EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NO CONSUMIDOR DOS BENS ALIMENTARES E BEBIDAS NA REGIÃO NORTE EM 1995
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- Estela Ribeiro Caldas
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1 EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NO CONSUMIDOR DOS BENS ALIMENTARES E BEBIDAS NA REGIÃO NORTE EM 1995 ANTÓNIO EDUARDO PEREIRA* O ano de 1995 pode ser considerado, em termos globais, como um período de desaceleração da inflação, quer para a região Norte, quer a nível nacional e tanto para o nível de preços globalmente considerado como em particular para a classe de Alimentação e Bebidas. Sucede mesmo que os preços dos bens inseridos nesta classe tiveram um papel determinante naquele processo de descida da inflação. As despesas em Alimentação e Bebidas constituem a maior parcela dos gastos de consumo das famílias portuguesas. Os preços deste tipo de bens condicionam, por isso, fortemente o comportamento da inflação. Esta situação é particularmente sentida na Região Norte, onde a ponderação atribuída, no âmbito do Índice de Preços no Consumidor, à classe de despesas em Alimentação e Bebidas é superior à de qualquer outra região portuguesa. De facto, o peso da Alimentação e Bebidas no IPC mensalmente divulgado para a Região Norte (total, excepto Habitação) aproxima-se dos 50 % 1. Ponderação atribuída à classe de despesas em Alimentação e Bebidas no Índice de Preços no Consumidor região anual mensal de referência (IPC total) (IPC total, excepto Habitação) Norte 44,94 % 49,47 % Portugal 41,87 % 45,83 % Comparando os ritmos de crescimento do IPC total (excepto Habitação) e da classe de Alimentação e Bebidas ao longo de 1995, verifica-se que desde Maio (inclusive) os preços daquela classe registaram variações homólogas inferiores à do nível geral de preços, quer a nível nacional quer, sobretudo, na Região Norte, onde esta diferença tem até sido mais acentuada (ver gráfico 1). Conclui-se, portanto, que em 1995 a evolução dos preços da Alimentação e Bebidas foi um importante factor de redução da inflação, em Portugal e, de forma particularmente acentuada, na Região Norte. * INE Direcção Regional do Norte 1 As ponderações atribuídas no âmbito do IPC aos vários tipos de bens resultam do Inquérito aos Orçamentos Familiares (1989/ 1990) e reflectem, em termos médios, o respectivo peso na estrutura de consumo das famílias de cada região. A disponibilização dos resultados do Inquérito aos Orçamentos Familiares (1994/1995) permitirá actualizar aquelas estruturas de consumo e, em conformidade, reformular o conjunto de bens e serviços cujos preços são inquiridos no âmbito do IPC e rever as ponderações atribuídas a cada tipo de bens.
2 Gráfico 1 - IPC-Variações Homólogas ,0 Portugal - total excepto Habitação Norte - total excepto Habitação Portugal - Alimentação e Bebidas Norte - Alimentação e Bebidas 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez De facto, pode afirmar-se que a queda verificada, entre Dezembro de 1994 e Dezembro de 1995, no ritmo de crescimento homólogo dos preços da Alimentação e Bebidas na região Norte foi, por si só, responsável por uma queda de 0,8 pontos percentuais no ritmo de crescimento homólogo do nível geral de preços (IPC total excepto habitação) do Norte. Assim, caso o ritmo homólogo de crescimento dos preços da Alimentação e Bebidas na Região Norte no final de 1995 tivesse sido coincidente ao registado no final de 1994 (4,0 %) e supondo inalterada a evolução ocorrida nas restantes classes, o abrandamento do ritmo de crescimento homólogo do nível geral de preços no Norte verificado no mesmo período teria sido apenas cerca de metade do efectivamente ocorrido. A nível nacional, o impacto da desaceleração do crescimento dos preços da Alimentação e Bebidas foi ligeiramente menor. Com efeito, a queda verificada, entre Dezembro de 1994 e Dezembro de 1995 no ritmo de crescimento homólogo dos preços daquela classe apenas motivou (considerada isoladamente) uma