SPAM Comunicações electrónicas não solicitadas
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- Lucas Salvado Santarém
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1 Prémio PLUG APRITEL * SPAM Comunicações electrónicas não solicitadas Vasco Arzich da Gama vdagama@clix.pt Outubro 2008
2 Índice Sumário... 3 Porque é que o Spam é um problema?... 3 As vantagens do Spam... 4 A luta contra o Spam... 5 i) Normas Sociais... 5 ii) Auto Regulação... 5 iii) Tecnologia... 6 iv) Legislação... 6 a) A proibição total do Spam... 6 b) O sistema opt out... 7 c) O sistema opt in... 8 CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA
3 Sumário A possibilidade de enviar mensagens electrónicas, de forma quase instantânea e com um custo extremamente reduzido, trouxe muitas vantagens e benefícios para os produtores de bens, prestadores de serviços e para os comerciantes em geral. Mas também criou diversos problemas, para os quais tem sido difícil e complexo encontrar soluções. Ao envio de mensagens publicitárias em massa pela internet sem o consentimento dos seus destinatários dá-se o nome de SPAM. Esta expressão, cuja origem é pouco relevante para o tema deste trabalho e muito menos para a sua solução, é sinónimo de perturbação da normal comunicação via internet entre os vários interlocutores. O objectivo deste trabalho não é, naturalmente, resolver o problema do spam, mas chamar a atenção para um problema, cuja gravidade é inversamente proporcional à forma como é encarado e tratado pelos internautas e identificar as diversas fragilidades que a nossa lei revela no tratamento deste tema. Porque é que o Spam é um problema? O spam corresponde actualmente ao envio de milhões de mensagens electrónicas pela internet, cujo destinatário não solicitou nem consentiu, mas que terá inevitavelmente que suportar, recepcionando-as na sua caixa de correio electrónico, para logo de seguida as eliminar. Em 2001 o spam correspondia a apenas 7% do tráfego mundial, em 2002 cresceu para 29% e em 2003 para 54%. Actualmente estima-se que o spam ocupe mais de 90% do tráfego de correio electrónico 1 a nível mundial. O spam perturba a gestão do dia-a-dia dos seus destinatários e constitui uma verdadeira invasão de privacidade. Estes recebem no seu computador milhares de mensagens que são muitas vezes enganosas ou fraudulentas, anunciando produtos e soluções milagrosas ou contendo mensagens com vírus ou com conteúdo violento, racista ou pornográfico. Apesar de já ser considerado ilegal por força da legislação nacional e comunitária relativa à publicidade enganosa, este tipo de spam é mais grave nas situações em que o próprio conteúdo da mensagem é especialmente lesivo para o destinatário. 1 Estudo sobre segurança e medidas anti-spam, ENISA, Setembro 2007, 3
4 Para o consumidor o spam não passa de lixo informático, que aumenta o tráfego da rede, ocupa espaço na sua caixa de correio e no seu computador, reduz a velocidade do tráfego, provoca perturbações no normal funcionamento das comunicações electrónicas e gera enormes custos com a gestão e eliminação dessas mensagens. Nos locais de trabalho os funcionários são obrigados a limpar sistematicamente as suas caixas de correio electrónico, o que se repercute de forma negativa na sua produtividade. Por sua vez, as empresas são obrigadas a gastar recursos humanos e financeiros para solucionar o problema, dotando os seus sistemas informáticos de mecanismos e filtros anti-spam. Os ISP (Internet Service Providers) vêem-se obrigados a aumentar a largura de banda e o espaço nas caixas de correio electrónico, para poderem manter a mesma velocidade de acesso e o mesmo nível de serviço, o que gera custos extraordinários que são inevitavelmente repercutidos nos consumidores. Um estudo de 2002 revelava que os custos de tratamento do spam nesse ano ascenderam a milhões de dólares só nos EUA. Na Europa, de acordo com o Comissário Europeu responsável pelo pelouro Empresa e Sociedade de Informação, Erkki Liikanen, a perda de produtividade nas empresas da União Europeia foi estimada em cerca de milhões de euros em Em termos globais, os consumidores têm a percepção de que a maioria dos comerciantes presentes na internet é responsável pelo envio de spam, reduzindo assim de forma drástica a sua confiança no comércio electrónico. Aliás, este é muitas vezes apontado como