O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS ÁREAS ADJACENTES A PLANOS DE ÁGUA E TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO
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- Herman de Mendonça Coimbra
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1 O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NAS ÁREAS ADJACENTES A PLANOS DE ÁGUA E TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO Carlos Pina, Geógrafo, CCDR-LVT Paula Santana, Geógrafa, CCDR-LVT Subtema: A economia do território e a sustentabilidade A presente comunicação reflecte sobre as principais transformações do uso do solo ocorridas na primeira década do século XXI, nas áreas adjacentes aos planos de água. A Água desempenha um conjunto de funções-chave em termos ambientais/preservação da biodiversidade, sociais, culturais e económicos, motivando, pela sua escassez em algumas regiões, conflitos bélicos (vide o conflito Síria-Israel pelo controlo dos Montes Golã). Figura 1 - Serviços e Funções da Água 1 Formatada: Tipo de letra: Arial, Negrito Formatada: Tipo de letra: Arial, Negrito Formatada: Tipo de letra: 11 pt Formatada: Tipo de letra: 11 pt Fonte: Extraída de Ecossistemas e Bem-Estar Humano, 2009, p. 353 A Água, decorrente das suas funções, oferece um conjunto diversificado de serviços 1 - habitats para animais e plantas, suporte a actividades económicas e humanas (rega e 1 Serviços dos ecossistemas são os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas. Estes incluem serviços de produção, regulação e culturais, que afectam directamente as pessoas, e serviços de suporte necessários para manter os restantes serviços. Alterações nestes serviços afectam o bem-estar humano através de impactos na segurança, nos recursos materiais básicos para uma vida com qualidade, na saúde e nas relações sociais e culturais. (Ecossistemas e Bem-Estar Humano, 2009).
2 consumo humano, por exemplo), património e paisagem, e transporte de pessoas e bens. (referência à associação entre a água e a saúde/doença) A diversidade e a importância dos serviços prestados pela Água implicam uma gestão articulada e integrada em áreas alargadas que considerem os interfaces entre as águas de superfície e as águas de profundidade, procurando assegurar a conciliação entre os usos a instalar e/ou instalados, garantindo a sustentabilidade ambiental de todo o sistema. Figura 2 - Dimensões dos interfaces entre as massas de água de superfície e de profundidade 2 Fonte: Extraída de Ecossistemas e Bem-Estar Humano, 2009, p. 349 A Região de Lisboa e Vale do Tejo, abrangida pelas Bacias Hidrográficas do Tejo e das Ribeiras no Oeste, apresenta uma grande riqueza em termos de recursos hídricos nas suas diferentes dimensões interiores de superfície (cerca de duas dezenas de sub-bacias, dois Estuários e Albufeira de Castelo de Bode, por exemplo), interiores subterrâneos (o maior e mais importante sistema aquífero português - Sistema Aquífero do Tejo e Sado) e litoral.
3 O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) 2 identifica os recursos hídricos como "... uma componente essencial do ordenamento do território..." por ser imprescindível a diversos usos humanos constituindo, como tal, "... uma condicionante estratégica das opções espaciais de desenvolvimento e da localização de usos e actividades...". Figura 3 - Articulação entre Gestão da Água e Ordenamento do Território num quadro de Desenvolvimento Sustentável Extraído: Articulação entre a Gestão da Água e o Ordenamento do Território, MAOTDR, 2008, p Segundo o Ministério do Ambiente Ordenamento do Território e Desenvolvimento Territorial MAOTDR (2008), a articulação entre ordenamento do território e gestão dos recursos hídricos, num sentido abrangente, deve ser entendida numa lógica de desenvolvimento sustentável considerando quatro dimensões que se repercutem sobre o território: ambiental, no que toca à protecção, recuperação e valorização dos recursos naturais e dos serviços ambientais dos ecossistemas, eliminação de tendência de perda de biodiversidade ( ); económico, no que se relaciona com desenvolvimento económico e a promoção da competitividade nos diversos sectores de actividade ( ); social, no que respeita à promoção da inclusão social, da qualidade de vida e do reforço da cidadania ( ); 2 Publicado pela Lei 58/2007, de 4 de Setembro.
