IMPORTÂNCIA DE CONSUMO DE DHA NA REDUÇÃO DE PARTOS PREMATUROS

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2 Prof a. Dra. Célia Regina Silva Mestre em Ginecologia pela FCMSCMSP Médica Ginecologista e Chefe do Ambulatório do Planejamento Familiar da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora de Pós-Graduação da Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, RJ. Diretora Fundadora da Associação Brasileira de Fitomedicina (SOBRAFITO). CRM-RJ Residual Omega Mater_MAR15.indd 2 23/03/15 12:07

3 IMPORTÂNCIA DE CONSUMO DE DHA NA REDUÇÃO DE PARTOS PREMATUROS A importância dos lipídios na nutrição e desenvolvimento humano é reconhecida há muitas décadas. Os ácidos graxos (AG) são constituintes estruturais das membranas celulares, cumprem funções energéticas e de reservas metabólicas, além de formarem hormônios e sais biliares. Dentro da diversidade dos AG, existem aqueles que o organismo tem capacidade de síntese, outros não. Esses AG cuja biossíntese é inadequada são denominados ácidos graxos essenciais (AGE): ácido linolênico (n-3) e ácido linoléico (n-6). Para suprir a demanda orgânica, os mesmos devem estar em quantidades suficientes na alimentação, vários estudos apontam que sua utilização traz benefícios para a saúde humana, prevenindo enfermidades cardiovasculares, câncer de cólon, doenças imunológicas e favorecendo o desenvolvimento cerebral e da retina. O OMEGA 6 (n-6) e o OMEGA3 ( n-3) são considerados precursores dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (AGPICL): Ácido araquidônico (AA), ácido eicosa-pentaenóico (EPA), e ácido docosahexaenóico (DHA). O ácido araquidônico (série n-6) tem grande importância nos primeiros meses de vida, sendo constituinte de estruturas celulares e precursores de mediadores inflamatórios. Estes ácidos graxos constituem um importante componente de todas as membranas celulares e influenciam sua fluidez e o comportamento de suas ligações com enzimas e receptores. A família de ácidos graxos n-3 é biologicamente relevante no período gestacional. Os ácidos graxos n-3 são considerados nutrientes essenciais ao organismo humano, sendo necessário sua obtenção por meio da dieta ou suplementação. A principal fonte destes ácidos graxos são os peixes de água fria. Estudos mostram diversos papéis dos ácidos graxos n-3 na saúde humana. Por se tratar de um alimento com propriedade funcional aprovada, os ácidos graxos n-3 tem sido amplamente consumidos pela população, principalmente em forma de suplemento. Os ácidos graxos n-3 exercem uma variedade de ações sobre a fisiologia e a função celular. Muitas das ações dos ácidos graxos n-3 exigem a ingestão acima de 1 g / dia, que são difíceis de alcançar através da dieta. Os benefícios do consumo de ácidos graxos n-3 podem ser obtidos tanto por meio do consumo de alimentos, como peixes gordurosos de águas fria, com também por meio da suplementação, que se torna necessária em alguns casos quando a ingestão por meio de alimentos não é suficiente. Os ácidos graxos poli-insaturados EPA e DHA são importantes durante toda a vida, incluindo seu uso durante a gravidez, por serem de grande importância para o desenvolvimento fetal apropriado, para uma gestação a termo, para diminuição da resposta imune em recém-nascidos, bem como para diminuição da incidência de alergias em lactentes. A associação do consumo do EPA e do DHA com uma gestação a termo tem uma importância clínica cada vez mais valorizada. Em 2005, nascimentos prematuros representaram 12,7% de todos os 3 Residual Omega Mater_MAR15.indd 3 23/03/15 12:07