um dos principais obstáculos ao desenvolvimento do comércio electrónico. Aqueles que de forma legítima pretendem difundir os seus produtos através de mensagens publicitárias na internet, deparam-se com a desconfiança dos consumidores e com o bloqueio das suas mensagens, pelos filtros anti-spam utilizados pelos consumidores e pelos servidores de correio electrónico. As vantagens do Spam O recurso ao envio de mensagens publicitárias pela internet é, de facto, um meio muito eficaz de publicitar produtos e serviços. Estas mensagens atingem em segundos milhões de destinatários, com um custo quase nulo, utilizando um suporte dinâmico, que possibilita a utilização de imagens e sons, altamente apelativo para o consumidor. 2 União Europeia lança ofensiva contra o spam in - Arquivo
5 O spam constitui assim uma grande fonte de rendimento: para os produtores de bens e prestadores de serviços, porque alargam de forma extraordinária o seu âmbito de acção e, especialmente, para quem difunde as mensagens, porque é um trabalho altamente rentável e praticamente sem custos operacionais. Esta é a principal razão para que os spammers procurem por todos os meios possíveis iludir os sistemas de segurança e filtros anti-spam, para conseguirem distribuir as suas mensagens: mascaram o seu remetente, adoptam outros endereços e por vezes associam-se a criadores de vírus informáticos, para mais facilmente atingirem os seus objectivos. A luta contra o Spam i) Normas Sociais A criação de regras sociais de utilização da internet entre os cibernautas constitui a primeira linha de defesa anti-spam, desencorajando o recurso a práticas comerciais que envolvam spam. No entanto, a sua violação desencadeia reacções aleatórias e por vezes injustas. A consequência normal para a violação destas regras é a expulsão das listas de discussão e o bloqueamento do endereço de do spammer. Mas muitas vezes o endereço bloqueado é apenas fictício (spoofing), e esse endereço poderá até pertencer a outra pessoa sem qualquer responsabilidade no envio de spam. A ausência de uma autoridade superior que adeque as reacções à gravidade da violação das regras e a falta de coercibilidade das sanções impossibilitam que as regras sociais constituam uma reacção eficaz contra o spam. ii) Auto Regulação A auto-regulação traduz-se no estabelecimento de códigos e regras de conduta entre os diversos intervenientes da actividade publicitária na internet, não sendo no entanto uma solução muito atractiva. Por um lado, não há qualquer contrapartida em aderir a tais regras de conduta e, por outro, sendo um sistema de adesão voluntária não abrange todos aqueles que não tenham aderido aos códigos de conduta. A auto-regulação funciona apenas entre as empresas que pretendam cultivar uma boa imagem perante o público, pelo que haverá sempre outras empresas que não se importam de suportar o lado negativo associado ao spam. 5
6 De qualquer forma, a auto-regulação poderá constituir uma mais-valia, no sentido em que poderá originar uma concertação entre os diversos fornecedores de acesso à internet. Estes poderão cooperar, por exemplo, no sentido de incluir cláusulas nos contratos que celebram com os seus clientes, que obriguem os seus clientes a não se servirem dos endereços disponibilizados para a prática de spam, assim como cláusulas de responsabilidade que imponham sanções para quem violar tais obrigações. iii) Tecnologia O spam pode também ser combatido a através de programas informáticos que funcionam como filtros de correio electrónico. Estes programas bloqueiam as mensagens oriundas dos servidores permeáveis ao spam. No entanto, este sistema não é 100% eficaz. Em primeiro lugar, porque os spammers têm um poder económico suficientemente forte para competir na procura de soluções, que consigam de alguma forma iludir estes programas com sucesso. Na verdade, o spam está muitas vezes associado à pirataria informática. Em segundo lugar, não diminui o custo das empresas de comprar e actualizar estes programas, nem o trabalho dos utilizadores que têm de os programar. Por outro lado, estes programas não contribuem para a transparência do mercado no correio electrónico, uma vez que os critérios utilizados para filtrar as mensagens de cariz comercial não são claros, podendo assim bloquear mensagens de produtos ou serviços concorrentes 3 ou até bloquear mensagens desejadas ou consentidas pelos destinatários. iv) Legislação a) A proibição total do Spam Há autores que defendem que a proibição total do spam seria inconstitucional, na medida em tal constituiria uma violação dos direitos fundamentais, nomeadamente das liberdades de expressão e informação (art. 37º CRP), liberdade de criação cultural (art. 42º CRP) e liberdade da livre iniciativa económica (art. 61º CRP). 4 3 A distribuição de mensagens de correio electrónico indesejadas (SPAM), Luís Menezes Leitão, in Direito da Sociedade da Informação, Coimbra Editora, vol. IV, pág. 198 e ss. 4 Luís Menezes Leitão, ob. cit. pág
