AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação de tutela
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- Beatriz de Almeida Martins
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1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS FEDERAIS CÍVEIS DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BLUMENAU - SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA CATARINA Autos n.º / Ref.: Inquérito Civil Público O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República que esta subscreve, respeitosamente se faz presente ante Vossa Excelência para, com fulcro no artigo 129, incisos II e III, da Constituição Federal de 1988, bem como nos dispositivos pertinentes da Lei nº 7.347/85 e da Lei Complementar n 75/93, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação de tutela contra a UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, podendo ser citada nas pessoas de seus Procuradores, que podem ser encontrados na Procuradoria Seccional da União neste Município, situada na rua Bolívia, n. 399 sobreloja, Ponta Aguda, contra o ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica de direito público interno, podendo ser citada através de seus procuradores da Procuradoria Geral, sediada na Avenida Osmar Cunha, n. 220, em Florianópolis/SC, e contra o MUNICÍPIO DE BLUMENAU, pessoa jurídica de direito público interno, podendo ser citada nas pessoas de seus Procuradores, que podem ser encontrados na Procuradoria do Município, situada na situada na Rua sediada na Praça Victor Konder, nº 2, BLUMENAU/SC, em virtude das razões fáticas e jurídicas que passa a expor. 1. DO OBJETIVO Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 1
2 Pretende-se com a presente Ação Civil Pública a prestação de tutela jurisdicional para garantir o fornecimento gratuito, pela Secretaria de Estado da Saúde e pelo Município de BLUMENAU, com suporte financeiro da União, dos medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg, aos portadores de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), residentes nos Municípios integrantes da Subseção Judiciária de Blumenau que assim necessitarem, nas situações em que os fármacos sejam solicitados por médico do Sistema Único de Saúde e não puderem ser substituídos por outros com mesma eficácia, desde que tenham se submetido, sem sucesso e atestado por médico do SUS, a tratamento com os fármacos disponíveis no SUS, ou quando o uso destes possa gerar reações colaterais significativamente nocivas à saúde, já que o uso desses medicamentos de forma prolongada implica num tratamento de custo elevado, tudo em consonância com a Constituição Federal, a Lei n /90 e a PORTARIA Nº 2981 DE 26 DE NOVEMBRO DE DOS FATOS Diante das informações prestadas pela Sra. HONETH FABIAO CORNEJO a esta Procuradoria da República às fls. 01/01v, foi autuado o Procedimento Administrativo n.º / , com o objetivo de apurar a regularidade no fornecimento, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de medicação não padronizada no programa de medicamentos excepcionais (PORTARIA Nº DE 26 DE NOVEMBRO DE 2009). Em síntese, conforme restou comprovado pela resposta ao ofício n.º 1113/2012 (Relatório Médico de fls. 21/22), subscrito pelo médico Juliano Fonseca Tonello (CREMESC 8.709), a paciente paradigma HONETH FABIAO CORNEJO (RG n.º ) é portadora de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2). Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 2
3 A ora paciente paradigma fez juntar aos autos à fl. 6, Ofício da Secretaria de Estado da Saúde, o qual informa que os medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg, não estão padronizados nos programas do Ministério da Saúde. Importa frisar que, instado pelo MPF, o médico da paciente paradigma, Dr. Juliano Fonseca Tonello (CREMESC 8.709), informou às fls. 21/22, quanto às complicações esperadas pela ausência de tratamento com os medicamentos prescritos, que haveria Reinstalação da depressão e ansiedade, com severo risco de suicídio (grifou-se). Seguidamente, o médico explica quanto ao uso de medicamentos disponíveis pelo SUS, in verbis: Usou medicamentos prescritos pelo SUS enquanto esteve internada na unidade de psiquiatria do Hospital Santo Antônio (múltiplas internações), e durante tratamento n o [sic] ambulatório de psiquiatria do município, tendo apresentado pouca melhora, e efeitos colaterais intoleráveis. (fl. 22) (grifou-se). Segundo os documentos de fls. 10/14, constata-se que a paciente paradigma desde 13/01/2010 (mais de 2 anos) já fora internada por diversas vezes, tendo sido atestado por médico responsável pela internação o risco de suicídio (fl. 11), além do fato de que, conforme informações da supracitada fl. 22, a mesma já fez uso dos mais variados medicamentos para o tratamento da doença, no entanto, no presente momento, a paciente HONETH FABIAO CORNEJO, se encontra no estado de imperiosa necessidade dos medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg, pois os demais medicamento podem gerar efeitos colaterais intoleráveis, além de causarem pouca melhora para a saúde da paciente. (fl. 22). Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 3
