Centro Paula Souza Etec Carapicuíba Processos Fotográficos Lilian Rodrigues Oliveira Nathalia Mendes Machado de Sousa

Transcrição

1 Centro Paula Souza Etec Carapicuíba Processos Fotográficos Lilian Rodrigues Oliveira Nathalia Mendes Machado de Sousa Diário de Bordo Desmitificação das Profissões Artísticas 2017

2 Para a elaboração da revista Arte Conectada foram feitas entrevistas juntamente com a captação das imagens com 3 profissionais da área artística. A primeira entrevista foi realizada no dia 25/03/2017 com a tatuadora Jessyca Gatto, no estúdio Advance Tattoo. A segunda entrevista foi realizada no dia 30/04/2017 com o fotógrafo Julio Nery, na Avenida Paulista. A terceira entrevista foi realizada no dia 16/05/2017 com a bailarina Luana Oliveira, na Escola Livre de Dança de Itapevi. Entrevista com a tatuadora Jessyca Gatto Você acha que a sua profissão é valorizada? Ainda esta caminhando pra isso. Na verdade, tem gente que acha que é hobby, não acha que seja uma profissão, que não é possível viver da tatuagem. Existem cursos para quem quer ser tatuador? Hoje em dia tem, mas antigamente não existia curso de tatuagem nem nada do gênero. Tinha que aprender na raça, com experiência. Sua família apoia sua profissão? Agora eles apoiam, quando eu comecei a tatuar meus pais não aceitavam, pois estava na faculdade e eles queriam que eu me formasse e fosse concursada e tivesse aposentadoria, porque ele acha que se eu não tivesse aposentadoria não era trabalho, se eu não fosse assalariada. Então eles não me apoiaram porque acharam que era só por hobby, que era só uma fase da minha vida, eles não acharam que eu ia seguir essa profissão. E agora eles aceitam porque eu consigo me manter sozinha através da profissão de tatuadora. Iniciar na carreira É difícil iniciar na área porque tem que estudar muito, tem que se esforçar muito para conseguir clientes e é importante ter um portfólio. Alguém já te disse que o que você faz não é uma profissão? Sim, o que eu mais ouvi, e ouço. Porque você trabalha com desenhos, e é difícil achar pessoas que valorizam isso. Às vezes nem os próprios clientes dão valor para a arte que fazemos nos desenhos. São raras as pessoas que valorizam todo o tempo que você tem que ter de estudo, todo o tempo que você gasta naquilo. Seu portfólio é: As pessoas são meus portfólios ambulantes. A propaganda acontece boca a boca. Já te perguntaram se você ganha dinheiro com o que você faz?

3 Sim, até hoje meus pais não acreditam que eu ganhe tanto dinheiro com tatuagem, eles nunca gostaram de tatuagem, de modificação corporal, é tudo visto como hobby. Como se não fosse meu trabalho principal, mas algo aleatório de luxo que eu faço. A maior parte dos pais de artistas pensa assim, porque você trabalha como freelancer, não é um salário mensal, você passa sua vida inteira trabalhando como freelancer. Ainda estou construindo meu caminho nessa profissão, foi difícil iniciar e ainda é difícil hoje, mas estou conseguindo viver, consigo me sustentar e por isso não é mais um hobby, e sim um trabalho. Você já sofreu algum tipo de preconceito por ter escolhido fazer o que gosta? Sim, da minha família, dos meus amigos, acho que de todo mundo, menos de quem era do ramo, porque eles sabiam que ia ter um fim. Acho que qualquer profissão que você trabalhe com criatividade, qualquer profissão artística. Se você ama o que você faz, tudo compensa. Artistas não são valorizados. As pessoas ainda são muito mente fechadas pra artistas, pra esse mercado que é a arte. Aqui no Brasil é muito difícil viver da arte. É um problema cultural do Brasil, pois lá fora, por exemplo, o trabalho artesanal é muito mais valorizado do que aqui, e ninguém quer pagar por arte. Não quer pagar por algo artesanal, mas não liga de pagar 100 reais em uma camiseta numa loja de departamento, por exemplo. Existe uma inversão de valores. Elas amam mais a marca do que a qualidade. Então é muito difícil vender um trabalho seu. O que te motivou a seguir carreira na tatuagem? Desde pequena sempre gostei de modificação corporal, sempre desenhei, gostava de mexer com material reciclável. Minha mãe também gostava só que eu sempre fui atrás pra aprender as coisas que eu não sabia, e comecei a fazer moda, mas ainda estava meio perdida, não era o que eu queria, desisti do curso e comecei a fazer artes visuais, fiz voltada para licenciatura, para educação. Mas a tatuagem sempre foi mais forte pra mim, sempre foi o que eu quis fazer, só que meus pais sempre me desmotivavam muito, sempre me disseram que não iria dar certo, dizendo que se eu começasse a tatuar eu teria que montar um estúdio e que era muito caro montar um estúdio etc.. Mas eu fui cabeça dura, conheci uma galera de estúdio, e comecei a frequentar aqui, vinha todos os dias da Freguesia do Ó até aqui.

