UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
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- Ângelo Neto Sanches
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO MARCIO FERRAZ MONTEIRO AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DO FERTILIZANTE SUPERFOSFATO SIMPLES SALVADOR 2008
2 i MARCIO FERRAZ MONTEIRO AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DO FERTILIZANTE SUPERFOSFATO SIMPLES Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo Ênfase em Produção Limpa, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre. Orientadora: Drª Rosana Fialho V. de Melo Co-orientador: Dr. Asher Kiperstok Salvador 2008
3 ii Monteiro, Marcio Ferraz Avaliação do Ciclo de Vida do Fertilizante Superfosfato Simples/ Marcio Ferraz Monteiro. Salvador, p.: il.color Orientador: Prof a. Dr a. Rosana Fialho Vieira de Melo Co-orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok Dissertação (Mestrado) Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, Ciclo de Vida (Avaliação) 2. Aspectos Ambientais 3. Superfosfato Simples. I.Melo, Rosana Fialho Vieira de. II.Titulo.
4 iii RESUMO Neste trabalho a Análise de Ciclo de Vida ACV, ferramenta para avaliação sistemática dos aspectos ambientais de um produto compreendendo todos os estágios do seu ciclo de vida, foi aplicada para efetuar uma avaliação da produção do superfosfato simples (SSP), usando a abordagem do berço ao portão de fábrica. As categorias selecionadas para o estudo foram as de potencial de aquecimento global (PAG), potencial de redução de ozônio (PRCO), criação de oxidantes fotoquímicos (PCOF), depleção abiótica (PDA), radiação radioativa (RRD), potencial de acidificação (PA) e potencial de eutrofização (PE). Os resultados do estudo apontaram que solubilização do concentrado fosfático por ácido sulfúrico traz consigo uma grande carga ambiental proveniente principalmente do estágio de produção do enxofre (41,6 %), além dos estágios de transporte marítimo do enxofre (18,4 %) e do processo produtivo do ácido sulfúrico (10,2 %). Outro fator importante é o tipo de sistema viário adotado pelo Brasil transporte rodoviário que acarreta na segunda maior contribuição à carga ambiental do produto (18,4%). Palavras-Chave: Avaliação do Ciclo de Vida, aspectos ambientais, superfosfato simples.
5 iv ABSTRACT In this work Life Cycle Assessment (LCA), a tool for systematic evaluation of the environmental aspects of a product through all stages of its life cycle, was applied to perform an environmental evaluation of super simple phosphate (SSP) production, using a cradle to gate approach. In order to perform the life cycle impact assessment (LCIA) the following impact categories were selected: global warming potential (GWP), ozone depletion potential (ODP), photochemical ozone creation (POCP), abiotic depletion (ADP), radioactive radiation (RAD), acidification potential (AP) and eutrophication potential (EP). The results show that the major environmental impact is due to the sulfur production stage (41,6%), further to the stages of maritime transport of sulphur (18.4%) and the production process of sulphuric acid (10.2%). Another important factor is the type of road system adopted by Brazil - road - which carries the second largest contribution to the total environmental score of the product (18,4%). Keywords: Life Cycle Assessment, environmental aspects, super simple phosphate.
6 v AGRADECIMENTOS Aos docentes, colegas e funcionários principalmente a Jaqueline Mendonça e Loriana Reis da Rede de Tecnologias Limpas (TECLIM da UFBA), pelo aprendizado, convívio e prestatividade, respectivamente. À Cecília Makishi, sempre prestativa, pelo enorme ensino sobre o software Gabi 4.0. Aos colegas do projeto ACV-COELBA (TECLIM): Lucas Almeida, Flávia Melo e Priscilla Pereira pela troca de experiências a respeito do software Gabi 4.0, e a Mª de Lourdes Silva pelas discussões da temática ACV. À Ângela Lima pela gentileza e disponibilização de materiais relacionados ao tema da ACV. À Linda Carla Bulhosa pela atenção e compartilhamento do conhecimento de formatação do trabalho segundo as normas ABNT. Aos orientadores Drª Rosana Melo (UFBA) e Dr. Asher Kiperstok (UFBA/TECLIM), bem como ao Dr. Armando Caldeira (UNB) e ao Dr. Doneivan Ferreira (UFBA), cujas opiniões, sugestões e informações técnicas foram fundamentais ao trabalho. Aos meus irmãos, Daniel Monteiro pelos materiais didáticos e informações referentes aos processos produtivos do diesel refinado e recuperação de enxofre, e Juliana Monteiro pelo incentivo ao trabalho realizado. Aos meus pais, a quem devo minha formação pessoal e profissional que me possibilitaram chegar até este ponto da minha vida. Em especial à Virgínia Seixas, pelas horas de convívio subtraídas, pelo conforto, carinho, compreensão da importância deste trabalho para mim e enorme apoio. A todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho.
