ASSOCIAÇÃO DOS JUÍZES DO RIO GRANDE DO SUL AJURIS PROJETO DE LEI 218/2013: UMA MEDIDA NECESSÁRIA DE IMPACTO MITIGADO

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Ísis Philippi Lencastre
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1 ASSOCIAÇÃO DOS JUÍZES DO RIO GRANDE DO SUL AJURIS PROJETO DE LEI 218/2013: UMA MEDIDA NECESSÁRIA DE IMPACTO MITIGADO Porto Alegre Abril de 2014

2 I Apresentação O Projeto de Lei 218/2013 propõe a redução do escalonamento do subsídio entre as entrâncias, com sua fixação em 5%. No texto que segue, apresentam-se argumentos pela aprovação do Projeto, que indicam (1) a diferença de 5% está em consonância com a sistemática anterior à Lei /2008; (2) o escalonamento é de 5% na magistratura federal e do trabalho e em 22 Estados e no Distrito Federal; (3) o isolamento do nosso Estado num patamar rebaixado retira a atratividade da carreira da magistratura gaúcha e indica para o futuro a perda de seu prestígio; (4) o subsídio tem passado por um processo de rebaixamento real; (5) a contração real da folha de pagamento da Magistratura gaúcha nos últimos três anos, com perspectiva de prosseguir no futuro, é superior ao impacto orçamentário e financeiro que decorrerá a aprovação do Projeto. II O rebaixamento remuneratório ocorrido na implantação do subsídio no Rio Grande do Sul O subsídio como forma de remuneração da Magistratura foi incluído na Constituição Federal pela Emenda Constitucional 19 de 1998, nos seguintes termos: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) V o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, 4º. Implantado em nível nacional pela Lei /2005, com vigência a partir de 1º de janeiro de 2005, o subsídio dos juízes federais sempre observou o escalonamento mínimo de 5%; já no âmbito dos Estados ocorreram opções de escalonamento em intervalos de 5% e de 10%. O Rio Grande do Sul foi o último Estado a ter implantado o subsídio para a magistratura, o que ocorreu com a Lei /2008, com vigência a partir de 1º de janeiro de O processo legislativo transcorreu com forte debate, e a lei só foi aprovada após ser estabelecido o escalonamento em 10%, contrariamente à previsão de 5% constante do Projeto de Lei enviado pelo Poder Judiciário. A novidade legislativa estabeleceu um rebaixamento na escala de remuneração da Magistratura gaúcha, que, no regime de vencimentos, estabelecia uma escala de dez pontos percentuais entre desembargadores e juízes de entrância final e de cinco pontos percentuais nos demais níveis da magistratura.

III O subsídio mais rebaixado da magistratura brasileira Se desde o início a Magistratura federal e do trabalho tiveram seu escalonamento estabelecido em 5%, os Estados foram gradualmente seguindo o

O mapa que segue dá bem a dimensão do nosso isolamento no quadro nacional: O efeito dessa situação de desvantagem remuneratória em relação aos demais Estados se revela no desprestígio da carreira da

3 III O subsídio mais rebaixado da magistratura brasileira Se desde o início a Magistratura federal e do trabalho tiveram seu escalonamento estabelecido em 5%, os Estados foram gradualmente seguindo o mesmo caminho, e hoje só há mais quatro Estados com intervalo de 10%: na nossa companhia estão somente Amazonas, Roraima e Pernambuco. O mapa que segue dá bem a dimensão do nosso isolamento no quadro nacional: O efeito dessa situação de desvantagem remuneratória em relação aos demais Estados se revela no desprestígio da carreira da Magistratura do Rio Grande do Sul. Isso se percebe na comparação com Santa Catarina, Estado que mantém a diferença em 5% e paga aos seus magistrados várias verbas inexistentes no Rio Grande do Sul. Embora sua população mal supere metade da população gaúcha, no recrutamento de novos juízes seus concursos apresentam número crescente de concorrentes, já superando nosso Estado. Estado Ano do concurso Inscritos Rio Grande do Sul Concurso 2009 Concurso 2012 Santa Catarina Concurso 2010 Concurso

