EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: O JOGO MANCALA COMO POSSIBILIDADE
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1 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: O JOGO MANCALA COMO POSSIBILIDADE José Sávio Bicho de Oliveira 1 Eixo Temático: Etnomatemática e educação para inclusão Resumo: Este relato de experiência resulta da apresentação de um minicurso realizado com licenciandos para os anos iniciais do ensino fundamental com o objetivo de apresentar o uso dos jogos Mancala como possibilidade pedagógica para o ensino de História e Cultura Africana no âmbito das aulas de Matemática. Partiu-se do princípio que a Etnomatemática possibilita a valorização das culturas no contexto escolar. Desse modo, a Etnomatemática pode contribuir para um ensino de matemática que valorize aspectos da cultura negra, e, assim, para que os negros afro-brasileiros compreendam-se como parte da história da formação do povo brasileiro e entendam melhor sua própria história. Com a realização do minicurso foi possível identificar possibilidades do uso do jogo Mancala como recurso pedagógico para o ensino de matemática no que tange as relações étnico-raciais no contexto educacional. Palavras-chave: Etnomatemática; História e Cultura Afro-brasileira; Mancala. Apresentação O presente trabalho tem como objetivo apresentar o uso dos jogos Mancala como possibilidade pedagógica para o ensino de História e Cultura Africana no âmbito das aulas de Matemática. A experiência, ora em apresentação, foi realizada durante o minicurso Diversidade Cultural e Educação Matemática: pensando a sala de aula 2, ministrado a alunos do Curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens da Universidade Federal do Pará, no primeiro semestre de Durante o minicurso foi discutido as contribuições da Etnomatemática para a inclusão da História e Cultura Africana em sala de aula, apresentando o jogo Mancala como uma proposta. 1 (BICHO, J. S.) Mestre em Educação em Ciências e Matemáticas pela Universidade Federal do Pará. Participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática e Cultura Amazônica (GEMAZ). E- mail: saviobicho@yahoo.com.br 2 Minicurso ministrado pelo autor.
2 Etnomatemática e ensino de História e Cultura Afro-Brasileira: dinâmica cultural no contexto escolar A Lei nº , de 9 de janeiro de 2003, é uma alteração da Lei nº , de 20 de dezembro de 1996, que obriga a inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial do ensino fundamental e médio das escolas brasileiras. Esta Lei consiste em resgatar as contribuições do negro à formação do Brasil, valorizando aspectos sociais, econômicos e políticos na educação escolar (BRASIL, 2003). 1 o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Mas como pensar a aula de matemática nesse contexto? No campo da Educação Matemática, a Etnomatemática possibilita a valorização das culturas no contexto escolar. Segundo D Ambrosio (2002, p. 42), A estratégia mais promissora para a educação, nas sociedades que estão em transição da subordinação para a autonomia, é restaurar a dignidade de seus indivíduos, reconhecendo e respeitando suas raízes. De acordo com este autor, esta valorização das raízes dos indivíduos é a vertente mais importante da etnomatemática (Idem). Desse modo, a Etnomatemática mostra-se como uma possibilidade para um ensino de matemática que valorize aspectos da cultura negra, e, assim, contribui para que os negros afro-brasileiros compreendam-se como parte da história da formação do povo brasileiro e entendam melhor sua própria história. Com efeito, é importante destacar a pesquisa de Santos (2008) ao mostrar alternativas de valorização de aspectos da cultura africana no ensino e aprendizagem de matemática, caracterizando a sala de aula como um espaço de entrelaçamento de culturas. As intervenções etnomatemáticas descritas nesta pesquisa envolvem atividades com os tecidos oriundos da cidade de Gana, na África, e suas possibilidades para trabalhar conceitos matemáticos em suas relações com a cultura africana. O minicurso: aspectos metodológicos da experiência O minicurso foi realizado em três encontros de três horas cada, constituindo nove horas. Para sua execução, foi dividido em duas etapas: uma teórica (primeiro encontro) e outra prática (dois encontros). Na primeira, foi realizada uma abordagem teórica sobre a
