INFOEMAGIS EM PAUTA. Informativo STJ #593.
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- Renata Sousa Canário
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1 INFOEMAGIS EM PAUTA Informativo STJ #593
2 InfoEmagis em Pauta Informativo STJ #593 Professores Flávio Borges Juiz Federal. Ex-Procurador da República. Ex-Procurador Federal/AGU. Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ª Região (4ª lugar), Procurador da República (1ª lugar), Procurador da Fazenda Nacional (4ª lugar), Advogado da União, Procurador Federal e Procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas. Paulo Augusto Moreira Lima Juiz Federal. Mestre em Ciências Penais pela Universidade Federal de Goiás. Ex-Delegado de Polícia Federal. Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ª Região (7º lugar), Delegado de Polícia Federal, Promotor de Justiça do Mato Grosso do Sul (2º lugar) e Defensor Público do Distrito Federal. Gabriel Queiroz Juiz Federal. Pós-graduado pela Fundação Escola Superior do MPDFT. Ex-Promotor de Justiça do MPDFT. Ex-Procurador Federal/AGU. ExAssessor de Subprocurador-Geral da República. Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ª Região, Juiz Federal da 5ª Região, Promotor de Justiça do MPDFT, Procurador da Fazenda Nacional e Procurador Federal. 2
3 Índice Rodada 1 Prof. Flávio Borges PRETENSÃO DE REPARAÇÃO BASEADA NA GARANTIA DA EVICÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO. Prof. Paulo Augusto Moreira Lima CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES CONTRA A HONRA DE PARTICULAR SUPOSTAMENTE COMETIDOS DURANTE DEPOIMENTO PRESTADO À PROCURADORIA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. Prof. Gabriel Queiroz CONCESSÃO DE SERVIÇOS AÉREOS. TRANSPORTE AÉREO. SERVIÇO ESSENCIAL. CANCELAMENTO DE VOOS. DEVER DE INFORMAR AO CONSUMIDOR. 3
4 Rodada 1 Prof. Flávio Borges Terceira Turma PRETENSÃO DE REPARAÇÃO BASEADA NA GARANTIA DA EVICÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO. A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao prazo prescricional de três anos. A questão controvertida girou em torno da definição do prazo prescricional aplicável à pretensão de ressarcimento pela evicção. Uma vez que o ordenamento jurídico não prevê expressamente o prazo prescricional da pretensão indenizatória em decorrência da evicção, a questão é saber sobre a possível incidência do prazo especial três anos insculpido no art. 206, 3º, IV ou V, do CC/02, ou do prazo geral dez anos previsto no art. 205 do mesmo diploma legal. A Segunda Seção, recentemente, se manifestou sobre o tema no julgamento do REsp /RS (julgado em 10/8/2016, DJe de 19/9/2016), realizado pela sistemática dos recursos repetitivos, ficando assentado nos fundamentos do acórdão que não há mais suporte jurídico legal que autorize a aplicação do prazo geral, como se fazia no regime anterior, simplesmente porque a demanda versa sobre direito pessoal. E mais, que no atual sistema, primeiro deve-se averiguar se a pretensão está especificada no rol do art. 206 ou, ainda, nas demais leis especiais, para só então, em caráter subsidiário, ter incidência o prazo do art Na esteira desse entendimento, convém salientar que a garantia por evicção representa um sistema especial de responsabilidade negocial, que impõe ao alienante, dentre outras consequências, a obrigação de reparar as perdas e os danos eventualmente suportados pelo adquirente evicto. Daí se infere que, independentemente do seu nomen juris, a natureza da pretensão deduzida é tipicamente de reparação civil decorrente de inadimplemento contratual, a qual, seguindo a linha do precedente supramencionado, submete-se ao prazo prescricional de três anos, previsto no art. 206, 3º, V, do CC/02. REsp MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 8/11/2016, DJe 14/11/
5 Comentários A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça terminou por reproduzir um julgamento proferido pela Segunda Seção da Corte, exposto em precedente submetido ao rito dos recursos repetitivos. O tema é bastante conhecido daqueles que atuam na área do direito civil, dizendo respeito ao prazo prescricional para se ajuizar a demanda de evicção. De logo, é preciso lembrar que a evicção significa a perda da propriedade ou da posse de um bem para um terceiro, em favor de quem foi proferida uma decisão judicial. A título de exemplo, as coisas se passam assim: A vende um bem para B. Mas surge uma decisão judicial afirmando que o bem, na verdade, pertencia a C. B, então, prejudicado, ajuíza contra A uma ação de evicção, pleiteando perdas e danos. A controvérsia sobre o prazo da prescrição dessa demanda surgiu a partir da omissão do Código Civil em contemplá-lo expressamente, o que deu surgimento a duas teses: a) o prazo prescricional, no caso, deveria ser o geral, fixado em 10 anos, de acordo com o art. 205 do CC; b) o prazo prescricional deveria ser o de 3 anos, conforme a norma do art. 206, 3º, IV ou V, do CC, que trata da acão de enriquecimento sem causa ou daquela de responsabilidade civil. O STJ entendeu, ao fim, que não há mais lugar para que o prazo prescricional da evicção fique enquadrado em uma norma geral, sobretudo porque essa demanda revela, na verdade, uma típica ação de responsabilidade civil, a ser resolvida com o pagamento de perdas e danos. Daí a conclusão pela aplicação do prazo trienal. 5
6 Prof. Paulo Augusto Moreira Lima Terceira Seção CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES CONTRA A HONRA DE PARTICULAR SUPOSTAMENTE COMETIDOS DURANTE DEPOIMENTO PRESTADO À PROCURADORIA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. Não compete à Justiça federal processar e julgar queixa-crime proposta por particular contra particular, somente pelo fato de as declarações do querelado terem sido prestadas na Procuradoria do Trabalho. Tratou-se de conflito de competência negativo em razão da divergência entre Juízo federal e Juízo estadual para processar e julgar ações penais privadas nas quais se buscava apurar a prática dos crimes de calúnia e difamação pelos querelados, em depoimento prestado em inquérito civil instaurado por Procuradoria Regional do Trabalho. Estando em análise nas queixas-crime a prática de delitos contra a honra, e não de falso testemunho, tampouco se vislumbrando nos autos indícios de que os depoimentos prestados por querelados perante o parquet trabalhista são falsos, estaremos diante de verdadeira relação entre particulares e não haverá nenhum interesse ou violação de direito que afete a União, de modo que a causa não se enquadrará em nenhuma das hipóteses do art. 109 da Constituição Federal e não incidirá, assim, a Súmula n. 165 do STJ, que assim dispõe: compete a justiça federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista. CC PI, Rel. Min. Felix Fischer, por unanimidade, julgado em 9/11/2016, DJe 18/11/
7 Comentários Qual a competência para processar e julgar crime contra a honra decorrente de ofensas cometidas por particular contra particular em depoimento prestado na sede da Procuradoria do Trabalho? De início, cabe destacar que tal hipótese não se assemelha com aquela descrita na Súmula 165 do STJ: compete a justiça federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista. Isso porque a Sumula 165 do STJ relata caso de falso testemunho, em que há ofensa a interesse da União em zelar pela veracidade dos depoimentos prestados na Justiça Federal. Eis o motivo da competência federal. De maneira diversa, no crime contra a honra de particular, ainda que prestado na Justiça do Trabalho ou na sede da Procuradoria do Trabalho, não há qualquer ofensa a bens, serviços ou interesses da União. Portanto, não incide o art. 109 da CF. Em verdade, um particular ofende a honra de outro. O fato desse episódio ter sido praticado no interior de prédio público, ainda que durante depoimento prestado, não muda a questão da competência, a ser atribuída à Justiça Estadual. 7
8 Prof. Gabriel Queiroz Segunda Turma CONCESSÃO DE SERVIÇOS AÉREOS. TRANSPORTE AÉREO. SERVIÇO ESSENCIAL. CANCELAMENTO DE VOOS. DEVER DE INFORMAR AO CONSUMIDOR. O transporte aéreo é serviço essencial e pressupõe continuidade. Considera-se prática abusiva tanto o cancelamento de voos sem razões técnicas ou de segurança inequívocas como o descumprimento do dever de informar o consumidor, por escrito e justificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer. O debate diz respeito à prática no mercado de consumo de cancelamento de voos por concessionária de sem comprovação pela empresa de razões técnicas ou de segurança. As concessionárias de serviço público de transporte aéreo são fornecedoras no mercado de consumo, sendo responsáveis, operacional e legalmente, pela adequada manutenção do serviço público que lhe foi concedido, não devendo se furtar à obrigação contratual que assumiu quando celebrou o contrato de concessão com o Poder Público nem à obrigação contratual que assume rotineiramente com os consumidores, individuais e (ou) plurais. Difícil imaginar, atualmente, serviço mais "essencial" do que o transporte aéreo, sobretudo em regiões remotas do Brasil. Dessa forma, a ele se aplica o art. 22, caput e parágrafo único, do CDC e, como tal, deve ser prestado de modo contínuo. Além disso, o art. 39 do CDC elenca práticas abusivas de forma meramente exemplificativa, visto que admite interpretação flexível. As práticas abusivas também são apontadas e vedadas em outros dispositivos da Lei 8.078/1990, assim como podem ser inferidas, conforme autoriza o art. 7º, caput, do CDC, a partir de outros diplomas, de direito público ou privado, nacionais ou estrangeiros. Assim, o cancelamento e a interrupção de voos, sem razões de ordem técnica e de segurança intransponíveis, é prática abusiva contra o consumidor e, portanto, deve ser prevenida e punida. Também é prática abusiva não informar o consumidor, por escrito e justificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer. A malha aérea concedida pela ANAC é uma oferta que vincula a concessionária a prestar o serviço concedido nos termos dos arts. 30 e 31 do CDC. Independentemente da maior ou da menor demanda, a oferta obriga o fornecedor a cumprir o que ofereceu, a agir com transparência e a informar o consumidor. REsp AC, Rel. Min. Humberto Martins, por unanimidade, julgado em 18/8/2016, DJe 17/11/
9 Comentários O texto acima está bem feito, razão pela qual pouco temos a acrescentar. A questão é saber se as companhias aéreas podem cancelar vôos com análise apenas no foco empresarial, ou seja, na análise lucrativa da operação. O objeto da demanda na origem era o seguinte (trecho do voto do Min. Relator): O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ACRE ajuizou, na Justiça Estadual, ação civil pública contra a GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES S.A., pleiteando a condenação da companhia aérea em obrigação de não fazer para que esta, sem que haja razões técnicas relevantes e intransponíveis, abstenha-se de cancelar voos para a cidade de Cruzeiro do Sul, bem como divulgue informações precisas, claras e verídicas aos consumidores. Segundo se noticiou nos autos, a empresa cancelava vôos em períodos de baixa frequência, mas em altas temporadas, inclusive feriados, os vôos eram mantidos. E isso sem a devida informação prévia. Todas as instâncias, inclusive o STJ, entenderam que o comportamento da companheira área violou o art. 22 do CDC, na parte que trata da continuidade dos serviços públicos, bem os arts. 30 e 31 do CDC, que tratam do dever de lealdade e transparência nas relações de consumo. Afastou-se a alegação de que o Poder Judiciário não poderia determinar a realização de vôos perenes para essa ou aquela localidade, porque isso seria tarefa do Poder Executivo. Entendeu-se que o Poder Judiciário pode sim velar pelo adequado e contínuo serviço público concedido, nos termos do art. 22 do CDC, até mesmo porque a malha aérea concedida pela ANAC é uma oferta que vincula a concessionária a prestar o serviço concedido nos termos dos arts. 30 e 31 do CDC Em suma, expressou-se que a concessão pública, com seu interesse público subjacente, autorizaria decisões como a presente, na qual o interesse privado da empresa não poderia se sobrepor ao daquela comunidade do norte do país, com difícil acesso. Dispositivos legais: Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. 9
10 Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével. (Incluído pela Lei nº , de 2009) 10
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