PODER JUDICIÁRIO SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANTANA - BA : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL REQUERIDOS : UNIÃO ESTADO DA BAHIA
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- Micaela de Lacerda Macedo
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1 '. PODER JUDICIÁRIO SUB - BA FI: cja9 Rubrica: V AÇÃO CIVIL PÚBLICA CLASSE: 7100 PROCESSO : : REQUERENTE MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL REQUERIDOS : UNIÃO ESTADO DA BAHIA MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA - - DECISÃO - - Trata-se de ação civil pública movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com pedido de tutela antecipada, em face da UNIÃO, do ESTADODA BAHIA e do MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA-Ba, objetivando compelir os réus a fornecerem, gratuitamente e de forma ininterrupta, a Rosália Rodrigues Santana e a todos os pacientes economicamente hipossuficientes ou usuários do Sistema Único de Saúde - SUS, residentes no Estado da Bahia ou na jurisdição da Subseção Judiciária de Feira de Santana, o medicamento denominado Erlotinibe 150 mg (Tarceva), cujo componente ativo compõe-se de cloridrato de erlotinibe, destinados aos portadores de neoplasia de pulmão não pequenas cédulas (CID C34) - câncer de pulmão, em tratamento de terceira linha. Sustenta o parquet, resumidamente, que o medicamento denominado Erlotinibe 150 mg (TARCEVA) "é de fundamental importância para pacientes em que a primeira e a segunda linhas de tratamento quimioterápico não apresentaram os resultados esperados", considerando que estudos realizados F
2 PODER JUDICIÁRIO SEÇÃO JUDICIÁRIADE FEIRA DE SANTANA Ação Civil Pública no FI: 0i:D Rubrica: l? comprovaram um aumento na sobrevida mediana de 42 %, quando comparado àqueles que receberem placebo. Aduz, ainda, que o medicamento encontra-se com a comercialização autorizada pela Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 10/04/2006, revelando-se de grande eficácia para o tratamento de câncer pulmonar não pequenas células, em tratamento de terceira linha.,r--. Assevera que a 2a Diretoria Regional de Saúde (2a DIRES), em resposta à requisição ministerial, consignou que "o medicamento ERLOTINIBRE 150 mg não consta na portaria ministerial de de 27 de outubro de 2006, de Medicamentos de Dispensação Excepcional" Por fim, sustenta o MPF que uma caixa do medicamento para o consumidor custa R$ 8.433,43 (oito mil, quatrocentos e trinta e três reais e quarenta e três centavos), motivo pelo qual é imprescindível a medida, sob pena de prejuízos irreparáveis para a paciente Rosália Rodrigues Santana, assim como a todos os outros em idênticas condições, que não dispõem de recursos para sua aquisição comercialmente. Determinei a manifestação dos requeridos, no prazo de 72 horas, conforme dispõe o art. 2, da Lei no 8.437/1992. O Município de Feira de Santana manifestou-se a fls. 42/48, aduzindo a sua ilegitimidade, uma vez que o Ministério da Saúde definiu a lista dos medicamentos que devem ser fornecidos pelos entes municipais como sendo aqueles que fazem parte do "elenco pactuado", o que não é o caso do medicamento lide. objeto da Defende que a prestação dos medicamentos de "alto custo" cabe aos Estados, enquanto que os medicamentos 2 F
3 PODER JUDICIÁRIO Ação Civil Pública no FI: ao Rubrica: U /' considerados de "alta complexidade", como é o caso dos autos, devem ser prestados pela União. Diz que o medicamento Erlotinibe 150mg não se encontra incluído dentre os medicamentos do "elenco pactuado", para justificar a permanência atendimento do município na lide. Por fim, argumenta que o ente,municipal mantém o dos serviços de saúde vinculados ao SUS, inclusive serviços de oncologia, através de procedimentos de quimioterapia e radioterapia. A União manifestou-se a fls. 267/273, alegando carência de ação, por inadequação da via eleita, uma vez que a ação civil pública não é meio hábil para defender interesses individuais. No mérito, defende que não há meios gerenciais para implementação do pedido constante da petição inicial, uma vez que não é responsabilidade da União o fornecimento de medicamento, uma vez que a sua atribuição, segundo a Lei no 8.080/90 é apenas de gestão do SUS, cabendo a sua operacionalização aos gestores locais (Estados e Municípios). O Estado da Bahia manifestou-se a fls. 304/307, alegando que o deferimento do pedido modificará a política orçamentária aprovada pelo Legislativo, prejudicando a coletividade. Defende que "a tabela de procedimentos quimioterápicos do SUS não refere a medicamentos, mas, sim, indicações terapêuticas de tipos e situações tumorais especificadas em cada procedimento descrito e independe de esquema terapêutico utilizado". 3 F w
