CHUVA DE GRANIZO NO CONE LESTE DE SÃO PAULO (SP)(16/10/08)

Transcrição

1 CHUVA DE GRANIZO NO CONE LESTE DE SÃO PAULO (SP)(16/10/08) A partir da tarde e o início da noite do dia 16 de outubro de 2008, áreas de instabilidade associadas a intensos sistemas convectivos provocaram chuvas fortes acompanhadas de descargas elétricas e queda de granizo em algumas localidades do cone leste de São Paulo. Por exemplo, na periferia da Capital Paulista e na cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP), registrou-se tempo severo que provocou danos materiais e impactos significativos na população. A Figura 1 apresenta imagens de satélite 10 GOES IR (visível e realçada), representando a forte atividade convectiva sobre a área de estudo. Figura 1 Imagens de satélite GOES 10 visível (esquerda) e IR realçada (direita), corresponde às 18:00 UTC. Notam-se topos de nuvens bem frios, inferiores aos -65C, em vários núcleos convectivos detectados no cone leste de SP, no sul de Minas Gerais (MG) e no Rio de Janeiro (RJ). Figura 2 apresenta as descargas elétricas acumuladas ao longo do dia 16/10/2008. Observa-se que várias localidades do Vale do Paraíba e inclusive a cidade de São Paulo, foram atingidas por descargas elétricas a partir da tarde e o início da noite (representado pela cor amarela/laranja).

2 Figura 2 Descargas elétricas acumuladas durante o dia 16/10/2008. Na Figura 3, apresenta-se o campo de densidade de descargas elétricas nuvem-solo para o dia analisado. Nesta imagem, a escala de cores é dada pela densidade relativa das ocorrências, sendo a mesma determinada automaticamente para cada imagem. Os tons em vermelho indicam áreas de maior densidade de ocorrências de descargas elétricas, denominadas Centros de Atividade Elétrica (CAEs). Estes CAEs apresentam dois máximos sobre o o cone leste de SP, um próximo da Capital e o outro na região do Vale Histórico.. Figura 3: Campos de densidade de descargas elétricas Identificação de Centros de Atividade Elétricas (CÃES)

3 A análise sinótica feita pelo Grupo de Previsão do Tempo (GPT) mostra às 18Z (Figura 4), a presença de uma frente fria em superfície na altura do Estado de Santa Catarina (SC). Mais ao norte nota-se a presença de um cavado se estendendo desde o sul de SP em direção ao noroeste deste Estado. Este sistema de pressão em superfície ajudou a aumentar a convergência de massa sobre o centre e leste de SP, incluindo a região de estudo. Figura 4 Carta sinótica de superfície das 18z do dia 16/10/2008 Na troposfera média e alta (Figura 5), observa-se a presença de uma crista sobre o interior do Brasil (Figura 5, esquerda), afetando diretamente to o Estado de SP. Este sistema dinâmico veio atuando já alguns dias, favorecendo a inibição de nebulosidade sobre grande parte do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. A falta de nuvens também fazia com que a radiação solar entrante seja máxima, e em conseqüência o aquecimento diurno era muito significativo. Também havia um aquecimento adicional da troposfera média, provocado pela própria compressão adiabática gerada pelo anticiclone. Cabe ressaltar que durante este dia as temperaturas máximas na região analisada atingiram valores superiores aos 30C.

4 Figura 5 Carta sinótico de 500 hpa (esquerda) e de 250 hpa (direita) das 18z do dia 16/10/2008 A análise da componente termodinâmica (Figura 6) mostra valores de índices de instabilidade típicos de tormentas severas associadas com queda de granizo. Observam-se valores de LIFTED (Figura 6 a) em torno de -4 sobre grande parte do leste de SP e o RJ. Notam-se também valores elevados de K (linhas contínuas grossas), em torno de 40 (Figuras 6 b) e valores relativamente baixos de SWET. Os valores baixos deste índice indicam que neste dia havia pouca baroclinia, isto significa uma forte componente barotrópica. Um fato interessante foi a presença de altos valores do índice VT (Figura 6 c), acima de 28. Esta é uma característica clássica associada a eventos de queda de granizo. O índice cape (Figura 6 d) também esteve bem elevado, acima de 2000, refletindo de alguma maneira a presença de valores extremos de temperaturas máximas.

5 a) b) c) d) Figura 6 Índices de instabilidade observados em 16/10/2008 às 18z. a) LIFTED (linhas vermelhas), b) índice K (linhas) e SWEAT (sombreado), c) Total-Total (tracejado), Vertical Total (VT) (verde) e c) CAPE (sombreado) Analisando o perfil vertical da atmosfera no aeroporto de Galeão, no Rio de Janeiro (RJ) (Figura 7), nota-se um perfil atmosférico bem instável, coerente com o descrito anteriormente através da análise da Figura 6. Figura 7 Perfil vertical da atmosfera no aeroporto de Galeo RJ, no dia 16/10/2008, às 00Z