4 Esse quadro dá uma dimensão clara da perda de atratividade do Judiciário do Rio Grande do Sul, cuja qualidade superior, reconhecida em nível nacional, provavelmente não se sustentará nos próximos anos, porque os mais talentosos aspirantes à carreira da Magistratura já não se interessam por fazer concurso aqui. IV O processo de defasagem do valor do subsídio Como a implantação do subsídio no Rio Grande do Sul ocorreu somente em março de 2009, quatro anos após sua implantação em âmbito nacional, isso significou um realinhamento na remuneração da Magistratura após seis anos sem nenhum reajuste, visto que o último havia ocorrido em Já no primeiro mês, o efeito combinado entre o aumento da diferença entre as entrâncias para 10% e a perda do adicional por tempo de serviço trouxe sensíveis perdas remuneratórias para grande número de magistrados. Foi, por exemplo, o que aconteceu com os pretores, que depois tiveram uma parcial reparação com a aprovação da Lei /2011, pela qual o intervalo entre eles e juízes de entrância inicial foi reduzido para 5%. Todos os demais intervalos permanecem em 10%. Mas o mais significativo, no que se refere à evolução do subsídio é a perda de seu valor real ao longo dos anos, o que fica bem evidenciado no gráfico que segue. Nele se podem constatar reajustes que totalizam 30,51% em nove anos, para uma inflação que, pelos índices oficiais, chegou a 59,05% em Mesmo considerando os reajustes de 5% de janeiro de 2014 e o previsto para janeiro de 2015, em dois anos o subsídio terá atingido um reajuste de 43,88%, portanto ainda inferior à inflação acumulada até hoje.

5 Considerado o padrão 100 em janeiro de 2005, o valor real do subsídio evoluiu desse modo: 107,82 em janeiro de 2006, 104,53 em janeiro de 2007, 100,07 em janeiro de 2008, 94,49 em janeiro de 2009, 95,12 em janeiro de 2010, 93,30 em janeiro de 2011, 87,60 em janeiro de 2012 e 86,91 em janeiro de Para o futuro, já definidos os reajustes de 5% em janeiro dos dois próximos anos, e consideradas as inflações de 5,91% de 2013 e a projeção de 5,92% em 2014, haverá uma continuidade da queda, correspondendo o valor real a 86,21 em janeiro de 2014 e a 85,45 em janeiro de Disso decorre, em valores reais, uma redução gradual do desembolso do Estado com o pagamento do subsídio da magistratura, o que pode ser percebido na evolução do gasto com a folha de pagamento dos magistrados. Veja-se o valor da folha de pagamento dos juízes nos meses de dezembro de 2010, 2011, 2012 e 2013, somados os ativos e inativos: PERÍODO TOTAL FOLHA VALOR REAL* DEZ/2010 R$ ,77 R$ ,77 DEZ/2011 R$ ,29 R$ ,32 DEZ/2012 R$ ,58 R$ ,68 DEZ/2013 R$ ,07 R$ ,50 *Sem verbas indenizatórias **Os valores utilizados nesse quadro foram atualizados até dezembro de 2013 pelo IPCA.

V A perda do valor dos subsídios é superior ao efeito orçamentário da redução do escalonamento Portanto, mesmo tendo ocorrido nesse período um crescimento físico do número de magistrados, de 1.

6 V A perda do valor dos subsídios é superior ao efeito orçamentário da redução do escalonamento Portanto, mesmo tendo ocorrido nesse período um crescimento físico do número de magistrados, de para 1.173, num incremento de 4,55%, entre 2010 e 2013 houve um decréscimo real do peso da folha de pagamento. Colocados na mesma base, através do método da correção monetária dos valores anteriores a 2013, utilizando para esse cálculo o índice de variação do IPCA, a folha mensal de 2013 é 11,7704% inferior à de 2010, equivalente a R$ ,27 (R$ ,77 R$ ,50). Multiplicando esse valor por treze (12 meses do ano civil + o 13º salário) e sem considerar verbas indenizatórias, chega-se a um decréscimo de R$ ,51, valor superior à repercussão anual prevista pelo Projeto de Lei 218/2013, que é de R$ ,13. Mais do que isso, o reajuste de 2014 e o definido para 2015 representam novas quedas, porque permanecerão em 5%, e prevista uma inflação de aproximadamente 6% por ano, cada um desses períodos resultará em redução real anual superior a R$ 3 milhões, novamente a demonstrar que o impacto da alteração do escalonamento entre as entrâncias restará largamente compensado pelo descompasso decorrente de reajustes inferiores à inflação. Por fim, e considerada a argumentação que refere o efeito bola de neve da aprovação do Projeto de Lei 218/2013, porque teria reflexos para outras categorias, que, beneficiadas por igual alteração legislativa, multiplicariam os gastos do Estado, é de se assinalar que todas as categorias submetidas ao regime de subsídios sofreram prejuízos semelhantes aos aqui descritos, de modo que esse efeito irradiador igualmente se amortecerá pelas perdas passadas. VI Conclusão Do exposto, tem-se a razoabilidade do pleito pela redução das margens de escalonamento do subsídio, como igualmente a diluição do impacto financeiro e orçamentário da medida pela defasagem real da folha de pagamento dos magistrados, o que impõe como justa e razoável a aprovação do Projeto de Lei 218/2013.

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