Distribuição de Aves da Nascente do Córrego Cruzeiro, Área Urbana de Quirinópolis, Goiás, Brasil

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1 1 Distribuição de Aves da Nascente do Córrego Cruzeiro, Área Urbana de Quirinópolis, Goiás, Brasil Reile Ferreira Rossi 1,3 ; Jacqueline Jacinto Cabral Rossi 2,3 ; Ralder Ferreira Rossi 2,3 1 Pesquisador - Orientador. 2 Voluntário Iniciação Científica PVIC/UEG. 3 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Quirinópolis, UEG. RESUMO Este trabalho objetivou determinar a distribuição da avifauna na nascente do córrego cruzeiro, área urbana da cidade de Quirinópolis, Goiás. As visitas ao campo foram realizadas de abril a agosto de 2005, com pelo menos dois dias de observação mensal, no período da manhã (7:00-11:00) e no período da tarde (15:30-18:00), totalizando 10 visitas e 65 horas. Onde foram identificadas 73 espécies de aves, distribuídas em 32 famílias. Quatro espécies de aves endêmicas do Cerrado estiveram presentes no levantamento (Herpsilochmus longirostris, Aratinga aurea, Ramphasto toco, Colaptes campestres). Os resultados indicam que a área da nascente do córrego cruzeiro deve ser considerada como um importante local para a manutenção da avifauna regional. Palavras Chave: Nascente, Avifauna, Cerrado. Introdução A área original do cerrado ocupa cerca de 25% do território brasileiro e se destaca por sua rica biodiversidade, entretanto de acordo com Silva (1995) é uma das regiões ecológicas mais pobremente conhecidas da América do Sul. Segundo a Organização Não Governamental Conservation International do Brasil (2005), o cerrado está sendo considerado, juntamente com a mata atlântica, como uma das 34 áreas mais ricas e ameaçadas do mundo, conhecidas pela expressão hots pots.

2 2 Aves e borboletas são dois grupos que respondem de modo semelhante à urbanização, sendo considerados importantes bioindicadores (Blair, 1999; Hermy e Cornelis, 2000). O Brasil possui cerca de espécies, conforme nosso último senso em 1981 (Sick, 1997), o que corresponde a 17% de todas as espécies do mundo. No que se refere ao Estado de Goiás a avifauna é muito pouco conhecida do ponto de vista ecológico, principalmente ao nível de comunidades (Monteiro e Brandão, 1995). Têm ocorrido desmatamentos de áreas naturais no município de Quirinópolis, para fins de agricultura e pecuária. Segundo dados extra-oficiais, menos de 3% da área total é coberta por vegetação natural, o que tem contribuído com o aumento da avifauna na área urbano do referido município. Conhecer a diversidade e a distribuição das espécies, principalmente aquelas bioindicadoras como as aves é de fundamental importância para uma melhor gestão dos recursos naturais. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo estudar a distribuição da avifauna na nascente do córrego cruzeiro, localizada na área urbana do Município de Quirinópolis, Goiás. Material e Métodos Área de estudo - O estudo foi realizado em uma área de 17 ha. fragmento de cerrado em área urbana do município de Quirinópolis, Goiás, latitude 18º e longitude 50º A vegetação do município é caracterizada pelo tipo cerrado, que atualmente está restrito a pequenas reservas isoladas, tendo em seu entorno atividades agropecuárias. A área de estudo faz parte do empreendimento esportivo Eldorado Tênis Clube, onde está localizado a principal nascente do córrego cruzeiro. Caracteriza-se por apresentar um fragmento de cerrado em torno da nascente, lago artificial, quadras tênis, piscinas, campos de futebol, ginásio de esportes e área de dança. A nascente do córrego cruzeiro, situada no perímetro urbano é a principal fonte de recursos hídricos para o referido córrego cruzeiro que possui forte antropização ao longo do seu médio e baixo curso. Métodos - As atividades de pesquisa foram desenvolvidas durante cinco meses consecutivos, de abril a agosto de 2005, com duas visitas mensais das 7 às 11 horas da manhã e das 15 h e

