ESTÁGIO REMUNERADO X ESTÁGIO SUPERVISIONADO: REALIDADE E DESAFIOS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

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1 ESTÁGIO REMUNERADO X ESTÁGIO SUPERVISIONADO: REALIDADE E DESAFIOS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES INTRODUÇÃO Autora: Elisama Queiroz Baisch Instituição: Universidade Católica de Petrópolis Este artigo surge como uma análise preliminar de uma proposta de estudo dentro do grupo de pesquisa sobre formação de professores (GeProf), orientado pela Professora Menga Lüdke, na Universidade Católica de Petrópolis (UCP)/RJ, uma vez que se despertou o interesse pelo objeto estágio remunerado, ainda não muito bem estudado entre nós, mas muito difundido no meio acadêmico, especialmente na área da pedagogia e das licenciaturas. Muitos estudantes destes cursos, antes mesmo de passarem pelo estágio supervisionado, já enfrentaram a sala de aula e se colocaram como professores em estágios remunerados, assumindo papéis profissionais sem ao menos ter a experiência anterior em meio próprio e teorizado (mundo universitário). A partir desta realidade, buscamos procurar entender o papel do estágio remunerado na formação inicial de professores e como está ocorrendo esse momento na construção da identidade profissional do egresso professor. O estágio remunerado é um instrumento encontrado pelos alunos dos cursos de licenciatura e de pedagogia para suprir suas necessidades financeiras e intelectuais, já que o estágio supervisionado é visto por muitos como algo fictício na grade curricular, não correspondendo ao seu verdadeiro papel no processo de formação de professores (LÜDKE, 2012). Em função disso, procuramos pesquisar a respeito do estágio remunerado utilizando-se de entrevistas com roteiro semi-estruturado com seis alunos dos cursos de Pedagogia e de licenciatura em Letras que se submeteram a este tipo de estágio para percorrer o universo desse modelo de ensino, que, apesar de não conter orientações formais, parece contribuir mais fortemente com a identidade profissional do professor em formação. A partir das entrevistas, realizamos uma análise das falas dos alunos, traçando um estudo comparativo entre o estágio supervisionado e o estágio remunerado. Iniciaremos fazendo uma breve descrição da pesquisa e, em seguida, apresentaremos os resultados e discussão do trabalho, finalizando com as considerações finais, traçando sugestões para a melhoria da qualidade de ensino dos nossos futuros professores. Procedimentos Metodológicos 4891

2 3 2 A pesquisa foi realizada na Universidade Católica de Petrópolis (UCP) com seis alunos dos cursos de Pedagogia e de licenciatura em Letras, sendo quatro do primeiro curso e dois do último. O método de coleta de dados foi por meio de entrevista com roteiro semi-estruturado, contendo 16 (dezesseis) questões elaboradas pela professora Menga Lüdke, coordenadora do Geprof (grupo de estudo sobre formação de professores). As entrevistas foram realizadas no período entre 01/08/2016 a 05/11/2016, tendo sido todas gravadas e transcritas, com o consentimento de todos os entrevistados. Resultados e Discussão Os seis alunos entrevistados eram: cinco do sexo feminino e um do sexo masculino. As idades variavam entre 19 e 24 anos, e todos cursavam o último ano de seus respectivos cursos. Cinco alunos já haviam passado pelo estágio remunerado, tendo apenas uma aluna que ainda realizava este tipo de estágio. Uma das reclamações mais frequentes dos alunos entrevistados quanto ao estágio supervisionado foi o tempo destinado para tal, que não permitia uma integração plena entre estagiários-professor regente-alunos, não se construindo uma rede de saberes e de conhecimentos prático-teóricos, além de não garantir ao docente-aprendiz a autonomia necessária para ter domínio sobre teorias aprendidas na academia (SANTOS, 2005). Outro questionamento recorrente na fala dos alunos é a desarticulação dos estágios supervisionados com o currículo dos cursos. A grade curricular parece ser estruturada em desalinho com o que é proposto nos estágios, não havendo uma relação de complementaridade entre eles (SANTOS, 2005; LÜDKE, 2012 e 2013). Além disso, todos os alunos afirmaram a ausência de uma postura ativa em seus estágios, permanecendo apenas em observação, e não assumindo as turmas como verdadeiros professores. O estágio remunerado, como o próprio nome nos remete, é pago por uma instituição, que pode ser pública ou privada, ao aluno/estagiário, sendo exercido por um período de 6 (seis) meses, podendo ser prorrogado por igual período, mais uma vez. A entrada dos alunos nas escolas ou em outras instituições, como secretaria de educação ou escolas do sistema S, acontece por intermédio do CIEE, Centro de Integração Empresa Escola, uma empresa privada que oferece estágios a alunos de diversas graduações e faz uma ligação entre estes e as empresas participadoras. O processo é extremamente burocrático, sendo exigidos muitos documentos para a obtenção do 4892

