JUIZ FERNANDO DE CASTRO MESQUITA

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1 PARECER CÍVEL N. 2/7.048/2014 ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI N ( ) COMARCA DE ORIGEM GOIÂNIA ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE ORIGEM 4ª TURMA JULGADORA DA 5ª CÂMARA CÍVEL ÓRGÃO JULGADOR CORTE ESPECIAL RELATOR JUIZ FERNANDO DE CASTRO MESQUITA SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS SPIRIDON N. ANYFANTIS AIL. INSTAURAÇÃO. AUSÊNCIA DE JUÍZO TENDENTE À DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRESSUPOSTO INARREDÁVEL. INADMISSIBILIDADE DO INCIDENTE, À MÍNGUA DE SUA OBSERVÂNCIA. 1. Não basta à valida instauração do incidente de inconstitucionalidade que o órgão colegiado de origem se cinja ao reconhecimento da prejudicialidade da questão constitucional agitada, impondo-se, ao invés, que formule juízo de inconstitucionalidade, remetendo-o, em seguida, à Corte Especial, cuja competência é exclusiva para a declaração da pecha, ou, quando menos, encampe ótica concernente à plausibilidade do vício material 1

2 e ou formal. admissibilidade processual. 2. Parecer pela inadmissibilidade do incidente, sem embargo de nova instauração, observado o figurino processual. Colenda Corte Especial Eminente Relator Cuida-se, na espécie, de incidente de inconstitucionalidade instaurado em face da norma-regra do art. 6º, da Lei Complementar n. 223/2011, do Município de Goiânia (fls. 413/422). Sucinto relatório. I 1. O caso dos autos ostenta, a rigor, singularidade, que põe em manifesto o descabimento da instauração do incidente de inconstitucionalidade sob análise. 2. Consoante exposto pelo magistério da doutrina, a válida submissão prévia da questão constitucional ao Plenário ou Órgão Especial do Tribunal supõe e exige juízo positivo sobre a inconstitucionalidade divisada, não se prestando a tanto a mera invocação de vício(s) por sujeito processual parcial, pelo Ministério Público ou, até mesmo, ex officio, por magistrado: é que, conforme o magistério da doutrina, o acolhimento do incidente, destarte, pressupõe juízo deliberativo tendente à declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato do Poder Público (BUENO, Cassio 2

3 Scarpinella, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, v. 5/372, v. g.). 3. De há muito, aliás, rejeita o notável Barbosa Moreira que baste à escorreita instauração do incidente o mero juízo de 'relevância' da prejudicial, impondo-se, ao contrário, que a maioria do órgão colegiado de origem, avançando sobre o tema, mostre convicção a respeito da procedência da eiva de inconstitucionalidade (Comentários ao Código de Processo Civil, 16ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 41, v. g.), de tal sorte que se veja diante da imposição de remessa ao Plenário ou ao Órgão Especial, pois, fosse outra a convicção, sequer seria legítimo cogitar-se da incidência do art. 97 da Constituição Federal, cediço que o colegiado menor pode operar dada sua plena competência funcional para esse mister juízo positivo de constitucionalidade. 4. Assim, o douto Araken de Assis (Manual dos Recursos, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p ), após acentuar que, surgindo a questão constitucional no julgamento, cumpre ao presidente promover o respectivo debate, concedendo a palavra, pela ordem, aos advogados presentes, se o feito comportar sustentação oral, e colher o voto dos juízes, acentua que não se revela crível a instauração do incidente quando não houver, no alvitre dos julgadores, qualquer inconstitucionalidade material ou formal na lei indigitada. 5. Dessa intelecção não discrepa o professor e, hoje, Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso (Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro, 5ª ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p. 120, v. g.), firme em interligar ao acolhimento da arguição de inconstitucionalidade pelo órgão fracionário a conclusão, pelos seus integrantes, de que a norma indigitada é inconstitucional. 6. Não se confunde, portanto, com o juízo conclusivo dos integrantes do órgão fracionário de origem a simples instauração acórdão que, como o de fls. 413/422, restringe-se a dar pelo caráter prejudicial da questão. 3

4 7. Com efeito, o fato de ser prejudicial a questão constitucional não desloca a competência, nos termos do art. 97 da Constituição da República, para o Órgão Especial, senão quando, por se concluir pela inconstitucionalidade, os membros do órgão fracionário não puderem declará-la, ressabido, diversamente, que, sendo o juízo de sua sempre ilustrada membresia no sentido da constitucionalidade, o próprio órgão fracionário deverá, em exame de questão que continuará sendo pela própria natureza das coisas ou por imposição lógica prejudicial, afirmar a compatibilidade do ato normativo sob exame com a ordem constitucional. 8. Com todas as vênias, porém, longe passa o aresto de fls. 413/422 de concluir pela procedência da pecha de inconstitucionalidade, remetendo, pura e simplesmente, com inflação da pauta da Corte Especial, o feito à regra do full bench. 9. Ademais, sequer veicula o acórdão o que seria suficiente para certa corrente da doutrina (AMARAL JÚNIOR, José Levi Mello do, Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade Comentários ao art. 97 da Constituição e aos arts. 480 a 482 do Código de Processo Civil, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 57, v. g.) juízo sobre a relevância, de fundo, da arguição de inconstitucionalidade, vale dizer, de plausibilidade da alegação de incompatibilidade formal ou material de regra subalterna com a Constituição. 10. Noutros termos, mesmo que se reduzisse por sugestão de um e outro doutrinador a exigência de decisão de instauração ao patamar, mais rarefeito, da mera plausibilidade da alegação referente à inconstitucionalidade averbada, dispensando-se os magistrados componentes do órgão fracionário de conclusão sobre a procedência da pecha, o acórdão de fls. 413/422 ainda não satisfaria o requisito, pois, como se extrai de sua leitura, se ateve a Câmara Cível de origem não excedendo esse juízo a identificar o exame da questão como prejudicial. II 4

5 11. DO EXPOSTO, manifesta-se o Ministério Público do Estado, pela sua Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos, no sentido da inadmissibilidade do presente incidente, com o consequente retorno dos autos à Câmara Cível de origem, sem embargo, eventualmente, se for o caso, de renovada instauração, observando-se, para tanto, as normas de regência. Goiânia, 3 (três) de novembro de Spiridon N. Anyfantis Subprocurador - Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos Port. Nº1.492/2014 DOMP 1224ª ed. 5