4 nascimentos nos Estados Unidos, aumentando a probabilidade de complicações de saúde. O estudo Prematuridade e suas possíveis causas, divulgado em 2013, revelou que a prevalência de partos de crianças prematuras, ou seja, que ocorrem antes de a gestação completar 37 semanas é de 11,7% em relação a todos os partos realizados no nosso país. Esse percentual põe o Brasil no mesmo patamar de países de baixa renda, em que a prevalência é de 11,8%. Nos países de renda média, o percentual é de 9,4%, segundo o relatório Born too soon, divulgado pela Organização Mundial da Saúde, em Segundo um levantamento, coordenado pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, em 2010, feito com a participação de 12 universidades, entre as gestantes menores de 15 anos, o índice de partos prematuros é 10,8%. Entre as mães na faixa dos 20 aos 34 anos, 6,7% dos partos são prematuros. Uma gestação a termo é de extrema importância visto que a prematuridade está relacionada com várias doenças infantis, além de o parto prematuro ser um fator causal de 85% das mortes de recémnascidos sem más formações. Um mecanismo considerado pelo qual o EPA e DHA podem diminuir a incidência de parto prematuro é pela diminuição da produção de prostaglandina E2 e a prostaglandina F2a, reduzindo o status inflamatório intra uterino, que pode ser associado com trabalho de parto prematuro. Os pesquisadores perceberam que interferindo no equilíbrio das prostaglandinas no corpo, poderiam prolongar a gestação. A concentração de ácidos graxos ômega-3 na dieta tem efeito comprovado na duração da gravidez. Um trabalho (Olsen et al.) mostrou que a suplementação com cápsulas de óleo de peixe diminuiu em 21% a taxa de partos prematuros (diferença significativa sobre placebo), sendo que também foi observado prolongamento da gravidez com aumento dietético da ingestão de ácido graxo ômega-3. Horvath et al.,2007, realizaram uma meta-análise de 2007 sobre os efeitos da suplementação de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (AGPICL), em gravidezes de alto risco, em 4 estudos, e com base em 2 (Bulstra Ramakers et al., 1995; Olsen et al., 2000), concluiram que a suplementação de AGPICL ocasionaria redução de parto prematuro ( < 34 semanas de gestação; RR = 0,39, CI: 0,18-0,84). Szajewska et al., 2006, também em meta-análise, avaliaram os resultados do tempo gestacional em 6 estudos e concluiram que há um ligeiro aumento de duração da gestação com a suplementação de Omega 3. Ressalto os resultados satisfatórios de Olsen et al., 2000, que realizaram um estudo randomizado evidenciando aumento do tempo de gestação em um grupo de 495 mulheres com história de parto prematuro, restrição de crescimento intra-uterino, ou hipertensão induzida pela gravidez. A suplementação de DHA e EPA, a partir da 22ª semana de gestação promove aumento do EPA plasmático materno e do DHA materno e fetal até o parto, o que é considerado protetor para o feto. O trabalho prospectivo que comprovou essa elevação (de Krauss-Etschmann et al.,publicado em 2007) foi realizado em três países europeus, envolvendo 220 gestantes. 4 Residual Omega Mater_MAR15.indd 4 23/03/15 12:07

5 A suplementação de EPA + DHA reduziu o HR de parto prematuro por 44% (IC 95%: 14-64%), em gestantes que consumiram relativamente pequenas quantidades de peixe e 39% (IC 95%: 16-56%) naqueles que consumiram quantidades médias de peixe. Judge et al, em 2007, concluiram que as mulheres que tiveram suplementação de DHA na 24ª semana de gestação até o parto a termo, tiveram seus bebês no tempo adequado, de forma significativa (P = 0,019) mais do que as mulheres no grupo de placebo. Um estudo evidenciou que a suplementação de DHA após 21 semanas de gestação levou a menor número de nascimentos pré-termo (<34 semanas de gestação) no grupo DHA em comparação com o grupo controle (1,09% vs. 2,25%; RR ajustado, 0,49; IC 95%: 0,25-0,94; P = 0,03). Além disso, a média peso ao nascer foi de 68 g mais pesada (95% CI: g; P = 0,003) e um número menor de crianças era de baixo peso ao nascer no grupo DHA em comparação com o grupo controle (3,41% vs 5,27%; RR ajustado, 0,65; IC 95%: 0,44-0,96; P = 0,03). Inúmeros estudos associam maior consumo materno de DHA ou DHA e EPA com a duração da gestação. Ressalto 2 estudos sobre os efeitos da suplementação do DHA e EPA na prevenção de parto prematuro. Um estudo multicêntrico, na Europa, em que encontraram menor incidência de repetição parto prematuro entre as mulheres que tiveram um parto prematuro anterior com um suplemento de 2,4 g / d de n-3 e nos EUA, o NIH ( National Institute of Health) realizou um estudo semelhante,usando um suplemento de 2 g / d naquelas mulheres que não usavam peixe na dieta, mas as mulheres que relataram consumir uma refeição de peixe, tiveram uma adequação do suplemento. Os pesquisadores observaram uma diminuição na proporção de parto prematuro. Segundo a OMS, em 2010, nasceram 15 milhões de crianças prematuras, abaixo de 37 semanas de gestação. O Brasil está na décima posição entre os países onde mais nascem prematuros. A prematuridade é a principal causa de morte de crianças no primeiro mês de vida, segundo dados do Ministério da Saúde (2011), daí a importância de intervenções como a suplementação de Ômega 3, no segundo e terceiro trimestres de gestação podem influenciar beneficamente no binômio gestanteconcepto. Em função do estilo de vida moderno e do consumo de uma dieta desbalanceada e muitas vezes pobre em alimentos-fonte de ômega 3, se torna cada vez mais importante prestar atenção especial ao consumo de alimentos e/ou suplementos que forneçam ácidos graxos ômega-3 nas quantidades necessárias para a prevenção do parto prematuro e suas consequências. 5 Residual Omega Mater_MAR15.indd 5 23/03/15 12:07

