PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete da Desembargadora Federal Margarida Cantarelli

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1 APELAÇÃO CÍVEL Nº SE ( ) APTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ADV/PROC : BIANCO SOUZA MORELLI e outros APDO : HERÁCLITO SANTOS DA VITÓRIA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO ORIGEM : 1ª Vara Federal de Sergipe - SE RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI RELATÓRIO A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (RELATORA): Trata-se de apelação contra sentença que deu parcial provimento aos embargos à execução opostos por Heráclito Santos da Vitória em face da Caixa Econômica Federal, por entender ser abusiva e, portanto, inválida, a acumulação da taxa de CDI - Certificado de Depósitos Interfinanceiros com a taxa de rentabilidade estabelecida pela instituição financeira, na composição da comissão de permanência. Ademais, asseverou não ser possível a capitalização dos juros, haja vista que o contrato assim não previu. Deixou de fixar honorários advocatícios em razão da sucumbência recíproca. Apela a empresa pública, aduzindo ser possível a capitalização de juros, desde que se refira a juros que não foram pagos, posto que se incorporam ao débito principal. Em contrário, estar-se-ia admitindo enriquecimento ilícito da parte, vez que, aquela poderá usufruir o capital e os juros não pagos, só tendo que arcar com a remuneração anual das quantias relativas aos juros. Alega, ainda, que não há que se falar em sucumbência recíproca, haja vista que a CEF decaiu em parte mínima do pedido, qual seja, apenas referente a um acessório da dívida principal. Requer, afinal, o provimento do recurso, deixando desde já prequestionados os dispositivos elencados. Contrarrazões às fls. 85/89. Subiram os autos, sendo-me conclusos por força de distribuição. É o relatório. Peço inclusão do feito em pauta para julgamento. 1

2 APELAÇÃO CÍVEL Nº SE ( ) APTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ADV/PROC : BIANCO SOUZA MORELLI e outros APDO : HERÁCLITO SANTOS DA VITÓRIA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO ORIGEM : 1ª Vara Federal de Sergipe - SE RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI VOTO A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (RELATORA): Inicialmente, ressalto que é pacífico o entendimento acerca da aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas operações efetuadas com instituições bancárias (STF, RCL n. 6318, Rel. Min. Eros Grau; STF, AI n AGR/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 09/12/2008). Imperioso destacar que os contratos de adesão, como o é o ora analisado, por não admitirem a interferência volitiva do devedor (aderente), em razão de serem as cláusulas préestabelecidas pelo credor, devem ser interpretados, em caso de dúvida, em favor do aderente. Desse modo, deve ser observado o comando do art. 47, do CDC. O cerne da presente questão reside em dois pontos: a) a possibilidade da taxa CDI - Certificado de Depósitos Interfinanceiros e a taxa de rentabilidade estabelecida pela credora incidirem concomitantemente na composição da comissão de permanência; b) a possibilidade de capitalização de juros não pagos. A jurisprudência do STJ, quanto à cobrança de comissão de permanência, sedimentou seu entendimento no sentido de que é a mesma admitida, desde que não cumulada com correção monetária, juros remuneratórios ou moratórios ou multa contratual. Neste sentido, as Súmulas ns. 30, 294, 296 do STJ: Súmula n. 30. A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis. Súmula n Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato. Súmula n Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à 2

3 taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado. Ademais, cito as decisões abaixo, oriundas da Corte Superior e deste TRF5, por aplicáveis ao caso em apreço: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PERÍODO DA NORMALIDADE CONTRATUAL. ENCARGOS CONTRATADOS. LEGALIDADE. MORA DEBITORIS. CARACTERIZAÇÃO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CUMULAÇÃO COM OS DEMAIS ENCARGOS MORATÓRIOS. IMPOSSIBILIDADE. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. CABIMENTO. DESNECESSIDADE DE PROVA DO ERRO NO PAGAMENTO. 1. A descaracterização da mora debitoris só ocorre se houver cobrança de encargos contratuais abusivos no período da normalidade. 2. Não evidenciada, na espécie, a abusividade das cláusulas contratuais, resta configurada a mora do devedor. Precedentes. 3. É admitida a cobrança da comissão de permanência no período da inadimplência, calculada pela taxa média de mercado e limitada à taxa contratada. Todavia, o encargo não pode ser cumulado com correção monetária, juros moratórios, multa contratual ou juros remuneratórios. 4. Não merece amparo o inconformismo do agravante de ser indevida a repetição de indébito voluntariamente pago pela parte adversa, porquanto esta Corte Superior se posicionou no sentido de ser cabível sempre que verificado o pagamento indevido, em repúdio ao enriquecimento ilícito de quem o receber, independentemente da comprovação do erro. 5. AGRAVO REGIMENTAL PARCIALMENTE PROVIDO. (STJ, AGRESP , Terceira Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 17/02/2011, DJe 25/02/2011) CIVIL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO ROTATIVO. INADIMPLÊNCIA. COBRANÇA DE DÍVIDA. INCIDÊNCIA DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA: POSSIBILIDADE. CUMULAÇÃO DE ENCARGOS COMO JUROS DE MORA E MULTA: INOCORRÊNCIA. CONCLUSÕES DA CONTADORIA JUDICIAL. BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA: CONCESSÃO AOS RECORRENTES. APELO PROVIDO EM PARTE. 1. Apelação Cível em Ação Ordinária, interposta contra sentença proferida pelo Juízo Federal a quo, que julgou procedente o pedido. O pleito exordial, formulado por instituição financeira, pretende com a presente ação que os réus sejam condenados ao pagamento do débito 3

