Campanhas eleitorais nas redes sociais

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1 Campanhas eleitorais nas redes sociais Lincoln Prazeres Orientador: Prof. Dr. Celso Figueiredo Neto Resumo: O presente artigo tem como objetivo identificar a efetividade do Facebook em campanhas eleitorais. O estudo fará um levantamento sobre o crescimento do Facebook no Brasil, e uma breve observação da rede social sob a ótica de recentes movimentos de manifestação como Primavera Árabe, Os Indignados, Occupy Wall Street e Ocupa Acampa Sampa, bem como a campanha eleitoral do Presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Através desse ponto de vista, será feita uma análise de como o Facebook pode influenciar no resultado de campanhas eleitorais através de dois estudos de casos, sendo eles: a campanha do Vereador eleito pelo PSDB Floriano Pesaro e do Vereador eleito pelo PT, Paulo Reis. Palavras chave: Comunicação, Facebook, campanha política A Rede Social Facebook em Alta O impacto da revolução digital atinge o mundo em diversos aspectos, sobretudo no que se refere aos usuários das redes sociais. O Facebook, por exemplo, atingiu a marca de 1 bilhão de usuários no mundo todo segundo publicação recente no Jornal Estadão Online no Blog Link, e só no Brasil, possui 54 milhões de usuários. Em documentos recentes entregues pela empresa (Facebook) ao órgão regulador americano Security and Exchange Commission (SEC), o Brasil possui 5,6% de usuários na rede social em relação ao mundo todo, sendo o País que obteve maior crescimento em relação a novos usuários, atingindo alta de 146% entre junho de 2011 a junho de Nenhum outro país cresceu tanto neste mesmo período. O ranking mundial de usuários da rede aponta a Índia ocupando o segundo lugar com alta de 84% e, em terceiro lugar, a Indonésia com alta de 24%. Esses números demonstram que o crescimento da rede de Mark Zuckenberg no último ano está bastante apoiado nos países de economias emergentes ou de tradição de controle das informações, em especial quando se trata de política como poderemos perceber pela análise que se segue.

2 O crescimento de usuários no Brasil pode estar associado à cultura do país, como observado por Alex Banks, vice-presidente da consultoria comscore para a América Latina, em entrevista ao portal ig: Já vimos isso acontecer com os serviços de mensagens instantâneas, como o MSN Messenger e o Orkut, a primeira rede social popular no Brasil. Portanto, para Banks, o objetivo é continuar aumentando o número de usuários, com a meta de alcançar 95% dos internautas brasileiros. É possível verificar que, com o crescimento gradativo de usuários no mundo todo, cada vez mais empresários, políticos, ONGs em geral bem como indivíduos que se permitem divulgar informações, seja de mobilização ou conscientização, enxergam nessa ferramenta uma oportunidade de comunicação efetiva. Em 2008, segundo publicado no jornal online Último Segundo, a campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Obama, arrecadou US$ 5 bilhões em doações feitas pela internet, sendo que o Facebook foi o principal foco de atenção. O diretor Teddy Goff, responsável pela estrutura digital que está sendo utilizado na reeleição do Presidente Obama, comenta sobre a importância da ferramenta, afirmando que: Se acertarmos na comunicação com as pessoas, passarão adiante nossa mensagem, e é aí que está nosso segredo: é muito mais efetivo ser persuadido a frequentar eventos da campanha por um amigo do que pela campanha em si. E as mídias sociais são vitais neste tipo de comunicação. No período de 2010 e janeiro de 2011, o número de usuários da rede social Facebook aumentou em 200 mil novos cadastros de internautas tunisianos, e no mundo Árabe, o crescimento foi de 14,8 milhões para 27,7 milhões no mesmo período, segundo estudos publicados no relatório da Dubai School of Government de Pode-se dizer que esta alta está diretamente relacionada aos eventos ocorridos a partir de dezembro de 2010, quando um jovem tunisiano vendedor de frutas ateou fogo em seu próprio corpo, ao ter suas mercadorias confiscadas. Sua morte desencadeou uma série de manifestação no Oriente Médio e África, dado início à Primavera Árabe, movimento este que resultou na deposição de diversos ditadores dessa região. Seguindo a onda de protestos, o Facebook continuou como protagonista, sendo o responsável pelo principal meio de comunicação e de articulação utilizados pelos usuários da rede social na Europa e América do Norte, conhecidos como Os Indignados e os Occupy Wall Street. Devido à crise econômica mundial de 2008, e após o colapso que comprometeu a integridade dos principais bancos europeus e norte-americanos, os manifestantes

