A ABORDAGEM DE LITERATURA NO LIVRO DIDÁTICO DE ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE

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1 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Departamento de Linguagem e Tecnologia Curso de Letras Tecnologias de Edição Tecnologia Digital na Aprendizagem de Línguas e Literatura Profª Dra. Renata Moreira Claudete Araújo Giulia Piazzi Priscilha Oliveira Renata Silveira A ABORDAGEM DE LITERATURA NO LIVRO DIDÁTICO DE ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE Introdução No Guia do PNLD 1 (Programa Nacional Livro Didático), a abordagem teórico-metodológica de literatura, assumida pelos livros didáticos de Língua Portuguesa, é analisada com base no item III ( O trabalho com a literatura ) da ficha de avaliação disponibilizada no próprio guia como orientação do professor-avaliador. Nesse item, o avaliador deve levar em consideração três aspectos, além da avaliação da coletânea de textos literários: a) as atividades (a colaboração para a formação do leitor de literatura); b) os conhecimentos literários (a base conceitual para o tratamento do fenômeno literário); e c) os conteúdos literários (os conteúdos de literatura com que a coleção trabalha). Considerando que a abordagem de literatura nos livros didáticos de Língua Portuguesa é diversificada, esta atividade tem como objetivo analisar o trabalho com textos literários e as metodologias utilizadas para o ensino de literatura em um capítulo de um livro de Português. Para tanto, escolheu-se o décimo capítulo, Parnasianismo, do segundo volume do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido, atualmente em uso no Ensino Médio/Técnico do CEFET-MG. 1 O Guia do PNLD encontra-se disponível no site oficial do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. O guia referente aos livros didáticos de Língua Portuguesa avaliados em 2012, e que está sendo utilizado nesta análise, está disponível em: < guias?download=5511:pnld-2012-lingua-portuguesa>

2 O livro foi produzido em coautoria por Marcela Pontara, Maria Bernadete M. Abaurre e Maria Luíza M. Abaurre e publicado pela Editora Moderna em Ele faz parte do Guia de Livros Didáticos do PNLD 2012 de Língua Portuguesa. Os critérios utilizados para esta análise envolvem o tratamento dado pelo livro às questões de literatura (incluindo tanto as explicações e os textos quanto os exercícios do livro) em confrontação com as informações fornecidas pelo Guia do PNLD 2012 e pela editora responsável por sua publicação. O livro metodologia Na apresentação do livro em questão, vemos um discurso focado na Literatura não apenas como uma disciplina escolar, mas como elemento presente em nosso cotidiano e como forma de descanso e lazer. No entanto, esse mesmo texto dá a entender que as autoras acreditam na literatura também como forma de promover o estudo das estruturas gramaticais, embora a abordagem denote o contrário e tenha como foco apenas a literatura, como veremos mais adiante. A comunicação com o leitor, no caso o aluno do ensino médio, é realizada de uma maneira convidativa, para que ele se identifique com a obra. O livro dialoga com o aluno quando utiliza a linguagem para instigá-lo a avaliar o conteúdo. Ao final dos capítulos, existem indicações de obras complementares para os alunos se aprofundarem no assunto. As obras indicadas são filmes, livros, músicas e sites. O livro apresenta indicações de obras recentes, o que contribui para o interesse do aluno, uma vez que ele pode se identificar com o conteúdo, além de mídias com que os alunos estão familiarizados. O capítulo abordagem O capítulo 10, Parnasianismo, selecionado para esta análise, inicia a Unidade 3 ( As estéticas de fim de século ) do segundo volume da coleção Português Contexto, Interlocução e Sentido. Precedendo cada capítulo de Literatura, há a seção Uma viagem no tempo: primeiras leituras, que se inicia sempre com um mesmo texto:

3 O contato com a produção artística nos abre uma janela para o passado e permite conhecer um pouco pessoas que viveram em diferentes momentos. Os textos e as imagens desta seção foram selecionados para que você possa conversar com seus colegas a respeito do que eles revelam sobre o contexto em que foram produzidos. Quem eram seus autores? Como era o mundo em que viviam? Tinham interesses e preocupações semelhantes aos nossos? Essas são somente algumas das questões que podem inspirar a conversa de vocês. (PONTARA; ABAURRE; ABAURRE, 2008, p. 236) Trata-se de uma abordagem interessante para que os alunos se familiarizem com as produções a serem estudadas no capítulo que se seguirá. Ao contrário do que se pode esperar, após uma breve listagem dos objetivos a serem cumpridos até o final do estudo proposto, o capítulo não se inicia com um texto explicativo. Vemos, primeiramente, o uso de um método indutivo, ou seja, pede-se que o próprio aluno tente deduzir algumas características do Parnasianismo, por meio de exercícios que estimulam a leitura da imagem parnasiana de Alphonse Mucha e do poema A arte, de Théophile Gautier. Tal abordagem é muito eficiente para que os alunos consigam não apenas fixar algumas das características do período, mas também visualizar como elas se manifestam nas obras. O capítulo faz uma breve introdução do que seja o período literário conhecido como Parnasianismo, questiona o motivo de ele ser definido como antirromântico, quais características literárias assume a poesia parnasiana, como se manifestou o Parnasianismo no Brasil e o que distingue a poesia de Olavo Bilac da produção dos outros poetas parnasianos brasileiros. As autoras fazem uma breve introdução conceituando o Parnasianismo. Ao questionar o motivo de o projeto literário definir-se como antirromântico, o livro instiga os alunos a resgatar seus conhecimentos anteriores sobre o período, ou pesquisar e descobrir que o Parnasianismo veio logo após o Romantismo, visando conhecer os motivos do rompimento do uso das emoções para a produção das obras literárias. O aluno deve situar os movimentos Romantismo e Parnasianismo dentro do século correspondente. É interessante notar que o capítulo não utiliza a literatura como pretexto para o estudo de gramática, como muitos livros didáticos o fazem e também como as autoras indicam na Apresentação. Por ser dividida em Literatura, Gramática e Produção Textual, a obra, de um modo geral, condensa as informações sobre os períodos literários nos capítulos