4 Tal necessidade fora reforçada pelo médico psiquiatra vinculado ao SUS, Tarcísio Martendal (CRM/SC 11027), às fls. 23/24, prescritor de novo receituário médico mantendo os mesmos fármacos. Diante disso, não sendo fornecido pelo SUS para o tratamento da Doença Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2) o medicamento indicado por médico do próprio Sistema Único de Saúde como sendo o mais eficaz e adequado para o tratamento da enfermidade que atinge a paciente paradigma e os demais usuários do SUS, necessária se faz a propositura da presente ação civil pública, de modo a compelir o Poder Público ao cumprimento de suas obrigações constitucionais relativas à saúde, posto que não há como negar que a paciente faz jus à tutela do seu direito à saúde pelo uso dos remédios prescritos. O Estado, por intermédio do seus órgãos e entidades, não pode pretender, com o uso de medicamentos contraindicados, que os administrados se submetam a risco, físico ou psicológico, a pretexto de não ser possível o fornecimento de medicamentos não previstos nas listas oficiais de dispensação gratuita. É dizer: não há como resguardar a saúde de alguém colocando-a em risco. Logo, há lacuna na prestação do serviço de saúde, já que a paciente paradigma não tem opção! É, por isso, de se reconhecer, no caso vertente, a inconstitucionalidade da omissão Estatal, ao deixar pessoas desassistidas do tratamento farmacológico gratuito, corolário do direito constitucional à saúde. 3. DA LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM Os arts. 127 e 129, II e III, todos da Constituição da República, prescrevem que ao Ministério Público, instituição essencial à função jurisdicional, compete a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, sendo funções institucionais do Parquet a promoção das medidas necessárias, dentre elas a ação civil pública, para proteger os direitos assegurados na Constituição. Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 4
5 A Lei Complementar n. 75 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), por sua vez, é específica ao prever, em seu art. 5º, V, a, que é função institucional do Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos às ações e aos serviços de saúde e à educação. (grifou-se). Dessa forma, vê-se que possui o Ministério Público Federal legitimidade para atuar na defesa de direitos e interesses coletivos e também individuais, tais quais o direito à saúde, que é direito individual indisponível constitucionalmente previsto e assegurado a todos os indivíduos. Não é outro o entendimento do e. STF: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE ATIVA. DEFESA DE DIREITOS SOCIAIS E INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS. PRECEDENTES. 1. A Constituição do Brasil, em seu artigo 127, confere expressamente ao Ministério Público poderes para agir em defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis, como no caso de garantir o fornecimento de medicamentos a hipossuficiente. 2. Não há que se falar em usurpação de competência da defensoria pública ou da advocacia privada. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF 2ª T AgR no RE /SC Min. Rel. Eros Grau Pub. Dje RCJ v. 22, n. 142, 2008, p grifou-se). Assim, não há dúvida de que tanto a Carta Magna quanto a legislação em vigor conferem legitimidade ao Ministério Público para promover a presente ação, entendimento esse confirmado pela Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 4. DA LEGITIMIDADE PASSIVA Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 5
6 A legitimidade passiva da União e do Estado de Santa Catarina decorre da Portaria n 2.981/2009 do Ministério da Saúde, na qual está disposto: Art. 6º Caberá à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde editar normas complementares referentes à operacionalização do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, observadas as pactuações na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). (sem grifos no original). Ademais, o dever do Estado (lato sensu) na assistência à saúde deve ser observado a partir do Sistema Único de Saúde, que tem organização descentralizada e implica responsabilidade solidária de todos os entes federativos, destacando-se, no caso, a União e o Estado de Santa Catarina. Neste caso, apesar da solidariedade do SUS, houve uma composição entre os entes federativos quanto à esferas de atribuição, cabendo à União e aos Estados assumir tal responsabilidade, sendo que ao Município restará subsidiariamente tal encargo enquanto integrante do Sistema Único de Saúde. Impende fazer transparecer, de antemão, que não haveria a necessidade de que Municípios fossem chamados a integrar a lide como litisconsortes passivos. Não obstante, não se alheando às decisões deste juízo e ao que vem sendo estabelecido nos precedentes pretorianos, acionar-se-á também o Município de BLUMENAU, a fim de evitar desnecessária perda de tempo, nociva quando se trata de pretensões como as que veiculadas em ações postulatórias de medicamentos. 5. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL Como é cediço, a competência da Justiça Federal está estabelecida no artigo 109 da Constituição Federal, cabendo-lhe processar e julgar as causas em que a União, entidade ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 6
