CAPÍTULO 1 INTENÇÃO Livro_Freeman_Mente.indb 8 Livro_Freeman_Mente.indb 8 20/04/12 17:09 20/04/12 17:09
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- Ian Belém Canejo
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1 CAPÍTULO 1 INTENÇÃO
2 A fotografia é extremamente boa em ir direto ao ponto. Talvez boa até demais. Alguma coisa está em frente à câmera? Dispare que você terá uma imagem dela, com ou sem nenhum pensamento. Fazendo isso com certa frequência, pode-se produzir algumas pérolas, mas pensar primeiro certamente trará melhores resultados. Muito do que se ensina sobre fotografia está relacionado a como ser claro e evidente pela identificação do assunto, escolha de lentes, ângulo e enquadramento que comunicarão o assunto ao espectador de modo mais imediato e com maior eficiência. Isso é exatamente o que uma fotografia de jornal, por exemplo, precisa clareza e eficiência, mas o que é certo para uma fotografia em um contexto pode agir contra ela se ela for apresentada com propósito diferente, como nas paredes de uma galeria. Clareza é uma virtude apenas se o trabalho é comunicar, e não contemplar. Se você quer que as pessoas prestem atenção à sua fotografia e a apreciem, tem que dar a elas uma razão para ficar olhando por mais do que um breve instante. A primeira seção deste livro, portanto, é mais sobre o porquê do que sobre o como. INTENÇÃO 9
3 CAMADAS DE ASSUNTO Usar uma câmera é tão prático, tão direto, que qualquer dúvida a respeito de qual seja o assunto parece supérflua à primeira vista. Você aponta para um cavalo, então o cavalo é o assunto; para um prédio, uma pessoa, um carro, então eles são o assunto. Bem, isso é verdade até certo ponto, mas nem todos os assuntos são o que inicialmente parecem ser. Ou então, o assunto mais imediato e evidente pode muito bem ser parte de algo maior, ou parte de uma ideia. Isso é importante porque escolher o que fotografar é o primeiro passo para todos nós. É aqui que começa a intenção, e ela influencia tudo o que se segue, da fotografia ao processamento. Mas isso não é apenas uma questão de estilo? Se o objeto é o assunto, então, os fotógrafos só não o tratam de modo diferente? Isso não é só complicar o que é óbvio? A resposta está na intenção no que você está se propondo a fazer. Se fosse só uma questão de encontrar uma cena ou objeto e reagir a ele de seu próprio jeito, então sim, isso seria uma questão de estilo, que é o foco da segunda seção deste livro. Mas se a escolha de seu assunto faz parte de outra coisa um projeto, ou uma fotografia com um objetivo maior então aqui é o lugar dela, na intenção. E o que você se propuser a mostrar definirá o tratamento que você vai dar a ela. Falar simplesmente sobre assunto cria uma sensação de que estamos falando sobre objetos individuais, definíveis, independentes, como o cavalo, a pessoa, o prédio ou o carro que mencionei no início. Porém muitos assuntos não são assim tão evidentes e definíveis. Aquele objeto físico, tridimensional em frente à câmera pode ser simplesmente parte de um assunto maior, apenas um aspecto daquilo que o fotógrafo está tentando capturar. Em muitas imagens, na verdade, há camadas de assunto. A de nível um pode ser o óbvio, o objeto individual que domina a composição, mas subindo um nível, ele tornase parte de uma outra coisa algo maior e mais abrangente. Qual é, por exemplo, o assunto da fotografia principal desta página? A resposta óbvia diz que são duas crianças levando uma cabra morro acima. Elas são nômades Khampa no oeste tibetano de Sichuan, China, encarregadas de vigiar os rebanhos de iaques, cavalos e cabras. Mas a razão de eu ter feito esta fotografia delas, em primeiro lugar, a razão pela qual parei o carro, foi que eu estava procurando algo que contribuísse com o tema a vida nômade nas pastagens altas. Esta seria uma seção diferente dentro do projeto de um livro no qual eu trabalhava na época, sobre a Antiga Rota do Chá, do sudoeste da China ao Tibete. Por si só, este já era um assunto, além de ser um ensaio fotográfico pertinente ao livro, então, para mim os temas estruturadores do ensaio fotográfico eram o assunto mais presente em minha mente não propriamente a cena diante de mim. Isso explica em parte a composição e a escolha de lentes, com os garotos saindo de quadro para manter a atenção do espectador ao menos parcialmente voltada para a paisagem ao redor. Eu poderia ter usado uma distância focal mais longa e amarrado a composição de modo a dar mais atenção aos garotos e suas ações, mas, em vez disso, eu precisava mostrar onde eles estavam e o que estava atrás e em torno deles. Eu cheguei mesmo a experimentar enquadramentos diferentes, mas este foi o que teve o equilíbrio certo e que funcionou melhor para mim. PARTE DE UM ASSUNTO MAIS ABRANGENTE Garotos nômades no oeste de Sichuan: tanto eles quanto a cabra são o assunto imediato, mas o assunto maior, que foi a motivação para a fotografia, foi a vida dos nômades em geral. As outras fotografias mostradas aqui continuam o ensaio e quase o concluem. 10 A MENTE DO FOTÓGRAFO
