Metodologia para o Terceiro Ciclo de Revisão Tarifária
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- Lucas Franca Gentil
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1 AP040/2010 Metodologia para o Terceiro Ciclo de Revisão Tarifária Claudio Sales - Presidente Dezembro/2010
2 Avaliação da proposta metodológica A contribuição do Instituto Acende Brasil aborda dois componentes das tarifas: o Fator X os custos operacionais Estes dois componentes da tarifa são os que sofreram modificações metodológicas mais profundas: o Fator X de cada concessionária passa a ser ajustado ex-post a cada ano os custos operacionais passam a ser ajustados com base numa análise comparativa (benchmarking) entre as concessionárias Ambas as alterações são balizadas por uma análise da produtividade Há outros elementos da metodologia - que não abordaremos devido à restrição de tempo -, que também requerem aprimoramentos: a estrutura de capital o expurgo do prêmio de risco cambial e regulatório do cômputo do custo de capital a remuneração de apenas 50% das despesas relacionadas a aluguéis de imóveis, veículos e sistemas de informática 2
3 A metodologia pode ser aprimorada, mas o regime regulatório deve ser preservado Regime previsto nos Contratos de Concessão Regime de regulação pelo preço máximo ( Price Cap ) Revisão do preço teto no início do ciclo Reajuste anual do preço teto para incorporar: - efeito inflacionário (por indexador previsto em contrato) - os ganhos de produtividade mínimos esperados do setor (via Fator X definido no início do ciclo tarifário) A proposta atual da Aneel caracteriza mudança de regime regulatório O Fator X proposto ajusta-se anualmente, de forma diferenciada para cada concessionária, com base: no crescimento do consumo (Fator X P ) na qualidade do serviço (Fator X Q ) na trajetória para o custo de operação eficiente (Fator X T ) Efeitos Promove repasse imediato para o consumidor de ganhos de produtividade que a Aneel julga alcançáveis Priva concessionárias de capturar ganhos de produtividade alcançados durante o ciclo tarifário Enfraquece a estrutura de incentivos para minimização de custos Pode ocasionar desequilíbrio econômicofinanceiro caso a previsão de ganhos de produtividade alcançáveis esteja equivocada 3
4 A análise da produtividade é robusta? Os ganhos de produtividade são empregados para balizar: atualização dos custos operacionais definição dos custos operacionais eficientes reajuste anual relativo ao ganhos de produtividade derivados do crescimento do consumo (Fator X P ) Mas os estudos das NT 265 e 267 que balizaram as inferências estatísticas sobre os ganhos de produtividade apresentam uma série de fragilidades Toda as inferências sobre os ganhos de produtividade são baseadas em dados de apenas seis anos ( ) Assume-se que os ganhos de produtividade são uniformes no tempo. Ignora-se o fato de que ganhos de produtividade são de difícil previsão, sobretudo quando se trata de ganhos de inovações técnicas Os estudos de produtividade apresentam fragilidades: 1. Ambigüidades em relação à origem dos ganhos de produtividade 2. A medida de produtividade apresenta problemas de especificação 3. Não há comprovação da robustez do benchmarking no contexto de áreas de concessão tão heterogêneas como no Brasil 4. A relação entre a produtividade e escala é precariamente fundamentada 4
5 Fragilidade 1: Ambigüidades em relação à origem dos ganhos de produtividade Os ganhos de produtividade derivam da evolução técnica ou dos ganhos de escala? Decomposição de Malmquist do Totex (Ray e Desli) Há uma contradição entre os resultados empíricos contidos nas notas técnicas e a metodologia proposta para a revisão tarifária A decomposição de Malmquist (NT 265 e NT 267) indica que ganhos de produtividade advêm primordialmente da eficiência técnica A metodologia proposta para: a atualização dos custos operacionais o reajuste anual do componente P do Fator X Fonte: Nota Técnica 267-SRE/Aneel Decomposição de Malmquist do Opex (Ray e Desli) assume que os ganhos de produtividade são relacionados ao crescimento do consumo, ou seja, de ganhos de escala As notas técnicas não abordam essa incongruência Fonte: Nota Técnica 265-SRE/Aneel 5
6 Fragilidade 2: A medida de produtividade apresenta problemas de especificação O índice de produtividade utilizado para atualizar os custos operacionais e para balizar o Fator X p apresenta problemas de especificação: os ponderadores utilizados são inadequados os índices de output não refletem dimensões importantes do produto Os ponderadores utilizados no índice de output do índice de Tornqvist são baseados nos custos - componente do lado dos insumos o que distorce o índice de produtividade Índice de Tornqvist Opex (base para atualização dos custos operacionais) O índice de output é construído considerando a extensão da rede, ponderada pelos custos de operação e manutenção da empresa; e o número de clientes atendidos, ponderados pelos custos comerciais Índice de Tornqvist Totex (base para definição da tabela do Fator X p ) O índice de output é construído considerando os montantes de energia distribuída em alta, média e baixa tensão ponderados pelos custos de fornecimento em cada nível de tensão Não se dispõe de informações sobre o preço dos insumos e produtos, dado necessário para aplicar o ponderador adequado (participação no valor percebido pelo usuário do produto) e (participação no custo do insumo no custo total) A própria Aneel reconhece que o uso do índice de Tornqvist nessas condições é inadequado: A utilização do Índice de Tornqvist não é possível quando não se tem informação a respeito dos preços dos insumos e produtos, o que não permite a ponderação necessária para a correta definição do índice. (parágrafo 260 da NT 265/2010-SRE/Aneel). Índice de output não capta dimensões importantes do produto: - densidade - proporção da rede aérea e subterrânea - capacidade - indicadores de continuidade de serviço - inadimplência - perdas não técnicas - variáveis ambientais 6