7 vi Buliram muito com o planeta O planeta como um cachorro eu vejo Se ele não agüenta mais as pulgas Se livra delas num sacolejo Raul Seixas As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor
8 vii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACV Avaliação de Ciclo de Vida; AICV: Avaliação de Impactos de Ciclo de Vida; ANDA Associação Nacional para Difusão de Adubos; CML Center of Environmental Science; COV Compostos Orgânicos Voláteis; CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais; DA/DC Processo de Dupla Absorção e Duplo Contato; DALY Disability Adjusted Life Years; DAP Fosfato de Diamônio; DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral; FMP Termofosfato Magnesiano Fundido; IAP Indicador Ambiental Ponterado; ICV - Inventário de Ciclo de Vida; IFB - Instituto de Fosfatos Biológicos; ISO - International Organisation for Standardization; MAP Fosfato de Monoamônio; MME: Ministério das Minas e Energia; MRI Midwest Research Institute; PA Potencial de Acidificação; PAG Potencial de Aquecimento Global; PCOF Potencial de Criação de Oxidantes Fotoquímicos; PDA Potencial de Depleção Abiótica; PE Potencial de Eutrofização; PIP - Política Integrada de Produtos; PRCO Potencial de Redução da Camada de Ozônio; REPA Resource EnvironmentalProfile Analysis; RRD Radiação Radioativa; SETAC Society of Enviromental Toxicology and Chemistry; SSP Superfosfato Simples; TSP Superfosfato Triplo; UNEP United Nations Program Environmental; URE Unidade de Recuperação de Enxofre; WMO Organização Meteorológica Mundial.
9 viii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO OBJETIVOS Objetivo geral Objetivo específico REVISÃO DA LITERATURA Princípios da Avaliação de Ciclo de Vida Histórico Interface da ACV com a Produção Mais Limpa Aplicações da ACV Procedimentos para uma ACV Definição do escopo e objetivo Inventário do Ciclo de Vida (ICV) Avaliação dos Impactos Ambientais Interpretação dos resultados Softwares de Avaliação de Ciclo de Vida Gabi Nutrientes das plantas Fertilizantes fosfatados Super Fosfato Simples (SSP) Rocha fosfática Ácido sulfúrico Cadeia produtiva do SSP Mineração de rocha fosfática Beneficiamento de rocha fosfática Produção de ácido sulfúrico Produção de Superfosfato Simples (SSP) Recuperação de enxofre Produção de cal hidratada Tratamento de água Remoção de compostos orgânicos da água Desmineralização de água Produção de soda cáustica em escamas... 74
10 ix Commodities Diesel refinado e energia elétrica ACV Superfosfato Simples ACV DO FERTILIZANTE SUPERFOSFATO SIMPLES PRODUZIDO PELO GRUPO GALVANI Introdução Objetivos Escopo Sistema de Produto Subsistema de produção do enxofre elementar Subsistema de logística portuária de exportação do enxofre elementar Subsistema de transporte marítimo Subsistema de logística portuária de importação do enxofre elementar Subsistema de produção de cal hidratada Subsistema de tratamento de água Subsistema de produção de soda cáustica (escamas) Subsistema de produção do ácido sulfúrico Subsistema de lavra da rocha fosfática Subsistema de beneficiamento da rocha fosfática Subsistema de produção do fertilizante SSP Subsistema de transporte rodoviário Subsistema de produção do diesel refinado Subsistema de produção de energia em hidrelétrica Função do produto Unidade funcional Fronteiras do sistema de produto Fronteiras em relação ao sistema natural Fronteira em relação a outros sistemas Fronteira geográfica Fronteira temporal Fronteira relacionada aos bens de capital e pessoal Fronteira tecnológica Procedimentos de alocação Alocação - Subsistema de produção da soda cáustica Alocação - Subsistema de produção do ácido sulfúrico... 94
11 x Alocação - Subsistema de produção do fertilizante SSP Alocação - Subsistema de produção de diesel Tipos de impacto & metodologia de avaliação e interpretação Tipos de impactos ambientais Consumo de recursos energéticos Emissões Atmosféricas Efluentes líquidos Resíduos sólidos Metodologia de Avaliação e Interpretação Requisitos da qualidade dos dados iniciais Suposições Limitações Tipo de análise crítica Inventário do Ciclo de Vida ICV Modelagem do ICV Coleta de dados Fluxogramas de processos & identificação dos aspectos ambientais Avaliação do Inventário do Ciclo de Vida Procedimento RESULTADOS E DISCUSSÕES Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida Apresentação dos Resultados Discussão dos resultados CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES REFERÊNCIAS
