem como aos Cartórios de Títulos e Notas de São José dos Pinhais; g) a determinação para que os requeridos providenciem a colocação de placa ou qualquer outra forma similar de anúncio no local, contendo a informação de que o empreendimento Espaço Ambiental Home Hotel encontra-se interditado por decisão da Justiça Estadual em Ação Civil Pública. h) a determinação ao 1 Ofício de Registro de Imóveis de São José dos Pinhais para a anotação nas matrículas nº e dos imóveis rurais de registro sobre o trâmite da presente ação civil pública e dos seus pedidos. Expeça-se ofício; i) a publicação de Edital para dar conhecimento a terceiros interessados e à coletividade, considerando o caráter erga omnes da Ação Civil Pública, nos termos do artigo 94 da Lei nº 8.078/90. Expeça-se edital; j) a intimação do Município de Tijucas do Sul e do Instituto Ambiental do Paraná para terem conhecimento do teor desta ação civil pública. Em que pese não se evidencie conexão entre esta Ação Civil Pública e demandas individuais propostas por possíveis lesados[3], já que estes poderão ou não requerer a suspensão de seus processos, consoante artigo 104 do Código de Defesa do Consumidor, oficie-se aos 1.º e 2.º Juízos Cíveis deste Foro Regional, para conhecimento desta ação coletiva, bem como para análise de eventual prejudicialidade externa. Citem-se os requeridos para querendo, contestarem a presente ação, no

5 prazo legal, sob pena de revelia. Intimem-se. Diligências necessárias. São José dos Pinhais, data da assinatura digital. Márcia Hübler Mosko Juíza de Direito [1]ZAVASKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Editora Saraiva, 1997, p. 75/77. [2]MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil comentado artigo por artigo. 3ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p [3] CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO COLETIVA E AÇÃO INDIVIDUAL. AUTONOMIA. REUNIÃO DE PROCESSOS. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. MODIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A ação individual pode ter curso independente da ação coletiva para defesa de direitos individuais homogêneos. 2. A competência absoluta não pode ser modificada por conexão ou continência (CPC, art. 102). 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de São José dos Pinhais/PR, o suscitado. (CC /PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2004, DJ 13/09/2004, p. 165).