MANEJO DOS DEJETOS EM UMA PROPRIEDADE EM ITÁPOLIS, SP MANAGEMENT OF WASTE IN A PROPERTY IN ITÁPOLIS, SP

Transcrição

1 159 MANEJO DOS DEJETOS EM UMA PROPRIEDADE EM ITÁPOLIS, SP MANAGEMENT OF WASTE IN A PROPERTY IN ITÁPOLIS, SP Renata Sanches 1 Gilberto Aparecido Rodrigues 2 Selma de Fátima Grossi 3 Sandra Piquera 4 Ubajara Cesare Mozart Proença 5 Resumo A suinocultura é uma atividade do agronegócio que impacta severamente o ambiente, desde que não seja feito o tratamento e o destino adequado aos resíduos orgânicos, produzidos em grande quantidade em todas as fases da criação. O objetivo deste estudo foi comparar a gestão dos resíduos e tratamento dos dejetos de suínos numa propriedade suinícola. A metodologia utilizada foi um estudo de caso, através de aplicação de inquérito ao proprietário em uma unidade de produção de suínos (UPS), no município de Itápolis, SP. Constatou-se que a UPS faz apenas o uso de esterqueira e aplica os resíduos na cultura da cana de açúcar. A UPS sob análise não faz o uso de biodigestores e a quantidade de água nos dejetos da propriedade é elevado. Palavras chave: Resíduos de suínos. Tratamento de excrementos de suínos. Aplicação de resíduos. Abstract The pig farming is an activity of agribusiness that severely impacts the environment, provided it is not done the treatment and the appropriate destination for organic waste produced in large quantities at all stages of creation. The aim of this study was to compare the waste management and treatment of pig manure in a pig property. The methodology used was a case study, by the owner of inquiry application in a swine production unit (UPS) in the city of Itápolis, SP. It was found that the UPS is only the use of dunghill and apply the waste in the culture of sugar cane. UPS under analysis does not make the use of digesters and the amount of water in the waste of the property is high. Keywords: Swine waste. Treatment of pig excrement. Waste application. 1 Graduanda em Tecnologia em Agronegócio, Fatec Taquaritinga, renatasanches35@gmail.com 2 Dr. em Agronomia, Docente da Fatec Taquaritinga, Zootecnista, gilberto.rodrigues@fatectq.edu.br 3 Dra. em Zootecnia, Docente da Fatec Taquaritinga, Zootecnista, selma.grossi@fatectq.edu.br 4 Tecnóloga em Agronegócio, Fatec Taquaritinga, dspiquera@ig.com.br 5 Mestrando em Agronomia, FCAV, Unesp, Tecnólogo em Agronegócio, ubajaracesare@yahoo.com.br

2 160 1 Introdução A suinocultura brasileira, a exemplo de outras cadeias produtivas do agronegócio, cresceu significativamente, nos últimos anos. De acordo com Oliveira e Nunes (2005), a atual expansão da suinocultura tem como característica fundamental a alta concentração de animais por área. A criação de suínos do passado progrediu também na técnica utilizada e no modelo de coordenação das atividades entre fornecedores de insumos, produtores rurais, agroindústrias, atacado, varejo e consumidores. Portanto, faz-se necessário permanecer na busca por soluções, que visam à sustentabilidade dos sistemas produtivos, sem que haja prejuízos ambientais (EYERKAUFER; BRITO 2012). A implantação de modernas técnicas de tratamento na atividade suinícola, e a opção do uso de biodigestores, até o presente, mostra-se como a melhor técnica de manejo dos resíduos, pois promove a manutenção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos (PINTO et al., 2014). De acordo com Sobestiansky et al.(1998), o volume de dejetos líquidos produzidos também dependem do manejo, do tipo de bebedouro e do sistema de higienização adotado, frequência e volume de água utilizada, bem como do número e categoria dos animais. De acordo com Colatto; Langer (2012), a média de produção de resíduos por diferentes animais é um tanto variável, variando de 10 kg para bovinos, 2,25 kg para suínos, e 10 kg para equinos. Porcas em gestação e em lactação produzem respectivamente, 16 e 27 kg de dejetos líquidos por animal por dia (OLIVEIRA,1993; SOBESTIANSKY et al., 1998; SEGANFREDO, 2007). A utilização dos dejetos de suínos pode ser feita em culturas anuais, perenes ou semi-perenes, mas a quantidade de dejetos a ser aplicada ao solo depende do valor fertilizante (DIESEL, 2002). Deve também ser corrigindo as deficiências e excessos advindos do uso continuado dos dejetos de animais como fertilizantes (SEGANFREDO, 2006). 2 Material e Métodos A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, com a aplicação de inquérito a uma produtora rural, Tecnóloga em Agronegócios, de acordo com a metodologia descrita por Almeida(1989) e Soares(2007), em uma unidade produtora de suínos (UPS), no distrito de Nova América, município de Itápolis, SP.