7 Fragilidade 3: Não há comprovação da robustez do benchmarking O modelo DEA 2 estágios (índice de Malmquist), utilizado para definir o benchmarking, carece de comprovação de sua robustez: O primeiro estágio considera apenas duas especificações, considerando apenas três variáveis, o que não permite avaliar a robustez dos resultados As variáveis adotadas para representar o produto não captam importantes dimensões do produto As medições de produtividade são muito instáveis ao longo do tempo, o que levanta questionamentos sobre a confiabilidade desta análise para fins de definição dos custos operacionais eficientes 7
8 Fragilidade 4: A relação entre a produtividade e escala é precariamente fundamentada Produtividade (totex) vs. Crescimento do Consumo Uma mera correlação entre a produtividade medida pelo índice de Tornqvist e o índice de output é utilizada para balizar as tabelas utilizadas para: a atualização dos custos operacionais e o reajuste anual pelo Fator X p Seria necessário tomar alguns cuidados: a regressão deveria controlar por Fonte: Nota Técnica 267-SRE/Aneel - fatores específicos a cada concessionária (dummies para cada concessionária), - fatores contemporâneos que afetam todas as concessionárias de forma semelhante (dummies de ano), - outras dimensões importantes que não foram incorporadas ao índice de output - variáveis ambientais Dever-se-ia regredir o índice de Tornqvist - opex com o crescimento do consumo, uma vez que essa é a variável utilizada nas tabelas de atualização e reajuste (não o índice de output ) na regressão do índice de Tornqvist totex, a inclusão de observações com índice de output negativos ou muito elevados tende a sobreestimar os ganhos de escala - Não se redimensiona os insumos para quedas temporárias no consumo devido a uma série de restrições (contratuais e trabalhistas) e por causa dos custos incorridos no emprego e desemprego de insumos. - A queda de eficiência observada nesses casos não decorre de menores economias de escala, mas do dimensionamento temporariamente inadequado dos insumos vis-à-vis a demanda contemporânea. - De semelhante modo, surtos de crescimento inesperados podem resultar em índices de produtividade insustentáveis, pois trata-se de uma situação em que os insumos ainda não foram redimensionados para aquele nível de demanda. 8
9 O objetivo da revisão tarifária é restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro 4 Valor Econômico Adicionado (Economic Value Added - EVA ) 2 0 R$ bilhões Após repetidas crises, o setor finalmente deixou de apresentar rentabilidade negativa Fonte: Stern Stewart Co. e Instituto Acende Brasil. Empresas consideradas: Coelce, Cosern, CFLCL, Coelba-Neoenergia, Celpe, Caiua-Rede, CPFL Paulista, CPFL RGE, CPFL Piratininga, Ampla, Enersul, Escelsa, Bandeirante, CPEE- CMS (até 2000), Eletropaulo, AES Tietê, AES Sul, Light, Cemar, Elektro, Tractebel e Duke. O EVA é um bom indicador do equilíbrio econômico-financeiro porque considera o custo de oportunidade de todos os fatores de produção empregados. A rentabilidade atual medida pelo EVA sugere que na média a revisão das tarifas no terceiro ciclo deve ser relativamente pequena. 9
10 Incentivos, produtividade e modicidade tarifária Conclusão 1. A metodologia proposta proporciona uma redução da tarifa para os consumidores no curto prazo, mas ameaça elevar as tarifas no longo prazo. 2. Distorções da metodologia podem comprometer o equilíbrio econômicofinanceiro de concessionárias, prejudicando a prestação de serviços e a realização dos investimentos necessários 1. Cortes de custos e subinvestimento podem comprometer a manutenção e expansão da distribuidora requerendo elevação das tarifas no futuro. 3. A metodologia proposta enfraquece a estrutura de incentivos relativamente modestos do regime vigente 1. Contraste o pequeno incentivo proporcionado pela possibilidade da concessionária poder auferir os ganhos de produtividade durante o ciclo tarifário com o regime de patentes que proporciona uma reserva de mercado de até 30 anos. 4. A metodologia pressupõe que os ganhos são obteníveis sem custo, sem esforço e sem riscos Sem a possibilidade de capturar os ganhos de produtividade alcançados ao longo do ciclo tarifário, a concessionária deixa de ter uma fonte de recursos para remunerar os custos, esforços e riscos despendidos para obter ganhos de produtividade, o que reduzirá o ímpeto para buscar novos ganhos de produtividade, tornando o setor menos eficiente no longo prazo. 10
11 Sobre o Instituto Acende Brasil O Instituto Acende Brasil é um Centro de Estudos que visa a aumentar o grau de Transparência e Sustentabilidade do Setor Elétrico Brasileiro. Para atingir este objetivo, adotamos a abordagem de Observatório do Setor Elétrico e estudamos as seguintes dimensões: 11
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