O meu respiro suave sobre teu peito nu,

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3 O MEU RESPIRO SUAVE SOBRE O TEU PEITO NU Redenção - Pará [ 3 ]

4 Copyright - Alufa-Licuta Oxoronga Esta obra foi publicada sob uma licença Você pode: Copiar, compartilhar, distribuir, exibir e executar a obra sob as seguintes condições: Atribuição (BY): Direito de copiar, distribuir, exibir, executar, fazer trabalhos derivados da obra, conquanto que deem créditos devidos ao autor original, conforme estabelecido por ele nesta licença. Uso Não comercial (NC): Podem copiar, distribuir, exibir, executar e fazer trabalhos derivados da obra, desde que sejam para fins nãocomerciais. Não a obras derivadas (ND): Podem copiar, distribuir, exibir e executar apenas cópias exatas da obra, não podendo criar derivações da mesma. Compartilhamento pela mesma licença (SA): Devem distribuir obras derivadas somente sob uma licença idêntica à que governa a obra original. alufalicuta@hotmail.com [ 4 ]

5 Alufá-Licutã Oxorongá O MEU RESPIRO SUAVE SOBRE O TEU PEITO NU [ 5 ]

6 Ficha catalográfica: Alufa-Licuta Oxoronga O MEU RESPIRO SUAVE SOBRE O TEU PEITO NU Poesia Recife Brasil Literatura Brasileira - poesia Alufa-Licuta Oxoronga O meu respiro suave sobre o teu peito nu: poesia 128p.; il. Recife Pernambuco [ 6 ]

7 Somos donos do tempo quando o tempo se esquece de nós. Mia Couto [ 7 ]

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9 O revelar do dia em anúncios de afeto As dores do ontem não traceja seu sangue no olvidar do dia, tão e somente se coloca em função de amarelecido retrato disposto em parede. O meu olhar não se ilude. Amanhece em Redenção e o dia se apressa. O fim do inverno redencense principia dias de sol. Rajadas de vento enleia o meu rosto. Da vidraça frisos solares adentra a casa. A cada lufada do vento matinal a vida me apanha quieto. Meu coração está sossegado. Mergulhado em ti, amor, peço acolhimento. O interlúdio do vento me mantém estático em pensamento de ti, a olhar a imensidão de nós, como se a tua imensidão se fundisse à minha e, ambas se batizassem de um mesmo viver, de um só existir. O existir de nós! Um existir de agradável expectativa, onde águas, ventos, pássaros e nuvens são partes de uma mesma aquarela, de um mesmo mergulho, do meu e do teu mergulhar de vida e de vivências de vida em um mesmo co-existir. A manhã se desvela da ânsia e revela a mim seu corpo fugidio. O desertor de mim não me apanha apreensivo. Sei dos cânticos e dos cantares. Dos frutos e dos pomares. Sei que esta manhã deságua em minh'alma um cântico de esperança. [ 9 ]

10 Uma furtiva lágrima na face me consola dos tormentos passados. Os escárnios irrefletidos ficaram para traz. O frenesi dos passos denota alegria. A pálida manhã se aninha nos braços do dia em conforto maternal. O revelar do dia me silencia da saudade. Do peito, que ontem vociferava solidão, no dia que nasce se descreve universo. No avessar do vento que me apanha o rosto e corpo, desatino a sorrir. O cântico da vida ufana alegria. Que importa se lá fora os pássaros se entonteçam aos primeiros raios do sol? O importante é que por dentro do coração do poeta tudo se legitima e a vida, avidamente esperancia vivência. No rasgar do dia a manhã se coloca ao encontro do afeto. Do meu afeto por ti [ 10 ]

11 Lindo jardim vivencial Já no deitar do dia, quando a noite esboçava bocejos de açorianas querenças em meu ser e os meus cansaços se faziam passos a um adentrar quieto e diário, fui ao útero das ruas. Por lá fiquei algum tempo, contemplando as cavidades uterinas e suas artérias sanguíneas. O meu desejo não era o de parir a noite, ainda que as contrações do parto há muito se fizessem presentes. Quis tocar minha barriga, sentir o momento, me conectar ao sentir o outro, como se o tempo expandisse o cérvix às turba falopianas, trazendo a mim o endométrico e progesterônico existir, me fecundando para um novo olhar, explodindo e rompendo em mim uma secreção que haveria de nutrir o embrião da noite. Quis compreender o que os passos me traziam em angustiada vivência e te vi em meio a estas cavidades a me sorrir. Depois de uterinizar o meu dia parti de volta à minha gravidez de vida. Habitante de raízes e troncos que sou, teci o meu ser no tecido da noite e orbitei o ser às mobílias do universo. De repente tu aproximastes de mim e me disse baixinho: Me fale do seu dia. Respondi: Fiando e [ 11 ]

