O surgimento da civilização mesopotâmica

Transcrição

1 Mesopotâmia O surgimento da civilização mesopotâmica Mesopotâmia significa terra entre rios. Chamamos assim a região entre os rio Tigre e Eufrates, que nascem nas montanhas da Armênia e deságuam no Golfo Pérsico. A Baixa Mesopotâmia já era habitada desde o período paleolítico. Quando da passagem para o Neolítico, os habitantes da região já haviam se mesclado com povos imigrantes que vinham do planalto iraniano. Entre 3200 e 2800 a.c., os primitivos sumérios povos não semitas (talvez de origem asiática) foram se estabelecendo no sul da Mesopotâmia. Os sumérios foram o primeiro povo da região a mostrar sinais de civilização: construção de cidades, portanto vida urbana,

2 criação de uma escrita, acentuada, divisão social do trabalho, organização de uma forma embrionária de Estado, divisão da sociedade em classes, religião institucionalizada, com sacerdotes profissionais. As comunidades agrícolas primitivas acabaram sendo submetidas a um poder político exercido pelos templos. Esses templos, controlados pelos sacerdotes, deram origem às cidades-estados, cada uma com um deus principal identificado com ela. Assim, a primeira forma de poder estabelecida na região tinha caráter essencialmente religioso. O rei, quando surgiu, herdou esse caráter sagrado: era considerado representante do deus na terra. Esse rei (patesi ou lugal) assumiu também a função de chefe militar. Era, portanto, um verdadeiro rei-sacerdote. Para facilitar a administração, os sacerdotes haviam criado o sistema de escrita cuneiforme: sinais abstratos, em forma de cunha, feitos em tabletes de argila. Utilizavam esta escrita para contabilizar a produção dos camponeses, registrar os feitos dos reis, conservar os rituais religiosos, registrar as leis, os tratados, os mitos etc. Os camponeses, como no Egito, não eram escravos: faziam parte de uma comunidade e produziam seus próprios alimentos, podendo-se considerá-los como coproprietários das terras. Os templos tornaram-se mais sofisticados arquitetonicamente, o que supõe planificação cuidadosa e elaborada, revelando a existência de arquitetos profissionais. O comércio já era bastante desenvolvido. Já se comercializavam alimentos e gado com a Índia, o Elam, a Síria e o Egito. A atividade artesanal já se consolidara por volta de 2500 anos a.c., Em escavações recentes foram encontradas jóias de ouro, adagas, cinzéis, camas, barcos, e harpas, o que indica que já havia músicos. Entre os anos 2500 e 2300 a.c,. desenvolveu-se a dinastia de Lagash, que teve como destaque o rei Ur-Nanshe, que dominou várias cidades da região.

3 Akkad: primeira tentativa de unificação A sobrevivência da Baixa Mesopotâmia dependia quase inteiramente dos rios. Daí a constância das lutas entre as cidades-estados pelas terras ao longo das margens, fertilizadas pelas cheias. Essa situação permaneceu até cerca de 2350 a.c., quando Sargão I iniciou a unificação da região. Sargão I estendeu seus domínios por toda a Mesopotâmia, pelo Elam e pela Síria. Estabeleceu a capital do seu império em Akkad, daí o nome da civilização acadiana. A rápida vitória de Sargão I sobre os sumérios pode ser explicada por duas razões: seu exército era mais ágil e utilizava o arco e a flecha. A tática de não destruir a cultura dos povos conquistados permitiu que elementos importantes da cultura sumeriana fossem conservados pela civilização acadiana. Após a morte de sargão, os povos dominados começaram a se revoltar, e o império foi perdendo seus domínios. Uma nova dinastia, estabelecida na cidade de Ur, unificou os sumérios e os acádios. Nessa época (2050 a 1950 a.c.), a região começou a sofrer invasões e, apesar do sistema de fortificações construído ao longo do Eufrates médio, não foi possível evitar a penetração dos cananeus e o desmembramento do Império Acádio. O sistema econômico e político A organização política da Mesopotâmia fundamentava-se no poder de um soberano divinizado, assessorado por burocratassacerdotes, que administravam a distribuição de terras, o sistema de irrigação e as obras hidráulicas. Esse sistema era bastante semelhante ao do Egito.

4 Os templos tinham funções que iam muito além das religiosas. Uma delas era a de fazer empréstimos de sementes mediante a cobrança de juros. O Império Babilônico A cidade da Babilônia formou-se depois do desmembramento do antigo Império Acádio. Em 1728 a.c., Hamurabi, o mais importante rei babilônico, submeteu grande parte da Mesopotâmia. Hamurabi fico conhecido na história como um dos primeiros legisladores. Na verdade, ele se inspirou em antigas leis feitas por Dungi, líder sumério-acadiano, para formular o primeiro código de leis de que se tem notícia. Esse código estabelecia a pena de talião: olho por olho, dente por dente. Os sucessores de Hamurabi lutaram contra vários povos asiáticos, como os cassitas e o s hurritas. Em 1513 a.c., a Babilônia foi tomada pelos hititas, terminando assim o 1 Império Babilônico. Até 1137 a.c., a Babilônia foi dominada por vários povos, mas conseguiu sua independência sob a liderança de Nabucodonosor. Após sua morte, a Babilônia caiu sob o domínio assírio. O Império Assírio Uma antiga população sumeriana fixou-se perto do curso superior do rio Tigre e ali se miscigenou com outros povos migrantes. Dessa fusão resultou um povo que ficou conhecido como assírio. Até 1450 a.c., os assírios dominaram todo o Império Babilônico setentrional. Os assírios passaram para a história como um dos povos mais belicosos da Antiguidade Oriental. A Assíria ficava localizada numa região de passagem. Talvez por isso, estando sempre sujeita a invasões, tenha o seu povo desenvolvido essa forte tendência militarista.

