Convênio de Intercâmbio de Pesquisa e Mobilidade entre a Universidade Estadual de Santa Catarina e Université de Perpignan Via Domitia
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- Angélica Álvares Gonçalves
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1 Convênio de Intercâmbio de Pesquisa e Mobilidade entre a Universidade Estadual de Santa Catarina e Université de Perpignan Via Domitia Grupos firmantes del convenio: NEAB/UDESC 1 y el GRENAL 2 PLANO DE TRABALHO 1 1. TÍTULO Os Estudos africanos e das conexões Atlânticas 2. A PROPOSTA E SEUS OBJETIVOS Identificação do objeto a ser executado O primeiro e principal objetivo do intercâmbio aqui proposto é estabelecer o diálogo científico e crítico entre estudiosos interessados na História, culturas, histórias e artes da África e da diáspora africana nas Américas e Caribe. 2.1 Metas a serem atingidas: 1- Intercâmbio de docentes e pesquisadores (dependendo de financiamento); 2- Desenvolvimento de projetos de pesquisa conjuntos; 3- Desenvolvimento de programas de ensino e extensão conjuntos; 4- Promoção de palestras e simpósios; 5- Intercâmbio de informação e de publicações acadêmicas; 6- Intercâmbio de estudantes de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. 7- Apoio à construção de revistas científicas e divulgação ampla das pesquisas. 8- Troca constante de livros, Anais e Revistas de grupos, centros de pesquisa, (e com possibilidade de intercâmbio entre colegas africanos, afro-latinos e caribenhos)
2 3. JUSTIFICATIVA OS ESTUDOS AFRICANOS E AFRODESCENDENTES NO BRASIL E AS NOVAS PERSPECTIVAS DE PESQUISAS O historiador Philip Curtin, em artigo seminal sobre historiografia africana, diz que o desinteresse dos estudos pela História África e de suas diásporas) foi transformado completamente em duas décadas. Em 1950 não havia (estudiosos e) historiadores que pesquisavam esse tema, mas em 1970, já havia nas universidades cerca de quinhentas teses cujo tema era a África. Os motivos das mudanças tinham uma conjuntura internacional favorável: o fim da II Guerra Mundial, a efervescência dos movimentos de independência do colonialismo na África(s), e a fundação de novas universidades no continente na década de Nesse momento, exigia-se dos professores que lecionavam nas universidades africanas e nos institutos de formação pedagógica uma abordagem afroc no ensino da história e nas pesquisas. Fruto desse movimento de renovação dos estudos foi a ida de africanos para estudar nos países colonizadores. Por outro lado, os historiadores ingleses que trabalhavam nas universidades africanas aderiram às novas perspectivas de escrever a história africana: John Fage ensinava na Universidade de Ghana, J. D. Hargreaves na Universidade Forah Bay, Serra Leoa; Christopher Wrigley e Cyril Ehrlic na Makerere College School, Uganda. Movimento semelhante ocorreu nos países de colonização francesa. 3 Nas Américas e Caribe, o progresso era mais lento. Certa exceção pode ser feita para a América do Norte. William Leo Hansberry da Howard University desenvolveu uma campanha para a inclusão do ensino de História da África nas universidades americanas. Philip Curtin, diz que mesmo no Brasil, onde havia simpatia manifestada pela cultura afroamericana não houve um interesse pela África nem por sua história. 4 Quais foram as razões desse silêncio? 3 Philip Curtin. Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história da África em geral. In: J. Ki-Zerbo (org). História Geral da África. Vol. 1. Metodologia e pré-história da África. Brasilia: UNESCO, 2010, p.50. Diferentemente, nos países de colonização portuguesa, nenhuma universidade foi aberta. A única exceção foi a criação em 1962, dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique, porém quase restrito aos portugueses e seus descendentes que viviam na colônia. 4 Philip Curtin. Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história da África em geral. Op. Cit.
