Emitiremos a nossa opinião partindo dos seguintes pressupostos:
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- Helena Klettenberg Vidal
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1 PARECER Para: Organismos de Imprensa De: Laurinda Prazeres, LEAD Advogados Data: Fevereiros de 2017 Assunto: Publicação de convocatória de processo disciplinal em Jornal Da Consulta: A TAAG Linhas Aéreas de Angola, empresa pública do sector empresarial, publicou uma Convocatória para Entrevista Disciplinar, em Jornal, em jeito de anúncio público dirigido a pessoa/s determinada/s. Tendo em atenção a inovação que esta situação representa no nosso direito laboral, foinos solicitada a opinio juris sobre a legalidade desta actuação tendo em conta as normas que conformam o nosso ordenamento jus laboral, mormente à luz das regras do Procedimento Disciplinar ditadas pela Lei 7/15, de 15 de Junho, Lei Geral do Trabalho, doravante designada apenas LGT. Não emitiremos qualquer opinião relativa ao conteúdo da publicação/convocatória, a tramitação, decisão, ou legalidade ou falta dela do despedimento uma vez que extravasa o âmbito da opinião que nos foi solicitada. Emitiremos a nossa opinião partindo dos seguintes pressupostos: a) A TAAG instaurou um procedimento disciplinar que, após impugnado judicialmente pelos trabalhadores arguidos, veio a ser julgado nulo (o procedimento) nos termos da sentença proferida nos autos de Proc. N.º 608/12-J; b) O primitivo procedimento disciplinar foi tramitado sob a vigência da Lei n.º 2/00 (anterior LGT) tendo este novo procedimento disciplinar seguido o rito processual da Lei n.º 7/15, (nova LGT) tendo sido assim salvaguardadas as regras da aplicação imediata das regras processuais no tempo no que for mais favorável ao trabalhador;
2 Escalpelizando a questão sob escrutínio: Ao que parece, a TAAG, após ser notificada da sentença, lançou mão do disposto no art. 208º n.º 4, da actual LGT (o mesmo regime estava previsto na anterior LGT no art. 228º n.º 4) que permite que a entidade patronal repita ou, nos dizeres da actual LGT, supra as irregularidades ditadas pelo Tribunal, no prazo de 05 dias úteis após ter sido notificada da sentença e antes de proceder a reintegração do trabalhador. Esclarecidos que estamos da fase processual, resta saber se a publicação da Convocatória no Jornal é um procedimento legal aos olhos da nossa legislação laboral. Atentemos então. - Aquando da cessação do contrato de trabalho, o trabalhador tem direito a receber, sempre, o seu certificado de trabalho e nele, a entidade patronal, não pode fazer constar os motivos da cessação do contrato de trabalho;(cf. art. 201º da LGT). Parece-nos assim, que o legislador pretendeu afastar da prerrogativa da entidade patronal publicitar as decisões disciplinares e entendemos que se o legislador pretendeu manter no círculo da empresa a decisão final do procedimento disciplinar, por maioria de razão, os factos indiciários de uma violação dos deveres laborais contidos na convocatória também não podem extravasar do centro de trabalho. - Tão logo seja instaurado um processo disciplinar a qualquer trabalhador, este adquire os direitos e obrigações equivalentes aos do arguido em processo penal, mormente o direito de não prestar declarações sem que a opção pelo silêncio o prejudique. Mas, relevante aqui, é que o trabalhador, tal como o arguido em processo penal, goza da presunção de inocência, uma vez que cabe a entidade patronal provar que os factos acusados são verdadeiros. Entendemos que o afastamento da possibilidade de publicação dos factos constantes da convocatória, também assenta neste princípio, que tem consagração constitucional. (art. 67º n.º 2, da CPA). Mais controvertida é a questão de saber se, tal como no processo penal, o trabalhador pode faltar com a verdade de forma deliberada sem que esta opção de defesa possa ser tida em conta na graduação