7 falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. O interesse da União no presente feito é patente, porquanto o Ministério da Saúde possui responsabilidade no tocante ao financiamento do componente de medicamento de dispensação excepcional (Portaria GM n /2006), Cabendo ao Estado de Santa Catarina a sua execução material, sendo ambos, portanto, sujeitos da obrigação de distribuir gratuitamente medicamentos aos necessitados, conforme expressa disposição constitucional (CRFB/88, art. 198). 6. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS 6.1. Configuração constitucional e legal do direito à saúde A República Federativa do Brasil, como prescreve o artigo 1º da Carta Magna, constitui-se em Estado Democrático de Direito e, dentre outros, tem como fundamento a cidadania e a dignidade da pessoa humana (CF, artigo 1 o, incisos II e III). Com sólido alicerce nestes fundamentos, o Estado Brasileiro fixa como objetivos (CF, artigo 3º) a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, além da erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos nem quaisquer formas de discriminação. No Estado Democrático de Direito, alicerçado pela Constituição vigente, os direitos fundamentais e sociais são estruturados sob o influxo dos fundamentos e objetivos assinalados no parágrafo anterior. A concretização das missões reconhecidas ao Estado no âmbito de democracias que se pretendem sociais (que é o caso da República Federativa do Brasil) impõe ao ente estatal, por meio dos seus diversos órgãos, a realização efetiva de certas condutas, no sentido de implementar as diretrizes fixadas na Constituição. Assim, torna-se necessário que a atuação dos órgãos estatais se amolde aos ditames e às diretrizes traçadas na Constituição da Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 7
8 República, de sorte que tal atuação se desenvolva em conformidade com a Lei Maior, já que esta se consubstancia como o cerne do sistema sócio-políticojurídico brasileiro. Surge, então, no âmbito do sistema de saúde, a necessidade de o Estado implementar políticas públicas e realizar ações tendentes à salvaguarda da saúde dos seus cidadãos, bem este reconhecido expressamente como fundamental, seja da perspectiva individual (CRFB/88, art. 5º, caput), seja da perspectiva social (CRFB/88, art. 6º, caput), in verbis: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Grifos apostos). O bem jurídico saúde enquadra-se entre os direitos fundamentais da pessoa humana, sendo, por isso mesmo, indisponível. Note-se que, consubstanciando-se a saúde em direito fundamental, as normas constitucionais a ela relativas têm aplicação imediata, nos termos do artigo 5º, 1º da Constituição da República. Ademais, a fundamentalidade de tal direito significa que o adimplemento do respectivo dever por parte do Poder Público vai muito além de se assegurar a mera sobrevivência do indivíduo, senão, sobretudo, sua existência de forma digna (CRFB/88, art. 1º, III), sendo, portanto, indispensável que se oportunizem os meios necessários para que o cidadão tenha acesso a serviços de qualidade, e que o atendimento seja universal, igualitário, integral e efetivo, e não apenas mero arremedo de prestação de serviços. Embora de difícil definição, o direito à saúde, em sua essência, foi bem apreendido por Zanobini 1, in verbis: 1 Apud José Cretella Jr. Comentários à Constituição de ed. São Paulo: Forense Universitária, Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 8
9 (...) nenhum bem da vida apresenta tão claramente unidos o interesse individual e o interesse social, como o da saúde, ou seja, do bem estar físico que provém da perfeita harmonia de todos os elementos que constituem o seu organismo e de seu perfeito funcionamento. Para o indivíduo, saúde é pressuposto e condição indispensável de toda atividade econômica ou especulativa, de todo prazer material ou intelectual. O estado de doença não só constitui a negação de todos estes bens, como também representa perigo, mais ou menos próximo, para a própria existência do indivíduo e, nos casos mais graves, a causa determinante da morte. Para o corpo social a saúde de seus componentes é condição indispensável de sua conservação, da defesa interna e externa, do bem-estar geral, de todo progresso material, moral e político. As pessoas doentes representam ônus e perigo contínuo para a sociedade: ônus, na medida em que não lhe trazem nenhuma contribuição de trabalho e exigem cuidados e assistência que comprometem meios econômicos e atividades de outras pessoas; perigo, pela possibilidade da propagação da doença a outras pessoas e, em alguns casos, à propagação rápida, de caráter epidêmico. (sem grifos no original). Desnecessário lembrar ser amplo o conceito de saúde, referindo-se à capacidade física, mental, emocional e social que o indivíduo possui de interagir de forma harmônica com o ambiente circundante. Não por outro motivo, a Organização Mundial da Saúde OMS, concebe tal bem como um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como a ausência de doença ou enfermidade 2. É de proveito a lição de Carlos Ari Sundfeld 3, segundo a qual há uma série de direitos do particular que correspondem a limites em concreto do ato administrativo e do ato jurisdicional e que: Em segundo lugar, há uma série de direitos, assegurados inclusive pela Constituição, que geram a faculdade de o indivíduo cobrar prestação positiva do Estado (não uma mera prestação negativa, 2 Primeiro dos princípios expressos no preâmbulo da Constituição da Organização Mundial de Saúde. Fonte: site < acessado em 05/10/ Fundamentos de Direito Público. São Paulo: Malheiros, 1992, p Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 9