4

5

6 O que exatamente você faz na fotografia? Entrevista com o fotógrafo Julio Nery Eu sou fotógrafo em uma produtora, minha principal função é fotógrafo e sou assistente de câmera também, porque eles fazem bastantes filmes, é uma produtora de conteúdo audiovisual, focada no ramo automotivo. Então eles precisam de foto, eu faço foto, mas quando eles não precisam, eu estou sempre dando uma força sendo assistente. Faço fotos de carros, das produções e making off. Foi difícil pra você iniciar na área? Iniciar é difícil pela questão dos preços dos equipamentos. Equipamento fotográfico aqui no Brasil é muito caro, então por esse lance eu achei meio difícil, mas questão de aprendizado, tem como aprender muita coisa pela internet e as pessoas que fazem foto hoje em dia são bem flexíveis para ensinar, dar role e trocar experiências. Questão de trabalho é um pouco chato, meio complicado. Eu dei muita sorte com o meu primeiro emprego de fotografia, eu fui assistente de um fotógrafo durante dois anos. Eu consegui esse emprego porque a minha mãe trabalha com a ex-mulher dele. Pode falar o nome do fotógrafo? Era Alan Teixeira. Minha mãe trabalha com a ex-mulher dele, só que na época eles estavam juntos, a esposa dele comentou com a minha mãe e ela sabia que eu curtia fotos, eu já fazia umas fotos avulsas, tinha uma T3, mas tava brincando ainda, não tinha muita noção da coisa, aí eu descolei o trabalho de assistente e foi aí que eu aprendi basicamente tudo.

