CONSIDERAÇÕE SOBRE A RENOVAÇÃO DO PLANEJAMENTO ATRAVÉS DA MUDANÇA DO LIVRO DIDÁTICO
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- João Henrique Rodrigues Ávila
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1 CONSIDERAÇÕE SOBRE A RENOVAÇÃO DO PLANEJAMENTO ATRAVÉS DA MUDANÇA DO LIVRO DIDÁTICO Elizabeth Christina Rodrigues Bittencourt, EE Rui Bloem e EE Alberto Levy. exrbittencourt@yahoo.com.br Introdução Nos Textos Legais que amparam a implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio existe um texto que trata das transições e rupturas e que discute a mudança de concepções, valores e práticas que está sofrendo e irá sofrer o ensino perante as reformas propostas. Na esteira da implementação destas reformas, o Ministério da Educação, através da Portaria nº 501 de 14/02/2006, divulgou no ano passado a relação de livros didáticos de Biologia para serem escolhidos pelas equipes escolares. No Estado de São Paulo esta escolha foi feita pela internet através da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Esta conquista é uma antiga reivindicação dos professores e oferece melhores condições de trabalho docente e favorecimento no estudo dos alunos, podendo ser considerada concessão de benefícios sociais à população, dentro das propostas dos sucessivos planos de governo (HOFLING, 2000). Objetivo Este artigo é uma mera reflexão sobre a importância do livro didático, e foram feitas a partir de duas diferentes realidades escolares, sem entrar no mérito da qualidade dos livros anteriormente utilizados pelas equipes escolares ou sobre os critérios utilizados na escolha dos novos títulos. O que importa discutir é a ruptura com relação a antigas escolhas e a transição para novos modelos, na busca de um aperfeiçoamento contínuo da ação educativa, como preceituam os Parâmetros Curriculares Nacionais. Nesta condição de mudança a organização dos conteúdos curriculares certamente é afetada, viabilizando as novas propostas que irão permitir duas importantes articulações: para os alunos, que estabelecerão novos olhares para o conhecimento em questão; e como responsável na formação contínua dos professores, que terão pela frente o desafio de rearticular o planejamento estabelecido em favor de um novo modelo, mais adequado ao material didático disponível.
2 Comentários iniciais O livro didático de Biologia é na verdade um conjunto de textos sobre os diferentes ramos do conhecimento desta Ciência. Sob esta óptica, segundo Geraldi (1991): é o produto de uma atividade discursiva onde alguém diz algo a alguém. O primeiro é o autor, que pretende levar um conjunto de informações aos alunos, oferecendo pistas para que a produção do sentido na leitura seja mais próxima ao sentido que lhe quer dar o autor. O professor atua, neste caso, como um mediador entre as informações do texto do autor e os alunos. A construção do conhecimento científico por parte dos alunos tem obrigatoriamente de apresentar a diferença entre o conteúdo de ensino e o produto da pesquisa científica, absorvendo as informações recentes dos avanços da Ciência. Há que se considerar também que a linguagem das ciências exatas, dentre elas a Biologia, é considerada objetiva e precisa, segundo Possenti (2003). Um professor de Biologia quando decodifica um texto de um livro didático, formulado com linguagem científica e precisa, utiliza para tanto a linguagem própria, ou jargão de sua área, o que ainda é distante do linguajar comum dos seus alunos. Este obstáculo verbal, é paulatinamente superado durante um período letivo, mas depende de um esforço por parte dos alunos, ouvindo as explicações verbais do professor e estudando a linguagem formal contida no livro didático. Entretanto, a prática educativa comprova que a relação dos alunos com as idéias de um autor de um livro didático, mediadas pela ação do professor nem sempre é linear, pois sujeita à reapropriação pelo professor e seus alunos dos conhecimentos apresentados pelo autor, numa caminhada interpretativa, pois os alunos possuem características lingüísticas diferentes da variedade culta em que foi escrito o livro didático. Este processo de construção do sentido por parte dos alunos é mediado pela linguagem explicativa do professor e a interlocução estabelecida na classe. Os alunos, por sua vez, atuam como sujeitos a partir do momento que apresentam as notícias veiculadas pela mídia, pedindo explicações ao professor. Esta contextualização é importante e necessária, como