queda de 0,6 pontos percentuais no ritmo de crescimento homólogo do nível geral de preços. Note-se, porém, que caso o ritmo de crescimento homólogo dos preços da Alimentação e Bebidas a nível nacional no final de 1995 tivesse sido idêntico ao do final de 1994 (também 4,0 %), e supondo inalterados os comportamentos verificados nas restantes classes, então o ritmo de crescimento homólogo do nível geral de preços a nível nacional não teria benificiado de qualquer diminuição, repetindo, também ele, no final de 1995 o valor registado no final de O quadro seguinte sintetiza as conclusões explanadas nos dois parágrafos anteriores. Variações homólogas do IPC Norte Alimentação e Bebidas total, excepto Habitação Alimentação e Bebidas Portugal total, excepto Habitação valores efectivos: Dezembro de ,0 % 5,3 % 4,0 % 4,0 % Dezembro de ,2 % 3,6 % 2,6 % 3,4 % variação : -1,8 % -1,7 % -1,4 % -0,6 % cenário supondo igualdade do ritmo de crescimento homólogo dos preços da Alimentação e Bebidas no final de 1994 e de 1995: Dezembro de ,0 % 4,4 % 4,0 % 4,0 % variação : 0,0 % -0,9 % 0,0 % 0,0 %
3 PRODUTOS ALIMENTARES NÃO TIVERAM EVOLUÇÃO HOMOGÉNEA NA REGIÃO NORTE A evolução dos preços da Alimentação e Bebidas na Região Norte, no entanto, apresenta-se bastante diferenciada segundo os vários produtos. O gráfico 2 ilustra esta mesma situação, apresentando os produtos inseridos naquela classe por ordem crescente do respectivo valor do indicador de variação média dos últimos doze meses, avaliado em Dezembro de Gráfico 2 - IPC (Região Norte) - Variações Médias dos últimos doze meses Dezembro de % 2 15% 1 5% -5% -1 ovos massas peixe conserva cereais peixe seco cacau farinhas leite vaca miudezas salsicharia fruta vaca peixe fresco açucar porco pastelaria a. capoeira prod. lácteos pão refrigerantes legumes compotas bolachas cabrito pront. consumir carneiro água mesa parcialm. prep. p. dietéticos out. alcoólicos aliment. fora casa temperos gorduras peixe congelado chá vinhos confeitaria feijão café molusc. crustác. óleos féculas grão-de-bico Alguns produtos destacam-se por exibirem ao longo do ano um comportamento incaracterístico, alternando períodos de forte crescimento dos preços com outros de acentuadas descidas de preços. É o caso, sobretudo, das féculas e amidos, cujos preços após terem registado entre Janeiro e Maio (inclusive) cresimentos bastante fortes (atingindo um máximo extraordinário de +97,3 % em termos homólogos em Fevereiro), beneficiaram durante o resto do ano de descidas também bastante significativas, culminando com uma variação homóloga de -25,8 % em Dezembro. Em consequência, no final do ano, as féculas e amidos registavam evoluções de preços completamente díspares se avaliadas em termos homólogos (de longe a maior queda de todos os itens considerados) ou em termos médios (+21,6 %, a segunda maior subida, logo após o grão-de-bico). A evolução do preço dos ovos registou ao longo do ano um andamento inverso ao das féculas e amidos. Assim, durante os primeiros nove meses do ano os ovos registaram variações homólogas negativas do respectivo preço, particularmente significativas de Janeiro a Maio (inclusive) quando oscilaram entre -16 e -18 %. No último trimestre, porém, os ovos sofreram aumentos acentuados de preço. Desta forma, em Dezembro de 1995, os ovos eram um dos bens alimentares que apresentavam maior nível de inflação em termos homólogos. Como resultado, no final do ano os ovos eram, a seguir às féculas e amidos, o produto com maior diferença entre o respectivo nível de inflação medido em termos homólogos (subida de 7,2 %) e em termos médios (descida de 9,6 %). Ainda dentro dos produtos cujo preço registou durante 1995 uma evolução esdrúxula, cabe referir os animais de capoeira. O ritmo de crescimento homólogo dos respectivos preços oscilou entre -8,4 % em Julho e +14,1% em Outubro. No final do ano, porém, os preços dos animais de capoeira acusavam variações modestas, quer em termos homólogos (+3,8 %), quer em termos médios (+2,2 %).