10 como nos direitos mencionados acima). Significam a possibilidade de o particular conduzir o poder político em certa direção. É exemplo o direito de o indivíduo exigir a prestação de serviços públicos essenciais, como o de educação, de saúde, de transporte coletivo de passageiros, etc. (sem grifos no original). O direito à saúde, tal como assegurado na Constituição de 1988, configura direito fundamental de segunda geração. Nesta categoria figuram os direitos sociais, culturais e econômicos, que se caracterizam por exigirem prestações positivas do Estado. Não se trata mais, como nos direitos de primeira geração, de apenas impedir a intervenção do Estado em desfavor das liberdades individuais. Neste sentido, Alexandre de Moraes, trazendo excerto de Acórdão do STF, preleciona que: Modernamente, a doutrina apresenta-nos a classificação de direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira gerações, baseando-se na ordem histórica cronológica em que passaram a ser constitucionalmente reconhecidos. Como destaca Celso de Mello: enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. (STF Pleno MS n 22164/SP Rel. Min Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, , p sem grifos no original). Destarte, os direitos de segunda geração conferem o direito de exigir do Estado prestações sociais (positivas) nos campos da saúde, alimentação, educação, habitação, trabalho etc. Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 10
11 Ainda no âmbito constitucional, o direito à saúde é tratado com mais vagar no Título VIII da Lei Maior (Da Ordem Social). Vejamos o que dispõe o Texto Constitucional, mormente no que tange aos princípios da universalidade e do atendimento integral: Art A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos. I universalidade da cobertura e do atendimento; (...) Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (Sem grifos no original). Nesse contexto insere-se a assistência farmacêutica, haja vista integrar ela a Política Nacional de Saúde, estando, portanto, envolvida no complexo de ações voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Nesse quadro, o direito à saúde e à assistência farmacêutica deve ser interpretado sob um prisma que privilegie os princípios constitucionais da cidadania (CRFB/88, art. 1º, II), da dignidade da pessoa humana (CRFB/88, art. 1º, III), da igualdade (CRFB/88, art. 5º, I) e da solidariedade (CRFB/88, art. 3º, inciso I) e que dê integral cumprimento aos ditames insculpidos no Título VIII da Lei Maior: universalidade da cobertura e do atendimento (CRFB/88, art. 194, parágrafo único, I e art. 196) e assistência integral (CRFB/88, art. 198, II). Em obediência ao arcabouço constitucional que define e estabelece o direito à saúde, surge para o Estado a obrigação de fornecer todos os tipos de medicamentos, como forma de garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (CRFB/88, art. 196). Este é, aliás, o dispositivo que obriga o Estado a fornecer medicamentos à população. Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 11
12 Preleciona o Tribunal Regional Federal da 4º Região, acerca do artigo 196, no Agravo de Instrumento n /SC, no voto do Relator Luiz Carlos de Castro Lugon: Em tal perspectiva, pois, uma decisão que ordene que a Administração Pública forneça aos doentes os remédios que sejam indicados por prescrição médica não padece de ilegalidade. Demais, é latente a potencialidade de prejuízos àquelas pessoas cujo direito constitucional à saúde estarão sendo usurpados. A busca pela entrega da prestação jurisdicional deve ser prestigiada pelo magistrado, de modo que o cidadão tenha, cada vez mais facilitada, com a contribuição do Poder Judiciário, a sua atuação em sociedade, quer nas relações jurídicas de direito privado, quer nas de direito público. Oportuno salientar que a assistência à saúde é um dever do Estado o que inclui a distribuição gratuita de medicamentos excepcionais também porque é uma atividade estatal financiada pelo pagamento de tributos destinados especificamente para tal fim. Como exemplo, podem ser mencionadas as contribuições sociais destinadas ao financiamento da seguridade social, no bojo da qual figura a saúde (CRFB/88, art. 195). A obrigação estatal de prestar serviços de saúde torna-se ainda mais evidente tendo-se em conta a vinculação constitucional de parcelas do orçamento dos diversos entes federativos à área da saúde (CRFB/88, art. 198, 2º). Visando concretizar os mandamentos constitucionais, o legislador ordinário estabeleceu preceitos que tutelam e garantem o direito à saúde. Nesse esforço de emprestar concretude às disposições constitucionais, destaca-se a Lei n /91, a qual dispõe que: Art. 1º A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social. (...) Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 12
