AS MULHERES IDOSAS NAS CAPAS DA REVISTA GLOBO RURAL: APRESENTAÇÃO DO CORPUS DE PESQUISA

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1 AS MULHERES IDOSAS NAS CAPAS DA REVISTA GLOBO RURAL: APRESENTAÇÃO DO CORPUS DE PESQUISA Wanderléia da Consolação Paiva Doutorado em Estudos de Linguagem Universidade Federal Fluminense Orientadora: Dra. Silmara Dela Silva Apresentação O presente artigo apresenta o corpus escolhido para a nossa pesquisa de doutorado que aborda sobre os discursos produzidos pela mídia em relação à mulher idosa no meio rural. A Revista Globo Rural, que atende aos interesses do agronegócio, entendida como uma das publicações do marketing rural, utiliza imagens de idosos(as) nas capas das suas edições e, diante disso, cabe-nos formular a seguinte pergunta: como a revista constitui efeitos de sentidos para as mulheres idosas ao trazê-las em suas capas? O marketing rural está em desenvolvimento no Brasil com o intuito de evidenciar os produtos e serviços agropecuários de forma positiva nos meios de comunicação como jornais, revistas, programas de rádio e televisão diante das empresas envolvidas nesse setor. Este mercado vem expandindo em função do crescimento do agronegócio no Brasil e no mundo (LEICE, 2013). O termo agronegócio ou agrobusiness é empregado nos Estados Unidos desde os anos 1950 e emergiu no Brasil em revelando aspectos técnicos, de organização da cadeia produtiva, das relações econômicas e políticas do processo produtivo e de disputa de hegemonia em relação às políticas públicas relacionadas ao setor (CHRISTOFFOLI, 2012). O agronegócio foi definido desde 2000 como conjunto de atividades que envolvem a produção e a distribuição de produtos agropecuários considerando o aspecto industrial, o conjunto que o controla e suas formas de gerenciamento. Seu interesse está no controle de áreas mais extensas do país, na exportação, na verticalização, na alta tecnologia e no trabalho assalariado e braçal (MOLINA; JESUS, 2004). Este modelo de desenvolvimento econômico visa o domínio de técnicas com foco no lucro, na exportação, no domínio do mercado, de terras e de políticas de produção. A sua apropriação pelas lideranças, forças políticas, Estado e marketing pode modificar a ideia inicial da proposta para o campo - valorização da agricultura, policultura, cuidados 125

2 ambientais, controle dos agricultores sobre a produção da sua semente em função de um discurso capitalista (CALDART et al., 2012). Em contrapartida, temos outros modelos com posicionamentos divergentes ao agronegócio que se referem a modelos de desenvolvimento sustentáveis como a agricultura familiar camponesa e a agroecologia que aparecem em algumas capas da referida revista, apesar de não ser o seu ponto de referência. No Brasil, a predominância feminina entre os idosos é um fenômeno tipicamente urbano. As mulheres constituíam, em 2010, 57,1% da população idosa. Nas áreas rurais, predominam os homens; 52,8% dos idosos. A maior participação das mulheres no fluxo migratório rural urbano explica essa diferença (BRUMER, 2004). Com relação à divisão do trabalho por sexo e geração na agricultura, pode-se observar que as mulheres ocupam uma posição subordinada e seu trabalho é visto como ajuda mesmo quando elas trabalham de forma semelhante ao homem (NOGUEIRA, 2012; BRUMMER, 2004). Segundo Mészarós (2002), um dos mais importantes filósofos marxistas da atualidade, o capitalismo tem interesse em preservar e intensificar a desigual divisão sexual do trabalho. A lógica do capital permite uma relação de igualdade apenas formal. O capital necessita preservar os mecanismos de subordinação da mulher. Partindo das afirmações acima e observando as capas com mulheres idosas nas edições da referida Revista temos como objetivo apresentar o corpus da nossa pesquisa que analisará o discurso sobre a idosa nas capas da Revista Globo Rural. O discurso, segundo Orlandi (2001, p.15), é a palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso, observa-se o homem falando. O discurso é efeito de sentidos entre locutores (PÊCHEUX, 1990). Trabalha-se o sentido definido em relação a e não como algo em si. O discurso é um objeto histórico cuja materialidade especifica é linguística. Como afirma Orlandi (2006), existem algumas condições para a produção do discurso que são o sujeito e a situação. A situação no sentido estrito está relacionada ao aquiagora do dizer, o contexto imediato e no sentido lato compreende o contexto mais amplo que está relacionado ao sócio-histórico e o ideológico. 126