12 xi LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fluxograma dos subsistemas vinculados diretamente ao processo produtivo do SSP Figura 2: Ciclo de vida de um produto Figura 3: Estrutura das fases da ACV Figura 4: Elementos da fase de AICV Figura 5: Etapas da Avaliação de Impacto de Ciclo de Vida Figura 6: Elementos da fase de Interpretação dentro da ACV Figura 7: Fixação do P por reações químicas Figura 8: Ação de microorganismos formando complexos estáveis com o Al, Ca e Fe. 45 Figura 9: Processos utilizados no Brasil para produção de fertilizantes fosfatados Figura 10: Fluxograma do processo de beneficiamento de rocha fosfática em rota úmida Figura 11: Fluxograma do processo de beneficiamento de rocha fosfática em rota a seco Figura 12: Diagrama do processo de dupla absorção para a produção de ácido sulfúrico Figura 13: Fluxograma esquemático do processo produtivo de SSP Figura 14: Fluxograma de uma Unidade de Recuperação de Enxofre Figura 15: Fluxograma do processo produtivo da cal hidratada Figura 16: Configurações típicas de projeto de desmineralização por troca iônica Figura 17: Fluxograma esquemático da produção de soda cáustica Figura 18: Modelagem qualitativa do ciclo de vida do fertilizante SSP Figura 19: Escopo geográfico delimitado pelas unidades de produção e logística Figura 20: Modelagem quali-quantitativa do ciclo de vida do fertilizante SSP Figura 21: Exemplo de utilização do processo de movimentação interna de insumos Subsistema: Produção de SSP Figura 22: Discriminação da carga ambiental do subsistema: Transporte Rodoviário. 143 Figura 23: Discriminação da carga ambiental do subsistema: Produção de Diesel Figura 24: Discriminação da carga ambiental do subsistema: Logística Portuária Figura 25: Contribuição das categoria de impacto nos subsistemas do ciclo de vida do produto
13 xii Figura 26: Reavaliação da contribuição das categoria de impacto nos subsistemas do ciclo de vida do SSP Figura 27: Porcentagem de contribuição de cada subsistema na carga ambiental do produto Figura 28: Porcentagem de contribuição de cada categoria de impacto na carga ambiental do produto Figura 29: Porcentagem de contribuição de cada subsistema no total de cada categoria de impacto
14 xiii LISTA DE FOTOS Foto 1: Planta de refino de enxofre Port Arthur / Texas (EUA) Foto 2: Logística de importação - Port Arthur / Texas (EUA) Foto 3: Transporte marítimo do transporte de enxofre elementar Foto 4: Logística de descarregamento/ armazenamento do enxofre importado Foto 5: Planta de produção de cal hidratada Formoso do Araguaia (TO) Foto 6: Processo de tratamento de água por filtragem (carvão ativado) e troca iônica.. 85 Foto 7: Planta de produção de soda cáustica Diadema (SP) Foto 8: Planta de produção de H 2 SO 4 Complexo Industrial Luiz Eduardo Magalhães (BA) Foto 9: Lavra de rocha fosfática Unidade de Mineração Angico (BA) Foto 10: Planta de beneficiamento de rocha fosfática Unidade de Mineração Angico (BA) Foto 11: Planta de produção de SSP Complexo Industrial Luiz Eduardo Magalhães (BA) Foto 12: Caminhões utilizados para o transporte de produtos e insumos Foto 13: Planta de produção de diesel Refinaria Landulfo Alves Mataripe (BA) Foto 14: Geração de energia elétrica Hidrelétrica de Sobradinho (BA)... 89
