Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:
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- Ana Laura Bacelar Farias
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1 PN ; Ag: TC Juízos Cíveis do Porto, 2º J, 1ª Sec (725/02) Ag.e: Maria do Rosário Moreira Martins 1, Bairro dos Pescadores, bloco h, entrada 2, 2º esqº, 4450 Matosinhos Agº: Credibanco Banco de Crédito Pessoal, SA 2, Rua Augusta, 62-74, 1100 Lisboa Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO: (1) A executada não se conforma com o excesso da penhora de um terço do seu vencimento do qual remanesce montante inferior ao ordenado mínimo e censura a penhora de móveis, cujo valor em pouco serve à satisfação do crédito. (2) Do despacho recorrido: (a) Do auto de diligência para penhora resulta que não foi ainda efectuada qualquer penhora de bens da executada, e verifica-se dos autos que também não foram penhorados bens essenciais para a economia doméstica na residência do executado Valdemar. (b) Por outro lado, refere-se que a executada aufere um vencimento superior ao salário mínimo nacional, como tal nada impede a penhora requerida e ordenada sobre o seu vencimento. II. MATÉRIA ASSENTE: 1 Adv: Dr Ponciano Castanheira de Oliveira, Rua Nova da Alfândega, 7 2º andar, sala 203, Porto [poncianocoliveira-9735padv.oa.pt] 2 Adv: Dr João Paulo Araújo, Esplanada do Castelo, Porto. 1
2 (a) Foi instaurada a presente execução contra Valdemar de Sousa Ferreira e Maria do Rosário Moreira Martins, por livrança na data do montante de 5 854, 37, subscrita por ambos (b) Em , para segurança e pagamento da dita quantia de 5854, 37, acrescida de juros e custas, foi efectuada a penhora com efectiva e real apreensão dos seguintes bens na residência do executado Valdemar de Sousa Ferreira: (i) verba nº 1 mobília de sala estilo antigo, em madeira de castanho em mau estado de conservação; (ii) verba nº 2 mobília de quarto de estilo antigo com desenhos em relevo e madeira de castanho em mau estado de conservação; (iii) verba nº 3 mobília de quarto estilo antigo em madeira de castanho em razoável estado de conservação; (iv) mobília de quarto em madeira de castanho em razoável estado conservação; (v) televisor Eurotec, com ecrã de 31 cm em razoável estado de conservação, e um televisor de cor preta de marca Samsung em mau estado de conservação; (c) Não foram penhorados mais bens por não existirem para além dos essenciais à economia doméstica e de outros sem qualquer valor venal; (d) A avaliação dos bens penhorados deu o seguinte resultado: (i) verba 1-100; (ii) verba 2-25; (iii) verba 3-175; (iv) verba 4-100; (v) verba 5-50; (e) Entretanto, o exequente pediu a venda dos bens penhorados por negociação particular e mais tarde, a penhora, deferida, de um terço do vencimento, auferido pela executada, Maria do Rosário, na firma EGPRH Empresa de Gestão de Pessoal e Recursos Humanos, Lda; (f) EGPRG, na sequência informou que Maria do Rosário auferiu vencimento mensal ilíquido de 455, 86: iniciaria os descontos no mês 05.05; (g) A executada, que obteve, entretanto, o benefício do apoio judiciário deduziu oposição à penhora, pedindo a redução desta por forma a ficar-lhe livre do vencimento líquido montante igual ao ordenado mínimo, 374, 70, ou seja, a redução da penhora a 80, 98 mensais; (h) No mesmo requerimento, afirmou-se em sua pertença os móveis penhorados em casa de Valdemar, inúteis, pelo seu reduzido valor à satisfação do crédito exequendo; (i) EPRH, após o desconto que procede no vencimento mensal da executada, retribui 297, 61. 2