4 institucional ( ), enquadramento legislativo, modelos organizacionais ( ) instrumentos de regulamentação (MAOTDR, 2008, p.). Formatada: Cor do tipo de letra: Preto A quinta dimensão, é suporte físico das anteriores, tendo funções de articulação entre elas. De facto, é no território que se podem observar - usos do solo, suas funções, dinâmicas, estruturas e objectivos de coesão territorial (MAOTDR, 2008). Tendo presente a importância do Território enquanto interface entre as várias dimensões, no âmbito da elaboração dos Planos Regionais de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo e da Área Metropolitana de Lisboa, foram desenvolvidos estudos sobre os padrões de ocupação do solo. Este, trabalho revelouse essencial para a identificação dos fenómenos territoriais que estão na génese do modelo de ocupação do solo actual, assim como para a identificação das principais dinâmicas, instaladas e emergentes. A metodologia seguida nas duas sub-regiões (cinco NUT III - Grande Lisboa, Península de Setúbal, Oeste, Lezíria, Médio Tejo) foi semelhante e assentou na produção de informação sintética que evidencia as características dominantes das principais tipologias de ocupação, com um grau de detalhe e rigor adaptados à escala do PROT. 4 Figura 4 - Padrões de Ocupação do Solo na Região Oeste e Vale do Tejo (2009) e na AML (2010), respectivamente Os padrões de ocupação do solo apresentam dinâmicas claramente distintas e, em certa medida, opostas: no Oeste e Vale do Tejo, predominância dos espaços
5 florestais (45,3%) e agrícolas (36,0%); na Área Metropolitana de Lisboa, com características fortemente urbanas, dominam as áreas edificadas (33,4%). Todavia, relativamente a esta última sub-região, apesar da importância das áreas construídas será de sublinhar que as áreas florestais e agrícolas representam, no conjunto, cerca de 48%. Relativamente aos padrões de ocupação do solo mais relacionados com os recursos hídricos foram considerados os seguintes Praias, Dunas, Sapais e Zonas Húmidas, Albufeiras e Cursos de Água -, por que apresentarem um peso maior na Área Metropolitana de Lisboa (6%), quando comparado com o Oeste e Vale do Tejo (2%). Figura 5 Padrões de Ocupação do Solo associados aos recursos hídricos na Região Oeste e Vale do Tejo (2009) e na AML (2010), respectivamente 5 Centrando-nos agora nas áreas edificadas face aos planos de água sobressai, desde logo, a forte concentração em torno do Estuário do Tejo, associada à cidade de Lisboa e às suas coroas de expansão mais imediatas, a norte e a sul. Na margem norte da Área Metropolitana de Lisboa registam-se alguns focos de concentração junto ao litoral na Ericeira (potenciado pela conclusão da Auto-estrada) e na área de Colares/Praia das Maçãs (estabilizada relativamente ao PROT-AML 2002). No que se refere à margem sul, concretamente no arco ribeirinho sul, existe um reforço da dimensão urbana, suportada na extensão dos núcleos ribeirinhos para o interior ao longo dos esteiros.
6 Figura 6 Padrões de Ocupação do Solo na AML (1995) 6 Fonte: PROT-AML, 2002 No Oeste e Vale do Tejo, onde as áreas edificadas não ultrapassam os 10% no quadro regional, à excepção das sedes de concelho o restante povoamento apresenta uma grande dispersão pelo território (4,3%). Relativamente à edificação junto ao litoral, apesar de já apresentar alguma relevância ainda não regista fenómenos de continuidade, mesmo considerando uma faixa alargada para o interior (entre os 3 e os 5 km). Todavia, importará salientar algumas concentrações associadas a núcleos urbanos (Peniche, por exemplo), ou dinâmicas territoriais recentes (Óbidos). No que respeita ao uso do solo junto ao Rio Tejo será de distinguir duas realidades a Lezíria, com as áreas edificadas mais afastadas do curso de água; e o Médio do Tejo, em virtude da orografia e da dinâmica territorial, permite uma maior aproximação ao Tejo (Abrantes e Constância, por exemplo).