3 3 30 minutos às 18 horas. A metodologia utilizada foi a do tipo transecto, percorrendo a trilha com aproximadamente metros contemplando os diferentes ambientes da área de estudo. A trilha foi percorrida sempre no mesmo sentido e horário. O local de estudo foi dividido em quatro áreas de acordo com a predominância de cada tipo característico: construção (piscinas, quadras, campos de futebol), mata ciliar, represa (ambiente aquático e sua margem) e brejo/mangueiras. A cada avistamento eram registrados a espécie, seu nome vulgar, o número de indivíduos (contado, estimado ou extrapolado), método de senso (visualização ou vocalização), atividade principal (alimentando, em repouso, movimentando ou outros), hora e tipo de hábitat (estabelecido previamente). Quanto à vocalização, a espécie que estava emitindo só era registrada quando se tinha certeza. Sempre que possível as aves foram fotografadas por máquina digital sony e pine para criação de banco de imagens da avifauna do cerrado da região sudoeste de Goiás. Resultados e Discussão Foram registradas um total de 73 espécies de aves distribuídas em 32 famílias (Tabela 1). A família de Passeriformes Tyrannidae (N = 9; 12,3%) foi a mais representativa e dentre os não- Passeriformes Columbidae (N = 6; 8,2%). Quanto à distribuição das espécies nas quatro áreas observou-se que 13 (17,8%) estavam presentes em todas as áreas, 5 (6,8%) foram registradas somente nas áreas de construção, 5 (6,8%) em mata ciliar, 9 (12,3%) foram visualizadas na represa/borda e apenas 1 (1,3%) esteve presente somente na área brejo/mangueiras. As demais 40 espécies foram registradas em mais de uma área. Fanchin (2004) trabalhando na área urbana de Uberlândia, Minas Gerais, observou que as famílias de Passeriformes, Emberezidae (18%) e Tyrannidae (17%) foram as mais representativas em número de espécies, seguindo a ordem taxonômica de Sick (1997). Os resultados obtidos em Uberlândia são compatíveis com os resultados obtidos na nascente do córrego cruzeiro, área urbana de Quirinópolis-Goiás, se levar em consideração a ordem taxonômica de Sick (1997) teríamos Emberezide (N = 13; 17,8%) e Tyrannidae (N = 10; 13,6%), mesmo com um esforço amostral menor. Vale ressaltar que o presente trabalho adotou a ordem taxonômica do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos CBRO (2005). As espécies Brotogeris chiriri, Columbina talpacoti, Columba picazuro, Columba plumbea e Aratinga aurea utilizaram a área para se reproduzirem, elevando a o grau de importância da

4 4 conservação da vegetação local. Monasa nigrifrons foi observada construindo ninho na borda da mata ciliar, no entanto abandonou o local antes de se reproduzir após a capina realizada por funcionários do clube esportivo. Quatro espécies de aves endêmicas do Cerrado foram registradas no levantamento faunístico, são elas: Herpsilochmus longirostris (chorozinho-de-bico-comprido), Aratinga aurea (periquito-rei), Ramphasto toco (tucanaçu) e Colaptes campestres (pica-pau-do-campo). Destaca-se ainda a presença de duas espécies exóticas Columba livia e Passer domesticus, a primeira foi observada apenas sobrevoando a área e a segunda foi registrada apenas na área construída confirmando ser sinantropo que se adapta melhor ao ambiente das cidades. De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres CEMAVE/IBAMA (2005), a espécie Pyrocephalus rubinus (príncipe) família Tyrannidae, é migratória, visitante do hemisfério sul. Macho e fêmea da espécie foi observada na área, o macho com plumagem cor vermelho vivo, apesar de não ter encontrado ninho, deve estar utilizando a área para se reproduzir. De acordo com Sick (1997), o Pyrocephalus rubinus emigra no inverno astral, aparecendo então em regiões mais setentrionais (Brasil central, Amazônia), invadindo as áreas de populações residentes naquelas partes. Conclusão A presença de aves em áreas urbanas é cada vez maior, em busca de fontes de alimentação, abrigo e locais para a reprodução, por conseqüência da fragmentação do cerrado que altera ou destrói seu hábitat natural. Fatores como: riqueza da avifauna (representada por 73 espécies); a constatação de que a área é utilizada para reprodução de algumas espécies e a presença de espécie migratória possibilita afirmar que a área de estudo, mesmo que antropizada é importante para a conservação da avifauna local e da região. Sugere-se a continuidade dos estudos para melhor compreender estas comunidades de aves. Segue a Tabela 1. Distribuição da avifauna na nascente do Córrego Cruzeiro, área urbana de Quirinópolis, Goiás/2005. A ordem taxonômica segue o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2005). * Aves avistadas somente sobrevoando a área de estudo. Área construída 1; Mata Ciliar 2; Represa e Borda 3; Brejo e Mangueiras 4.