bem discutido por Nascimento e Alvetti (2006):... os textos de divulgação científica são produzidos por jornalistas e/ou cientistas que não têm como foco o ensino formal de ciências uma vez que seu principal objetivo é veicular informações científicas para um público de não especialistas, portanto não apresentando originalmente um caráter didático inerente à prática escolar. Num processo de estudo ativo, o livro didático tem de oferecer condições facilitadoras para promover uma tarefa de pensamento para o aluno, segundo Libâneo (1994). Este autor considera importante o movimento que ocorre na mente do aluno, de modo que o conteúdo, expresso na pergunta e no problema sejam reinterpretados pelos alunos, e transformados em hábitos de estudo e de
3 organização pessoal e realização de tarefas em casa, dentro do princípio de autonomia intelectual. Sob este aspecto, cabe ao professor a tarefa de planejamento do trabalho pedagógico e o trabalho de preparo das aulas, conforme insiste Fusari (1998), inserindo trechos do livro didático na medida do desenvolvimento dos conteúdos programáticos. Tem de se caracterizar como parte da metodologia adotada pelo professor na consecução de seus objetivos educacionais. Neste processo de prever necessidades (MENEGOLLA; SANT ANNA, 2003) o professor deve analisar as disponibilidades e possibilidades oferecidas pelos meios materiais, especialmente o livro didático, para adequada aplicação e utilização de acordo com os objetivos do planejamento. Há uma grande diferença, sob este aspecto, quando se considera que existe a recomendação de um livro ou material didático, e a adoção de um livro didático por uma escola, e as implicações desta escolha, que é o assunto a ser tratado neste trabalho. Histórico e objeto de estudo Neste terceiro ano em que venho trabalhando paralelamente em duas escolas de ensino médio (2005 a 2007), observei que, até o ano passado, em ambas era utilizado como material de suporte nas aulas de Biologia livros didáticos organizados de acordo com o modelo de volume único em cada escola um autor diferente. Sem dúvida a organização dos capítulos e a apresentação do texto escrito imprimiram nos planejamentos de Biologia de ambas as escolas um pouco das peculariedades de seus autores, condicionando o planejamento dos professores e implicando até mesmo na cultura da escola. Estas características peculiares decorrem da formação acadêmica de seus autores, pesquisas desenvolvidas e áreas de interesse ao longo da trajetória profissional. Na segunda metade do ano passado foi oferecida a oportunidade de escolha do livro didático pelas equipes docentes a ser distribuído a todos os alunos das duas escolas. Na busca de renovação do currículo e na tentativa de oferecer um material mais adequado à realidade dos alunos, foram analisados e escolhidos livros didáticos diferentes aos que vinham sendo utilizados como referenciais didáticos. Esta mudança deu origem a duas diferentes situações, perante o planejamento vigente das escolas: A Em uma das escolas, manteve-se a opção do volume único, porém de outro autor, com uma diferente organização dos conteúdos. Esta nova organização atende a uma outra lógica de pensamento, diferente da concepção anterior do planejamento já constituído e em vigor na escola. Para a necessária adequação do novo livro ao antigo planejamento, foi necessária uma análise mais demorada do livro pelos professores, para a orientação do estudo do livro pelos alunos, inserção de leituras através de estudo dirigido, recomendação de textos complementares e realização de pesquisas, para consecução do planejamento anterior. O grande desafio, neste caso, foi adequar as proposituras do
4 livro recém adotado às práticas de desenvolvimento do conteúdo já constituídas ao longo dos anos. B Na outra escola, a opção recaiu sobre uma coleção de três volumes, um para cada série. Importante ressaltar a condição absolutamente favorável do recebimento de um conjunto de informações mais extenso, subdividido em três partes, contendo no seu total um maior volume de informações, tratadas de forma mais detalhada que em um volume único. A adequação do conteúdo de cada volume impôs a readequação do planejamento de cada série ao conteúdo estrito aos conteúdos oferecidos no livro. Algumas alterações foram possíveis, na ordem dos capítulos, mas a regra geral do plano estabelecido no livro se mostrou muito mais rigoroso em seu cumprimento no planejamento