15 xiv LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características dos principais fertilizantes fosfatados comercializados no Brasil Tabela 2: Principais produtores nacionais de superfosfato simples Tabela 3: Principais produtores nacionais de H 2 SO Tabela 4: Balanço Energético para a produção industrial de H 2 SO Tabela 5: Processos de remoção de sólidos dissolvidos Tabela 6: Subsistemas considerados e excluídos na ACV do SSP Tabela 7: Ecobalanço do subsistema de logística portuária (exportação) Tabela 8: Ecobalanço do subsistema do transporte marítimo Tabela 9: Ecobalanço do subsistema de logística portuária (importação) Tabela 10: Ecobalanço do subsistema de tratamento de água Tabela 11: Ecobalanço do subsistema de produção ácido sulfúrico Tabela 12: Ecobalanço do subsistema de lavra de rocha fosfática Tabela 13: Ecobalanço do subsistema de beneficiamento de rocha fosfática Tabela 14: Ecobalanço do subsistema de produção de SSP Tabela 15: Ecobalanço do subsistema de transporte rodoviário de enxofre elementar. 128 Tabela 16: Ecobalanço do subsistema de transporte rodoviário de cal hidratada Tabela 17: Ecobalanço do subsistema de transporte rodoviário de soda cáustica Tabela 18: Ecobalanço do subsistema de transporte rodoviário de concentrado fosfático Tabela 19: Fatores de normalização do método CML Tabela 20: Fatores de ponderação do método CML Tabela 21: Fatores de normalização: CML2001, World Tabela 22: Fatores de ponderação: CML2001, Experts IKP (Southern Europe) Tabela 23: Perfil ambiental do fertilizante SSP Tabela 24: Avaliação da qualidade dos dados utilizados nos planos e processos da ACV
16 xv LISTA DE ANEXOS Anexo 1: Softwares de análise do ciclo de vida Anexo 2: Ecobalanço do processo de produção de enxofre Anexo 3: Ecobalanço do processo produtivo de cal hidratada Anexo 4: Ecobalanço do processo produtivo de soda cáustica Anexo 5: Ecobalanço do processo produtivo de diesel (produzido nos E.U.A) Anexo 6: Ecobalanço do processo produtivo de diesel (produzido no Brasil) Anexo 7: Ecobalanço da usina de geração de energia (hidrelétrica)
17 1 1. INTRODUÇÃO A questão ambiental diz respeito ao modo contraditório pelo qual a espécie humana tem marcado sua atuação ao longo do tempo sobre a superfície da Terra. Ao mesmo tempo em que busca satisfazer suas necessidades básicas e melhorar as condições de vida, buscando o desenvolvimento, as atividades antrópicas têm gerado alterações significativas nos processos e recursos naturais terrestres, cujas conseqüências ambientais e socioeconômicas parecem hoje ameaçar sua própria existência e trazer incertezas em relação ao futuro do planeta (BITAR, 2004). Cresce a preocupação das questões voltadas para avaliação do impacto ambiental do produto, levando em consideração todas as etapas da sua vida. Este tipo de abordagem traz como estratégia necessária à inserção de políticas ambientais eficazes na empresa, particularmente ligada à produção limpa, a fim de não se transferir o impacto ambiental para outra etapa do ciclo de vida do produto. Quanto mais a empresa adiar as ações ambientais, menos tempo terá para conseguir as reduções exigidas pela legislação e mercado e, conseqüentemente, as medidas terão que ser ainda mais profundas. As empresas que hoje já empreendem de forma mais responsável estão conseguindo agregar valor aos seus produtos e serviços e à sua própria marca. Alguns desses valores, antes considerados intangíveis, atualmente encontram-se perceptivos para a sociedade, os acionistas e investidores, e principalmente os consumidores que já diferenciam esses valores (ROMM, 2004). Os recursos naturais se tornam cada vez mais escassos, e os diferentes atores da cadeia de valores devem estar conscientes de que, para competir, devem não só inovar produto ou serviço, mas também introduzir uma visão mais sustentável na forma de conduzir os negócios. É por isso que a introdução de uma gestão ambiental estratégica, envolvendo todo o ciclo de vida de um produto irá propiciar maiores possibilidades para sustentabilidade do negócio, de forma a ser um elemento que não só agregue valor, mas também contribua para o desenvolvimento dos membros envolvidos em todo o processo (ROMM, 2004). As oportunidades de redução da geração de rejeitos e do consumo de matérias primas e energia devem ser analisadas de forma sistêmica, visando interligar o destino de materiais e de sua transformação em produto por meio de vários processos. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) constitui uma ferramenta indispensável para o melhor acompanhamento dos ciclos de produção e a identificação de alternativas de interação entre processos.
