Romance do. Grande Gatão. Lídia Jorge. Ilustrações Danuta Wojciechowska
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- João Guilherme Aleixo Brandt
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1 Romance do Grande Gatão Lídia Jorge Ilustrações Danuta Wojciechowska
2 PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE [uma editora do grupo LeYa] Rua Cidade de Córdova, n.º Alfragide. Portugal Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor 2010, Lídia Jorge (texto) Danuta Wojciechowska (ilustrações) e Publicações Dom Quixote DESIGN LupaDesign Patrícia Cortes REVISÃO Clara Boléo 1.ª EDIÇÃO Abril de 2010 ISBN
3 Romance do Grande Gatão
4 Escrevi este livro para Agustín e Emiliano, meus sobrinhos, pois os gatos falam todos a mesma língua à volta da Terra.
5 Romance do Grande Gatão Lídia Jorge Ilustrações Danuta Wojciechowska
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7 Olá, boa-noite, eu sou o grande gatão. Pelo menos é assim que me conhecem nos bairros mais próximos, ainda que não me distinga dos demais em questões de tamanho. Quando a lua vem, e eu me encontro sentado entre os outros da minha espécie, e a nossa sombra se projecta na parede das varandas, nem sei distinguir qual das sombras me pertence.
8 Sou apenas um entre os outros. Às vezes suponho que me chamam grande por alguma coisa importante que eu tenha feito, muito mais do que pela minha aparência de gato. Mas se tal aconteceu, não dei conta de nada. Sinto- -me em tudo um gato comum, que tem a grande sorte de viver nos arredores de uma grande cidade, sempre pronto para uma passeata e à espera da sua ração. A vida corre-me bem. Ao fim do dia, à hora em que os meus donos costumam regressar a casa, aguardo por eles o melhor que posso. Mal ouço o ruído dos motores ao fundo da rua Dra. Margarida, salto para cima do murete que separa o número 30 do 32, e fico a senti-los a aproximarem-se. Assim que confirmo a sua chegada, dou um salto, subo para cima da romãzeira do jardim, para que eles possam admirar a minha agilidade trepadora, e logo que se apeiam, desço, rebolo-me 10
9 no chão, escondo o focinho entre as patas e encolho as unhas, para que vejam como mantenho as minhas armas todas guardadas diante das suas pessoas. Entretanto, espero que uma porta se abra, e mal caiba por uma qualquer abertura, entro em casa como uma flecha, dou duas voltas à mesa e saio para a rua disparado como um raio, tudo isso só para que não possam deixar de dar pela minha presença. «Ah! Grande gato, vem cá!» gritam os meus donos crianças, de um e do outro lado do pequeno muro, que eu bem os ouço, mas eu não regresso aos seus braços, assim, sem mais nem menos. Eu sou um animal independente, sou um gato normal. 11
10 12 Tão normal que os donos do número 30 facilmente me apanham à conta das bolachas. Quando me querem fazer regressar, agitam a caixa no ar, fazem soá-las, e eu, prisioneiro daquele engodo, não lhes resisto nunca. Sei que estão lá dentro biscoitos estaladiços, com sabor a caça e a pescado, e o meu apetite torna-se imperioso. Miando de desespero, aproximo-me da caixa, a olhar para o buraco por onde elas saltam em cascata para dentro do prato. Os meus donos pequenos compreendem-me, enchem-me a vasilha até à borda, baixam-se até à minha altura e ficam a ver-me trincar a ração crocante, repleta de cores. Uma delícia. Mas eu estou sempre com um olho na ração e outro na porta, porque gato alimentado é gato fugido, só que nem sempre eles mo permitem.
11 Pois ainda eu estou a lamber-me dos últimos biscoitos e já os meus donos me pegam ao colo, me encarceram nos seus braços, me escovam e penteiam. Amam-me demasiado. E eu já disse que sou um gato normal, não vou estrebuchar, nem arranhar aqueles que me querem bem, prefiro aguardar com paciência e retribuir o seu afecto, oferecendo-lhes o mais alto dos meus ronrons. Eles gostam da minha recompensa. Logo ali, fecho os olhos, deixo que passem a mão pelos meus ombros e ponho o motor do afecto a trabalhar. Não faço nada de mais. A felicidade tem o seu quê de negócio, dás-me bolachas, dou-te ronrom. Tão simples quanto isso. Porque sou, então, chamado Grande Gatão? 13
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Álvaro Magalhães. Ilustrações de Carlos J. Campos
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