3 Após a extinção oficial do tráfico de escravos ( , globalmente em Américas/Caribes), o Brasil praticamente encerrou os diálogos com a outra parte do Atlântico. Somente retomando efetivamente as relações quando da Independência de Angola, em Atitude pragmática da incipiente política diplomática brasileira que pretendia usar Angola como porta de entrada da expansão da economia brasileira nos mercados africanos. 5 Os anos subsequentes tiveram poucos avanços nas relações internacionais entre Brasil e África. Mesmo quantitativamente falando. Faltava agenda política do governo brasileiro e dos embaixadores no continente. Esse quadro mudou significativamente no governo Lula ( ), cujo Ministério das Relações Exteriores avançou na abertura de novas embaixadas e nos acordos de cooperação. Importante destacar que o crescimento dos estudos africanos e afrodescendentes no Brasil se deve a quatro principais motivos: a) o interesse do governo brasileiro em ampliar sua política diplomática no continente; b) a busca por novos mercados consumidores nas nações emergentes africanas; e c) a Lei , criada em 2003, que passou a obrigar o ensino de História da África em todos os níveis da educação; d) o interesse da academia pela história dos africanos e afro-brasileiros. 3 No campo das pesquisas sobre a África e os africanos e suas diásporas, as ideologia racialistas que vigoraram no Brasil e América Latina e Caribe no final do XIX e início do século XX levaram os pesquisadores destas regiões a tratar indevidamente, ou ignorar, a participação africana em sua formação cultural, racial e social, influenciados por preconceitos originários da sociedade escravista, entre os quais os ideais de branqueamento das populações brasileira e latino-americana, nutridos, desde meados do século XIX, por boa parte das elites nacionais 6 e trasnacionais. No caso do Brasil, por exemplo, como observou Beatriz Mamigonian, os estudos sobre os africanos podem ser resumidos em quatro fases. A primeira, inaugurada pelo médico Nina Rodrigues, que escreveu sua obra no início do século XIX, publicada tardiamente em Apesar de influenciado pelas teorias raciais e pelas ideias de inferioridade dos negros, as pesquisas dele tinham o objetivo de identificar as heranças africanas (físicas e culturais) no Brasil. Nos Anos 30, Gilberto Freyre marcou a segunda fase dos estudos. Freyre defendia a valorização da herança africana, como elemento importante para defender a miscigenação 5 DÁVILA, Jerry. Hotel Trópico: Brasil e o desafio da descolonização na África. São Paulo: editora Paz e Terra, LIMA, Mônica. A África na sala de aula. Obrigatoriedade de ensinar história e cultura africanas é o novo desafio dos professores brasileiros. Revista Nossa História
4 como ponto fundamental da identidade nacional brasileira. Nos Anos 50 e 60, estudiosos como FHC, Florestan Fernandes e Emília Viotti da Costa, entre outros, combateram a ideia de democracia racial presente na obra de Freyre, e preocuparam-se com as relações raciais e com as experiência das populações africanas no Brasil. A quarta geração, Anos , fortemente inspirada pelos teóricos da história social da escravidão, pesquisou as relações entre os escravos e o cotidiano do cativeiro. A partir dos estudos sobre identidades, apareceram os interesses sobre as etnias de origem dos africanos e suas experiências históricas. 7 4 De 2000 a 2010, nos programas de Pós-graduação em História das universidades brasileiras, cerca de 60 teses foram defendidas sobre estudos africanos e as relações entre África e Brasil 8. Em grande medida, ainda continua valendo a premissa de Nina Rodrigues os historiadores e antropólogos brasileiros estudam a África e os africanos para compreender o Brasil. Por outro lado, tem surgido outras investigações cujo foco não são apenas as relações comerciais e culturais entre Brasil e o continente africano, mas entender as dinâmicas de cada sociedade em suas relações internas e externas, seja com o Atlântico ou o Índico. A África Atlântica é um dos temas preferidos dos pesquisadores brasileiros 9, principalmente as regiões que correspondem os atuais países Angola, Benin e Nigéria. Justamente, porque as relações dessas praças com o Brasil foram mais frequentes durante o apogeu do tráfico de escravos e de outros produtos. Portanto, ainda perdura o interesse dos historiadores brasileiros na escravidão e na busca de entender o Brasil através da África. A emergência e fortalecimento da Atlantic History, inaugura um distinto modo de investigar as relações que buscam integrar a Europa, África e Américas de um ponto de vista que transcende as narrativas tradicionais do ponto de vista dos estados-nação e privilegia as conexões humanas acima tudo. Nathaniel Millet enfatiza que a história é mais ampla do que as relações entre África e América y Caribe, (assim como entre Europa e África). Apesar da 7 MAMIGONIAN, Beatriz. África no Brasil: mapa de uma área em expansão. Topói, n.9, v.5, p.33-53, 2004, p SANTOS, Vanicléia S. A Escrita da História da África no Brasil ( ). A primeira versão desse paper foi apresentada no LABEPH-UFMG (2011), outras versões modificadas foram apresentadas em outros eventos: III Seminário Áfricas, UNEB (2011), II Seminário Nacional Práticas Sociais, Narrativas Visuais e Relações de Poder: visões contemporâneas, Universidade Federal de Viçosa (2011), XXII Encontro da AULP- Maputo (2012), e no VI COPENE UDESC-Florianópolis (2012). 9 De modo geral, a historiografia brasileira tem dedicado atenção para os países de africanos de colonização portuguesa, certamente pela facilidade de leitura das fontes e bibliografia.