13 Art. 2º A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Parágrafo único. As atividades de saúde são de relevância pública e sua organização obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes: a) acesso universal e igualitário; b) provimento das ações e serviços através de rede regionalizada e hierarquizada, integrados em sistema único. (sem grifos no original). Assim, corroborando os mandamentos constitucionais, a Lei n /91 reafirma o compromisso do Estado no sentido de assegurar o direito relativo à saúde, com expressa previsão do acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, necessariamente integrados em um sistema único. A Lei n , de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, estabelece: Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (...) Art. 4. O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das funções mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde SUS. (Sem grifos no original). O artigo 7 da citada lei estabelece que as ações e serviços públicos que integram o sistema único de saúde serão desenvolvidos de acordo Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 13
14 com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo, ainda, aos seguintes princípios: Art. 7 (omissis) I universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - Integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; (...) IV igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie (sem grifos no original). Verifica-se, dessarte, que a própria norma disciplinadora do Sistema Único de Saúde, a reboque da Constituição Federal (como não poderia deixar de ser), elege como princípios a universalidade de acesso às ações de saúde em todos os níveis de assistência, a igualdade da assistência à saúde e a integralidade de assistência. O Ministério da Saúde editou a Portaria n /2006, na qual se destaca, dentre outras disposições, que o Componente de Medicamentos de Dispensação Excepcional é parte da Política Nacional de Assistência Farmacêutica do Sistema Único de Saúde (art. 1º da Portaria GM n /2006). Em síntese, pode-se afirmar que a distribuição gratuita de medicamentos excepcionais figura como elemento fundamental da salvaguarda do direito à saúde, pois as ações estatais na área da saúde devem ser desenvolvidas no âmbito do SUS (e nunca complementarmente ao SUS) e pautadas pelos princípios do atendimento integral (do qual decorre a obrigação de fornecimento de medicamentos aos enfermos), da universalidade (do qual decorre a gratuidade) e dos outros princípios constitucionais até aqui comentados Do componente de medicamentos de dispensação excepcional Cumpre salientar que os medicamentos comuns, que compõem uma farmácia básica, normalmente de baixo custo unitário, e que, em seu Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 14
15 conjunto são destinados ao tratamento da maior parte das enfermidades que acometem a população brasileira, denominam-se medicamentos essenciais. São, pois, a regra em contraste com a excepcionalidade dos medicamentos excepcionais. Os medicamentos excepcionais, ou de alto custo, ou de dispensação em caráter excepcional, a seu turno, são conceituados, na terminologia da Política Nacional de Medicamentos (item 7 da Portaria MS n /1998), como aqueles utilizados em doenças raras, geralmente de custo elevado, cuja dispensação atende a casos específicos. A própria qualificação de excepcional, em verdade, revela que o medicamento é aquele que constitui exceção, envolvendo doenças que, embora nem sempre raras, atingem um número reduzido da população. São excepcionais, mas não deixam de ser essenciais, na medida em que, dentro de sua excepcionalidade, asseguram a vida e o bem estar do usuário do SUS. No entanto, na fl. 06, a Secretaria de Estado de Saúde informa que os medicamentos não estão padronizados em nenhum dos programas do Ministério da Saúde e por esse motivo não são disponibilizados no momento. Muito embora os fármacos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg não estejam no rol de medicamentos padronizados pelo SUS para a doença que acomete a paciente paradigma, resta caracterizado que é imprescindível a sua dispensação aos indivíduos acometidos de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), tais quais a paciente paradigma HONETH FABIAO CORNEJO, ressaltando-se o risco para saúde da paciente caso use outros medicamentos que são padronizados pelo SUS para sua doença. Oportuno frisar que o fato de não estar o fármaco pleiteado padronizado pelo SUS para a doença da paciente paradigma não é óbice ao seu fornecimento, pois o direito público subjetivo à saúde possibilita que o indivíduo Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 15