18 2 Os solos do território brasileiro são, em geral, ácidos e mineralmente pobres dos nutrientes principais. Tais características condicionam ao país a necessidade do emprego maciço de fertilizantes, não só dos fosfatados, para repor as quantidades dos elementos vitais retirados do solo pelos processos de intemperismos geológicos (SOUSA, 2001). Considerando a importância do agronegócio no país e a larga escala da produção do fertilizante superfosfato simples (SSP) para o setor agropecuário, se faz necessário o conhecimento dos impactos ambientais das transformações industriais envolvidas no ciclo de vida do SSP. Assim poder-se-á estabelecer diretrizes para avaliar alternativas mais sustentáveis para o processo produtivo deste produto. No intuito exclusivo de situar o leitor quanto à dimensão do estudo é apresentado o contorno do sistema, contemplando os estágios vinculados diretamente ao ciclo de vida do SSP produzido pelo grupo GALVANI (figura 1). A modelagem qualiquantitativa do ciclo de vida do SSP está representada mais adiante na figura 23. Produção de: S & Ca(OH) 2 Produção de: H 2 SO 4 & H 2 O Desmin. Produção de SSP Uso de SSP Lavra da rocha fosfática Beneficiamento da Rocha fosfática Contorno do Sistema Figura 1: Fluxograma dos subsistemas vinculados diretamente ao processo produtivo do SSP. 2. OBJETIVOS Os objetivos do estudo pretendido estão relacionados ao conhecimento dos aspectos ambientais para um melhor planejamento de políticas ambientais,
19 3 especificamente ao planejamento ambiental do Grupo GALVANI. Ambos objetivos são individualizados a seguir Objetivo geral O presente trabalho tem por objetivo principal realizar a Avaliação do Ciclo de Vida do processo produtivo do fertilizante superfosfato simples SSP produzido pelo grupo GALVANI Objetivo específico De modo mais específico, pode-se afirmar que os objetivos deste trabalho são: - Conhecer melhor a ACV, suas limitações, dificuldades e vantagens; - Avaliar do desempenho ambiental das transformações industriais envolvidas no ciclo de vida do SSP; - Identificar os aspectos ambientais mais significativos para o caso das transformações industriais envolvidas no ciclo de vida do SSP; - Identificar o subsistema de maior impacto ambiental das transformações industriais envolvidas no ciclo de vida do SSP; - Propor ações para melhoria do desempenho ambiental das transformações industriais envolvidas no ciclo de vida do SSP. 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. Princípios da Avaliação de Ciclo de Vida A análise do ciclo da vida (ACV) é uma ferramenta de gestão ambiental que permite avaliar todo os possíveis efeitos ambientais propiciados ao longo da trajetória do produto, desde a extração da matéria-prima, passando pela produção e uso, as possibilidades de reciclagem e reuso, até sua disposição final. Boustead (1995) entende que a ACV, sistematicamente, identifica e avalia oportunidades para minimizar as conseqüências globais sobre o meio ambiente referente ao uso de recursos naturais e as emissões. Benjamin (2002) esclarece que a ACV não irá determinar qual produto ou processo é melhor, apenas aquele que pode carregar menor carga ambiental. A informação desenvolvida em uma ACV deve ser usada como uma componente para uma decisão mais focada na análise do processo em relação a custo e performance.