4 de R$ ,30 (duzentos mil, cento e setenta e nove reais e trinta centavos), devidamente atualizada, em decorrência de Contrato de Abertura de Crédito Rotativo, garantido por nota promissória avalizada, havendo sustentado que os requeridos deixaram de pagar sua dívida proveniente do crédito que lhe foi concedido. 2. Concede-se aos Apelantes os benefícios da Justiça Gratuita, uma vez sustentado ser impossível o custeio das despesas processuais sem que isto lhes cause prejuízos no sustento de suas famílias. 3. A Jurisprudência pátria é uníssona no sentido de que é legítima a cobrança da permanência, desde que não cumulada com correção monetária, nem com quaisquer acréscimos decorrentes da impontualidade (tais como juros, multa, taxa de rentabilidade, etc), porque ela já possui a dupla finalidade de corrigir monetariamente o valor do débito e de remunerar o banco pelo período de mora contratual (Súmulas nºs 30, 294, 296 e precedentes do eg. STJ). Assim, revela-se legítima a incidência da Comissão de Permanência sobre a dívida. 4. Apesar de os Apelantes insistirem na tese de que houve capitalização de juros na feitura da planilha contábil, no caso dos autos, foi aplicado ao débito autoral apenas a Comissão de Permanência, não havendo a cobrança, por parte da Apelada, de outros encargos como juros de mora e multa contratual, consoante comprovam os documentos coligidos aos autos (demonstrativo de débito e evolução da dívida), informação devidamente confirmada pela Contadoria Judicial. 5. Apelo conhecido e provido em parte, apenas para se conceder aos Apelantes os benefícios da Justiça Gratuita. (TRF5, AC , Segunda Turma, Rel. Des. Francisco Barros Dias, j. 01/03/2011, DJe 17/03/2011) Não há, pois, ilegalidade na cobrança da comissão de permanência, composta pela taxa de CDI, divulgada pelo Banco Central do Brasil, devendo ser excluída, contudo, a sua incidência cumulada com juros remuneratórios, correção monetária e taxa de rentabilidade. Quanto à capitalização de juros sobre juros nos contratos de empréstimo bancários firmados posteriormente à edição da Medida Provisóra nº , como no caso em tela, tal prática é permitida, desde que expressamente prevista no contrato. Neste sentido, os seguintes precedentes deste Colendo Tribunal Regional Federal da 5ª Região e do Egrégio Superior Tribunal de Justiça: CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. CUMULAÇÃO DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM CORREÇÃO MONETÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. JUROS CAPITALIZADOS. PREVISÃO EM CONTRATO CELEBRADO APÓS 4