16 busque prestações estatais positivas, incluindo o fornecimento de medicamentos não previstos em listas elaboradas pelo Poder Executivo. Nesse sentido, a decisão monocrática nos autos da Suspensão de Tutela Antecipada n. 175, o Exmo. Ministro Presidente do STF à época, o Ministro Gilmar Mendes ( ), indeferiu pedido de suspensão ajuizado pela União contra antecipação de tutela concedida no sentido de compelir os entes federativos a fornecer medicamento de alto custo e não padronizado pelo Ministério da Saúde. Para tanto, o Exmo. Ministro Presidente, após Audiência Pública na qual foram ouvidos representantes de diversos setores envolvidos, teceu interessante análise sobre a necessária ponderação entre as dimensões subjetiva e objetiva do direito constitucional à saúde (art. 196 da CRFB/88), trazendo diversas considerações e conclusões, inclusive sobre o específico tema ora discutido: (...) A princípio, pode-se inferir que a obrigação do Estado, à luz do disposto no artigo 196 da Constituição, restringe-se ao fornecimento das políticas sociais e econômicas por ele formuladas para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Isso porque o Sistema Único de Saúde filiou-se à corrente da Medicina com base em evidências. Com isso, adotaram-se os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, que consistem num conjunto de critérios que permitem determinar o diagnóstico de doenças e o tratamento correspondente com os medicamentos disponíveis e as respectivas doses. Assim, um medicamento ou tratamento em desconformidade com o Protocolo deve ser visto com cautela, pois tende a contrariar um consenso científico vigente. Ademais, não se pode esquecer de que a gestão do Sistema Único de Saúde, obrigado a observar o princípio constitucional do acesso universal e igualitário às ações e prestações de saúde, só torna-se viável mediante a elaboração de políticas públicas que repartam os recursos (naturalmente escassos) da forma mais eficiente possível. Obrigar a rede pública a financiar toda e qualquer ação e prestação de saúde existente geraria grave lesão à ordem administrativa e levaria ao comprometimento do SUS, de modo a Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 16
17 prejudicar ainda mais o atendimento médico da parcela da população mais necessitada. Dessa forma, podemos concluir que, em geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo SUS em detrimento de opção diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política de saúde existente. Essa conclusão não afasta, contudo, a possibilidade de o Poder Judiciário, ou de a própria Administração, decidir que medida diferente da custeada pelo SUS deve ser fornecida a determinada pessoa que, por razões específicas do seu organismo, comprove que o tratamento fornecido não é eficaz no seu caso. Inclusive, como ressaltado pelo próprio Ministro da Saúde na Audiência Pública, há necessidade de revisão periódica dos protocolos existentes e de elaboração de novos protocolos. Assim, não se pode afirmar que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do SUS são inquestionáveis, o que permite sua contestação judicial. ( ). (grifou-se). Oportuno destacar que em o Pleno do E. STF, à unanimidade, negou provimento ao agravo regimental interposto pela União na STA n. 175, consolidando o entendimento adotado pelo Exmo. Ministro Presidente na decisão monocrática aqui referida, tendo sido ventilados pela Suprema Corte nessa ocasião posicionamentos que são defendidos pelo Ministério Público em ações que versam sobre o fornecimento de medicamentos, tais como a presente, especialmente no que diz respeito à possibilidade do Poder Judiciário vir a garantir o direito à saúde, por meio do fornecimento de medicamento ou de tratamento imprescindível para o aumento de sobrevida e a melhoria da qualidade de vida da paciente. (Informativo STF n. 579). De fato, ao Judiciário é permitida a realização de amplo controle de legalidade e constitucionalidade sobre ações e omissões do Poder Executivo, e, nesse sentido, no exercício da função jurisdicional, autorizado está a condenar o Executivo ao fornecimento de medicamento, ainda que não previsto nas listas de fármacos padronizados decorrentes das políticas públicas definidas pelo Executivo. Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 17
18 Com efeito, o simples fato de um medicamento não ser padronizado não pode impedir sua dispensação pelo Poder Público àqueles que dele necessitam, face à constitucional obrigação de prestação integral e universal da saúde, sob pena de privilegiar a forma (presença em lista padronizada) em detrimento do conteúdo (efetivo atendimento integral à saúde). Como bem observou o Ministro Celso de Mello nos RE's /RS e /RS, a exegese do arcabouço constitucional de proteção à saúde, mormente o disposto no art. 196 da Constituição da República, deve se pautar pela sua máxima efetividade, sob pena de transformar as letras constitucionais em promessa constitucional inconseqüente (...) fraudando justas expectativas nele depositadas". Não é demais repisar que o direito à saúde previsto no art. 196 da Constituição da República não se traduz apenas no dever-poder estatal de definir políticas públicas de saúde, mas também no direito público subjetivo conferido aos indivíduos de poderem cobrar judicialmente prestações positivas do Estado, de modo a garantir a universalidade e a integralidade do atendimento à saúde. 7. DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA Tendo em vista a gravidade da situação exposta, é imperioso que sejam determinadas imediatamente as providências necessárias para que o direito público subjetivo dos cidadãos não seja lesado com a omissão da UNIÃO, do ESTADO DE SANTA CATARINA e do MUNICÍPIO DE BLUMENAU quanto ao fornecimento dos medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg, sempre que tal necessidade estiver atestada por médicos do próprio Sistema Único de Saúde. A demora nesse setor significa que mais e mais pessoas terão graves consequências, em razão da ausência da assistência devida, assistência essa que se consubstancia em dever impostergável do Estado de Santa Catarina, do Município de Blumenau e da União de distribuir Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 18