7 O nosso trabalho vai falar um pouco sobre a valorização das profissões artísticas e falando sobre essa questão, você acha que a sua profissão é valorizada? Em partes, ela é valorizada se você já tem um nome no mercado, se você já é conhecido, se você já faz um trabalho reconhecido pelas pessoas, você vai ganhar um bom dinheiro em cima, mas se você é pequeno e tá começando, não, com certeza não. As pessoas acham que fotografia é muito simples, é só ter a câmera, chegar e fazer a foto. A sua família apoia a sua profissão? Apoia. Mas ela apoiou desde o começo? Apoiou, porque o meu pai já foi fotógrafo, na época da era do chromo e dos filmes, eles gostava muito, mas quando entrou a era digital ele não teve muito espaço, a fotografia era meio difícil nessa época, aí ele não conseguiu espaço e teve que optar por outra área, mas ele sempre tirou foto minha e da minha irmã quando a gente era pequeno, então a fotografia sempre esteve presente. E quando eu decidi, minha irmã fazia algumas fotos por brincadeira também, mas ela foi meu principal apoio, minha mãe me apoiou sempre, meu pai também, ele me explicou bastante coisa, porque eu não sabia nada, o básico eu aprendi com ele. Você teve bastante influência da sua família por causa do seu pai, mas se o seu pai não fosse fotógrafo, se ele tivesse outra profissão, você acha que seria aceito da mesma forma ou teria algum preconceito? Não, seria aceito da mesma forma. Alguém já lhe disse que o que você faz não é uma profissão? Que não é uma profissão, não. Já me disseram umas coisas relacionadas ao Instagram, porque eu posto tudo o que eu faço, mas é porque eu acho que não tem outra rede social que seja proveitosa, pra galera ver e eu conseguir mostrar o meu trabalho do que o Instagram. A galera fala bastante que se eu continuar postando foto, isso não vai me dar dinheiro nunca. Mas em questão trabalho, não. Às vezes tentam se aproveitar disso, mas a galera sempre entendeu que é um trabalho mesmo. Já te perguntaram se você ganha dinheiro com o que você faz? Já perguntaram. Ganha, não é muito, mas ganha. Você já sofreu algum preconceito por ter escolhido fazer o que gosta? Não. Todo mundo apoia e hoje o meu ciclo de amigos é algumas pessoas da escola que ficaram como amigos e o resto são tudo do ciclo de fotografia, então a galera segue da mesma linguagem. O que te motivou?

8 Acho que gostar de verdade, eu me encontrei bastante na fotografia. Quando eu comecei a fazer, eu achava que ia ser só por hobby, mas eu comecei a estudar mais, procurar mais referências e querer aprender cada vez mais, aí quando eu entrei no estúdio que foi onde eu percebi que eu realmente curtia aquilo. Era um estúdio, o Alan é proprietário de um estúdio, mas a gente fazia vários tipos de trabalho, tinha still que era dentro do estúdio, ou tinha que fazer arquitetura e tinha que ir a um lugar x ou modelo, então ele fazia um pouco de tudo, deu pra pegar uma base gigante de fotografia de arquitetura, still, modelo, no geral. Você fez algum curso? Não. O que inspira quando você vai fazer uma fotografia? O que você gosta? Eu sempre to com vontade de fotografar, eu sempre to com a mala e a câmera comigo, todo tempo, pra todo lugar que eu vou e se eu vejo alguma coisa que eu gosto, que o meu olhar agrada eu sempre tento procurar o melhor ângulo e fazer algum click. Acho que o que me inspira a fotografar são as ruas, a cidade em si, eu gosto bastante disso, da movimentação, dos carros, das pessoas, dos prédios, música também. Minhas referências vêm bastante de fora, eu to conhecendo a galera do Brasil mais agora, tem uma galera nova que tá começando que é muito boa: O Léo, que tem um olhar de rua bem diferente do meu, eu acho bem legal; o Cássio também, que é um amigo meu, tem uma pegada street e faz um trabalho muito bom; também o Gui Rossi que faz retratos. E um monte da gringa. No Brasil é bem difícil, lá fora é muito mais valorizado que aqui. E a sua rotina? De segunda a sexta eu to na Bufalos, na produtora que eu trabalho. E no final de semana é o tempo que eu tenho para aproveitar, então eu fico dormindo ou eu saio pra fotografar, pra ver alguém, mas normalmente é isso, não sou de viajar muito. Fotografar, gosto de andar de bicicleta também e é isso.