5 Economia, sociedade e política Estandarte de Ur, um grande painel de cerca de 2500 a.c., feito em materiais variados, como marfim, mármore e conchas. Neste fragmento podemos ver, nas duas tiras superiores, um desfile militar, com soldados e um carro de combate. Nas tiras inferiores, a comemoração da vitória, com um banquete com música e a apresentação do botim A economia assíria era baseada na agricultura, no comércio e nas rendas vindas das guerras, ou seja, do saque das regiões conquistadas. Os assírios desenvolveram o arado, os carros de guerra, as lanças e outras armas utilizando o ferro. A sociedade assíria era dividida em várias camadas: o rei, a aristocracia guerreira e os sacerdotes faziam parte da camada dominante; a seguir vinham os trabalhadores em geral (artesãos, camponeses livres); mais abaixo, os escravos. O domínio da terra estava nas mãos da casta sacerdotal e da Coroa. Os assírios também praticavam o comércio. A evolução histórica da Assíria A Assíria foi dominada pelo reino de Mitani entre 1450 e 1364 a.c. A partir daí, com a independência, iniciou-se seu processo de expansão. Por volta de 1112 a.c., estendeu seus

6 domínios do Mediterrâneo às montanhas da Armênia. As cidades de Assur e Nínive foram, uma após a outra, as capitais do império. A belicosidade, as armas de ferro e a tática militar dos assírios foram fatores decisivos para a expansão desse povo. A crueldade assíria não tinha limites: prisioneiros ou rebeldes eram sistematicamente torturados e mutilados. Por volta de 900 a.c., os assírios já haviam anexado vastos territórios ao sul e ao norte dos seus domínios originais. Pouco depois, anexaram Damasco (Síria), a Fenícia e o reino de Israel. A seguir foi a vez dos egípcios e dos medos serem dominados pelos assírios. No reino de Assurbanipal (668 a 626 a.c) o Império Assírio atingia uma grande área. Este soberano, além de guerreiro, se preocupava com a cultura, pois criou a biblioteca de Nínive, que possuía mais de 22 mil tabletes de argila com escritos sobre mitologia, História, astronomia etc. Mas esse grande império não tinha estabilidade interna. Suas fronteiras eram constantemente pressionadas. Os povos conquistados revoltavam-se e se recusavam a pagar os pesados tributos que os assírios lhes impunham. Consequentemente, o exército mercenário contratado pelos assírios não recebia seu saldo, e os soldados voltavam para suas regiões de origem. Uma aliança entre os medos e a babilônia pôs fim ao domínio assírio na região: as cidades assírias foram destruídas. O novo Império Babilônico 625 a 539 a.c Enquanto a Babilônia estava sendo sucessivamente dominada e libertada do jugo dos assírios, os caldeus tornavam-se o povo hegemônico na cidade-estado. Por essa razão, o novo Império Babilônico é conhecido também como o império dos caldeus.

7 Entre os anos 625 e 605 a.c., a Babilônia expandiu seus domínios sobre Elam, Mesopotâmia oeste, Síria e Palestina. Logo depois atingiu o seu apogeu, no reinado de Nabucodonosor II. A cidade foi remodelada e se construíram os famosos jardins suspensos. Nessa época, houve também a construção de um imponente zigurate (construção com vários andares, formando degraus). O zigurate foi uma construção típica da Mesopotâmia, cumprindo uma série de funções: templo, armazém, centro de trabalho artesanal, observatório astronômico A política externa de Nabucodonosor II foi marcada pela expansão militar: a vitória sobre o Egito e a ocupação do reino de Jerusalém são exemplos desse expansionismo. Após a morte de Nabucodonosor II, iniciou-se a decadência do Império Babilônico. Os sacerdotes passaram a exercer grande poder, diminuindo a autoridade do rei. Ao mesmo tempo, as fronteiras começaram a ser ameaçadas pelos persas e medos, que se uniram. A Babilônia foi conquistada pelo famoso rei persa Ciro II, em 539 a.c. Cultura e religião na Mesopotâmia Os sacerdotes sumérios e babilônicos desenvolveram importantes conhecimentos de astronomia. Essas observações dos astros tinham finalidades religiosas e práticas, como a de prever as cheias e as vazantes dos rios Tigre e Eufrates, fundamentais para a sobrevivência na região. Os babilônios dividiram o dia em 24 horas e a hora em 60 minutos. Desenvolveram a geometria, necessária à construção de diques, sistemas de irrigação e também de templos. A arquitetura nessa região destacou-se principalmente na construção de palácios, cujas paredes eram em alto-relevo. As portas das cidades eram ladeadas por touros alados. A religião na Mesopotâmia estava ligada à adoração dos astros celestes, mas também a vários elementos da natureza, como, por

8 exemplo, a água dos rios. Havia uma tríade de deuses sumérios que foram adotados pelos assírios e babilônicos: Anu, o deus céu, Enlil o deus atmosfera, e Enki-Eka, o deus das águas doces, nas quais o mundo flutuava. Houve uma grande simbiose sumério-acadiana em relação a seus deuses. A morte, na Mesopotâmia, era encarada de forma adversa dos egípcios. Quando os deuses pediam de volta o napishtu (sopro da vida), os homens iam para as profundezas da terra, uma espécie de inferno. Pouco se preocupavam cum uma possível vida após a morte. Estavam voltados para os problemas aqui na terra. casadaciencia.com