3 da medida disciplinar, mas este assunto não será aqui esmiuçado sob pena de se fugir em demasia á opinião solicitada. - As Partes, em processo cível ou crime, podem requerer a publicação da sentença, seja ela condenatória ou absolutória, com vista a reparação de eventuais danos causados pela demanda na esfera jurídica de uma ou outra parte. A decisão sobre a concreta publicação ou não de uma sentença cabe ao Juiz da causa e não as Partes. Também aqui, por maioria de razão, entendemos que se cabe ao Juiz (terceiro imparcial) decidir sobre a pertinência ou não da publicação de determinada sentença, poder este que não pode ser exercido motu proprium pelas Partes, a TAAG não deveria publicar a convocatória em jornal. - Por fim (mas não só), o art. 55º da LGT, sob a epígrafe Registo e publicidade das medidas disciplinares refere que as medidas disciplinares são registadas no processo individual do trabalhador e devem ser expurgadas do mesmo findo 5 anos, bem assim que as mesmas podem ser objecto de publicação dentro da empresa ou centro de trabalho. Ora, entendemos assim que tendo o legislador afastado a publicação de factos alegadamente comprovados num processo disciplinar fora do âmbito do centro de emprego, afastada também está a possibilidade da entidade patronal publicar a convocatória, que contém apenas factos indiciários de uma alegada violação de deveres laborais. A TAAG, ao publicitar a convocatória em Jornal parece pretender suprir um eventual vício de violação do direito ao contraditório, que não terá sido observado no procedimento disciplinar. Ora, proferida a sentença, o trabalhador deve disponibilizarse imediatamente ao contacto da entidade patronal podendo ser (i) notificado presencialmente. Caso não seja possível, poderá ser notificado da convocatória por outros meios que não são afastados pela nossa lei, como seja, (ii) por correio electrónico ou, (iii) por carta registada enviada para a última morada conhecida do trabalhador,
4 que é a que consta do seu registo individual, pois cabe ao trabalhador informar a entidade patronal caso mude de residência. Qual o efeito ou efeitos jurídicos desta publicação? Atento o supra aduzido, entendemos que a publicação da convocatória não produz qualquer efeito na esfera jurídica do trabalhador, pois é um meio de notificação que está afastado ao empregador no âmbito do procedimento disciplinar. Desta forma, ele (trabalhador) não deve qualquer obediência as ordens e instruções que constam da publicação. Por isso, entendemos que, ainda que o trabalhador tenha tomado conhecimento da publicação, a mesma não efetivou ou não preencheu os requisitos legais para se considerar uma notificação. Mais consideramos que, o comportamento da TAAG é ela sim passível de integrar o tipo legal de crime difamação (art. 407º do CP). Voltando ao caso concreto, ainda que a TAAG não tivesse decidido suprir as irregularidades do processo disciplinar após a sentença que decretou a nulidade do despedimento, cabia-lhe como entidade patronal (querendo) o dever de notificar o trabalhador para retomar as suas funções, reintegrando-o, mediante notificação dirigida para a sua última morada conhecida que consta do registo individual. Não comparecendo, iniciaria a contagem de faltas injustificadas ou, decorrido o prazo legal, a possibilidade da publicação do facto objectivo que motiva a publicação (esta sim legítima) do abandono do trabalho. Destarte, concluímos da forma seguinte: A publicação da convocatória para entrevista disciplinar não tem qualquer efeito na esfera jurídica do trabalhador nem lhe transfere qualquer ónus nessas vestes, uma vez que o legislador subtraiu esta forma de notificação do procedimento disciplinar. Mais entendemos que a publicação da convocatória não só não tem o condão de ser entendida como qualquer notificação, mas integra o tipo legal de crime de difamação.
5 Este é, salvo devido respeito por entendimento diverso, o nosso. Laurinda Prazeres Advogada OAA 516
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