3 mobilizaram-se através das redes sociais contra os cortes de gastos públicos aplicados pelos governos de seus respectivos países. Esse modelo foi adotado também no Brasil, e contribuiu na organização de diversas manifestações como a Marcha da Maconha, a Marcha contra a Corrupção, o Movimento Veta Dilma, o movimento Ocupa Acampa Sampa, entre outros. Portanto, o Facebook pode ser observado como um meio de comunicação relevante para promover conceitos, ideais e, considerando os resultados de adesão aos eventos acima mencionados, e tantos outros, é possível afirmar que hoje a rede social é uma ferramenta efetiva de mobilização social. A Efetividade da Rede Social Facebook nas Campanhas Eleitorais Enquanto meio de comunicação, o uso do Facebook para fins de campanhas eleitorais pode ser considerado uma ferramenta poderosa em relação à divulgação de projetos e propostas, pois permite que o eleitor e seu candidato tenham um contato interativo, compartilhem ideias, possibilitando às partes que percebam a importância dessa interação bilateral. Entretanto, é possível verificar que talvez os usuários que participam dessa interação, ainda não tenham percebido o total poder que o uso desta ferramenta pode representar, pois, na maioria dos casos observados, utilizam os recursos disponíveis mais para reafirmar a candidatura de seus representantes, e menos para discutir os problemas sociais em que a cidade de São Paulo está inserida. Vejamos na campanha eleitoral do candidato do PSDB, Floriano Pesaro, na qual foi eleito com significativos votos. De 83 comentários sobre o post de agradecimentos em sua fanpage, houve apenas 1 (um) comentário em relação a como esse cargo pode favorecer a população em causas específicas e de igual importância para o conjunto social. Isso leva a crer que, apesar da rede social fornecer diversas ferramentas de interação, ainda funciona parcialmente como os tradicionais meios de comunicação, onde o emissor expõe suas ideias e opiniões, e o receptor na maioria dos casos apenas compartilha, comenta e curte o conteúdo, superficialmente. É claro que é possível considerar o natural baixo interesse por temas afeitos à política por parte dos eleitores. Por outro lado, é importante ressaltar que já estamos tratando com um público segmentado, pois são analisados os comentários na página política do candidato

4 no Facebook. Desse modo, existe, naturalmente, um processo de segmentação. Não se trata do eleitor comum, mas daquele que curtiu a página do político, acompanha seus posts e participou, ainda que minimamente, curtindo, compartilhando ou comentando o post do vereador. Contudo, essa frágil participação não é suficiente para desqualificar a importante representação das ferramentas utilizadas no Facebook, inclusive no que diz respeito a opinião dos eleitores. O uso de enquetes, por exemplo, inclusive aplicado de forma efetiva pelo então candidato Floriano Pesaro, que deve reassumir sua vaga na Camara no ano de 2013, permitiu com que os usuários decidissem qual estilo musical o jingle de sua campanha eleitoral poderia ser utilizado, ou ainda, possibilitou avaliar a opinião dos eleitores em relação ao veto de bebidas alcoólicas em postos de gasolina, o que pensam em relação ao uso de bicicletas na cidade de São Paulo. Ou seja, a interação em rede permite identificar o que querem os eleitores, do que precisam e o que pensam sobre determinados temas de discussão na câmara, o que novamente sugere a necessidade de interação entre candidatos e eleitores neste universo em rede. Dada a relativa novidade do uso das redes sociais, e a tradição de pouca interação entre candidatos/representantes e seus representados, talvez se possa afirmar que o relacionamento pelo Facebook ainda é uma cultura a ser implantada. Diferente de outras democracias nas quais os representantes tem relacionamento muito intenso com seus eleitores como é o caso da Grã Bretanha onde prevalece o voto distrital em que o representante responde a regiões determinadas; e que também tem a figura do whip, literalmente o chicote, que é o representante do partido que frequenta a câmara dos comuns para pressionar seus representantes para que votem dessa ou daquela maneira. No Brasil, a geração mais jovem na política parece ser a responsável pela inserção de um relacionamento mais intenso entre representantes e representados. Assim parece agir Floriano Pesaro ao consultar seus eleitores acerca dos temas de interesse da população (não que o estilo do jingle seja um deles...). Pode ser que seja prematuro afirmar que o Facebook tenha poder de influenciar diretamente na decisão dos eleitores na hora do voto, visto que o uso da rede social Facebook durante a campanha funcionou em maior parte dos casos como um diário do candidato Floriano Pesaro. Mais que isso, se relacionarmos a quantidade de likes em proporção ao número de votos, a participação do Facebook não foi tão expressiva, pois

