PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) Questões de Prática Processual Civil e Organização Judiciária. Teórica

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1 ORDEM DOS ADVOGADOS CNA Comissão Nacional de Avaliação 30 de Abril de 2012 PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) Questões de Prática Processual Civil e Organização Judiciária Teórica (10 valores)

2 1. Diz-se que o processo civil é um processo de partes. Comente tal afirmação e compagine-a com o princípio dispositivo, da aquisição processual e da verdade material (2,5 valores). 2. Explique o que é o requerimento probatório e quais os condicionamentos legais a que está sujeito (2,5 valores) Explique o que entende por tribunal judicial? (1 valor) 3. Identifique as categorias de tribunais que conhece? (1 valor) 4. Os julgados de paz são tribunais? Justifique a sua resposta. (2 valores) Comente, em registo livre, o artigo 8º (que seguidamente se transcreve) da Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto. (1 valor) Artigo 8.º Tutela jurisdicional: 1 A todos é assegurado o acesso aos tribunais judiciais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos. 2 A lei regula o acesso aos tribunais judiciais em caso de insuficiência de meios económicos.

3 ORDEM DOS ADVOGADOS CNA Comissão Nacional de Avaliação 30 de Abril de 2012 PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) Questões de Prática Processual Civil e Organização Judiciária Prática (10 valores)

4 I - CONSIDERE A SEGUINTE FACTUALIDADE: 1. João Avelar circulava na IP3, no dia 15 Abril de 2009, no sentido Coimbra Viseu, conduzindo um Peugeot 205, matrícula AA à velocidade de 115 Km/hora. 2. Viajava com a mulher, Maria Isabel Avelar, com quem é casado no regime da comunhão geral de bens. 3. Ao km 87, perto de Penacova, o veículo entrou em despiste e foi embater num veículo que circulava em sentido oposto, no sentido Viseu-Coimbra, o Volkswagen, matrícula BB. 4. O veículo BB foi embatido na parte traseira, rodopiou e despistou-se num ravina, após ter capotado. 5. O despiste teve como causa o rebentamento de um pneu do veículo AA, que havia sido comprado novo, há dois meses, e tinha apenas 9000 Km. 6. Ambos os condutores eram os proprietários dos veículos e haviam transferido a responsabilidade civil para Seguradoras X e Z, respectivamente. 7. O condutor do veículo embatido, Dâmaso Salcede, sofreu graves ferimentos, tendo ficado com o braço esquerdo totalmente inutilizado, transformado em mero apêndice com disfunção total, o que o incapacitou definitivamente para a profissão de professor de educação física. 8. Dâmaso Salcede participou criminalmente contra João Avelar, por ofensa à integridade física grave - crime punível nos termos dos artigos 144º e 148º do Código Penal, com prazo de prescrição de 5 anos (artigo 118º do mesmo diploma). Em Outubro de 2011 foi deduzida acusação, mas aguarda-se ainda a designação de data para julgamento.

5 9. O dia 15 de Abril de 2009, dia do acidente, foi um dia de muita chuva e o piso do IP3 esteve permanentemente molhado, em alguns locais com "lençóis de água". A visibilidade era a de um dia chuvoso e o acidente ocorreu às 16 horas. 10. Dâmaso Salcede viajava acompanhado de sua irmã, Maria Salcede, que sofreu incapacidade total durante 115 dias. 11. João Avelar reside em Viseu desde 2008 com a sua mulher, sendo ambos professores do ensino secundário nessa cidade. 12. Dâmaso Salcede é casado com Sofia Salcede no regime da comunhão de adquiridos, residindo ambos desde 2007 em Coimbra. 13. À data do acidente tinha 32 anos de idade e era professor de educação física numa escola secundária da cidade de Coimbra, com vencimento mensal de 2.200,00 (dois mil e duzentos euros). 14. Dâmaso Salcede tinha até ao acidente muito orgulho no seu físico a que se referia como o meu belo corpo e considerando-se, como dizia, um atleta. 15. Muito por isso, era senhor até essa data de elevada auto-estima, sofrendo desde então de depressão diagnosticada como grave. 16. Os danos patrimoniais de Dâmaso Salcede, segundo uma das fórmulas mais usuais de cálculo, montam a ,00 (idade 32 anos, incapacidade permanente de 80% e idade de reforma aos 65 anos, por ser esta a idade de reforma no ensino oficial). 17. O veículo de Dâmaso Salcede sofreu danos materiais consideráveis: na chaparia de uma forma generalizada, com amolgadelas várias e dispersas.

6 18. A seguradora fez uma perícia, mas considerou não haver perda total, por o valor dos danos ser inferior ao valor venal da viatura nem terem ficado afectados órgãos essenciais para a segurança rodoviária. O valor da reparação proposto pela seguradora foi de 8.500,00 (oito mil e quinhentos euros). 19. Dâmaso não concordou com esta avaliação dos danos, entendendo que as longarinas e o chassis ficaram gravemente afectados. 20. O valor venal da viatura é de ,00 (quinze mil euros). II - CONSIDERE A SEGUINTE SITUAÇÃO: Hoje, dia 30 de Abril de 2012, o seu patrono é contactado como Advogado por Dâmaso Salcede, que lhe narra fundamentada e documentadamente a factualidade antes descrita e o contrata para reclamar e vir a obter judicialmente indemnização pelos danos sofridos em consequência do acidente que o vitimou em 15 de Abril de Com estes pressupostos, A. Analise criticamente os factos, numa exposição fundamentada e logicamente elaborada dirigida ao seu patrono, que, sendo V. Ex.ª Advogado-estagiário e prestando nessa qualidade colaboração no escritório de advocacia dele, lhe pediu para assistir à consulta e lhe apresentar uma proposta de estratégia e a minuta da, eventualmente, pertinente ação judicial. B. Caso entenda haver razões e oportunidade para acionar o putativo ou os putativos responsáveis judicialmente, elabore a minuta da competente Petição Inicial, completa, talqualmente a que o seu patrono deveria enviar para juízo.