7 Mas esta argumentação vai ainda mais longe, defendendo de que a regulamentação jurídica do spam poderá contender com o disposto no art. 34º da CRP, nos termos do qual é proibida toda a ingerência das autoridades públicas na correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação, salvo os casos previstos na lei em matéria de processo criminal. 5 Há, por outro lado, autores que defendem que tais princípios não podem prevalecer sobre o direito à privacidade ou à reserva da vida privada 6. Isto é, perante um conflito de direitos deverão prevalecer estes últimos. Os direitos fundamentais possuem determinados limites imanentes 7, que constituem verdadeiras fronteiras no que concerne ao seu exercício. O mesmo é dizer que os preceitos constitucionais que consagram direitos fundamentais não protegem qualquer forma de exercício desses direitos. Estes limites advêm quer da Constituição, quer da própria natureza do direito. Perante uma situação concreta, perguntamo-nos se determinado direito contempla ou não uma determinada forma de exercício. Isto é, será que um direito fundamental ao ser exercido de uma determinada forma, continua a merecer a mesma protecção constitucional? No caso concreto do spam, será que o exercício da liberdade de expressão, de criação cultural e da livre iniciativa económica admite o envio de milhões de mensagens publicitárias, que provocam o constante congestionamento do tráfego da internet e originam custos incalculáveis para terceiros? A resposta a esta pergunta só pode ser negativa. Contrariamente ao que defendem alguns autores, não se trata aqui de conflitos ou colisão de direitos, porque não estamos perante a protecção simultânea de valores constitucionais. O que sucede é que os direitos fundamentais que se referiram simplesmente não contemplam aquela forma de exercício. O mesmo é dizer que o envio de spam não se enquadra na forma de exercício daqueles direitos, pelo que a sua pura e simples proibição não seria inconstitucional. b) O sistema opt out O sistema de opt out consiste em admitir o envio de mensagens publicitárias não desejadas, desde que o destinatário não tenha manifestado a vontade de não receber tais mensagens. 5 Publicidade domiciliária não desejada, Paulo Mota Pinto, citado apud Luís Menezes Leitão, ob. cit. pág Spam e Mail Bomb Subsídios para uma perspectiva criminal, F. Bruto da Costa, R. Bravo, Quid Iuris, Lisboa, 2005, pág Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, José Carlos Vieira de Andrade, Almedina, 1987, pag. 215 e ss. 7
8 Nos EUA onde este sistema foi adoptado, o spam é regulado pelo Can-Spam Act 2003, que consagra, assim, o right to spam. Para efeitos criminais, apenas o envio superior a 100 mensagens no período de 24 horas, 1000 pelo período de 30 dias, ou mensagens no período de 1 ano, são consideradas spam ilícito. Além disso, apenas as autoridades federais e estaduais e os fornecedores de acesso à internet tem legitimidade para instaurar acções de responsabilidade civil contra os spammers, impedindo assim que o simples cidadão reaja contra o spam. Este sistema apresenta diversas fragilidades. Em primeiro lugar, porque obriga o destinatário a ter uma atitude activa de declarar que não quer receber mensagens. Ou seja, o destinatário tem que de responder ao spammer, utilizando algum link incluído na mensagem ou enviando um , manifestando a vontade de não receber tais mensagens, eliminar a mensagem recebida e, por último, se tiver essa possibilidade, bloquear o endereço do remetente. Em segundo lugar, este sistema tem um efeito perverso: muitas vezes o spammer não sabe se o para onde enviou a mensagem está ou não activo. Mas a resposta do destinatário de que não quer receber