5 5 Táxon Área Táxon Área Táxon Área Táxon Área Tyrannidae Trochilidae Formicariidae Icteridae Pyrocephalus rubinus 1, 2 Eupetomena macroura 1, 2, 3 Taraba major 2 Gnorimopsar chopi 1, 4 Pitangus sulphuratus 1, 2, 3, 4 Thalurania furcata 1, 2 Herpsilochmus longirostris 2, 4 Icterus cayanenses 1, 2, 3 Myiodynastes maculatus 1, 2 Chlorostilbon aureoventris 1, 2, 3, 4 Thamnophilus doliatus 1, 2, 4 Tersinidae Tyrannus savana 1, 2, 3 Phaetornis petrei 4 Furnaridae Tersina viridis 2 Machetornis rixosus 1, 4 Momotidae Furnarius rufus 1, 2, 3 Psittacidae Myiarchus ferox 1, 2, 3 Momotus momota 2, 4 Turdidae 1, 2, 4 Brotogeris chiriri 1, 2, 3, 4 Tyrannus melancholicus 1, 3 Galbulidae Turdus rufiventris 1, 2, 4 Aratinga aurea 1, 2, 3, 4 Tyrannus albogularis 1, 3 Galbula ruficauda 2, 4 Turdus leocomelas 1, 2, 4 Diopsittaca nobilis 1 Myiopagis caniceps 2, 3 Bucconidae Turdus amaurochalinus 1, 2, 3, 4 Mimidae Tityridae Xenopsaris albinucha 1, 3 Monasa nigrifrons 1, 2, 4 Emberizidae Mimus saturninus 2 Columbidae Ramphastidae Coereba flaveola 1, 2, 4 Charadriidae Columbina talpacoti 1, 2, 3, 4 Ramphasto toco 2, 4 Volatina jacarina 3, 4 Vanellus chilenses 1, 3 Columba plumbea 1, 2, 3, 4 Pteroglossus aracari 1 Sicales flaveola 2, 3 Passeridae Columba picazuro 1, 2, 3, 4 Picidae Sporophila caerulescens 2, 3, 4 Passer domesticus 1 Leptotila rufaxilla 2, 4 Colaptes campestres 3 Thraupidae Accipitridae Scardafella squammata 1, 2, 3 Dryocopus lineatus 2 Tangara cayana 1, 2, 3, 4 Rupornis magnirostris 1, 2 Columba livia* 3 Colaptes melanocloros 2, 3, 4 Thraupis sayaca 1, 2, 3, 4 Caracara plancus 2 Cuculidae Picumnus albosquamatus 2, 3 Thraupis palmarum 2, 3 Phalacrocoracidae Guira guira 1, 2, 3 Hirundinidae Dacnis cayana 2, 3, 4 Phalacrocorax brasilianus 3 Crotophaga ani 1, 2, 3, 4 Tachycineta albiventer 3 Parulidae Fregatidae Alcenidae Progne chalybea 1, 3, 4 Dendroica striata 3 Casmerodius alba 2, 3 Chloroceryle amazona 3 Ardeidae Fringillidae Cathartidae Theriskiornithidae Bulbucus ibis 4 Euphonia violacea 3, 4 Coragypis atratus * 1, 2, 3, 4 Theristicus caudatus 3 Syrigma sibilatrix 1, 3 Vireonidae Cathartes aura * 1, 2, 3, 4 Mesembrinibis cayennensis 2, 3 Ardea cocoi 1 Hylophilus poicilotis 1 Rynchopidae Rinchops niger 2

6 6 Agradecimentos À Professora Juciene B. da Silva pelas críticas e sugestões, ao Eldorado Tênis Clube em nome de seu presidente o Sr. João Humberto pelo livre acesso à área de estudos, ao Sr. Cristino Renato da Silva por acompanhar algumas campanhas na função de fotógrafo e à Fundação Universidade Estadual de Goiás pela concessão de carga horária para execução do estudo. Referências Bibliográficas Blari, R. B Birds and butterflies along an urban gradients: Surrogate taxa for assessing biodiversity? Ecological Applications, 9 (1): Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres Lista das espécies de aves migratórias ocorrentes no Brasil. Versão 22/03/2005. Disponível no site Acesso em 20/09/2005. Conservation International do Brasil, Hotspots Revisitados: As Regiões Biologicamente Mais Ricas e Ameaçadas do Planeta. Versão Disponível no site nº de páginas: 16. Acesso em 20/09/2005. Fanchin, A. G A riqueza da avifauna no Parque Municipal do Sabiá, zona urbana de Uberlândia (MG). Biotemas, 17 (1): Hermy, M; Cornelis, J Towards a monitoring method and a number of multifaceted and hierarchial biodiversity indications for urban and suburban parks. Landscape and Urban Planing, 49: Monteiro, M. P. e D. Brandão Estrutura de comunidades de aves do Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. Ararajuba 3: Sick, H Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 912 pp. Silva, J. M. C Birds of the cerrado region, South América. Sttenstrupia, 2:69-92.