4 PREÇOS EM QUEDA O ano de 1995 foi, na Região Norte, um período de sistemática descida de preços para um grupo de quatro produtos: cereais, massas alimentícias, peixe em conserva e peixe seco ou em salmoura. O gráfico 3 mostra o andamento do indicador de variação homóloga ao longo de 1995 para os preços destes produtos. Nota-se que apenas o peixe em conserva registou, no mês de Janeiro, uma variação homóloga positiva. Também em termos de variação média dos últimos doze meses, todos estes produtos registavam, no final de 1995, valores negativos, nomeadamente entre -2,3 % (peixe seco ou em salmoura) e -8,2 % (massas alimentícias). Gráfico 3 - IPC (Região Norte) - Variações Homólogas-Produtos Alimentares cujo Preço no Consumidor desceu ao longo de % 4% 2% cereais peixe em conserva massas alimentícias peixe seco ou em salmoura -2% -4% -6% -8% -1-12% ESTABILIDADE DE PREÇOS Em relação a um outro grupo de produtos, o ano de 1995 traduziu-se sobretudo por uma relativa estabilidade dos preços. Assim, as farinhas, a carne de vaca, os produtos de salsicharia, o leite de vaca e o cacau e derivados, registaram ao longo do ano variações homólogas contidas entre -2% e +3%, conforme se pode verificar no gráfico 4. Em Dezembro de 1995, as variações homólogas dos preços destes produtos oscilavam, na Região Norte, entre cerca de -1% e +1%. Em termos médios, a variação dos preços destes bens situava-se, no final de 1995, entre -0,3% (cacau e derivados) e +1% (carne de vaca).
5 Gráfico 4 - IPC (Região Norte) - Variações Homólogas Produtos Alimentares Cujo Preço no Consumidor foi Relativamente Estável em % farinhas leite de vaca carne de vaca cacau e derivados salsicharia 2% 1% -1% -2% Um outro produto cujo preço apresenta, no final de 1995, uma variação média dos últimos doze meses bastante modesta (+0,5 %) são, no âmbito do sub-grupo das carnes, as miudezas. Em termos homólogos, porém, este item, além de registar algumas variações significativas ao longo do ano (nomeadamente +3,2 % em Maio e -2,5 % em Junho), apresenta, no final do ano, um valor de +2,6 %, bastante superior, portanto, ao apurado em termos médios. MAIORIA DOS PRODUTOS ALIMENTARES REGISTA AUMENTOS MODERADOS NO NORTE Um vasto lote de produtos da classe de Alimentação e Bebidas registaram em 1995 subidas moderadas dos respectivos preços no consumidor na Região Norte. Referimo-nos a produtos que apresentavam, no final de 1995, crescimentos de preços contidos entre cerca de 1 % e 5 %, tanto em termos homólogos, como em termos médios. O gráfico 5 mostra a evolução ao longo de 1995 do indicador de crescimento homólogo dos preços de alguns destes produtos. Além desses, incluem-se neste grupo o pão e produtos de padaria, os legumes, as carnes de cabrito e de carneiro e borrego, os produtos dietéticos, o açúcar e mel, as bolachas e biscoitos, a pastelaria, os produtos parcialmente preparados para consumo em casa, as águas de mesa e os refrigerantes e sumos. Gráfico 5 - IPC (Região Norte) - Variações Homólogas Alguns Produtos Alimentares Cujo Preço no Consumidor Subiu Moderadamente em % 7% 6% 5% 4% 3% 2% 1% -1% -2% geleias/compotas produtos lácteos out. beb. alcoólic. frutas peixe fresco/frigor. carne de porco aliment. fora casa -3%
6 Quatro outros produtos registavam igualmente, no final de 1995, crescimentos homólogos relativamente moderados dos respectivos preços no consumo. É o caso dos moluscos e crustáceos (+2,3 % em termos homólogos), do peixe congelado (+3,0 %), os vinhos (+3,1 %) e o chá (+4,5 %). No entanto, todos estes produtos registaram ao longo do ano variações homólogas superiores; destacando-se a este respeito os moluscos e crustáceos, que nos primeiros nove meses do ano registaram variações homólogas sistematicamente superiores a 10 %. Em consequência, o crescimento dos preços destes produtos avaliado no final do ano em termos médios apresentava-se superior ao valor de 5%, sendo de 5,8 % para o peixe congelado, 6,0 % para o chá, 6,6 % para os vinhos e 10,6 % para os moluscos e crustáceos. Pelo contrário, os preços dos produtos prontos a consumir registavam no final do ano uma variação homóloga de 5,7 %, embora em termos médios o seu crescimento fosse apenas de 3,5 %. AUMENTOS DE PREÇO ACENTUADOS Finalmente, um grupo de sete produtos alimentares distingue-se por, no final do ano, apresentar crescimentos dos respectivos preços no consumidor acima de 5,5 %, tanto em termos homólogos, como em variação média. São raras, para este grupo de produtos, as variações homólogas ocorridas ao longo do ano inferiores a 5 %, como se pode constatar no gráfico 6. Gráfico 6 - IPC (Região Norte) - Variações Homólogas Produtos Alimentares Cujo Preço no Consumidor Subiu Fortemente em % 29% 27% 25% 23% 21% 18% 17% 15% 13% 11% 9% 7% 5% feijão óleos confeitaria div.: temperos, condim, etc. grão-de-bico gorduras café e sucedâneos 3%
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