5 a fanpage do Vereador Floriano Pesaro possui hoje likes, ou seja, 18,4% do total de votos obtidos. É possível perceber também que candidatos da oposição aproveitem o momento para apontar o comportamento de outros partidos, principalmente quando associados à corrupção. Podemos citar o modelo de interação utilizado pelo vereador Paulo Reis - eleito pelo PT com votos e que atualmente possui likes em sua fanpage, 15,4% de participação que, através de compartilhamentos de vídeos e notícias, durante boa parte da campanha no Facebook procurou ressaltar imperfeições, geralmente concatenando históricos dos partidos e de mandatos anteriores. Logo, percebe-se que há formas de tentar mudar a percepção do eleitor confrontando ideias pré-estabelecidas na tentativa de alterar o resultado final da campanha. Outro recurso utilizado pelo vereador Paulo Reis, é um correlato à utilização de repetições e formas populares, os chamados memes. Do ponto de vista de seriedade que geralmente se espera do eleitor, essas montagens parecem se opor ao comportamento racional, desejado do eleitor. Contudo, sabemos que os indivíduos se guiam mais pelo coração que pela razão, mesmo em questões de fundo racional como a escolha de seus representantes. A eleição de Tiririca para um mandato de deputado federal expressa bem essa ausência de apego à racionalidade. Conclusões O uso do Facebook na campanha política paulistana é um tema muito interessante que continuará a ser explorado ao longo da presente iniciação científica, com entrevistas aos candidatos e aprofundamento analítico. O que parece certo é que a aproximação com o eleitorado é um desejo de vários políticos e o Facebook parece ser uma excelente ferramenta para isso. Há ainda a necessidade de evolução nesse relacionamento, tanto por parte dos candidatos que precisam compreender melhor a função e uso das ferramentas de relacionamento via redes sociais e dos eleitores que devem descobrir essas ferramentas como meios de pressão, questionamento, afiliação e apoio. Isso passa, é claro, por um longo processo de maturidade política no qual nosso país ainda engatinha. Não obstante isso, o Facebook, como nosso projeto vem demonstrando, se configura como uma excelente oportunidade para enriquecer o relacionamento entre representantes e

6 representados trazendo, quem sabe, a democracia de volta ao seu princípio de governo do povo. Referência Bibliográfica SANT ANNA, Lourival. Da Tunísia, a faísca que incendeia as ruas. Jornal O Estado de S. Paulo. São Paulo, Brasil. 17 de dezembro de CIMENTI, Carolina. Facebook é vital na estratégia online de Obama para reeleição. Último Segundo Online. São Paulo, Brasil. Disponível em < Acessado em 24 de outubro de DIAS, Tatiana de Melo. Facebook atinge 1 bilhão de usuários. Jornal O Estado de São Paulo Online. São Paulo, Brasil. Disponível em < Acessado em 24 de outubro de DUBAI SCHOOL OF GOVERNMENT. First Arab Social Media Report Focuses on Facebook Usage. Dubai, Emirados Árabes Unidos Disponível em: < Cat&PriMenuID=6>. Acessado em 02 de agosto de TOZETTO, Claudia. Com 146% mais usuários em um ano, Brasil lidera crescimento do Facebook. Portal ig, Tecnologia. São Paulo, Brasil. Disponível em: < Acessado em 24 de outubro de 2012.

7 BORGES, Thassio. Redes sociais foram o combustível para as revoluções no mundo árabe. São Paulo, Brasil Disponível em < stivel+para+as+revolucoes+no+mundo+arabe.shtml>. Acessado em 02 de agosto de 2012.