4 PODERJUDICIÁRIO Ação Civil Pública no FI: 0t:iJ Rubrica: \..2. Argumenta que o medicamento em questão tem o uso aprovado na progressão do câncer pulmonar e que o fato da ANVISA registrar um produto não implica automaticamente na sua utilização no âmbito do SUS. Diz que não pretende eximir-se de suas responsabilidades, razão pela qual convoca a Sra. Rosália Rodrigues Santana a comparecer ao Centro Estadual de Oncologia, munida de receita médica, para indicação terapêutica. Por fim, diz que os recursos do Estado não são inesgotáveis e nem se encontram à disposição do gestor, ou mesmo do Judiciário. Os autos vierem-me conclusos DECIDO. Inicialmente, não paira dúvida acerca da legitimidade do Ministério Público Federal, quer em face da defesa dos direitos e garantias assegurados na Constituição Federal, especialmente dos serviços de relevância pública, como no caso, r-- quer em face de tratar-se de tutela coletiva lato sensu. O instituto da antecipação dos efeitos da tutela, regulado pelo art. 273 do Código de Processo Civil, pressupõe prova inequívoca, verossimilhança das alegações, reversibilidade do provimento, fundado receio de lesão irreparável ou de difícil reparação e/ou abuso do direito de defesa. Reputo-os presentes, in casu. Consigne-se que o inquérito civil que instruiu a propositura da presente ação demonstra que o medicamento em questão é indicado para pacientes que apresentaram resultado 4 F.
5 PODERJUDICIÁRIO Ação Civil Pública no FI: <3::::8 Rubrica: \.? insatisfatório com o tratamento quimioterápico, em primeira e segunda linha, como é o caso da paciente Rosália Rodrigues Santana, consoante relatório médico juntado (fls. 13 dos autos apensos)..r-' Ademais, o parecer técnico emitido pelo Instituto Nacional do Câncer assevera que: o Erlotinibe - Tacerva foi testado inicialmente para uso no câncer de pulmão avançado em terceira linha de tratamento paliativo. Existe crescente demanda para sua utilização, e por tratar-se de medicação oral, não é oferecida sua cobertura pela maioria dos seguros e planos de saúde. Sendo esta droga uma pequena molécula que atua inibindo o estímulo de ativação da cédula que ocorre pela ação de fator de crescimento epidérmico sobre seu receptor específico. É droga única não existindo similar. Seu uso está aprovado quando de progressão da referida doença, após falha de tratamento por platina e sua suspensão quando de quadro de toxidadade medicamentosa. Para existir base técnica para o uso de Erlotinibe, é necessário ter havido falha no tratamento da 1a e 2a linhas anteriormente. " A Constituição Federal de 1988 erigiu a saúde como direito fundamental ao dispor que "é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação" (art. 196). Assim, no dever do Estado de promover o direito à saúde, inclui-se a assistência farmacêutica integral, sendo imprescindível a sua prestação aos pacientes que comprovarem a sua necessidade, principalmente nos casos de doenças em estágio 5 F
6 PODER JUDICIÁRIO SEÇÃO JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANT ANA Ação Civil Pública no FI: Rubrica: \...2 avançado, em que'paciente não responde mais às terapêuticas já adotadas. Nesse sentido, como se não bastasse a relevância constitucional do direito à saúde, o legislador ordinário ao editar a Lei Orgânica da Seguridade Social, Lei no /90, dispôs, in verbis: r' "Art. 2 A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. 1 O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. Art. 6. Estão incluídas ainda no campo de atuação Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução de ações: d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica" (grifamos) do É dever do Estado ao cumprir o seu encargo dispor do medicamento que melhor assegure o direito à saúde, reputando-se omisso quando não faz a inclusão de medicamento único disponível no mercado como eficaz no tratamento da neoplasia pulmonar não pequenas células, na relação dos Medicamentos de Dispensação Excepcional, em que este enquadra-se. Note-se que ao dispor sobre a política de atenção aos procedimentos de alta complexidade foi editada a Norma Operacional de Assistência à Saúde - NOAS no. 01/2002, estabelecendo no item 23.1 que a garantia de acesso aos 6 F ci
7 PODER JUDICIÁRIO Ação Civil Pública no, FI: cijl) Rubrica: U procedimentos de alta complexidade é de responsabilidade solidária entre o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde estaduais. Cite-se o posicionamento do Supremo Tribunal Federal em matéria similar à versada nos autos:.r--,,-- Ementa E M E N T A: PACIENTE COM HIV/AIDS - PESSOA DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE - FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS- DEVERCONSTITUCIONALDO PODER PÚBLICO (CF, ARTS. 50, CAPUT, E 196) - PRECEDENTES (STF) - RECURSODE AGRAVOIMPROVIDO.O DIREITOÀ SAÚDE REPRESENTACONSEQÜÊNCIACONSTITUCIONAL INDISSOCIÁVELDO DIREITOÀ VIDA. - O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e implementar - políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar. - O direito à saúde - além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas - representa conseqüência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE TRANSFORMÁ- LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQÜENTE. - O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro - não pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas 7 F cv
8 PODERJUDICIÁRIO Ação Civil Pública no FI: 2iJ]J Rubrica: expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE MEDICAMENTOS A PESSOAS CARENTES. - O reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas carentes, inclusive àquelas portadoras do vírus HIV/AIDS, dá efetividade a preceitos fundamentais da Constituição da República (arts. 5, caput, e 196) e representa, na concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a consciência de sua própria humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes do STF. Origem: STF - Supremo Tribunal Federal Classe: RE-AgR - AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Processo: UF: RS - RIO GRANDE DO SUL Órgão Julgador: Data da decisão: Documento: Fonte DJ PP EMENT VOL PP Relator(a) CELSO DE MELLO Descrição Votação: unânime. Resultado: desprovido. Acórdãos citados: RTJ-105/704, RTJ-132/455, PET-1246, RTJ-165/812, RE , AI , RE , AI , AI AgR, RE , RE , RE , RE , RE , RE N.PP.:(20). Análise: (LNT). Revisão: (RCO/AAF). Inclusão: 06/02/01, (SVF). Alteração: 18/02/05, (SVF). Como já se manifestou o ilustre Min. Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a Pet SC, "entre proteger a inviolabilidade do direito à vida e à saúde, que se qualifica como direito subjetivo inalienável assegurado a todos pela própria Constituição da República (art. 5, caput e art. 196), ou fazer prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundário do Estado, entendo - uma vez configurado esse dilema - que razões de ordem ético-jurídica 8 F c{
9 PODER JUDICIÁRIO Ação Civil Pública no FI: Ru impõem ao julgador uma só e possível opção: aquela que privilegia o respeito indeclinável à vida e à saúde humana". Assim, não pode o Estado furtar-se do seu dever constitucional, sob o manto da escassez de recursos, quando se trata de preceito fundamental - direito à vida, principalmente em,r- situações excepcionais, como é o caso dos autos, em que as terapêuticas usuais, à base de quimioterapia e radioterapia, não mais estão sendo eficazes para tratamento da doença. E patente, ainda, o periculum in mora, em face dos prejuízos irreparáveis que a não utilização do medicamento poderá trazer aos portadores de câncer pulmonar, que apresentaram resultados insatisfatórios com o tratamento quimioteráp'ico e que não dispõem de recursos para custear a compra do medicamento, ensejando o agravamento da doença ou até mesmo a morte. r"', II Em face do exposto, defiro o pedido de tutela antecipada e determino que a União, independentemente de posterior rateamento dos custos com o Estado da Bahia, forneça de forma gratuita, ininterrupta e mensal o medicamento denominado Erlonitive 150 mg (Tarceva) a Rosália Rodrigues Santana, assim como a todos os pacientes economicamente hipossuficientes ou usuários do SUS, domiciliados no Município de Feira de Santana, que, no curso da ação, comprovarem a necessidade do seu uso, mediante receituário expedido por médico vinculado ao SUS, para tratamento de neoplasia de pulmão não pequenas células (CID 34), em tratamento de terceira linha. 9 F
10 . PODERJUDICIÁRIO Ação Civil Pública no FI: Rubrica: c.3jb V Fixo O prazo de 30 dias para cumprimento, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais). Determino, ainda, que a União, por intermédio do Ministério da Saúde, no papel de gestor federal do SUS, responsável pela elaboração da lista de medicamentos excepcionais, adote as medidas administrativas necessárias à inclusão do medicamento Erlotinibe 150 mg (Tarceva), na lista de r... medicamentos excepcionais, visando à transferência de recursos federais fundo a fundo, dentro do financiamento específico para o Programa de dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional. o Estado da Bahia, assim como o Município de Feira de Santana, deverão adotar as medidas necessárias para que o presente conteúdo decisório seja efetivamente cumprido, sob pena de incorrer na multa anteriormente fixada. Intimem-se o Ministério Público Federal, a União, o Estado da Bahia e o Município de Feira de Santana do inteiro teor da presente decisão. Publique-se. Citem-se. Feira de Santana, J\i)de maio de 2007., L\ijv LILIA BOTHO NE Juíza Federal da da Subseção Judiciária de Feira de Santana. 10 F
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