6 Referências bibliográficas: Chowdhury, R et al. Association between fish consumption, long chain omega 3 fatty acids, and risk of cerebrovascular disease: systematic review and meta-analysis. British Medical Journal, Londres, v. 345, n. 30, p.1-9, 30 dez Wall, R et al. Fatty acids from fish: the anti-inflammatory potential of long-chain omega-3 fatty acids. Nutrition Reviews, Nova York, v. 68, n. 5, p , maio Swanson, D, Block,R, Mousa,SA.. Omega-3 Fatty Acids EPA and DHA: Health Benefits Throughout Life1,2. Advances In Nutrition, Bethesda, v. 3, n. 1, p.1-7, jan Horvath A, Koletzko B, Szajewska H: Effect of supplementation of women in high-risk pregnancies with long-chain polyunsaturated fatty acids on pregnancy outcomes and growth measures at birth: a meta-analysis of randomized controlled trials.br J Nutr 2007;98: Bulstra-Ramakers MT, Huisjes HJ, Visser GH:The effects of 3 g eicosapentaenoic acid daily on recurrence of intrauterine growth retardation and pregnancy induced hypertension. Br J Obstet Gynaecol 1995;102: Olsen SF, Secher NJ, Tabor A, Weber T, Walker JJ, Gluud C: Randomised clinical trials of fish oil supplementation in high risk pregnancies. Fish Oil Trials In Pregnancy (FOTIP) Team. BJOG 2000;107: Olsen SF, Osterdal ML, Salvig JD, Mortensen LM, Rytter D, Secher NJ,Henriksen TB. Fish oil intake compared with olive oil intake in late pregnancyand asthma in the offspring: 16 y of registry-based follow-up from a randomized controlled trial. Am J Clin Nutr. 2008;88: Roman AS, Schreher J, Mackenzie AP, Nathanielsz PW. Omega-3 fatty acids and decidual cell prostaglandin production in response to the inflammatory cytokine IL-1beta. Am J Obstet Gynecol. 2006;195: Judge MP, Harel O, Lammi-Keefe CJ. Maternal consumption of a docosahexaenoic acid-containing functional food during pregnancy: benefit for infant performance on problem-solving but not on recognition memory tasks at age 9 mo. Am J Clin Nutr. 2007;85: Harper MA for the NICHD Maternal Fetal Medicine Units Network.Randomized controlled trial of omega-3 fatty acid supplementation forrecurrent preterm birth prevention. Program and Abstracts of the 8th Meeting of the International Society for the Study of Fatty Acids and Lipids. 2008: 57 (abstr). Available from: CS1.6 (cited 10 December 2008). Valenzuela AB, Nieto MS. Acido docosahexaenoico (DHA) en el desarrolo fetal y en la nutrición materno-infantil. Rev Med Chile. 2001; 129: Morse N.L..Benefits of Docosahexaenoic Acid, Folic Acid, Vitamin D and Iodine on Foetal and Infant Brain Development and Function Following Maternal Supplementation during Pregnancy and Lactation.Nutrients, v.,4, p: , International Society for the Study of Fatty Acids and Lipids Recommendations for Dietary Intake of Polyunsaturated Fatty Acids in Healthy Adults,June PUFAIntakeReccomdFinalReport.pdf Makrides M, Gibson R. The role of fats in the lifestyle stages: pregnancy and the first year of life. MJA. 2002; 176: Krauss-Etschmann, S.; Shadid, R.; Campoy, C.; et al. Effects of fish-oil and folate supplementation of pregnant women on maternal and fetal plasma concentrations of docosahexaenoic acid and eicosapentaenoic acid: a European randomized multicenter trial. Am J Clin Nutr; 2007;85(5); Residual Omega Mater_MAR15.indd 6 23/03/15 12:07

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