7 Tabela 1 - PU e PP publicados entre 2001 e 2010 Total Próximo dos Planos de Água Fora de Planos de Água Oeste Médio Tejo Lezíria do Tejo AML-N AML-S Total Desempenhando os Planos de Urbanização e os Planos de Pormenor um papel fundamental em termos de "... regime de uso do solo, definindo modelos de evolução previsível da ocupação humana e da organização de redes e sistemas urbanos..." (número 2, Artigo 69 do RJIGT, na sua redacção actual), procedeu-se a um levantamento destes Instrumentos de Gestão Territorial (IGT) publicados entre 2001 e 2010, de modo a aferir a dinâmica de planeamento ocorrida na primeira década deste século. Daqui resultou um universo de 96 Planos, maioritariamente concentrados na Área Metropolitana de Lisboa. Figura 7 - Planos de Urbanização publicados entre 2001 e
8 Figura 8 - Planos de Pormenor publicados entre 2001 e 2010 Tendo presente o objecto da reflexão - principais transformações do uso do solo nas áreas adjacentes aos planos de água -, foi definido um "Buffer" de 2 km em torno dos Planos de Água, dos Estuários e das Áreas Costeiras, tendo sido considerados dentro da área assim definida os Planos de Urbanização e os Planos de Pormenor publicados e as alterações em regime normal ocorridas. Deste levantamento resultou que dos 96 Planos totais, 47 incidem sobre áreas localizadas a menos de 2 km de Planos de Água, Estuários e Áreas Costeiras, ou seja, 49% dos PU e PP publicados. 8 Tabela 2 - Usos dominantes nos PU e PP publicados entre 2001 e 2010 Usos Dominantes Habitação Act. Económica Turismo Misto Outro Total Oeste Médio Tejo Lezíria do Tejo AML-N AML-S Total Formatada: Tipo de letra: 10 pt, Negrito, Cor do tipo de letra: Automática
9 No sentido de melhor aferir a dinâmica, ou o uso, a conferir aos territórios objecto de Planos de Urbanização ou de Planos de Pormenor, identificaram-se os usos dominantes nos Planos localizados no Buffer de 2 km, onde sobressai a habitação. Tendo sido considerado um grupo de usos mistos, importa também referir que todos os Planos com usos mistos consideram, igualmente, a habitação, o que transforma este, claramente, no uso mais presente nos IGT publicados na 1ª década do século XXI. Tabela 3 - Dinâmica da classificação do solo Reclassificação de solo/alteração do PDM ou concretização do PDM Alteração do PDM Alteração do PDM Alteração e Concretização com reclassificação sem reclassificação do concretização do do PDM do solo solo PDM Total Oeste Médio Tejo Lezíria do Tejo AML-N AML-S Total Formatada: Tipo de letra: 10 pt, Não Negrito Considerando as implicações sobre o regime de uso do solo dos PU e PP nas áreas próximas aos Planos de Água verifica-se que, num grande número de situações (18 em 46) existe uma concretização do Plano Director Municipal (PDM), ou seja, a estratégia municipal em matéria de ordenamento do território já passava por estas opções. Importa aqui relembrar que a maior parte dos PDM da Região de Lisboa e Vale do Tejo datam da década de 90, onde a articulação entre recursos hídricos e ordenamento do território era ainda efectuada de modo bastante incipiente. 9 Lições para o Futuro A gestão da água engloba o planeamento do aproveitamento dos recursos hídricos, da protecção, recuperação e melhoramento do estado das águas e dos ecossistemas associados, bem como a protecção de pessoas perante situações extremas, designadamente cheias e secas (MAOTDR, 2008). O planeamento de nível municipal, escala última que estabelece o uso a conferir ao solo, deve equacionar a Água nas suas várias dimensões suporte (ciclo de nutrientes), produção (água potável), regulação (controlo de doenças, purificação da
10 água, regulação das áreas de risco) e cultural (paisagem e recreio) -, evitando a repetição de erros cometidos no passado. Relativamente à Região de Lisboa e Vale do Tejo será importante destacar o exercício de Planeamento e de Ordenamento do Território desenvolvido na Região de Lisboa e Vale do Tejo através dos Planos de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo e da Área Metropolitana de Lisboa (alteração), onde a água é um elemento chave no sistema ambiental e na sustentabilidade do modelo territorial, não só pelos valores ecológicos que lhe estão associados mas também pela protecção do recurso. Recuperam-se aqui duas Normas Orientadoras do Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo, a transpor para os Planos Municipais de Ordenamento do Território, que visam, essencialmente, ordenar o território numa lógica de redução da pressão sobre o recurso Água, nas dimensões solo e paisagem: - Qualificação do Solo Rural Directriz Interditar a construção de novas edificações nas áreas agrícolas de baixa aluvionar, à excepção de edificações relacionadas com o potencial agrícola e ecológico, Turismo em Espaço Rural e infra-estruturas públicas; - Sistema Ambiental - Litoral Directriz 2.1 Interditar, na orla costeira de 500 m, novas edificações fora de perímetros urbanos aferidos em função do POOC; Directriz 2.2 Restringir e condicionar a ocupação edificada na zona costeira de 2 km. 10 Agradecimentos Chefias e Técnicos da Direcção de Serviços de Ordenamento do Território, das Divisões Sub-Regionais e da Sala de Digitalização da CCDR-LVT.
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