19 gratuitamente e de forma continuada, às pessoas portadoras de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), os medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg, quando recomendado por médico do Sistema Único de Saúde, e não for possível a substituição desses medicamentos, seja porque já são esperados efeitos colaterais nocivos decorrentes dos mesmos, seja porque, empiricamente, já se tenha verificado a sua ineficácia terapêutica. Dispõe o artigo 273 do CPC que: Art O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II fique caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. (sem grifo no original) Justifica-se, in casu, o pedido de antecipação da tutela pelo fato de estarem caracterizados, ao lume do artigo 273 do Código de Processo Civil, todos os pressupostos autorizadores de sua concessão, segundo as seguintes lições doutrinárias 4 : Assim sendo, conclui-se que o primeiro requisito para a concessão da tutela antecipatória é a probabilidade de existência do direito afirmado pelo demandante. Esta probabilidade de existência nada mais é, registre-se, do que o fumus boni iuris, o qual se afigura como requisito de todas as modalidades de tutela sumária, e não apenas da tutela cautelar. Assim sendo, deve verificar o julgador se é provável a existência do direito afirmado pelo autor, para que se torne possível a antecipação da tutela jurisdicional. Não basta, porém, este requisito. À probabilidade de existência de direito do autor deverá aderir outro requisito, sendo certo que a lei processual criou dois outros (incisos I e II 4 CÂMARA, A. F. Lições de Direito Processual Civil. Lúmen Iuris: São Paulo, pág. 390/391. Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 19
20 do art. 273). Estes dois requisitos, porém, são alternativos, bastando a presença de um deles, ao lado da probabilidade de existência do direito, para que se torne possível a antecipação da tutela jurisdicional. Assim é que, na primeira hipótese, ter-se-á a concessão da tutela antecipatória porque, além de ser provável a existência do direito afirmado pelo autor, existe o risco de que tal direito sofra um dano de difícil ou impossível reparação (art. 273, I, CPC). Este requisito nada mais é do que o periculum in mora, tradicionalmente considerado pela doutrina como pressuposto da concessão da tutela jurisdicional de urgência (não só na modalidade que aqui se estuda, tutela antecipada, mas também em sua outra espécie: a tutela cautelar). (Grifos acrescidos). A prova inequívoca dos fatos articulados expressa-se na documentação que instrui o Inquérito Civil n / , em anexo. Assim, resta tranquilo o juízo de verossimilhança quanto às alegações constantes desta exordial. Diante da gravidade dos fatos expostos, torna-se despiciendo encarecer o receio da ocorrência de dano irreparável ou de difícil reparação ao direito fundamental à saúde, de todos quantos vivam nos Municípios abrangidos pela Subseção Judiciária de Blumenau, para se obter gratuitamente os medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg para o tratamento de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), quando recomendado por médico do Sistema Único de Saúde, e não for possível a substituição desses medicamentos, seja porque já são esperados efeitos colaterais nocivos decorrentes deles, seja porque, empiricamente, já se tenha verificado a sua ineficácia terapêutica. Em atenção aos documentos trazidos aos autos com a presente inicial e considerando que a questão cinge-se à aplicação do direito, uma vez que são questionadas, nesta ação, a cobrança pelos medicamentos distribuídos e a atuação do Estado complementarmente ao Sistema Único de Saúde, é legítimo e necessário à salvaguarda dos direitos dos cidadãos o deferimento liminar da antecipação da tutela. Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 20
21 Requer, pois, o Ministério Público Federal, seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela perseguida para determinar aos réus a obrigação de fazer, consistente em fornecer no prazo de 30 (trinta) dias após o requerimento, os medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg à Sra. HONETH FABIAO CORNEJO e às demais pessoas cujos domicílios são territorialmente alcançados pela Subseção Judiciária Federal de Blumenau, portadoras de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), desde que tenham se submetido, sem sucesso e atestado por médico do SUS, a tratamento com os fármacos disponíveis no SUS, ou quando o uso destes possa gerar reações colaterais significativamente nocivas à saúde. Em caso de descumprimento da decisão de antecipação da tutela, requer o Ministério Público Federal a fixação de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), com fulcro no artigo 11 da Lei n /85 e no 4º do artigo 461 do Código de Processo Civil, bem assim o sequestro de recursos orçamentários públicos da União e do Estado de Santa Catarina para o custeio da aquisição dos fármacos. 8. DOS PEDIDOS Ante o todo exposto, o Ministério Público Federal respeitosamente se faz presente ante Vossa Excelência a fim de requerer que: a) seja a presente petição inicial autuada e recebida, determinando-se a citação dos réus, através de seus representantes legais para, querendo, contestarem a presente demanda no prazo legal, sob pena de revelia; b) seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela reclamada para determinar aos réus a obrigação de fazer, consistente em fornecerem, no prazo de 30 (trinta) dias após o requerimento, os medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg gratuita e Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 21