3 161 3 Resultados e Discussão Para a elaboração do inquérito, foi visitada uma suinocultura de médio porte, localizada em Itápolis, interior de SP, distrito de Nova américa. A suinocultura possui no total duzentos e trinta suínos entre machos e fêmeas, portanto setenta matrizes. Dentre os inquéritos aplicados, a quantidade de dejetos coletados por dia dos suínos tem suma importância, pois este é dependente do número de matrizes e é muito variável. Não há exatidão nesses números, mas a produtora estima em média 1 kg por animal por dia. De acordo com Pinto et al.(2014) a produção de dejetos é muito variável, de acordo com a região, sistema adotado e densidade de animais. Observase que os valores são muito próximo aos reportados por Sobestiansky et al.(1998). Quando questionados sobre a forma de armazenamento desses dejetos e o qual destino é dado a eles, está em parte de acordo com UPS menos tecnificadas das diferentes regiões do Brasil (OLIVEIRA,1993). O resíduos são armazenado em caixas de decantação e esterqueiras, ou seja, esse processo permite a separação fase líquida e dos componentes sólidos. A propriedade em estudo apresenta características peculiares de propriedades menos tecnificadas, semelhantes às das regiões do sul do Brasil (OLIVEIRA, 1993; SOBESTIANSKY et al.,1998). A aplicação de dejetos na UPS é normalmente é utilizada em culturas anuais. Ceretta et al.(2010), adicionando dejetos líquidos ao solo, por longo período, constataram que pouco influenciou a separação do fósforo em frações inorgânicas e orgânicas. Contataram ainda que as sucessivas aplicações de dejetos aumentam o acúmulo de P em frações predominantemente disponíveis no solo, o que implicam em um risco potencial de contaminação dos cursos d água superficiais e mais profundos. Neste aspecto, Cassol (2012) ao aplicarem os dejetos líquidos de suíno ao solo anualmente, na superfície do solo, em doses maiores que 50 m 3 ha -1, em geral, aumentaram a disponibilidade de nutrientes nos 5 cm superficiais do solo, muito embora não tenha ocorrido alterações o ph. A utilização dos dejetos suínos, utilizando a técnica de biodigestores não é empregada na UPS sob estudo, para aproveitamento dos subprodutos do processo como o biogás e o biofertilizante (FERNANDES, 2012). Uma das opções que vêm ganhando espaço e tecnologia é a degradação da matéria orgânica, que, no meio das possibilidades, promove a produção de biogás (RITTER, SANTOS e CURTI, 2013) e oportunidade de reciclagem de nutrientes para utilização na agricultura (SANTOS; NARDI JUNIOR,2013). A produção do biogás e do biofertilizante pelo sistema de biodigestão agrega valor à propriedade rural, trazendo geração de energia renovável, reciclagem de nutrientes para as plantas e saneamento ambiental (SANTOS e JÚNIOR 2013). De acordo com Colatto; Langer