3 Etnomatemática e suas possibilidades pedagógicas de acordo D Ambrosio (2002), Eduardo Sebastiani (1997). Na etapa prática, o enfoque foi a discussão de atividades 3 possíveis de serem realizadas levando-se em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos, instigando aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos segundo a perspectiva Etnomatemática. O último desses encontros foi direcionado a refletir sobre como incluir a História e Cultura Afro-brasileira nas aulas de Matemática. Este encontro iniciou-se com uma breve apresentação da Lei /03 e com a apresentação de dois vídeos: um sobre a temática História e Cultura Afro-brasileira 4 ; e outro sobre o jogo Mancala como uma possibilidade 5. Dando continuidade, confeccionamos os jogos Mancala com caixa de ovo e jogamos com semente de feijão, refletindo sobre a construção do conhecimento matemático e sobre suas relações com a História e Cultura Africana. Um jogo africano: o Mancala no centro das atenções O jogo Mancala é um jogo milenar que possui cerca de 200 versões. A palavra Mancala deriva do árabe naqaala que significa mover. Uma das versões do tabuleiro é formado por 2 filas de 6 covas pequenas e 2 covas maiores em cada ponta (mancala) e jogados com 48 contas normalmente sementes secas ou pequenos seixos; coloca-se quatro contas em cada cova pequena. Assim como a figura abaixo: Figura 01: Tabuleiro Mancala. Fonte: acesso em: junho de Como jogar Mancala? - É jogado por dois participantes; 3 (1) Da cultura amazônica: os barcos; (2) Merenda escolar. (BRITO, LUCENA, 2006) 4 FÓRUM DE EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL DO RIO GRANDE DO SUL, disponível em: acesso em: junho de AWARE, JOGO MILENAR AFRICANO ETNOMATEMÁTICA, disponível em: acesso em: junho de 2012.
4 - Cada participante fica com uma fila de seis covas pequenas e uma mancala; - O jogador iniciante deve pegar todas as contas de sua primeira cava e distribuir uma a uma em sentido anti-horário nas cavas seguintes (sem pular nenhuma); - Quando acaba a distribuição na sua fila, o jogador deve distribuir na do adversário; - O jogador colhe as contas quando completa, com a última conta da jogada, 2 ou 3 contas nas cavas do outro jogador; - As contas colhidas são colocadas na mancala do jogador responsável pela jogada; - Neste caso, o jogador pode jogar mais uma vez; - Caso o jogador complete 2 ou 3 contas em cava adversária e na sua antecessora também tiver 2 ou 3 contas, este poderá colher as contas de ambas as cavas; - Quando não houver contas para movimento de um dos jogadores, o movimento torna-se obrigatório para quem tiver; - Porém, se o jogador que possuir contas não possuir movimentos que forneça contas para a fila do oponente, este último ficará com as contas do tabuleiro; - Vence o jogador que que colher 25 contas ou mais. Durante o minicurso, cada participante confeccionou seu próprio tabuleiro utilizando caixa de ovo e sementes de feijão. Em seguida, todos jogaram como forma de compreender o jogo, seu potencial para a aprendizagem matemática e suas contribuições para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas aulas de matemática. Figura 02: Jogando Mancala durante o minicurso. Fonte: Arquivo pessoal. Considerações
5 Com a realização do minicurso foi possível identificar possibilidades do uso do jogo Mancala como recurso pedagógico para o ensino de matemática no que tange as relações étnico-raciais no contexto educacional. É importante destacar que a utilização de jogos africanos em sala de aula é uma das possibilidades de inclusão dos alunos afro-descendentes no contexto escolar, pois aspectos de sua cultura estarão fazendo parte das metodologias de ensino, neste caso, de matemática. A Etnomatemática mostra-se como um forte caminho para o trabalho com a diversidade cultural em sala de aula, pois resgata as tradições, valoriza as culturas e dá vozes aos interesses dos alunos. Com uma atitude etnomatemática, o jogo apresentado, mostrou aos participantes do minicurso que a aula de matemática pode ter abertura a outras formas de conhecimentos e que o trabalho com as raízes socioculturais africanas pode fazer parte das aulas das escolas brasileiras. O uso de jogos Mancala possui a visão da Etnomatemática para a inclusão da cultura africana no currículo escolar. Nesta perspectiva, outras reflexões/possibilidades de relações entre Educação Matemática e História e Cultura Afro-Brasileira podem ser encontradas, como, por exemplo, a capoeira, os artesanatos, os artefatos religiosos, os tecidos coloridos, entre outros. Referências BRASIL. Lei de 09 de janeiro de Inclui a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União. Brasília, D AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, LUCENA, I. C. R.; BRITO, M. A. R. Etnomatemática nas séries iniciais. In: ENCONTRO PARAENSE DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 4., 2006, Belém. Anais... Belém: SBEM- PA, SANTOS, E. C. Os tecidos de Gana como atividade escolar: uma intervenção etnomatemática para a sala de aula f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.
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