5ª Feira Santa. Homilia meditada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb. Missa Vespertina da Ceia do Senhor

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1 5ª Feira Santa Homilia meditada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb Missa Vespertina da Ceia do Senhor 1. Tríduo Pascal Tempo pascal. Esta é a ceia mais bela. A linguagem de Jesus é uma linguagem de transfiguração. Donde a dificuldade dos discípulos de entender a Sua palavra, de tal modo a Sua linguagem se afasta da linguagem do mundo. Páscoa quer dizer passagem. Iniciamos o tríduo pascal que hoje começa e termina com as II vésperas do dia de Páscoa. Hoje celebramos a Ceia com três grandes dádivas: a oferta da Eucaristia, a criação do sacerdócio e a entrega solene do Mandamento Novo. Amanhã celebramos a Sexta-feira da Paixão do Senhor. Na noite de Sábado teremos a Vigília Pascal. A celebração anual da Morte e Ressurreição do Senhor tem o seu ponto culminante na Vigília Pascal, coração da liturgia cristã. Será a noite mais luminosa onde correm as águas batismais e preside o círio pascal que irá estar aceso até ao Domingo do Pentecostes. 2. «Páscoa» quer dizer «passagem» «Páscoa» quer dizer «passagem» e põe em cena «passageiros». Com os antigos pastores beduínos seminómadas que preenchem a memória da pré-história de Israel, aprendemos a passar festivamente para um tempo novo, do inverno para a primavera,

2 numa festa noturna, ao luar, na primeira lua cheia da primavera que marca o início da transumância ao encontro de novas pastagens. Com Jesus Cristo aprendemos a passar do pecado para a graça, da soleira da porta para a mesa, da morte para a vida em abundância, da nossa casa para a Casa do Pai. É assim que nós, por graça feitos filhos no Filho, aprendemos a ser estrangeiros e hóspedes, tranquilamente sentados em Casa e à Mesa d Aquele único Senhor que servimos e que nos diz: «Toda a terra é minha, e vós sois, para Mim, estrangeiros e hóspedes», como se pode ler no Livro do Levítico (25,23). (A. Couto) É o acolhimento que Deus nos faz nesta Páscoa. 3. Discursos de despedida de Jesus No seu Evangelho, São João refere-nos, mais amplamente do que os outros três evangelistas e com o seu estilo peculiar, os discursos de despedida de Jesus, que se apresentam quase como o Seu testamento e a síntese do núcleo essencial da Sua mensagem. No início destes discursos aparece o lava-pés, no qual o serviço redentor de Jesus em favor da humanidade necessitada de purificação é resumido num gesto de humildade. No fim, as palavras de Jesus transformam-se em oração, a Sua Oração Sacerdotal, cuja inspiração de fundo foi individuada pelos exegetas no ritual da Festa judaica da Expiação. O que constituía o sentido daquela festa e dos seus ritos a purificação do mundo, a sua reconciliação com Deus realiza- -se com o ato de Jesus rezar: um rezar que antecipa a Paixão e ao mesmo tempo transforma-a em oração. Assim, na Oração Sacerdotal, torna-se visível, também, de maneira muito particular, o mistério permanente de Quinta-feira

3 Santa: o novo sacerdócio de Jesus Cristo e a Sua continuação na consagração dos Apóstolos, com a participação dos discípulos no sacerdócio do Senhor. 4. Lava-pés João escreve longas frases para decorar a cena e situar o gesto. Plano a plano descreve a cena. Jesus não fala. O Seu ato é palavra: deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura (Jo 13,4). Jesus abandona uma posição de poder para Se colocar ao serviço do outro. O que estou a fazer não o podes entender agora mas compreendê-lo-ás mais tarde (Jo 13,7). Deus não Se deve adequar às regras da lógica humana. O sentido do lava-pés é incluído nesta extremidade da Sua vida: a morte, que só se pode compreender como um ato de amor. Tem de se fazer em ligação com um acontecimento a vir: a ressurreição. 5. Mandamento do amor Então disse-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais- -Me Mestre e Senhor, e dizeis bem porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também (Jo13,12-15). 6. Instituição da Sagrada Eucaristia (1 Cor 11,23-26) Assim começa a mais bela melodia que alguma vez conheci. S. Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, confessa o que é absolutamente essencial: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: Isto é o Meu corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.

4 Do mesmo modo, no fim da Ceia, tomou o cálice e disse: Este cálice é a nova aliança no Meu sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim (1 Cor 11, 23-25). Com que respeito profundo São Paulo transmite, verbalmente, a tradição sobre a Eucaristia, que ele mesmo recebera. Transmite estas palavras, como um precioso tesouro, confiado à sua fidelidade. E assim, por meio dele, ouvimos, alto e bom som, e ao vivo, as testemunhas daquela última noite. Façamos silêncio e adoremos. 7. Ele é o dom Ele é a memória. Ele é o Pão e o vinho. Ele é a história viva que aqueles símbolos narram. A Eucaristia torna-se assim a celebração da Páscoa do Senhor, o memorial dessa maravilha, a maior entre todas as maravilhas de Deus: o dom de Seu Filho, pelo Qual a morte é vencida e transformada em Vida. Por consequência, o Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados para que também nós mesmos sejamos transformados. Com efeito, - diz o Papa - não é o alimento eucarístico, que se transforma em nós, mas somos nós que acabamos misteriosamente mudados por Ele (Sac. Carit.70). Se o recebestes bem, - disse Santo Agostinho - vós mesmos vos tornais n Aquele que recebestes (Santo Agostinho; cit. Sac. Carit.36). Uma vez que o próprio Cristo está dentro de nós e nós estamos n Ele, Ele torna-nos Seus consanguíneos, Seus contemporâneos. E, a partir de nós, Cristo deseja propagar-se aos outros e difundir o Seu amor em todo o mundo!

5 7. Tempo sagrado Acompanhemos, pois, amados irmãos, com a adoração e o louvor no coração, o único Senhor da nossa vida nas Suas últimas e decisivas vinte e quatro horas, desde as 15h00 de Quinta-Feira Santa até perto das 18h00 de Sexta-Feira Santa. O ritmo é o das horas litúrgicas.

6 Quando o dom é festa O cálice de bênção não é a comunhão e o sangue de Cristo? 1Cor 10,16 Quinta - feira santa, mesa perfumado altar. Quanta felicidade nos traz tanta bondade De Jesus com os seus num adeus a ceia a celebrar. Aroma, magia sobrenatural Alongando o céu, a luz, a vida Repartindo o pão alimento imortal. Reaviva o dom que está em ti 2 Tim 1,6 A sala é toda luz tecida de esplendor. O êxtase de Jesus é festa sol-nascente Do sacerdócio até ao fim dos tempos: Fazei isto em minha memória. Ao Pastor eterno, louvor e glória. Cantarei, cantarei eternamente. Dou-vos um mandamento novo Jo 13,14 Servo dos servos Teu servir floresce, Teu dom é lição que amanhece; Pétalas de amor juncando o chão Celebrando na terra a festa do perdão. Lava-pés, sagrado símbolo amortalhado Da cruz morte e ressurreição. J. Rocha Monteiro in Palavra ardente

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