4 162 (2012), o esterco de bovino tem um rendimento de 0,04 m3 de biogás por kg de material orgânico, enquanto que o esterco de galinha e suíno, rendem respectivamente 0,45 e 0,35 m 3 de biogás por kg de material orgânico. A biodigestão de resíduos orgânicos agrega valor à unidade produtora, oferecendo dois produtos, o biogás com alto poder calorifico, e o biofertilizante, rico em nutrientes, gerando assim energia renovável e oportunidade de reciclagem de nutrientes para utilização na agricultura (SANTOS; NARDI JUNIOR,2013). Fernandes(2012) destaca em seus estudos que em média, uma granja suinícola, na composição do metano produzido via biodigestão, há uma concentração de 60% de metano, o que corresponde a um poder calorífico médio de 5,97 kwh.m -3, convertendo o biogás em geração de energia elétrica com a surpreendente eficiência de 24%. Na suinocultura catarinense, esta técnica tem permitido o destino ambientalmente apropriado aos efluentes gerados do processo de biodigestão, e podem ser usados com relativa segurança na agricultura (RITTER, SANTOS, CURTI,2013). 4 Considerações finais A UPS tem como característica principal o uso de esterqueira, e a aplicação dos resíduos ocorre na cultura da cana-de-açucar. A UPS não faz o uso de biodigestores, o que poderia representar uma fonte de renda adicional. A quantidade de água presente nos dejetos da UPS pesquisada é elevado devido a utilização de lavagem rotineira das baias dos animais. Referências ALMEIDA, J. A. Pesquisa em extensão rural: um manual de metodologia. Brasília: MEC/ABEAS, CASSOL, P. C. et al. Disponibilidade de macronutrientes e rendimento de milho em latossolo fertilizado com dejeto suíno. Rev. Bras. Ciênc. Solo, vol.36 no.6 Viçosa Nov./Dec CERETTA, C. A. et al. Frações de fósforo no solo após sucessivas aplicações de dejetos de suínos em plantio direto. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.45, n.6, p , jun, COLATTO, L; LANGER, M. Unoesc & Ciência ACET, Joaçaba, v. 2, n. 2, p , jul. /dez DIESEL, R.; MIRANDA, C. R.; PERDOMO, C. C. Coletânea de tecnologias sobre dejetos suínos. Boletim informativo BIPERS nº 14, 31p., agosto de Disponível em: < Acesso em março de EYERKAUFER, M. L.; BRITO, A. de O. Análise de viabilidade econômica da compostagem de dejetos suínos, v. 01, n. 2, dezembro de Disponível

5 163 em:< Acesso em março de FERNANDES, D. M. Biomassa e biogás da suinocultura p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, OLIVEIRA, P. A. de. Manual de manejo e utilização dos dejetos de suínos. EMBRAPA- CNPSA, p. (Documentos, 27) OLIVEIRA, P. A. de; NUNES, M. L. A. Sustentabilidade ambiental da suinocultura. Disponível em: < Acesso em março de PINTO, L. P. et al. Levantamento de dados sobre os dejetos suínos e suas características. Revista Brasileira de Energias Renováveis, v. 3, p , RITTER, Maria Cíntia; SANTOS, Francielle Rocha; CURTI, Suzana. Potencial de produção de biogás com dejetos da suinocultura: Sustentabilidade e alternativa energética em Santa Catarina. Revista Tópos, v.7, nº 1, p , Disponível em < Acesso em abril de SANTOS, E. L. B. dos; NARDI JUNIOR, G. DE Produção de biogás a partir de dejetos de origem animal. Tekhne e Logos, Botucatu, SP, v.4, n.2, Agosto, SEGANFREDO, M. A. Viabilidade econômico-ambiental do uso de dejetos animais e lodos de esgoto como fertilizante. Palestra apresentada na Fertbio Bonito, MS, (CDROM). SOARES, N. B. Educação ambiental no meio rural: estudo das práticas ambientais da escola Dario Vitorino Chagas comunidade rural do umbu p.. Especialização (Monografia). Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais,2007. SOBESTIANSKY, Jurij; WENTZ, Ivo; SILVEIRA, Paulo R. S. da; SESTI, Luiz A. C. Suinocultura Intensiva: Produção, Manejo e Saúde do Rebanho. Brasília: Embrapa, 1998.