4 INTENÇÃO 11
5 Em outro exemplo, temos o repórter fotográfico italiano Romano Cagnoni, que passou grande parte de sua vida e carreira em zonas de guerra, desde Biafra até o Vietnã, os Bálcãs e a Chechênia. Porém, suas preocupações são mais profundas que o relato de conflitos imediatos. As imagens que para ele têm mais valor são aquelas com significado universal, que vão além da reportagem de uma determinada situação. Isso também faz parte da busca pelo assunto mais abrangente. Como Cagnoni explicou, Outro fotógrafo próximo à minha geração que definiu seu trabalho de um modo interessante foi Abbas, que disse, o fotojornalismo enxerga para além de si mesmo, não para dentro de si mesmo, e, ao fazê-lo, ele não fica sendo prisioneiro da realidade ele a transcende. As imagens também podem servir a mais de um propósito, de modo que o assunto mais abrangente pode depender de quem as escolhe e de suas razões. Na foto das duas garotas, pertencentes a uma minoria étnica do sudeste da Ásia, há duas coisas acontecendo. Uma é a vida e também os trajes deste grupo, chamado de os Akha, a outra é o sistema aquífero no momento em que uma delas enche uma cabaça em um aqueduto de bambu. Os assuntos disputam a atenção: a garota usando seu cocar (bastante elaborado para uma criança) e a água jorrando. O assunto de fato é ambíguo e dependeria do contexto em que fosse mostrado. Um close-up da mesma cena, mostrando uma folha caída estrategicamente utilizada para desviar o curso da água que corre pelo cano de bambu, é mais simples. Ao ver os dois juntos fica estabelecido que estamos, de fato, olhando para a água enquanto assunto. Na verdade, aquilo que motiva o fotógrafo a erguer a câmera pode ser completamente insubstancial, algo que permeia a cena. Neste caso, estou pensando especificamente na luz, e a maioria de nós em algum momento simplesmente acha as condições de luz tão atraentes ou interessantes que queremos fotografá-la, interagindo com alguma coisa, qualquer coisa. Exatamente o que a luz estará atingindo acaba sendo menos importante que a qualidade da luz. Na fotografia de uma peça de mobiliário contemporâneo, mostrada na página ao lado, está claro que o assunto é a própria luz. A cor também chama a atenção de alguns fotógrafos enquanto assunto válido por si só. A cor, ainda mais que a luz, possibilita composições abstratas onde as combinações de cores em si têm apelo, não importando a qual objeto físico elas pertençam. O espaço dentro do quadro não é muito diferente do caso das cores o espaço tratado como massa abstrata. Na fotografia do mar, acima, com um barco pesqueiro pequenino e quase irreconhecível na base do quadro, o assunto não é nem tanto o barco, mas o espaço de mar e céu abertos. A gradação vertical de tons é uma forma de abstração, o que ajuda a fazer com que a imagem funcione simplesmente por seu efeito gráfico. Há muitas outras imagens neste livro que apresentam um assunto pequeno contra um plano de fundo muito maior, e em algumas dessas a intenção bem diferente a figura (ou objeto) menor é de fato o assunto, não o espaço ao seu redor, mas por uma ou outra razão ele deve ser visto em tamanho reduzido. A razão pode ser a introdução de um atraso na percepção que o espectador tem dele, ou pode ser o estabelecimento da importância do cenário. Portanto, a intenção pode nem sempre ficar evidente logo num primeiro olhar de relance para a imagem. O ESPAÇO COMO ASSUNTO Esta é uma de várias fotografias tiradas de um barco pesqueiro no golfo da Tailândia ao nascer do dia. Esta imagem tira a atenção do barco e a conduz ao cenário a sua volta a esta hora do dia, todo o interesse está no degradê de cores do céu, refletindo sobre o mar excepcionalmente calmo. Tendo isso em mente, a foto foi composta com uma lente 20mm, usando o barco para dar uma noção de escala. Para concentrar a atenção nas cores, o ponto de vista foi deslocado de modo a fazer com que o barco encobrisse o sol, reduzindo o alcance dinâmico. Finalmente, o horizonte foi situado mais baixo no quadro, concentrando a atenção no céu, deixando apenas uma quantidade suficiente de mar exposta para mostrar que ele o está refletindo. 12 A MENTE DO FOTÓGRAFO
6 ESCOLHA DE ASSUNTO Como foi descrito no texto, há dois assuntos entrelaçados nesta fotografia de duas garotas de uma minoria étnica Akha na fronteira entre a Tailândia e Birmânia: a garota em seu traje típico e a água do aqueduto de bambu. A LUZ COMO ASSUNTO Uma peça de mobiliário contemporâneo em madeira e acrílico lança sombras bem definidas e cores refratadas sobre o piso. Esses efeitos de luz são o assunto da imagem, e sua composição foi feita pensando neles. A COR COMO ASSUNTO Um arranjo ocasional de vidros vertidos encontrado sobre uma mesa de luz, no estúdio do artista em vidro Danny Lane. As formas abstratas, a intensidade do matiz que vem da retroiluminação e o corte fechado da imagem focam a atenção apenas nas cores. INTENÇÃO 13
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