3 Para a análise que nos propomos nesta pesquisa escolhemos a perspectiva teóricometodológica da Análise do Discurso francesa proposta por Michel Pêcheux desenvolvida no Brasil por Eni Orlandi para analisar o corpus selecionado. A análise do discurso, na perspectiva que adotamos, nos remete ao ponto em que a linguística tem a ver com a Filosofia e com a Ciência das Formações Sociais (PÊCHEUX, 1975 apud ORLANDI, 1994, p. 297) e se constitui a partir de questionamentos das três regiões científicas: a teoria da sintaxe e da enunciação; a teoria da ideologia e a teoria do discurso que é a determinação histórica dos processos de significação. Tudo isso atravessado por uma teoria do sujeito de natureza psicanalítica (ORLANDI, 2006). Para a análise de discurso é fundamental a questão do sentido que se dá a partir da vida cotidiana dos indivíduos enquanto sujeitos em uma formação social. A linguagem é linguagem porque faz sentido e a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história (ORLANDI, 2001, p. 25). A análise de discurso não procura o sentido verdadeiro, mas o real do sentido em sua materialidade linguística e histórica. O corpus e as análises O corpus desta pesquisa se constitui de uma das capas das edições da Revista Globo Rural, lançada pela Rio Gráfica Editora, a partir de outubro de 1985, de frequência mensal, e que, segundo o site da própria revista, conquistou a liderança do segmento e se tornou referência no agronegócio brasileiro. A revista traz informações valiosas e antecipa tendências aos grandes, médios e pequenos produtores agropecuários, além de atender aos executivos das empresas de insumos, máquinas e implementos agrícolas, dos grandes supermercados e do setor financeiro. Em seus primeiros 17 anos, Globo Rural recebeu 16 prêmios (EDITORA GLOBO) Trata-se de uma revista de ampla tiragem nas bancas e de referência para o homem rural. Nosso intuito ao investigá-la diz respeito ao fato de que toda a informação que se veicula produz efeitos de sentido que se inscrevem na memória ao se posicionarem em uma formação discursiva. Mais especificamente, com relação ao aparecimento de figuras de idosos(as) nas capas da revista, temos os seguintes dados da tabela abaixo: 1

4 TABELA: Relação das capas da Revista Globo Rural de 1985 a 2015: Período Número das Capas Capas com Idosos Capas com idosas Fonte: das autoras Na década de 80, momento no qual a Revista Globo Rural aparece nas bancas temos para um total de 50 capas, 10 capas com a figura de idosos(as) sendo apenas uma referente à idosa (figura 1). 128 Figura 1: Capa da edição da Revista Globo Rural, ano 2, outubro de 1986 Na década de 90, totalizando 120 edições, se compararmos aos anos da década anterior, observamos que, apesar de mais edições publicadas, o número de revistas com idosos(as) permaneceu o mesmo, porém, aumentou para 04 o número de capas com idosas. (figuras 2, 3, 4 e 5).

5 Figura 2: Capa da edição da Revista Globo Rural, ano 9, outubro de 1993 Figura 3: Capa da edição da Revista Globo Rural, ano, abril de Figura 5: Capa da edição da Revista Globo Rural, julho de 1997 Figura 6: Capa da edição da Revista Globo Rural, agosto de 1999 Já nos anos de , temos um número maior de revistas que trazem o idoso, porém, tem-se uma diminuição no número de revistas que trazem as idosas (figuras 6 e 7).

6 Figura 6: Capa da edição da Revista Globo Rural, ano 16, junho de 2001 Figura 7: Capa da edição da Revista Globo Rural, ano 16, outubro de 2001 Nos anos de 2010 a 2015, ainda que tenhamos apenas cinco anos para análise, observamos que não foi editada nenhuma capa com as mulheres idosas. Sabemos o quão importante é o trabalho das mulheres idosas e sua representatividade principalmente no que se refere à agricultura orgânica e à agricultura familiar. Entendemos que a nossa proposta de pesquisa pode trazer elementos significativos para realizarmos a análise do corpus que estamos nos propondo a analisar. 130 Referências BRUMER, Anita. Gênero e agricultura: a situação da mulher na agricultura do Rio Grande do Sul. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 12, n. 1, p , abr Disponível em < Acesso em: 05 dez CHRISTOFFOLI. Agroindústria. In: CALDART, R.S.; PEREIRA, I.; ALENTEJANO, P.; FRIGOTTO,G. (Orgs). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro/São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio: Expressão Popular, 2012, p CALDART, R.S.; PEREIRA, I.; ALENTEJANO, P.; FRIGOTTO,G. (Orgs). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro/São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio: Expressão Popular, 2012, p LEICE, D. O conceito de marketing rural Disponível em:

7 < Acesso em: 5 abr MÉSZARÓS, I. Para além do capital. São Paulo: Boitempo, MOLINA, M.; JESUS, S. (Orgs). Contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Brasília: Articulação Nacional por uma Educação Básica do Campo, Coleção por uma Educação Básica do Campo n. 5. NOGUEIRA, C. M. A divisão sexual do trabalho no sistema de integração agroindustrial. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 111, p , set Disponível em < Acesso em: 30 nov ORLANDI, Eni. O lugar das sistematicidades linguísticas na Análise de Discurso. D.E.L.T.A., São Paulo: EDUC-PUC/SP, v. 10, n. 2, 1994, p ORLANDI, E.P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 3. ed. Campinas: Pontes, 2001 ORLANDI, Eni. Análise de Discurso. In: LAGAZZI RODRIGUES, Suszy.; ORLANDI, Eni. (Orgs.). Introdução às ciências da linguagem: Discurso e textualidade. Campinas: Pontes, p PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. Eni Orlandi, Campinas, SP: Pontes,