12 Colhendo. Tantas coisas iguais. Voo, vão, vela, chama, chão rio, mar, vento. Tão próximos e sem se verem. E assim me reconheci em ti o meu dia. Lindo jardim vivencial. E fui atravessar a noite colhendo minhas flores. Recolhendo do tempo os nossos restolhos de vida. [ 12 ]

13 Nas consturanças do dia No morrer da noite imaginei o dia mais pesado e sofrível. De um salto percebi que não havia razão para qualquer temor. Deitados na cama e com teu sorriso colado aos meus lábios tu me dizias secretas coisas que me alargava o desejo por tê-la um pouquinho a mais a meu lado. E assim ficamos, no ir e no vir durante toda as morrenças da noite (pois morre a noite um pouco a cada vez, sem pressa, no pontilhar da luz em cada fresta), na desejada espera do dia, olhando cada ponto cerzido pela noite, cada alinhavo (uns frouxos, outros bem presos ao nosso tecido de ser) e desalinhavados pelas mãos laboriosas da manhã, no seu cerzir diário de suas consturanças do dia. Neste olhar mútuo e de iguais sorrisos permanecemos. Recebi lindas imagens de ti que, por vezes me fizeram sorri. E o dia enfim serenou. Amanheceu tocado por uma chuvinha intermitente, que se iniciou com uma saraivada de vento que parecia não ter fim, como se quisesse nos assustar a alma, para, logo em seguida, se transformar em uma doce chuva de fim de inverno, com pingos batendo no telhado da casa e nos estendendo o desejo de cama por mais um tempo. E assim permanecemos. [ 13 ]

14 Abraçados, como se fossemos os fios tecidos pela noite e ofertados ao dia em novelos de alegria. Neste interim me fiz habitante de troncos, trincos e raízes. Costurei por dentro meu conhecido entranhamento de ramas e flores e fui brincar de primavera. Tu primaveriza o meu dia. Orna o meu ser de cores e aromas. Quero muito cuidar de ti em tudo. No que for possível. Em cultivo diário e eterno. Cuidarei de ti com todo o carinho que merece. Minha busca amorosa e incansável de te entender. Compreender. Aprender. Saber. Viver. Estar! Em ti. Por ti. Leio-te, como se fosse uma cartografia tatuada em minha pele. No mapa de nossa existência conheço cada latitude e longitude tua. Teus temores e lassidões. Teus desejos e imensidões. O teu rasgar de pele, tuas reentrâncias e anuências, teus sumidouros mais profundos, tuas vazantes que me invade o corpo em um atropelo de enchente, saciando toda a minha sede, florindo o meu estioso dia. Talvez eu nunca esteja preparado para ti. É justamente este não-preparo que me encanta ao me lançar à ti. Amo a tua in/sustentável leveza de ser. Contigo, uma combustão de ideias e impressões invadem a minha alma. Igual um cão que abocanha uma tripa, tenho fome de ti, meu amor. Fome de ser. [ 14 ]

15 De fechar os olhos com os teus coladinhos aos meus. Contigo durmo sorrindo. Cultivo em meu coração um cântico de paz. Tenho quietude e afago em teus braços. Terra, húmus, chuvinha, orvalho, brisa pela manhã. Foi no principio de um inverno, tantos anos atrás, que tratamos e cuidamos do nosso jardim. De imediato te li em gestos e anunciação de alma. Depois de tantos invernos e seus vendavais, neste finalzinho de inverno tu me primavera amor. Contigo me desperto para a vida, me lanço ao vazio da vida completo de ti. Tu me desnorteias. Ah. Como é bom tê-la em minha existência.te agasalhei na hora que te conheci. Hoje te acolho envolto dentro de mim, em uma presença constante. Te coloco em mais espaços de mim. Somos seres em (in)completude de existência, feito estrela cadente desabando dos céus. [ 15 ]