anual. Capítulos que eram estudados em uma determinada série, e agora contemplados em outro volume, foram substituídos por outros disponíveis, e que antes eram estudados em outra ocasião. Considerações finais O livro didático é incorporado à prática docente, acabando por fazer com que as idéias do autor e suas proposituras condicionem a prática docente, o planejamento e cultura escolar. Uma antiga reivindicação dos professores tem de ser alvo de estudos minuciosos por parte de cada equipe docente, para que a escolha não se transforme em grilhões curriculares e mais uma dificuldade a ser contornada. O programa que garante o recebimento obrigatório do livro didático torna obrigatório seu uso por professores e alunos. Para os professores, este livro irá colaborar com o planejamento dos conteúdos dentro das três séries do ensino médio. Para os alunos, uma fonte de estudos durante sua permanência na escola, em tarefas extra-classe e no desenvolvimento de projetos de pesquisa, que irão ampliar os limites da sala de aula e permitir o aprofundamento dos estudos. As diferentes concepções dos autores sobre os tópicos e a ordem de apresentá-los refletem simplesmente os avanços que este campo das Ciências vem conquistando. A Biologia, especialmente a molecular aplicada aos conhecimentos de Genômica, abre caminho a grandes discussões em sala de aula, na busca de promover o conhecimento dos alunos das notícias veiculadas diariamente pelos vários veículos de informação. Entretanto, não há como explicar estes eventos sem o estudo dos conceitos que os amparam e dos principais passos que levaram a estas descobertas. Para tanto, há que se manter em sala de aula, o bom senso de articular alguns tópicos da História da Ciência com os conceitos e conhecimentos trazidos pelas recentes pesquisas, mas de forma coerente. A utilização intensiva do livro didático como elemento básico de consulta deve amparar todas estas discussões.
5 Conclusões Destarte o modelo disponível nas coleções de três volumes oferecerem maior abrangência e profundidade aos conteúdos a serem estudados, restringe as decisões dos professores na feitura de seus planejamentos anuais. O modelo volume único pode ser utilizado durante todo o curso e oferece maior flexibilidade tanto no planejamento quanto no uso cotidiano. Também oferece desde o primeiro ano uma gama de conceitos, muito úteis quando o professor se dispõe a explicar a seus alunos alguma notícia extraordinária da mídia, propondo leituras dos conhecimentos básicos sobre o assunto, e permitindo que as mesmas sejam feitas paralelamente ao desenvolvimento das aulas, sem detrimento dos planejamentos estipulados. Nesta primeira década do terceiro milênio, quando se pretende estabelecer novas bases para a educação do futuro, numa rediscussão dos pilares da Educação (Delors, 1996), com novos recursos oferecidos pelos programas de governo, é necessário que os professores reconheçam que as mudanças que se propõem são equivalentes à uma Reinvenção da Catedral (Chiappini, 2005). Posso dizer que reafirmo as palavras deste autor quando diz que esta presente comunicação obedeceu a uma tentativa de discutir princípios, estratégias e conceitos que ainda considero atuais e úteis ao trabalho do professor, mediador entre os alunos e os textos e entre eles e o saber.
6 Bibliografia: CHIAPPINI, L. Reinvenção da Catedral. São Paulo: Cortez, p. DELORS, J. Educação, um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre a educação para o século XXI. 4 ed. São Paulo: Cortez, p. FUSARI, J. C. O Planejamento do Trabalho Pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas. São Paulo: FDE, p (Série Idéias, nº 8) GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, p. HÖFLING, E. M. Notas para discussão quanto à implementação de programas de governo: em foco o Programa Nacional do Livro Didático. Educação & Sociedade, São Paulo, 21 (70): , JORNAL DOS ECONOMISTAS [on line]. Brasil: Cons. Reg. Economia/RJ, abril de Disponível em: [consulta: 15/04/2007] LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, p. MENEGOLLA, M; SANT ANNA, I. M. Por que planejar? Como Planejar? Currículo Área Aula. 13 ed. Petrópolis: Vozes, p. NASCIMENTO, T. G.; ALVETTI, M. A. S. Temas científicos contemporâneos no ensino de Biologia e Física. Ciência & Ensino, Campinas, 1 (1): POSSENTI, S. Os limites do discurso ensaios sobre discurso e sujeito. 2 ed. Curitiba: Criar, p.
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