3 4 estágio. Ao contrário, nos estágios supervisionados oferecidos pelos cursos de pedagogia e de licenciatura de letras da UCP, os alunos desconhecem a existência de um manual do estagiário, elaborado desde 2011 pelos professores do Centro de Teologia e Humanidades (CTH) desta mesma universidade, assim como não são apresentados a nenhum tipo de documento como o termo de compromisso, documento exigido pela legislação pátria para a realização formal dos estágios curriculares. Grande parte dos estágios oferecidos pelas escolas públicas via o CIEE são para exercerem a função de auxiliares dos professores regentes, mas os alunos entrevistados não tiveram essa experiência por muito tempo, assumindo turmas como professores já formados e tendo que lidar com problemas e questionamentos próprios do cotidiano de sala de aula. Exemplo disso foi um dos entrevistados, aluno do curso de pedagogia da UCP, que fez estágio remunerado em uma escola pública localizada no bairro Cascatinha, em Petrópolis, RJ, tendo como funçãoauxiliar para alunos especiais de uma turma de educação infantil. Sua duração neste cargo foi de apenas 3 semanas, tendo sido deslocado para uma turma de primeiro ano do ensino fundamental, mas não mais como auxiliar e sim, como professor regente da referida turma. Permaneceu neste posto por um ano e três meses. O aluno/professor entrevistado, naquele momento, cursava o primeiro período do curso de pedagogia, não apresentando, ainda, referencial teórico suficiente para enfrentar uma turma com 24 alunos. O estágio remunerado permite aos alunos/ futuros professores a possibilidade de aprender a fazer, de aprender o ofício do professor, mas também permite aprender a trabalhar com outras questões, como o comportamento de alunos, diretores de escola, pais e responsáveis, outros funcionários da escola e com os próprios professores (SANTOS, 2005). Uma das alunas entrevistadas faz estágio remunerado na parte administrativa do Senac de Três Rios, município do Estado do Rio de Janeiro, cuidando da área pedagógica dos cursos profissionalizantes oferecidos pela organização, e pôde perceber em seu estágio como é a dinâmica da administração educacional, confrontando pais, professores e alunos, e tentando mediar todo esse processo. Tem acesso a toda a documentação do setor, lidando com pautas de professores e planejamentos de aula, além de reuniões com pais e alunos. Há 6 meses no estágio, acredita ter aprendido muito mais nele do que em seu estágio supervisionado de gestão escolar, espaço em que não teve acesso a nenhuma documentação, bem como a nenhuma reunião com pais e 4893

4 5 professores. Não se sentia parte da escola, e passava as horas em total observação, mas sem observar nada, pois nada lhe era permitido ver ou tocar. Para os alunos entrevistados, o estágio remunerado foi a maneira mais intensa e real de aprender a ensinar, de confrontar os teóricos presentes na universidade na prática da sala de aula, de entender o universo da educação e compreender as habilidades e competências que são importantes para o professor enquanto profissional do ensino e do saber (SANTOS, 2005). Todos foram unânimes em dizer que o estágio remunerado teve importância crucial na sua formação, pois jamais saberiam o que é ser professor ou como atuar em sala de aula se tivessem apenas o contato oferecido pelos estágios supervisionados. Esta valoração tão intensa do estágio remunerado se dá pelo total domínio que os futuros professores têm do ambiente de trabalho e dos alunos, permitindo a sua livre atuação e o seu comprometimento com a profissão escolhida (LÜDKE, 2013). Considerações finais, porém não findadas Assumir determinadas posturas ou ideias a partir desse pequeno estudo seria pretensioso demais. O grupo de pesquisa da professora Menga, intitulado Geprof, já avança a passos largos nos estudos sobre estágios, com várias contribuições no meio acadêmico. No entanto, mesmo com tantas pesquisas e discussões, algumas lacunas ainda persistem no processo da formação de professores. Os estágios remunerados, apesar de serem um trabalho de baixa remuneração para alguns alunos, parecem tomar uma dimensão muito maior do que efetivamente têm no mundo real. A contribuição do artigo é tentar levantar questionamentos sobre a validade deste tipo de estágio para a formação dos nossos futuros professores. Parece bastante evidente a importância dos estágios para a formação profissional em qualquer área, e em especial, para a formação de professores. Sem a confrontação da prática, os alunos da universidade, em contato apenas com os teóricos e com aulas expositivas, não seriam capazes de instrumentalizar a teoria, dando vida ao que apreenderam nas suas salas de aula. O estágio é a maneira mais viva e dinâmica de articular a formação teórica e a prática ao longo do curso de formação, articulando também a convivência entre duas instituições formadoras, a escola e a universidade. 4894

5 6 Os alunos entrevistados abordaram claramente a sua insatisfação com os estágios curriculares, pois estes não atendiam aos objetivos propostos no currículo de seus cursos. O pequeno número de horas em estágio, a falta de comunicação entre a universidade e a escola, a não aceitação dos estagiários pelo grupo da escola, a inércia do aluno/futuro professor diante do trabalho docente, o não comprometimento do professor supervisor da universidade nem do professor regente da escola com a formação do estagiário, a ausência de uma discussão crítica e reflexiva sobre o trabalho do futuro professor são algumas das questões levantadas pelos alunos, que buscam com o estágio o momento de troca de experiências e possibilidade de partilhas com o professor da escola básica, para construírem, juntos, sua formação profissional. Nesse sentido, o estágio remunerado proporcionou aos alunos/futuros professores condições de aprendizagem inerentes aos estágios curriculares, assumindo a função de mediador entre a teoria e a prática, e assim, sendo percebido como fundamental na formação dos egressos professores. Não se pode mais negar a existência destes estágios e a sua importância como co-formadores do professor na sua formação inicial, devendo a legislação pátria assumir seu papel orientador para a regulação destes e para a fiscalização mais efetiva do Estado e das universidades sobre tais estágios. O trabalho traz em si os questionamentos do grupo de pesquisa da Prof. Menga Lüdke e entende que novos estudos devem ser realizados para confrontar os dados obtidos neste primeiro e aprimorar o conhecimento acerca dos estágios remunerados, preenchendo as lacunas atualmente existentes. Referências Bibliográficas LÜDKE, M. O Estágio supervisionado analisado a partir da atuação dos seus componentes: projeto de pesquisa, CNPQ. Petrópolis: UCP, LÜDKE, M. O lugar do estágio na formação de professores. Revista Educação em Perspectiva, Viçosa, v. 4, n. 1, p , jan./jun SANTOS, H. M.. O Estágio Curricular na Formação de Professores: Diversos Olhares.28 Reunião Anual da Anped, Disponível em: