A FAMÍLIA E O ADOLESCENTE
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- Marisa Lima de Escobar
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1 47 A FAMÍLIA E O ADOLESCENTE Regina Mara Jurgielewecz Gomes Sem dúvida alguma, este é um tema que gera controvérsias, contudo, concordamos com Aberastury e Knobel (1992), quando ressaltaram que a adolescência é marcada por ser o período da vida em que se inicia o processo de saída da vida infantil e a possibilidade de entrada na vida adulta. Neste período de transição entre a vida infantil e a vida adulta, a palavra CRISE torna-se quase obrigatória em virtude de um frágil delineamento das normas e regras a serem cumpridas. Todos nós observamos claramente que o período da infância é norteado por regras bem delimitadas, em que a determinação do certo e do errado é bem expressa, portanto, as orientações são bem circunstanciais e bem marcadas. A vida adulta, por sua vez, também está repleta de determinações bem delineadas, claras e devidamente orientadas para o convívio social. Contudo, a fase transicional entre infância e maturidade não possui regras próprias que deixem o jovem seguro quanto ao seu cumprimento. Pelo contrário, o jovem, por vezes, não pode
2 48 exercer certas atividades por ser pequeno demais. Assim fica instalada uma gama bastante extensa de regras e valores cujos cumprimentos ficam à mercê do desejo de outrem, sem ter um padrão referencial preciso. Vamos retroceder um pouco e tentar visualizar a família deste adolescente. Inicialmente, temos um jovem rapaz e uma moça, isto em uma formulação hipotética; estes jovens de famí lias com valores próprios e não necessariamente concordantes. Os jovens casam-se. Após o casamento haverá uma adaptação de normas e regras pertinentes ao casal, o que favorecerá uma dinâmica de funcionamento própria e relativamente independente ou singular. Passado algum tempo, imaginemos que este casal resolva ter seu primeiro bebê. Após o nascimento do primeiro filho, a dinâmica inicial do casal deverá transformar-se, necessitando adaptar-se e integrar-se ao novo membro da jovem família. Agora já são três pessoas no funcionamento familiar. Imaginemos que após algum tempo ocorra o nascimento do segundo filho; isto fará com que os três primeiros tenham que reorganizar-se em função do quarto membro da família. Isto implicará em que novamente haja uma readaptação de regras e normas para o funcionamento adequado da família. Enquanto a família vai formulando novas regras para funcionar em conformidade com as necessidades de crescimento dos filhos, o casal, também, deverá rever as regras e limites para sua continuidade,
3 caso contrário, estarão fadados a uma convivência aparente ou até mesmo a dissolução. Caso a nossa família hipotética mantenha-se em dois filhos, teremos todo um funcionamento pertinente à fase infantil dos filhos, que a grande maioria dos pais tendem a extendê-lo além dos limites em virtude da maior facilidade de manuseio das regras particulares desta fase. Contudo, quando o primeiro filho chegar à adolescência, passará por uma CRISE pessoal típica desta fase e isto levará toda a família a uma NOVA RE- ORGANIZAÇÃO de regras para poder atender as necessidades do jovem adolescente. A família que não for capaz de constantes reorganizações correrá o risco de mergulhar em uma crise generalizada que, por sua vez, trará o caos familiar, podendo chegar à desunião temporária ou definitiva. Isto não implica necessariamente na dissolução do casal, mas em arranjos desastrosos para a sobrevivência da família. A família, para acolher um acolescente, tem que refazer seus pactos, alianças e estes devem ser muito claros e firmes, caso contrário a família reviverá com o adolescente suas próprias crises e as conseqüências podem ser uma não continência das dificuldades do adolescente, fazendo-o sofrer ainda mais, tornando-o um jovem ou adulto desajustado. O adolescente necessita de uma família acolhedora e que possa suportar seu período crítico com sensibilidade, afeto e determinação. 49 Caso a família não tenha suporte afetivo para seu ado-
4 50 lescente, este poderá ser um grande rebelde, usuário de drogas ou até suicida. Enfim, ir em busca de uma solução mágica para seus conflitos que têm origem na perda de um mundo cheio de fantasias e bem protegido - mundo infantil - para entrar em um mundo mais real, menos protegido por terceiros, que necessita de auto-proteção. O adolescente necessitará de uma família que o estimule a entrar na vida adulta com todas as dores ou prazeres que esta possa trazer-lhe. A família é o ninho de onde o adolescente parte para a vida, portanto aquilo que lhe for dado na infância será revelado na adolescência. A família necessitará de regras coerentes e explícitas para garantir a maleabilidade e determinação na sua execução. O casal, por sua vez, deverá estar em pleno acordo e constante comuni cação para direcionar adequadamente o funcionamento familiar. Concluindo, a crise do período da adolescência pode ser atenuada se a família for dedicada e continente com seu jovem que busca desesperadamente sua nova identidade. Esta, que é a identidade de adulto, terá a marca indelével de sua família.
5 51 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABERASTURY, A. e KNOBEL, M. Adolescência Normal. Porto Alegre : Artes Médicas, ABERASTURY, A. Adolescência. Porto Alegre : Artes Médicas, RESUMO da palestra realizada em julho de 1994 por REGINA MARA JURGIELEWECZ GOMES, membro do Núcleo de Estudos sobre Família na UCDB.
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