APLICABILIDADE DA LEI /2003: UM DESAFIO PARA AS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS BRASILEIRAS
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- Stéphanie Oliveira Furtado
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1 APLICABILIDADE DA LEI /2003: UM DESAFIO PARA AS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS BRASILEIRAS Monize Fiorin Goldner¹, Valeska Favoretti Serafim² Graduanda do 4º período do curso de Letras Português/Inglês da Faculdade Castelo Branco, Colatina/ES. Graduanda do 2º período do curso de Letras Português/Inglês da Faculdade Castelo Branco, Colatina/ES. RESUMO: O presente artigo apresenta resultados e discussões sobre os desafios enfrentados pelas escolas na aplicabilidade da Lei /2003. O objetivo consiste em abordar a importância do ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana na educação básica, com foco na valorização da literatura, manifestações culturais e contribuição dos africanos na construção e na formação da sociedade brasileira. Por meio de pesquisa bibliográfica e coleta de dados em quatro escolas do estado do Espírito Santo, verificou-se que a efetividade plena da Lei /2003 ainda não foi alcançada. A reduzida disponibilidade de material didático adequado e a ausência de formação profissional sobre o tema são fatores que impedem que a herança cultural africana seja concebida como parte da memória nacional brasileira. PALAVRAS-CHAVE: Cultura Afro-brasileira. Lei /2003. Educação. História da África. 1
2 INTRODUÇÃO: A implantação da Lei , de 09 de janeiro de 2003, obriga a inclusão do ensino da História e da Cultura Afro-brasileira e Africana nos currículos oficiais da rede pública, nos níveis fundamental e médio. A aplicação dessa lei pode ser considerada uma possibilidade de avanços no âmbito educacional e cultural e, portanto, uma possibilidade, também, de mudanças em práticas sociais humanas e reconhecimento que os negros proporcionaram formação do povo brasileiro (PACÍFICO, 2006). O desafio da educação básica consiste em recontar a história africana, não pela voz do colonizador branco, mas daqueles que, por muitos anos, foram silenciados. Ao tratar da temática História e Cultura Africana, as instituições educacionais brasileiras transmitem, historicamente, discursos de escravidão, colonialismo e racismo, e esquecem que as diversas culturas que atravessaram o Atlântico e foram disseminadas por todo o Brasil tinham um passado. A importância dos anciãos na preservação da cultura, contos, lendas, mitos, provérbios, danças, música, estórias, e crenças africanas devem estar presentes nos currículos escolares, pois tudo isso corrobora para a afirmação de uma identidade reconstruída neste lado do oceano, a qual ressoa memórias de africanos quando ainda estavam em sua terra natal. Por meio da Literatura e, mais especificamente, do conhecimento da rica produção literária africana e afro-brasileira, o professor e a professora poderão encontrar alguns caminhos pedagógicos para o trato da questão africana e afro-brasileira na sala de aula. Caminhos estimulados pela Lei /2003 (AMÂNCIO; GOMES; SANTOS JORGE, 2008). Assim, os estudos da História da África e das culturas africanas e/ou afrodescendentes permitirão que educandos e educadores interajam com a cosmovisão do africano, sua concepção do universo, da vida e da sociedade (AMÂNCIO; GOMES; SANTOS JORGE, 2008). Os educandos brasileiros, por sua vez, saberão que também o Egito, em sua história habitada por faraônicas pirâmides, fica na África e que esta não é um país, mas um continente composto 2
3 por grandes reinos em sua Antiguidade, por milhares de línguas em vários países, dos quais cinco falam oficialmente a Língua Portuguesa (AMÂNCIO; GOMES; SANTOS JORGE, 2008). Apesar de ter sido promulgada em 2003, as instituições educacionais brasileiras ainda não alcançaram a efetividade plena da lei /2003. Dessa forma, pretende-se destacar alguns desafios na aplicabilidade da Lei enfrentados por quatro escolas do Estado do Espírito Santo: EEEFM Geraldo Vargas Nogueira e EMEF Eugênio Meneghelli, na cidade de Colatina; EEEF Dr. Moacir Avidos e EEEFM Professor Santos Pinto, na cidade de Governador Lindenberg. MATERIAL E MÉTODOS: Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a fundamentação do tema abordado; posteriormente, o levantamento das informações em quatro escolas no estado do Espírito Santo EEEFM Geraldo Vargas Nogueira e EMEF Eugênio Meneghelli na cidade de Colatina; EEEF Dr. Moacir Avidos e EEEFM Professor Santos Pinto na cidade de Governador Lindenberg. Para a obtenção dos dados foram entrevistados dezenove professores (quatro de Língua Portuguesa, três de Arte, quatro de História, quatro de Geografia e quatro de Matemática) três diretores e quatro pedagogos, sendo no total vinte e seis profissionais. Todos eles são graduados, sendo dezenove pós-graduados. Os dados foram coletados a partir de um questionário contendo cinco perguntas (quatro objetivas e uma subjetiva). A primeira pergunta da entrevista objetivou buscar do entrevistado o conhecimento chave sobre a pesquisa, e, se a resposta fosse negativa, teria o entrevistador de apresentar uma breve explanação sobre o tópico. A última pergunta da entrevista foi subjetiva, solicitando dos entrevistados um ponto de vista a partir de suas realidades profissionais. Foi realizada, também, uma questão em nível de conhecimentos gerais com cento e uma pessoas (oitenta e oito em Colatina e treze em Governador Lindenberg). No fim da pesquisa, os dados foram elencados, analisados e convertidos em gráficos. 3