4 correspondentes e as complementa com sugestões de consulta, pesquisa e leitura. Os exercícios nele presentes se fazem de maneira mais abrangente: pede-se que o aluno redija textos de interpretação de imagens e de poemas e contextualize de modo mais amplo suas respostas, com perguntas abertas e subjetivas. Fragmentação literária O que mais se critica sobre literatura em livros didáticos é o fato de que os textos literários costumam vir em fragmentos, tal como Kramer (2000) ressalta: Vivemos o paradoxo: muito se fala sobre leitura, muito se propõe, no entanto, os livros que continuam vendendo mais são os didáticos. A quantidade de textos e estímulos acentua a leitura interrompida. A leitura, que é sempre incompleta e inacabada, torna-se a leitura fragmentada. Lê-se pedaços de textos cada vez mais curtos, mensagens, trechos, resumos, informações. (KRAMER, 2000, p. 28) No livro, apresentam-se vários poemas no decorrer do capítulo, alguns fragmentados, distribuídos de uma forma que talvez seja uma tentativa de se aproveitar o espaço disponível na diagramação. Porém, as autoras fazem questão de interligar imagens, sites, filmes e livros que melhor elucidam o período literário estudado, o que incentiva tanto o aluno a conhecer melhor os textos literários em questão quanto o professor a se utilizar desses links para complementar suas aulas. Isso revela a coerência na avaliação que consta no Guia do PNLD, que afirma que a literatura, nesta obra, é vista como fator de cultura, de ontem e da contemporaneidade, e que essa diversidade das sugestões apresentadas pelas autoras amplia as possibilidades de uma leitura intertextual, abrangente e integrada. Segundo o Guia do PNLD 2012, o livro desenvolve, em Literatura, uma abordagem historiográfica do fenômeno literário, prevalecendo uma visão vinculada à ideia de dependência cultural. A maior parte dos livros didáticos costuma trabalhar os textos literários preocupando-se mais com a abordagem historiográfica do fenômeno sobre o qual estudam, exigindo a memorização de grande quantidade de informações literárias, como as características de cada escola literária, o contexto histórico e dados biográficos de autores. Isso leva ao desinteresse pela

5 disciplina, pois não acrescenta bagagem cultural aos estudantes, como indica Todorov, em A literatura em perigo : [...] o estudante não entra em contato com a Literatura mediante a leitura dos textos literários propriamente ditos, mas com alguma forma de crítica, de teoria ou de história literária. [...] Para esse jovem, Literatura passa a ser então muito mais uma matéria escolar a ser aprendida em sua periodização do que um agente de conhecimento sobre o mundo, os homens, as paixões, enfim, sobre sua vida íntima e pública. (TODOROV, 2009, p.10) Entende-se a dificuldade de sintetizar nos livros didáticos a grande quantidade de informação histórica e cultural da literatura. O livro aqui analisado deixa clara a necessidade de resumir essas informações (já que é bastante objetivo e preza pela complementação das ideias nas atividades de pesquisa e por meio de outras mídias) e a inevitabilidade de estudá-las separadamente, o que auxilia, de certa forma, o professor a cumprir em tempo hábil o plano de ensino proposto pelas escolas. Conclusão O livro didático está adequado ao programa, pois apresenta subsídios para a integração do conteúdo e o aproveitamento pelos alunos, além da integração de conceitos clássicos ao cotidiano e realidade da sala de aula. As atividades contribuem para a formação do leitor de literatura, com incentivos à busca de conhecimentos fora do ambiente educacional e da utilização do livro. A preocupação para o desenvolvimento da leitura literária do aluno é bem trabalhada no livro, pois utilizando outras mídias que estão indicadas na obra, o professor consegue tornar mais dinâmico o processo de aprendizagem. Os capítulos são ricos em textos, o que, além de estimular a percepção do aluno, incentiva-o a ler e contribui para a formação de leitores. Já os textos teóricos sobre as escolas são bem explicados, porém concisos, deixando espaço para a intervenção do professor e para a discussão em sala de aula, sem que a informação seja despejada sobre o leitor. De uma maneira geral, a organização dos conteúdos é boa mas nada inovadora, dividida em escolas literárias como vemos na maioria dos livros. Tal organização pode, no entanto, ser

6 considerada organizada demais, pois pode dar ao estudante a impressão de que cada movimento teve um início e um fim definidos. Numa avaliação do todo, concluímos que, pela organização, clareza, proposta crítica, informatividade e adequação da linguagem ao público jovem, o livro Português Contexto, Interlocução e Sentido pode ser considerado um bom livro para o Ensino Médio.

7 Referências < Acesso em 01/11/2014. < RA.pdf> Acesso em 01/11/2014. < Acesso em 31/10/2014. KRAMER, S. Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa escolar para a educação infantil. São Paulo: Ática, TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.