20 4 A padronização dos procedimentos da ACV pela ISO se deu dentro da estrutura da ISO Sistema de Gestão Ambiental. As normas relacionadas a ACV são: - ISO 14040: ACV Princípios Gerais e Estrutura - ISO 14041: ACV Definição de Escopo e Avaliação de Inventário - ISO 14042: ACV Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida - ISO 14043: ACV Interpretação do Ciclo de Vida A norma ISO Princípios e Estrutura - especifica a estrutura geral, princípios e requisitos para conduzir e relatar estudos de avaliação do ciclo de vida, não incluindo as técnicas de avaliação do ciclo de vida em detalhes. A norma ISO Definição de escopo e análise do inventário - orienta como o escopo deve ser suficientemente bem definido para assegurar que a extensão, a profundidade e o grau de detalhe do estudo sejam compatíveis e suficientes para atender ao objetivo estabelecido. Da mesma forma, esta norma orienta como realizar a análise de inventário, que envolve a coleta de dados e procedimentos de cálculo para quantificar as entradas e saídas pertinentes de um sistema de produto. A norma ISO Avaliação do impacto do ciclo de vida - especifica os elementos essenciais para a estruturação dos dados, sua caracterização, a avaliação quantitativa e qualitativa dos impactos potenciais identificados na etapa da análise do inventário. A norma ISO Interpretação do ciclo de vida - define um procedimento sistemático para identificar, qualificar, conferir e avaliar as informações dos resultados do inventário do ciclo de vida ou avaliação do inventário do ciclo de vida, facilitando a interpretação do ciclo de vida para criar uma base onde as conclusões e recomendações serão materializadas no Relatório Final. A norma ISO define a ACV como: Compilação dos fluxos de entrada e saída e avaliação dos impactos ambientais associados a um produto ao longo do seu ciclo de vida. Esta norma define ainda ciclo de vida como: Estados consecutivos e interligados de um produto, desde a extração de matérias-primas ou transformação de recursos naturais, até a deposição final do produto na Natureza. Para Kiperstok e outros (2003) a utilização da ACV, como ferramenta de análise de impacto ambiental, ajuda a evitar a substituição de um problema por outro, no sentido de evitar um possível deslocamento de impacto ambiental de um estágio do ciclo de vida para outro.
21 5 Um ponto extremamente importante para obter sucesso na ACV de um produto é a definição do que será avaliado, de modo a evitar a inclusão de impactos ambientais mínimos em relação aos impactos provenientes do processo produtivo. Desta forma a adoção e execução das recomendações do relatório final deverão ser mais factíveis. Chehebe (1998) alerta que na prática, o delineamento do contorno do sistema a ser estudado deve ser realizado com extremo cuidado, pois existe uma limitação natural dos recursos financeiros e do tempo. À medida que se adicionam detalhes profundos ao modelo de estudo, adiciona-se ao mesmo tempo complexidade, despesas e utilidade reduzida. Os limites do estudo devem ser analisados de acordo com o objetivo proposto. Kiperstok e outros (2002) afirmam que a definição dos limites do estudo deve levar em consideração os itens que representem maior custo ambiental. Segundo Tosta (2004), conhecer a ACV não se restringe ao domínio de sua definição, sendo necessário conhecer profundamente os objetivos, limitações, potencialidades e condições adequadas de uso, a fim de evitar resultados equivocados, e consequentemente a perda de credibilidade da ferramenta. A utilização desta ferramenta possibilita a saída dos limites da indústria e a realização de uma avaliação completa, definindo em que etapa da vida de um produto representa o maior risco ambiental. Desta forma, segundo Kiperstok e outros (2002) podem ser identificadas, adequadamente, oportunidades de melhorias ambientais. Na ACV são avaliados os descartes gerados nas diferentes etapas do ciclo, tais como as emissões atmosféricas, a geração de efluentes líquidos e resíduos sólidos, o consumo de energia e de matérias-primas e as conseqüências ambientais do uso e disposição do produto. Lindorfs e outros (1995) ressaltam que a ACV deve abordar os impactos ambientais relativos à saúde humana e ao ecossistema, levando em consideração a depreciação e degradação dos recursos naturais, não tendo o propósito de avaliar efeitos econômicos ou sociais. A Helsink University of Technology (1996) apud SANTOS (2006) elaborou um esquema simplificado do sistema de ACV, ilustrado na figura 2.