spam dá-lhe precisamente essa informação, isto é, de que aquele endereço é válido e está activo. A vulnerabilidade deste sistema reside precisamente no facto de se basear no pressuposto de que o destinatário, pretendendo opor-se à recepção de spam, o vai fazer. No entanto, este é inundado diariamente por centenas de mensagens publicitárias que não deseja, e vê-se impossibilitado de uma a uma manifestar a vontade de não as receber. Além disso, os spammers dificultam essa tarefa através de links falsos ou pop-ups. c) O sistema opt in Na ordem jurídica portuguesa, embora não isento de críticas relativamente à sua eventual inconstitucionalidade, 8 vigora o Decreto-Lei n.º 7/2004 de 7 de Janeiro, decorrente da transposição para a ordem jurídica portuguesa da Directiva 2000/31/CE de 8 de Junho e do art. 13º da Directiva 2002/58/CE de 12 de Julho, relativa ao tratamento de dados pessoais e à protecção da privacidade no sector das comunicações electrónicas. Em especial no que diz respeito ao spam, este Decreto-Lei veio consagrar entre nós o sistema de opt in. O n.º 1 do art. 22º deste Decreto-Lei estabelece que: 8 Nota sobre as eventuais inconstitucionalidades do Decreto-Lei n.º 7/2004 de 07 de Janeiro, Manuel Lopes Rocha, in 8
9 O envio de mensagens para fins de marketing directo, cuja recepção seja independente de intervenção do destinatário, nomeadamente por via de aparelhos de chamada automática, aparelhos de telecópia ou por correio electrónico, carece de consentimento prévio do destinatário. A adopção de um sistema que parte da necessidade de consentimento prévio do destinatário, permite à partida estabelecer um quadro legal mais simples e mais fácil de implementar e de fazer cumprir. No entanto, como veremos, não é isso que sucede no sistema jurídico português. A regra deste sistema é a da proibição do envio de mensagens não desejadas para fins de marketing directo. E esta regra aplica-se quer às mensagens enviadas por correio electrónico, quer às enviadas por fax, sms ou mms. Embora ao longo de todo o art. 13º da Directiva 2002/58/CE de 12 de Julho se refira, numa tradução literal, comunicações não solicitadas para fins de comercialização directa, o nosso legislador optou por manter a expressão marketing directo, mas apenas no n.º 1 do art. 22º. Quanto aos restantes números deste artigo e contrariando a Directiva, optou por utilizar o conceito comunicações publicitárias como se fosse indiferente usar uma ou outra expressão. Em rigor o conceito de marketing directo é mais restrito do que o de publicidade. Na verdade, só cabem no conceito de marketing directo as mensagens enviadas para promover um bem ou serviço, com o fim último de celebrar um contrato com o destinatário concreto dessa mensagem. A mensagem não tem necessariamente de constituir uma proposta contratual, mas há-de, pelo menos de forma aproximada, constituir um convite a contratar. 9 Da conjugação do disposto nos n.º 6, 7 e 8 em contraposição com o disposto no n.º 1 resulta que para o envio de mensagens não solicitadas, que não tenham como objectivo o marketing directo, é lícito, excepto se o destinatário se opuser ao seu envio. Podemos questionar, por isso, se na Europa e, em particular, em Portugal, vigorará um verdadeiro sistema de opt in. Se todas as mensagens de marketing directo são formas de publicidade, nem todas as mensagens publicitárias podem ser caracterizadas como marketing directo. E nem sempre é fácil distinguir umas das outras. Damos aqui o seguinte exemplo: Original Message From: "Manuel Aguilar" <maguilar@clix.pt> Sent: Thursday, September 15, :43 AM Subject: O tal extra que te falei Oi Rui, tudo bem contigo? 9 Lei do comércio electrónico anotada, Coimbra Editora, 2005, pág. 86 9