3 III. CLS/ALEGAÇÕES: (1) A quantia a satisfazer pela penhora remonta a 5232, 83. (2) E foi ordenada a penhora de um terço do salário da recorrente: 455, 68. (3) Ora, deduzido o terço desse valor, remanescem 297, 61, montante inferior ao salário mínimo nacional (2005): é de 374, 70, Dl 242/04, (4) E o ordenado mínimo tem por missão garantir um rendimento que possibilite uma existência em condições mínimas de dignidade. (5) Isso mesmo foi entendido no Ac TC , e no Ac TC 177/02, , que declarou inconstitucional, justamente, a norma 4 que permitia a penhora para além daquele valor mínimo, e por colidir com o direito a um standing de dignidade humana, de acordo com os artºs 1, 59/2a, 63/1.3 CRP. (6) Deste modo, apenas deveria ter sido ordenada a penhora da quantia relativa à parte do salário da recorrente que excedesse o montante mencionado, isto é, 80, 98. (7) Pelo contrário, forma infringidas as disposições constitucionais acima ditas. (8) Mas ainda foram penhorados os bens móveis usados, cujo valor foi estimado em 450. (9) Ora, fazendo as contas, sabendo-se que quantia objecto de execução é a de 5 232, 83, e que será paga em prestações de 80, 98 mensais, sabe-se, igualmente, que o débito exequendo ficará satisfeito em cerca de 64 meses e meio: na hipótese de venda forçada, os bens móveis vão antecipar, então, o pagamento integral em cinco meses e meio. (10) Neste quadro, é onde a lei prescreve que são absolutamente impenhoráveis os bens que careçam de justificação económica pelo seu diminuto valor venal, artº 822 CPC; e nos diz que a penhora se deve cingir aos bens necessários para garantir a quantia exequenda, artº 821/3 CPC. (11) Por conseguinte, foram infringidas estas duas disposições legais, neste caso concreto que justifica ter de ser revogado o despacho sob crítica para ser levantada parcialmente a penhora sobre o salário da executada e de todo, no que diz respeito aos móveis Artº 824/1a.2 CPC red. ref 95/96 3
4 IV. CONTRA-ALEGAÇÕES: não houve, mas, na oposição ao requerimento da executada, disse Credibanco (a) a lei só isenta de penhora os rendimentos sociais de valor inferior ao salário mínimo nacional; (b) mas o salário da executada excede-o: a isenção não significa; (c) os móveis penhorados são os que se revelaram prescindíveis para a economia doméstica do agregado familiar: garantem o crédito exequendo; (d) deverão ser vendidos pelo melhor preço, independentemente de com essa venda o exequendo obtenha metade, um terço ou um décimo, ou qualquer outra fracção do valor do crédito; (e) e esta venda é e sempre será cumulável com a penhora do vencimento e/ou de quaisquer outros bens dos executados, que eventualmente venham a ser nomeados nesta execução. V. RECURSO: Pronto para julgamento, nos termos do artº 705 CPC. VI. SEQUÊNCIA: (1) O despacho recorrido não considerou sequer que tinha já ocorrido a penhora de um terço do vencimento da executada. (2) Ora, a lei, para além de limitar a penhora, segundo esse sistema do terço, à circunstância de deixar salvo o montante equivalente a um salário mínimo nacional, quando o executado não tem outro rendimento, artº 824/2 CPC, também confere ao juiz poderes oficiosos de a reduzir, por período que considere razoável, e mesmo de a isentar por período não superior a um ano, artº 823/4. (3) Terá, então, de obter informações sobre as necessidades do executado e do seu agregado familiar, diligências que faltaram, mas que são imperativas, dada a sede de protecção social em que se inserem, na sequência, naturalmente, das directivas constitucionais a propósito do tema. (4) Por outro lado, não está esclarecida a questão da relação familiar entre os executados, aspecto clarificador e que merece aperfeiçoamento de argumentos e da prova; ou da pertença exclusiva dos móveis à executada. (5) Por conseguinte, há que anular o despacho recorrido para que, na 1ª instância, se averigúe da matéria pertinente à boa decisão, e já indicada, ao mesmo tempo que será mandado aperfeiçoar o requerimento indeferido, no 4
5 sentido de ter em conta os aspectos, também acima apontados, da relação familiar ou da pertença-outra dos bens móveis penhorados. (6) É neste sentido que vai esta decisão de revogar o despacho agravado. VII. CUSTAS: sem custas, por não ter havido oposição. 5
Acordam no Tribunal da Relação do Porto
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