AUTO DA BARCA DO INFERNO A MORALIDADE EM GIL VICENTE

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1 0 DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA LITERATURA PORTUGUESA PROFESSORA: MARIA ELVIRA JOÃO BOSCO DA SILVA AUTO DA BARCA DO INFERNO A MORALIDADE EM GIL VICENTE FEIRA DE SANTANA BAHIA 2008

2 1 Definição: foi classificado pelo próprio autor como um auto de moralidade. Época: Escrita por volta de 1517 representa o juízo final de forma satírica e com forte apelo moral. Cenário: é uma espécie de porto com duas barcas aguardando os mortos: uma para o inferno (comandada pelo diabo), e outra para o paraíso (comandada por um anjo). No começo do Auto o anjo divide o palco com o diabo e o seu companheiro. Os dois últimos estão muito eufóricos enquanto realizam os preparativos da sua barca, pois sabem que ela partirá repleta de almas. Essas posturas assumidas acentuam ainda mais a tradicional oposição entre o Bem e o Mal. As poucas falas, que fazem do anjo uma figura quase estática, se contrapõem à alegria e ironia do diabo. Chegam os mortos: 1. UM FIDALGO (NOBRE): Motivo da condenação: por seus pecados, tirania e luxúria. Veredicto: o inferno, mas arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Tenta convencer o diabo a deixá-lo a rever sua amada, mas o diabo o convence que ela o estava enganando. 2. UM AGIOTA (ONZENEIRO): Chama o diabo de meu parente. Motivo da condenação: ganância e avareza. Veredicto: o inferno.pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido. 3. O PARVO (TOLO, INGÊNUO): Motivo da condenação: ingenuidade. Veredicto: o céu. O anjo destacou a sua humildade e permitiu-lhe ir para o céu. 4. UM SAPATEIRO: Motivo da condenação: enganou muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo.

3 5. FRADE E SUA AMANTE: Motivo da condenação: por falso moralismo religioso. Quando vai entrar na barca, como representante religioso, pensou que teria perdão. 6. BRÍSIDA VAZ, FEITICEIRA E ALCOVITEIRA: Motivo da condenação: por prostituição e feitiçaria. 7. JUDEU ( CRISTÃOS NOVOS"): Chega acompanhado por um bode, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Motivo da condenação: acusado de não aceitar o cristianismo e por tentar subornar o diabo, que aceita leva-lo com o seu bode rebocado, fora da sua barca. Obs: O preconceito anti-semita de Gil Vicente segue o espírito da época, durante o reinado de dom Manuel, de 1495 a 1521, quando muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram tiveram que se converter ao cristianismo ("cristãos novos"). 8. REPRESENTANTES DO JUDICIÁRIO: (O corregedor e o procurador): Eles começam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo, conversando sobre os crimes que cometeram juntos, mas o Anjo não permite que eles embarquem. Esses dois personagens utilizam em suas defesas vários termos em Latim, misturados à Língua Portuguesa (adulterando e corrompendo as Línguas, usando de má fé, a linguagem dos juristas) Motivo da condenação: por manipularem a justiça em benefício próprio. 9. O ENFORCADO: Que ainda traz a corda no pescoço usada no seu enforcamento. Ele acredita que a morte na forca o redime dos seus pecados, mas isso não ocorre e ele é condenado. Tudo indica que ele cometeu vários crimes em nome de seu chefe Garcia Moniz. Motivo da condenação: por crimes e corrupção. 2

4 10. QUATRO CAVALEIROS: São os últimos personagens a entrar em cena, que morreram nas cruzadas em defesa do Cristianismo e por isso eles são recebidos pelo anjo. Motivo da condenação: morreram defendendo o cristianismo. Veredicto: o céu. São recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente. Com a chegada dos quatro cavaleiros a peça chega a final. INFORMAÇÕES TÉCNICAS TEMA DO AUTO : o mundo ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal; o bom e o ruim. a) O bem: Os personagens que vão para o céu são cristãos e puros. b) Mal: todos os que foram para o inferno são materialistas e possuem apego à vida. Trilogia: O "Auto da Barca do Inferno" faz parte de uma trilogia (Autos da Barca "da Glória", "do Inferno" e "do Purgatório"). Escrito numa época de transição da Idade média para a Idade Moderna, o Auto" é uma peça de pequena representação teatral, de origem na Idade Média. Tinha de início um caráter religioso, mas depois se tornou popular, para distração do povo, inclusive em Portugal, onde Gil Vicente (1465-c. 1537) a introduziu, ligado tanto ao medievalismo quanto ao humanismo. Esse conflito faz com que Gil Vicente pense em Deus (característica típica do mundo medieval) e ao mesmo tempo exalte o homem livre. Tipo de versos: escrito em versos de sete sílabas poéticas (redondilhas maiores); As rimas: São preponderantemente ABBAACCA, mas às vezes as rimas e a métrica são quebradas. A linguagem: é coloquial (é através das falas que podemos classificar a condição social dos personagens); 3

5 Sátira social: A obra também está religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval, com uma sátira social e implacável, colocando em prática o lema de que é "rindo que se corrigem os defeitos da sociedade". A obra serve para nos mostrar as feridas sociais de seu tempo, e na mensagem final a realidade por trás desses risos é um tanto pessimista. Tempo: é psicológico. Como todos os personagens estão mortos, perde-se a noção do tempo; Estrutura: possui um único ato, dividido em cenas, nas quais predominam os diálogos entre as almas, que estão sendo julgadas, com o anjo e com o diabo. Os personagens: com exceção do anjo e do diabo, são típicas pessoas da sociedade da época, designados pela ocupação social que exercem. REFERÊNCIA VICENTE, Gil. A barca do inferno. São Paulo: FTD,