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO: As quatro primeiras perguntas foram fechadas de sim ou não. A primeira pergunta foi a seguinte: O(a) senhor(a) conhece a lei sancionada em 2003 a respeito da cultura africana? Dos entrevistados, vinte e três possuíam algum conhecimento sobre a lei ou já tinham ouvido falar a respeito, e três não. Um deles ainda ressaltou O ensino de literatura e cultura africana é contemplado no Currículo Básico Comum das Escolas Estaduais do ES. A segunda pergunta foi a seguinte: Já estudou Literatura Africana ou fez algum curso preparatório a respeito? Dos entrevistados, doze responderam sim e quatorze não. A terceira pergunta foi: Os conteúdos desta lei são realmente trabalhados em sala de aula com interdisciplinaridade?. Dezenove dos entrevistados disseram sim, mas sete disseram não, observando-se, assim, que isso não acontece plenamente como é previsto pela lei. Uma pedagoga afirmou o seguinte a respeito da terceira questão: Em algumas matérias, como, por exemplo, na área das Ciências Humanas, fica mais fácil de contextualizar e interdisciplinar o assunto. A quarta pergunta apresentada foi: A escola possui material didático e paradidático disponível para auxiliar, em sala de aula, o ensino da literatura e cultura africana?. No total, seis dos entrevistados disseram sim, contra vinte que disseram não, sendo que em Governador Lindenberg, treze dos profissionais responderam não, somente um sim. A resposta positiva foi dada por um diretor, contrariando as respostas negativas de todos os professores e de um pedagogo de uma das escolas deste município. Já em Colatina, apenas cinco dos profissionais responderam sim contra sete que responderam não, sendo que na EMEF Eugênio Meneghelli, todos os quatro profissionais entrevistados disseram que a escola carece de tais materiais e, na EEEFM Geraldo Vargas Nogueira, três dos profissionais responderam negativamente, alegando a superficialidade dos materiais disponíveis na escola. A quinta pergunta foi aberta, e os profissionais foram questionados da seguinte forma: Quais 4
5 são os aspectos que comprometem a efetividade plena da lei ?. Dos entrevistados, vinte responderam problemas como ausência de formação profissional e falta de material didático e paradidático, e seis dos profissionais disseram que não há algo que comprometa a efetividade plena da lei. Foi realizada, também, uma questão no nível de conhecimentos gerais com cento e uma pessoas (oitenta e oito em Colatina e treze em Governador Lindenberg), sendo a seguinte: Em qual continente está localizado o Egito?. Apenas trinta e cinco dos entrevistados sabiam que o Egito se localiza no Continente Africano e sessenta e seis deram respostas incorretas, dentre elas Continente Asiático e Oriente Médio que sequer é um continente. 1ª pergunta: - O(a) senhor(a) conhece a lei sancionada em 2003 a respeito da cultura africana? Figura 1 2ª pergunta: - Já estudou Literatura Africana ou fez algum curso preparatório a respeito? 5
6 Figura 2 3ª pergunta: - Os conteúdos desta lei são realmente trabalhados em sala de aula com interdisciplinaridade? Figura 3 4ª pergunta: - A escola possui material didático e paradidático disponível para auxiliar, em sala de aula, no ensino da literatura e cultura africana? 6
7 Figura 4 5ª pergunta: - Quais são os aspectos que comprometem a efetividade plena da lei ? Figura 5 6ª pergunta- Em qual continente está localizado o Egito? 7
8 Figura 6 CONCLUSÕES: Por meio da coleta de dados realizada com profissionais da educação do estado do Espírito Santo, verificou-se que diversos desafios ainda persistem, impedindo a efetividade plena da Lei /2003. Apesar de ter sido promulgada em 2003, alguns profissionais desconhecem seu conteúdo e a forma de sua aplicação, impossibilitando, portanto, sua materialização. Dois aspectos que comprometem a não inserção da referida Lei na proposta escolar merecem destaque: a reduzida disponibilidade de material didático adequado e a falta de profissionais capacitados para trabalhar a temática em sala de aula. Tais fatores impedem que a escola cumpra seu papel principal de construir sujeitos críticos, autônomos e conhecedores de sua herança cultural. Para que esta lei se efetive, torna-se necessário a formação inicial e continuada de profissionais da educação. Nesse sentido, a literatura e o livro didático devem constituir as ferramentas necessárias para assegurar a formação da identidade africana e afro-brasileira, tornando esse processo contínuo. 8
9 REFERÊNCIAS AMÂNCIO, I. M. C.; GOMES, N. L.; SANTOS JORGE, M. L. Literaturas africanas e afro-brasileira na prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, PACÍFICO, Tânia Mara: Artigo A implantação da Lei nº /03, modificada pela Lei n /08, em uma escola da rede estadual, no ensino fundamental, na cidade de Curitiba, Paraná. Disponível em: <www. diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/517-4.pdf > Acessado em 10/10/
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