10 Olha, já comecei a ganhar dinheiro com aquela actividade que te falei, que conheci na Internet em No primeiro mês, a partir de casa e em muito part-time, consegui mais de 700 Euros extra mas o potencial é enorme e dá para tirar muito mais. Telefona-me para a gente falar sobre isso, eles precisam de mais gente em todo o país, talvez queiras aproveitar também. Um grande abraço para ti e um beijinho à Carla. Manuel Aguilar Simulando tratar-se de uma comunicação privada (o remetente e o destinatário não se conhecem), esta mensagem tem apenas como objectivo divulgar a página de internet indicada, recrutando pessoas para executarem um determinado trabalho. É sem dúvida uma mensagem publicitária, mas será marketing directo? Se a resposta for afirmativa, então a mensagem carece de consentimento prévio do destinatário, caso contrário apenas será ilícita se for enviada depois do seu destinatário se ter oposto à sua recepção. Mas a que destinatário nos estamos a referir? É que, na verdade, o Rui para quem foi enviada esta mensagem não é o titular do endereço electrónico para quem foi enviada a mensagem. Certamente com o intuito de posteriormente se poder afirmar que a mensagem foi enviada por engano. É por isso, bastante criticável a diferença de tratamento dada ao envio de mensagens para fins de marketing directo e ao envio de mensagens publicitárias, na medida em que os problemas provocados por uma mensagem a propor a aquisição de um time sharing, ou a promover um abaixo-assinado, ou uma que solicite o reenvio de uma carta-corrente, são precisamente os mesmos. Uma outra dificuldade da nossa lei prende-se com o facto de a proibição do art. 22º n.º 1 se restringir ao envio de mensagens para fins de marketing directo a pessoas singulares. No que diz respeito ao envio de mensagens a pessoas colectivas vigora o sistema opt out. A diferença de tratamento é também discutível. Actuando sob o pretexto de as mensagens serem enviadas para um endereço de uma pessoa colectiva, o spammer poderá inundar a caixa de correio de um funcionário de uma empresa, antes sequer de este poder reagir. Mesmo quando é enviada para um endereço de uma pessoa colectiva, essa mensagem irá ser recepcionada pelo destinatário, como se de um particular se tratasse, mantendo-se os mesmos problemas referidos anteriormente. Em face da necessidade de proteger os mesmos valores e da dificuldade de lidar com dois sistemas diferentes, consoante se trate de pessoas colectivas ou singulares seria preferível adoptar também para as pessoas colectivas o sistema opt in. O envio de mensagens publicitárias não solicitadas (e não apenas as de marketing directo) é, porém, admitido quando estas forem enviadas pelo fornecedor de 10
11 um serviço ou produto aos clientes, com quem já tenha previamente celebrado transacções, se a esse cliente tiver sido expressamente oferecido a possibilidade de recusar a recepção deste tipo de mensagens e não implicar para o destinatário nenhum custo adicional (art. 22º n.º 3). Além disso, é também proibido ocultar ou dissimular a identidade do remetente de mensagens de marketing directo (art. 22.º n.º 5). As entidades que promoverem o envio de comunicações publicitárias não solicitadas, cuja recepção seja independente da intervenção do destinatário, são obrigadas a manter uma lista actualizada das pessoas que manifestaram a vontade de não receber este tipo de comunicações (art. 22º n.º 7), sendo proibido o envio de comunicações publicitárias às pessoas que constem dessas listas. O DL n.º 7/2004 de 7 de Janeiro atribui ao ICP ANACOM as funções de supervisão central com atribuições em todos os domínios regulados por este diploma, opção esta que também não está isenta de críticas. 10 No âmbito deste diploma, o ICP- ANACOM tem como funções a elaboração de regulamentos, a emissão de instruções, a fiscalização do cumprimento do disposto deste decreto-lei, o incentivo à elaboração e divulgação de códigos de conduta e a informação do público em geral. Cabe ainda ao ICP-ANACOM a supervisão da resolução provisória de litígios, relativamente à eventual ilicitude dos conteúdos que são disponibilizados em rede. Como deverá proceder o particular que receba uma mensagem de correio electrónico não solicitada? Note-se que além do carácter ilícito do spam à luz deste Decreto-Lei, uma única mensagem publicitária não solicitada poderá preencher vários tipos de ilícito: violação da protecção de dados pessoais, danos patrimoniais no computador se a mensagem contiver vírus, publicidade enganosa, etc. A competência atribuída pelo Decreto-Lei 7/2004 ao ICP-ANACOM não afasta a competência especialmente atribuída por lei a outras autoridades administrativas, como a Comissão Nacional de Protecção de Dados, a Alta Autoridade para a Comunicação Social ou a Direcção Geral do Consumidor, sempre que sejam essas as entidades sectorialmente competentes para a apreciação das matérias em causa. 11 Alguns Estados disponibilizam endereços de correio electrónico dedicados, para onde os consumidores podem reenviar as mensagens de spam. É uma forma rápida e simples de o particular se queixar e de reagir contra o spam. Este método permite de uma forma mais eficaz combater o spam, dado que reforça a coercibilidade da legislação, transmitindo aos consumidores uma maior 10 Manuel Lopes Rocha, ob. cit. 11 Lei do Comércio Electrónico Anotada, Coimbra Editora 2005, pág