22 continuadamente à Sra. HONETH FABIAO CORNEJO e às demais pessoas cujos domicílios são territorialmente alcançados pela Subseção Judiciária Federal de Blumenau, portadoras de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), desde que tenham se submetido, sem sucesso e atestado por médico do SUS, a tratamento com os fármacos disponíveis no SUS, ou quando o uso destes possa gerar reações colaterais significativamente nocivas à saúde, ainda que previsto/padronizado o fármaco requerido para o tratamento de doenças diversas da aqui referida, sob pena do pagamento de uma multa diária no valor de R$ (mil reais), bem assim o sequestro de recursos orçamentários públicos da União e do Estado de Santa Catarina para o custeio da aquisição dos fármacos; c) a condenação definitiva da UNIÃO e do ESTADO DE SANTA CATARINA E DO MUNICÍPIO DE BLUMENAU, confirmando-se, em todos os seus termos, a tutela antecipada deferida, ou seja, determinando aos réus obrigação de fazer, consistente em fornecer, no prazo de 30 (trinta) dias após o requerimento, os medicamentos CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg gratuita e continuadamente à Sra. HONETH FABIAO CORNEJO e às demais pessoas cujos domicílios são territorialmente alcançados pela Subseção Judiciária Federal de Gaspar, portadoras de Transtorno Misto de Depressão e Ansiedade, recorrente e grave (CID 10: F.41.2), desde que tenham se submetido, sem sucesso e atestado por médico do SUS, a tratamento com os fármacos disponíveis no SUS, ou quando o uso destes possa gerar reações colaterais significativamente nocivas à saúde, ainda que previsto/padronizado o fármaco referido para o tratamento de doenças diversas da aqui referida, sob pena do pagamento de uma multa diária no Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 22
23 valor de R$ (mil reais), bem assim o sequestro de recursos orçamentários públicos da União e do Estado de Santa Catarina para o custeio da aquisição dos fármacos; Embora já tenha apresentado o Ministério Público Federal prova pré-constituída do alegado, protesta, outrossim, pela produção de prova documental, testemunhal, até mesmo, inspeção judicial ou outras admitidas por lei, que se fizerem necessárias ao pleno conhecimento dos fatos, inclusive no transcurso do contraditório que se vier a formar com a apresentação de contestação. Deixa-se de recolher custas em razão do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/1985. Conquanto seja indeterminável o valor da causa vez que se objetiva o fornecimento dos fármacos aqui tratados para todos os enfermos da doença em questão que residam em municípios afetos à competência dessa Subseção Judiciária -, ex vi do art. 260 do CPC e relativamente à paciente paradigma HONETH FABIAO CORNEJO, o MPF dá à causa o valor de R$ 4.629,92 (quatro mil, seiscentos e vinte e nove reais e noventa e dois centavos), valor referente a um ano de tratamento individual, considerando que a paciente deverá tomar uma quantia por mês de CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg; PREGABALINA (LYRICA) 150 mg e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg, conforme receituários de fls. 23 e 24 do ICP em epígrafe e considerando-se o preço informado no site 5 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Documento eletrônico assinado digitalmente por RICARDO KLING DONINI, Procurador(a) da República, em 06/08/2012 às 16h37min. Este documento é certificado conforme a MP /2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. 5 De acordo com o referido site, o valor dos medicamentos são: CLORIDRATO DE VENLAFAXINA 150 mg/28 comp. Fabricante eurofarma: R$ 80,00 (oitenta reais), necessitando de dois comprimidos ao dia ou 730 anuais ou 27 caixas do medicamento, totalizando R$ (dois mil, cento e sessenta reais); PREGA- BALINA (LYRICA) 150 mg/28 comp. Fabricante pfizer: R$ 122,03 (cento e vinte e dois reais e três centavos), necessitando de um comprimido ao dia ou 365 anuais ou 14 caixas do medicamento, totalizando R$ 1.708,42 (mil, setecentos e oito reais e quarenta e dois centavos); e ALPRAZOLAM (FRONTAL) 2 mg/30 comp. Fabricante EMS: R$ 30,46 (trinta reais e quarenta e seis centavos), necessitando de dois comprimidos ao dia ou 730 anuais ou 25 caixas do medicamento, totalizando R$ 761,50 (setecentos e sessenta e um reais e cinquenta centavos). Valor Total: R$ 4.629,92 (quatro mil, seiscentos e vinte e nove reais e noventa e dois centavos). Caixa Postal nº Fone/Fax: (47) prmblumenau@prsc.mpf.gov.br 23
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