Análise Semanal. Edição nº 24 17/07/15 CONJUNTURA ECONÔMICA. Reflexos de Brasília

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1 CONJUNTURA ECONÔMICA Reflexos de Brasília A decisão do Ministério Público Federal (MPF) de investigar as relações entre o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a empreiteira Odebrecht, no âmbito da Operação Lava-Jato, já afeta os indicadores econômicos do país. No pregão de ontem (16), o dólar já fechava em alta com relação ao real, chegando a R$ 3,1625 e encerrando o dia a R$ 3,1582. Essa renovação do efeito Lava-Jato sobre a economia deverá se intensificar ainda mais com as reações do Legislativo às investigações da Polícia Federal e suas possíveis retaliações no plenário. Especialmente quando projetos do governo (como o ajuste fiscal) forem à votação. Avaliação negativa Outro fator que eleva a tensão nos mercados é a possibilidade de a agência classificadora internacional Moody s reduzir a nota do Brasil. Ela iniciou sua missão anual de avaliação ao país nesta semana, e seus integrantes ontem se reuniram com a equipe econômica. 1

2 Se a Moody s cortar o rating brasileiro e mantiver a perspectiva negativa, um efeito cascata poderá ser criado, com mais temor dos investidores em aplicar seus recursos por aqui. Reorganização das contas Aproveitando a missão da Moody s e o clima hostil no Legislativo, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) voltou a alertar sobre a necessidade de se adotar logo medidas para corrigir o curso da economia brasileira. Segundo ele, há o risco de se adiar o processo de recuperação. "Temos que agir rápido. Se não tomarmos ações tanto na parte do ajuste quanto na reorganização da economia vamos postergar a recuperação. Ao invés de 2016 ser ano de crescimento e inflação baixa podemos ter um ano um pouco mais difícil", disse ontem em entrevista à rádio CBN. Enquanto isso, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, alfinetou a condução de Levy na Fazenda. Para ele, o ministro atua como amortecedor de demandas do Legislativo, e não consegue levar suas ideias adiante. Ele [Levy] está trabalhando na defesa, sobretudo. Dá impressão de que está no ataque por estar na linha de frente, mas não está (...) Ele virou uma espécie de para-choque sem borracha, disse ao Valor PRO, serviço do Valor Econômico. 2

3 E fontes do governo indicam que o superávit primário acumulado pelo governo central estaria próximo a zero o que levaria o esforço fiscal do segundo semestre a atingir os R$ 55 bilhões da meta fixada para O que, com a oposição anunciada pelo Congresso (leia abaixo), será bem difícil de ser realizado. Economia real Enquanto isso, os indicadores econômicos continuam apresentando sinais de deterioração. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou hoje que houve uma redução de 1% no número de vagas de trabalho criadas pela indústria em maio, na comparação com abril. Trata-se do quinto mês consecutivo em que o volume de vagas na indústria apresenta queda. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontou elevação de 0,03% em maio, na comparação com abril (quando foi registrada uma queda de 0,88%). Considerando-se os doze meses encerrados em maio, contudo, o indicador revela uma retração de 1,68%, com ajuste. 3

4 Expectativas Boletim Focus ( ) CENÁRIO POLÍTICO Tensões elevadas As ações da Polícia Federal desta semana, que envolveram a possível participação de três senadores nas irregularidades investigadas na Operação Lava-Jato, mais uma vez azedaram o clima entre os poderes Executivo e Legislativo. Enquanto o ministro Eduardo Cardozo (Justiça) continua afirmando que não há qualquer interferência do governo sobre o andamento das investigações, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já advertiu que o Congresso retornará do recesso de meio de ano, em agosto, mais duro em relação aos projetos do governo federal. 4

5 O próprio Cunha foi novamente relacionado no esquema de corrupção da Petrobras; de acordo com o delator Júlio Camargo (da Toyo Setal), o presidente da Câmara teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de naviossonda para a estatal. Chamaram também atenção as investigações em torno do senador (e ex-presidente da República) Fernando Collor de Mello (PTB-AL), e as manifestações do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), contra as buscas e apreensões executadas pela PF. Com esse clima, será bastante difícil para a presidente Dilma Rousseff: a) levar adiante as iniciativas do Planalto em torno do ajuste fiscal; e b) afastar o fantasma do impeachment. E há ainda a suspeita em torno das relações do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva com a Odebrecht (veja no Raio X de Brasília). Reforma política Caiu na última quarta-feira (15) a proposta de se fixar em cinco anos o mandato para os cargos eletivos. A mudança havia sido proposta junto com o fim da reeleição, e foi rejeitada pelo plenário da Câmara dos Deputados, em 5

6 movimento articulado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A questão será agora analisada após o recesso parlamentar. Raio X de Brasília O Ministério Público abriu inquérito para investigar suposto tráfico de influência internacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para favorecer a construtora Odebrecht, uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. Os procuradores da República disseram ter identificado indícios suficientes para investigá-lo. Na última semana de trabalho do Congresso Nacional antes do recesso parlamentar, que dura duas semanas, a Polícia Federal realizou operação de busca e apreensão na casa de três senadores, também no âmbito da Lava-Jato. Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra (PSB- PE) e Fernando Collor (PTB-AL) receberam nesta terça-feira (14) as autoridades, que confiscaram bens dos congressistas. No caso do expresidente Collor, três carros de luxo foram apreendidos. Como represália ao Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga 22 deputados federais e 13 6

7 senadores, a Câmara prepara a votação de uma emenda à Constituição que altera profundamente o processo de escolha dos ministros do STF, tribunal que julga os congressistas. O texto prevê que, em vez de indicar os 11 ministros que integram o plenário do Supremo, a Presidência da República passará a preencher apenas quatro vagas. O Congresso indicará outros quatro ministros, num revezamento entre Câmara e Senado. E o próprio STF se encarregará de escolher os ocupantes das três cadeiras restantes. A emenda fixa um mandato de 12 anos para os ministros do STF. Proíbe a recondução. Ao deixar o tribunal, os ministros não poderão advogar ou disputar eleições pelo prazo de dois anos. DESTAQUES INTERNACIONAIS Após o susto Depois da China ser obrigada a intervir no seu mercado acionário, no último dia 8, a situação ainda parece longe de se acalmar. A forte mão do governo nas bolsas de valores deteve a queda que chegou a 32% na semana passada, mas ainda há temores de que a volatilidade do mercado acionário da China volte a gerar situações semelhantes. 7

8 Em seu blog Beyond Brics, o Financial Times analisou o assunto nesta sexta-feira, ponderando que a situação vivida na última semana não seria uma crise como a da Tailândia (1997) ou do mercado de Wall Street (2008) mas um sinal de alerta. O mercado acionário chinês é muito menos conectado com o sistema financeiro do país, que tem como centro os bancos comerciais. E também não é próximo da economia real, avaliou o texto, lembrando que o mercado chinês também havia assistido a valorizações de até 80% nos últimos dez meses. Contágio é sempre uma preocupação, mas seu impacto é limitado, acrescentou a reportagem. 8