9

10

11

12 Entrevista com a bailarina Luana Oliveira Você acha que a sua profissão é valorizada? Não, aqui no Brasil não é valorizada. Ela é valorizada até certo ponto, quando ela traz um benefício, rende certo valor, mas somente pela arte, se eu falar eu vou dançar e quero receber por isso não dá certo. Sua família apoia sua profissão? Sim. Mas eles te apoiaram desde o começo? No começo não, porque a gente começa a dançar mais por hobby, aí depois a gente quer levar isso adiante, só que no começo a gente ainda não ganha dinheiro, continua dançando pra se sentir bem, pro nosso bem estar. Só que depois quando a gente começa a ganhar dinheiro, que eles veem que valorizam como uma profissão realmente, porque pra algumas pessoas profissão tem que ter o dinheiro, a remuneração, aí sim. Então eles não te apoiaram desde o começo? A minha mãe sim, mas o restante da minha família não. Alguém já lhe disse que o que você faz não é uma profissão? Sim, muitas pessoas. Disseram que é só um hobby ou um exercício aeróbico para emagrecer. Já te perguntaram se você ganha dinheiro com o que você faz? Já, várias vezes. E também perguntaram se valia a pena esse valor que eu recebo, se isso é sentimental ou só uma ajuda de custo. Por exemplo, o que você ganha dá pra se sustentar ou é só uma ajuda de custo, você dança porque ama e só recebe um valor simbólico?. Com o dinheiro que você ganha, você consegue se sustentar? Sim. Como eu sou estagiária, pra estagiária, sim. Mas se fosse pra eu ter a minha casa, minhas coisas, não. Como eu tenho ajuda da minha mãe, moro com a minha mãe ainda, eu consigo. Você já sofreu algum tipo de preconceito por ter escolhido fazer o que você gosta? Não. O que te motivou? O que me motivou foi eu realmente começar a dançar e sentir que simplesmente não era só um exercício aeróbico, saber que é muito além de um movimento, um gesto, uma expressão corporal, isso é muito mais, mas é um valor sentimental muito valioso para mim e para quem também ama a dança, porque um movimento é uma história, um gesto é uma história, eu posso passar uma música inteira dançando, fazendo um movimento só, que eu vou estar contando uma história. E o que me motivou foi isso, mostrar que dançar não é simplesmente

13 movimentar o meu corpo, é contar uma história e mostrar os meus sentimentos nos movimentos. Qual a sua rotina? O que você faz no dia-a-dia? Eu vou para a faculdade no período da manhã, depois eu faço fisioterapia, porque eu tenho um problema no joelho, trabalho durante a tarde, entro às 13h, trabalho até às 19h e à noite eu faço aula, então eu passo esse tempo todo conectada com a dança desde o momento que eu entro aqui. O meu foco é ser bailarina, ainda sou nova, tenho só 20 anos, então quero continuar dançando e a fase professora seria uma segunda opção, caso não dê certo, mas eu quero dançar. A minha intenção é dançar agora e mais para a frente, quando eu tiver alguma limitação ou problema de saúde, eu vou focar totalmente para ser professora. O problema no joelho dificulta a dança? Sim, muito. Eu não posso saltar, não posso ter muito impacto com o chão, já tem uns 3 anos que eu tenho esse problema, um problema seríssimo e eu tenho muitas limitações, mas não me impedem de dançar, algumas coisas eu tive que diminuir, como saltos, impactos, torções, giros, mas tranquilo. Você está em qual semestre da faculdade de Educação Física? 5º semestre, falta 1 semestre para concluir licenciatura e mais 1 ano para bacharelado, que é opcional. O que te inspira a dançar? Alguma bailarina, um filme, uma música, algo que você goste. Eu me inspiro muito em um programa, que eu gosto muito So You Think You Can Dance dos Estados Unidos, que é um programa mais voltado para o contemporâneo, mas é completamente voltado para a dança de todas as modalidades e ele me inspira bastante, a movimentação, a forma como o programa é aplicado, eu acho incrível e me inspiro nas bailarinas de lá porque elas são completas, são várias modalidades, eles fazem como se fosse um jogo de tirar um papel para decidir qual o estilo de dança e elas dançam todas as modalidades, são bailarinas excelentes, elas dançam tudo. Isso é uma das coisas que me motivam bastante, ver esses vídeos, mas principalmente as danças que são fora do Brasil, que são bem mais bonitas e valorizadas.

14

15

16