5 A EDIÇÃO DA MP Nº /2000, DE 31 DE MARÇO DE PERMISSÃO. 1. É legítima a cobrança da comissão de permanência, desde que não cumulada com correção monetária, nem com quaisquer acréscimos decorrentes da impontualidade (tais como juros, multa, taxa de rentabilidade etc), porque ela já possui a dupla finalidade de corrigir monetariamente o valor do débito e de remunerar o banco pelo período de mora contratual. Sumulas nºs 30, 294, 296 e precedentes do Eg. STJ. 2. A capitalização de juros é admissível nos contratos de empréstimo bancário celebrados após a edição da Medida Provisória nº /00, de 31/03/2000, desde que expressamente pactuada. 3. Caso em que não se vislumbra qualquer ilegalidade na cláusula prevista no pacto firmado entre a CEF e a ré, formalizado em 22/01/09, para cobrança de juros capitalizados. 4. Apelação parcialmente provida. (TRF5, AC /CE, Terceira Turma, Rel. Des. Luiz Alberto Gurgel, j. 09/06/2011, DJe 15/06/2011) (grifos meus) CIVIL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PARA PESSOA FÍSICA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL AUTORIZADA PELA MP Nº 1963/00 E PREVISTA NO CONTRATO. PRECEDENTES DO C. STJ. TABELA PRICE. LEGALIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Para os contratos bancários firmados posteriormente à entrada em vigor da Medida Provisória nº /2000, como o que ora se analisa, é possível a capitalização mensal dos juros desde que expressamente prevista no contrato avençado entre as partes (art. 5º), previsão que se constata da simples análise do contrato acostado aos autos. (AEEAG Relator(a): JOÃO OTÁVIO DE NORONHA. STJ. QUARTA TURMA. DATA:18/12/2009) 2. A utilização da Tabela Price, por si só, não acarreta o anatocismo, o que ocorrerá apenas quando verificada a amortização negativa, que não foi demonstrada no caso em análise de acordo com o laudo do perito do juízo. 3. Apelação provida. (TRF5, AC /CE, Segunda Turma, Rel. Des. Francisco Wildo, j. 25/01/2011, DJe 03/02/2011) (grifos meus) PROCESSUAL CIVIL E CONTRATO BANCÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ABERTURA DE CRÉDITO. EMPRÉSTIMO PESSOAL. DESTINATÁRIO FINAL. RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO CDC. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. 5

6 1. Tratando-se de operação bancária feita a cliente na qualidade de destinatário final, incide, no caso, o teor da Súmula 297 desta Corte: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. 2. No que respeita à capitalização mensal de juros, ela é legal em contratos bancários celebrados posteriormente à edição da MP /2000, de 31/3/2000, desde que expressamente pactuada. No tocante aos contratos anteriores, a jurisprudência desta Corte a admite em periodicidade não inferior à anual, nos termos do Decreto /33, art. 4º. 3. Legal a cobrança da comissão de permanência na fase de inadimplência, desde que não cumulada com correção monetária, juros remuneratórios, multa contratual e juros moratórios (Súmulas 30 e 294/STJ). 4. Agravo regimental a que se dá parcial provimento. (STJ, AGRESP , Quarta Turma, Rel. Min. Maria Isabel Galotti, j. 16/11/2010, DJe 16/12/2010) (grifos meus) No caso, conforme ressaltado pelo MM. Juiz a quo, não há qualquer previsão de capitalização de juros no contrato, sendo portanto inadmissível. Por fim, diversamente do alegado pela CEF, não houve sucumbência mínima da parte, posto que o reconhecimento da ilegalidade da capitalização de juros e da inclusão da taxa de rentabilidade junto à taxa de CDI na composição da comissão de permanência representam parte considerável dos pedidos formulados nos presentes embargos à execução. Assim, é de se reconhecer a sucumbência recíproca, devendo cada parte arcar com os respectivos honorários, nos termos do art. 21 do CPC. Diante do exposto, nego provimento à apelação. É como voto. 6

7 APELAÇÃO CÍVEL Nº SE ( ) APTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ADV/PROC : BIANCO SOUZA MORELLI e outros APDO : HERÁCLITO SANTOS DA VITÓRIA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO ORIGEM : 1ª Vara Federal de Sergipe - SE RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAÇÃO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. I. É pacífico o entendimento acerca da aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas operações efetuadas com instituições bancárias (STF, RCL n. 6318, Rel. Min. Eros Grau; STF, AI n AGR/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 09/12/2008). II. É legítima a cobrança da comissão de permanência, composta pela taxa de CDI - Certificado de Depósitos Interfinanceiros, divulgada pelo Banco Central do Brasil, devendo ser excluída, contudo, a sua incidência cumulada com juros remuneratórios, correção monetária e taxa de rentabilidade. III. A capitalização de juros sobre juros nos contratos de empréstimo bancários firmados posteriormente à edição da Medida Provisóra nº , como no caso em tela, é permitida, desde que expressamente prevista no contrato. In casu, todavia, conforme ressaltado pelo MM. Juiz a quo, não há qualquer previsão de capitalização de juros no contrato, sendo portanto inadmissível. Precedentes. IV. Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL, em que são partes as acima mencionadas. ACORDAM os desembargadores federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em negar provimento à apelação, nos termos do voto da Relatora e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado. Recife, 04 de outubro de Desembargadora Federal MARGARIDA CANTARELLI Relatora 7