22 6 Meio Ambiente Natural Produção de Energia Matérias Primas Manufatura Distribuição Uso Materiais Auxiliares Reúso Disposição Reciclagem Incineração Contorno do Sistema Aterro Figura 2: Ciclo de vida de um produto (Helsink University of Technology, 1996 apud SANTOS,L., 2006) Histórico No final da década de 60, nos Estados Unidos, foram desenvolvidos os princípios que envolvem a técnica de ACV, com o objetivo de avaliar os impactos ambientais de produtos. O estudo mais conhecido desta fase inicial da ACV foi a análise que a Coca-Cola encomendou para o Midwest Research Institute - MRI, cujo relatório foi publicado em 1969, comparando diversas embalagens de bebida no que diz respeito a disposição de resíduos e consumo de recursos naturais (CHRISTIANSEN, 1996; VIGON e outros,1993 apud RIBEIRO, 2003 ). Este tipo de estudo passou a receber o nome de Resource EnvironmentalProfile Analysis -REPA (WENZEL e outros, 1997). Paralelamente, na Europa, desenvolvesse o método conhecido como Ecobalance (CHRISTIANSEN, 1996 apud RIBEIRO,2003), similar ao REPA. Esse modelo foi aprimorado em 1974 pelo MRI, durante a realização de um estudo para a EPA (Environmental Protection Agency), e é muitas vezes referenciado como um marco para o surgimento do que hoje conceituamos como Avaliação do Ciclo de Vida - ACV (Life Cycle Assessment). Posteriormente, na Europa, foi desenvolvido um procedimento similar chamado Ecobalance (CHEHEBE, 1998). Entre o final da década de 60 e o início da década de 70, Fava e outros (1993) apud Tosta (2004) contabilizaram cerca de 12 estudos desenvolvidos nos Estados Unidos sobre o ciclo do combustível, estimando custos e implicações ambientais
23 7 associadas com fontes alternativas de energia. Após este período, segundo Tosta (2004), alguns anos se passaram sem a ocorrência de grande evolução da ACV. Na década de 70, os estudos vincularam-se principalmente ao consumo de energia, devido à primeira crise do petróleo. Entre 1973 e 1975 governos começaram a demandar uma grande quantidade de estudos, do tipo ACV, a fim de viabilizar alternativas energéticas aos combustíveis fósseis. Com o fim do período crítico da crise o interesse pelos estudos, utilizando ACV, decresceu (RIBEIRO, 2003). No inicio da década de 80, a opinião pública européia passa a alertar sobre a crescente utilização dos recursos, a preocupação com o destino de resíduos, principalmente de embalagens de bebidas. Ressurge o interesse por ferramentas de comparação e avaliação de desempenho ambiental (VIGON e outros, 1993 apud RIBEIRO, 2003). Nesta época, vários paises europeus realizaram estudos para avaliar a carga ambiental e os potenciais impactos decorrentes de embalagens de bebidas (SANTOS, 2006). O final da década de 80 e toda a década de 90 foram pautados pelo esforço internacional para normalizar os princípios e técnicas da ACV e para desenvolver procedimento de boa conduta (SANTOS, 2006). A normalização da ACV, começou na International Organization for Standardization (ISO) e European Comitee for Standardization (CEN). Mais recentemente, na década atual, a Sociedade para Toxicidade e Química Ambiental (SETAC) na América do Norte e a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) estão realizando workshops e outros projetos para desenvolver e promover um consenso sobre uma estrutura para a condução da análise de inventário do ciclo de vida e avaliação de impactos (TOSTA, 2004). Tosta (2004) entende que devido à grande demanda de tempo e dinheiro, associado à necessidade de tornar a ACV mais objetiva na sua aplicação a casos específicos, conduziu naturalmente ao desenvolvimento de estudos que otimizassem os procedimentos, através de cortes na sua extensão, profundidade ou largura, ou através da realização de estudos puramente qualitativos Interface da ACV com a Produção Mais Limpa A Produção Mais Limpa é definida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/UNEP) como a aplicação contínua de uma estratégia
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