12 confiança nas autoridades e fornecendo simultaneamente dados estatísticos sobre o spam. Em Portugal, quem quiser reagir contra uma mensagem de spam poderá preencher um f ormulário electrónico específico disponível na página da int ernet do ICP- ANACOM. No entanto, para o particular poderá não ser muito fácil iniciar este procedimento. Desde logo porque se o spammer ocultou ou dissimulou o seu endereço, o particular terá sérias dificuldades em identificá-lo. As dificuldades aumentam se a mensagem tiver como origem outro Estado Membro, ou um país onde tenha sido adoptado o sistema de opt out. CONCLUSÃO Embora já haja propostas no sentido de resolver os problemas decorrentes da prática de spam, ainda não foi possível chegar a uma solução definitiva. Um primeiro passo, por exemplo, para a luta contra o spam é encontrar uma solução técnica que impossibilite a dissimulação do endereço de correio electrónico. Assim, qualquer que seja a solução legislativa adoptada, o spammer sabe que poderá ser facilmente identificado. Mas a forma mais eficaz de combater o spam é através da conjugação de diversos factores: uma legislação anti-spam eficaz nos diversos países, harmonizando os sistemas adoptados; a cooperação internacional aos mais diversos níveis (legislativo, técnico, social, etc.); o estabelecimento de normas de auto-regulação e códigos de conduta entre os diversos operadores do mercado; a descoberta de soluções técnicas que permitam identificar a origem do spam e filtrar de forma cada vez mais eficaz as mensagens não solicitadas; informar, educar e consciencializar as pessoas para os problemas do spam. Em resumo, o spam tem de ser encarado como um problema global, cujo combate deverá ser feito em diversas frentes. Note-se que apesar da boa vontade legislativa, ainda há muito a fazer. Por exemplo, o facto de a lei restringir o sistema opt in às mensagens para fins de marketing directo ou o de estabelecer o sistema de opt out quando o destinatário é uma pessoa colectiva constitui um verdadeiro inibidor de eficácia desta lei, pelo que só podemos concluir que a solução para este problema ainda está longe de ter um fim. 12
13 BIBLIOGRAFIA Alexandre L. Dias Pereira, Comércio electrónico na sociedade da informação: da segurança técnica à confiança jurídica, Almedina, 1999 Celso António Serra, Publicidade Ilícita e Abusiva na Internet, in Direito da Sociedade da Informação, Volume IV, Coimbra Editora, 2003 Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, sobre as comunicações comerciais não solicitadas, ou spam Estudo sobre segurança e medidas anti-spam, ENISA, Setembro 2007, Evangelos Moustakas, C. Ranganathan, Penny Duquenoy, Combating Spam through legislation: A comparative analysis of US and European approaches, F. Bruto da Costa, R. Bravo, Spam e Mail Bomb Subsídios para uma perspectiva criminal, Quid Iuris, 2005 Joel Timóteo Ramos Pereira, Compêndio Jurídico da Sociedade da Informação, Quid Iuris, 2005 José Carlos Vieira de Andrade, Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, Almedina, 1987 Lei do Comércio Electrónico Anotada, Ministério da Justiça, Gabinete de Política Legislativa e Planeamento, Coimbra Editora, 2005 Luís Menezes Leitão, A distribuição de mensagens de correio electrónico indesejadas (SPAM), in Direito da Sociedade da Informação, Coimbra Editora, vol. IV, 2003 Manuel Lopes Rocha, Nota sobre as eventuais inconstitucionalidades do Decreto- Lei n.º 7/2004 de 07 de Janeiro, in 13
14 Nicola Lugaresi, European Union vs. Spam: a Legal response, Paulo Mota Pinto, Publicidade domiciliária não desejada, BFD 74, 1998 Susana Larisma, Comunicações publicitárias em rede e marketing directo, O Comércio electrónico em Portugal: o quadro legal e o negócio, ICP Autoridade Nacional de Comunicação, Lisboa 2004, pág. 171 a 191 União Europeia lança ofensiva contra o spam in - Arquivo
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