5 escravidão, existiam muitos elementos comuns entre europeus, africanos e americanos e suas religiões, por exemplo. 10 Dentre as várias críticas feitas ao conceito de História Atlântica, diz-se que é uma construção artificial e que isso não reflete uma visão de mundo contemporânea aos sujeitos, pois suas vidas não eram alteradas pelos movimento realizados pelo Oceano Atlântico. Mas os historiadores tem mostrado que mesmo não havendo circulação de pessoas, havia circulação de ideias, coisas, línguas, simbologias, que em maior, ou menor medida eram aprendidas por todos, europeus, africanos e ameríndios. O Atlântico não era uma mera entidade geográfica, as fontes podem ecoar as vozes desses sujeitos que tinham perspectivas globais e concepções universais dentro de suas especificidades A proposta desse convênio é 1) favorecer maior complexidade nas percepcões de Áfricas, Américas, Caribe, de suas culturas e povoadores no continente e nas diásporas. 12 2) fortalecer os contatos entre os pesquisadores interessados em estudos africanos e o sistema de Atlântico de trocas, comércio, conflitos e formação das novas sociedades engendradas pela presença de africanos, europeus e americanos. 3) dar maior visibilidade nas agendas universitárias a temas ligados à cidadania negra, afrodescendente e reforçar sua importância e co-pertencimento às Américas/Caribe, para além de um afrocentrismo MILLET, Nathaniel. An analisis of the role of the study of the African Diaspora within the field of the Atlantic History. African and Black diaspora: an international Journal, Chicago, n.1, 2011, p MILLET, Nathaniel. An analisis of the role of the study of the African Diaspora within the field of the Atlantic History. Op. Cit. 12 LAVOU ZOUNGBO, Victorien. Du migrant-nu au citoyen différé. Presses Universitaires de Perpignan, 2011; APPIAH, Kwame Anthony. In my father s house Africa in the philosophy of culture. Oxford University Press; MUDIMBE, Valentin. The idea of Africa. Indiana University Press, MOODIE, Quince Duncan e LAVOU ZOUNGBO, Victorien (eds), Puerto Limón (Costa Rica). Formas y prácticas de auto/representación. Apuestas imaginarias y políticas. PUP, Francia, 2012.
6 4. ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS - ETAPAS OU FASES DE EXECUÇÃO O plano de trabalho entre os grupos das duas universidades consiste em: 1) Intercâmbio docente para realização de estágios de professores visitantes em ambas as instituições, doutorados sanduiches, e pós-doutoramentos. 2) Definição conjunta de uma problemática comum que pode levar à organização de eventos científicos inovadores (Conferências, Simpósios, Congressos Internacionais) Dias de pesquisa, seminários, etc) ou publicação nas margens ou Les Cahiers du Colecção Crilaup e na Coleção África-Brasil 6 3) Publicação conjunta de papers, capítulos em livros e revistas especializadas; 4) Promover futuramente programas interinstitucionais 5) O Grenal pode contribuir para a publicação dos processos, livros ou números sobre o inovador Afro-América. Neste caso, o projeto será periciado anonimamente por dois membros do Conselho Científico do Grenal, 1 ou 2 membros Americanistas do Conselho Científico (CRILAUP). Depois, o especialista abre o processo de publicação pela editoras Universitárias de Perpignan em margens ou Cahiers du Crilaup (um aporte financeiro será necessário neste caso). 6) Idiomas dos intercâmbios: português, inglês, espanhol, francês 5. FONTES DE FINANCIAMENTO Ambas instituições deverão buscar os financiamentos nas universidades e agências de pesquisas de pesquisa de seus respectivos países ou em fontes de outra natureza. 6. PREVISÃO DE INÍCIO E FIM DE EXECUÇÃO: Este Plano de Trabalho será executado a partir de outubro de 2012 e será válido por um período de 05 anos
7 Paulino Jesus Cardoso Professor Universidade Estadual de Santa Catarina UDESC Brasil Victorien Lavou Zoungbo Coordinateur du GRENAL-CRILAUP Professeur des Universités Francia 7 Brasil,, de Francia de 2012
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