Curso Resultado SANÇÃO E PROMULGAÇÃO DE LEI
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- Fernando Ávila Fonseca
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1 SANÇÃO E PROMULGAÇÃO DE LEI Muitos erros são cometidos em provas seja pelos examinadores, seja pelos candidatos, seja pelos que as comentam e vão se acumulando e repetindo, voltando, volta e meia, a assombrar novas tentativas de aprovação. Um destes erros diz respeito à sanção e à promulgação de leis. Uma lei não pode ser, ao mesmo tempo, sancionada e promulgada. Pode, sim, ser vetada e promulgada (ou vetada parcialmente e nesta parte promulgada), mas jamais poderá ser sancionada e, ao mesmo tempo, promulgada. A lei é sancionada ou é sancionada com veto(s) parcial(ais) ou é vetada ou é, em razão da não aceitação do veto pelo Congresso, promulgada. Embora o erro aparente estar na própria CRFB/88 (cujo art. 65 dispõe que o projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar ), assim não ocorre. Antes de mais nada, repare que a CRFB/88 usou a conjunção alternativa OU e não a aditiva E... A sanção é ato que cabe exclusivamente ao Presidente da República, registrando a aquiescência do Poder Executivo aos termos da lei. Pode ser expressa ou tácita, neste caso por omissão no exercício da sanção (a sanção acontece, ainda que não seja manifestada expressamente. Para isso, é preciso que não ocorra a sanção e também não ocorra o veto, ainda que parcial). A sanção ocorre exclusivamente em relação a projeto de lei aprovado por uma das Casas do Congresso, revisto e aprovado (ou não) pela outra em um só turno de discussão e votação (se emendar o projeto, a Casa deve devolvê-lo à outra, assim sucessivamente). A Casa onde concluída a votação deve enviar tal projeto de lei (aprovado) ao Presidente da República, que, no prazo de 15 dias do recebimento, com ele concordando, deve sancioná-lo (após a sanção, o projeto deve ser publicado no Diário Oficial como condição de sua existência e não apenas de validade ou eficácia; de acordo com a LINDB, art. 1, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada ) entendendo seja o projeto, total ou parcialmente, inconstitucional ou contrário ao interesse público, deve vetá-lo, impedindo que se ultime o trajeto de sua vigência, e comunicar o veto (e suas razões) ao Presidente do Senado Federal se o veto for parcial, deve abranger o texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea decorrido o prazo de 15 dias sem manifestação do Presidente da República, considera-se sancionado, por omissão, o projeto de lei. Caso tenha ocorrido o veto, este deverá (não há discricionariedade neste ponto) ser apreciado pelo Congresso Nacional ( em sessão conjunta, dentro de 30 dias a contar de seu recebimento ), só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. Se, neste prazo de 30 dias, não houver deliberação do Congresso, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. E agora chegamos ao ponto: se o veto for rejeitado ( não for mantido ), o projeto será devolvido ao Presidente da República para promulgação, o que deve ocorrer no prazo de 48 horas; não sendo promulgado o projeto pelo Presidente da República, caberá a tarefa ao Presidente do Senado, e, em caso de sua omissão, ao Vice- Presidente do Senado (que será obrigado à promulgação). 1
2 Portanto, a CRFB/88 está certa ao dispor que o projeto de lei aprovado pelo Congresso (pelas suas Casas) será encaminhado à sanção ou promulgação, pois uma delas deverá ocorrer, mas apenas uma delas, o que torna impossível existir: lei sancionada e, ao mesmo tempo, promulgada lei promulgada pelo Congresso porque a promulgação cabe apenas ao Presidente da República ou, na sua omissão, ao Presidente do Senado, ou ainda, na sua omissão, ao Vice-Presidente do Senado Apesar disso, o erro persiste em provas e na doutrina. Na prova de 2015 do MP-DFT, o examinador considerou correta a seguinte proposição: Relativamente à disciplina constitucional da sanção e do veto, decorrido o prazo de quinze dias úteis, o silêncio do Presidente da República importa sanção tácita, o que não exclui a possibilidade de o Chefe do Poder Executivo promulgar a lei. Ora, se ocorrer a sanção tácita, a lei será encaminhada à publicação e entrará em vigor conforme nela se disponha, encerrando o processo legislativo. Não há como possa ocorrer, portanto, a promulgação da lei que não foi sequer vetada e muito menos por parte do próprio Chefe do Executivo. A OAB, no XIX Exame de Ordem, repetiu quase literalmente esta mesma proposição, incidindo, portanto, no mesmo erro: O Presidente da República tem dúvidas sobre como proceder em determinado projeto de lei que vem gerando muitas críticas na imprensa. No décimo quarto dia útil do prazo para sancionar ou vetar o referido projeto de lei, o Chefe do Executivo consulta o Advogado-Geral da União para saber os efeitos jurídicos que adviriam do transcurso do prazo de quinze dias úteis sem a adoção de nenhuma providência expressa, simplesmente permanecendo silente. De acordo com a sistemática constitucional, essa situação implicaria B) sanção tácita, o que não exclui a possibilidade de o Chefe do Poder Executivo promulgar a lei. A prova do LIV Concurso do MP-MG formulou a seguinte proposição, considerando-a correta: São fases do processo legislativo ordinário: a iniciativa, discussão, votação, sanção ou veto, promulgação e publicação. Se ocorrer a sanção (tácita ou expressa), a fase seguinte será necessariamente a publicação. Só haverá promulgação se o projeto for vetado (total ou parcialmente) e se o veto for rejeitado. No XVII Exame de Ordem, a OAB afirmou estar correta a seguinte proposição: Segundo dados do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil possuía, no fim de 2014, refugiados de 80 nacionalidades. Como é sabido, o Brasil ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, assim como promulgou a Lei nº 9.474/97, que define os mecanismos para a implementação dessa Convenção. Assinale a opção que, conforme a lei mencionada, define a condição jurídica do refugiado no Brasil. (OAB-Questão XVII-22) A) Possui os direitos e deveres dos estrangeiros no Brasil, bem como direito a cédula de identidade comprobatória de sua condição jurídica, carteira de trabalho e documento de viagem. Repare: o Brasil... promulgou a Lei nº 9.474/97. A confusão ocorre muito entre sanção e promulgação, mas também ocorre entre vigência e promulgação, como se conclui. Na prova para a magistratura do RJ de 2011, a VUNESP deixou passar a seguinte proposição: Pedro é sequestrado e os agentes exigem dinheiro de familiares dele como preço do resgate. Enquanto Pedro está privado da sua liberdade, é promulgada lei aumentando a pena cominada ao crime de extorsão mediante sequestro, previsto no art. 159, do Código Penal. Os agentes são presos em flagrante, e Pedro, libertado pela polícia, mas somente após a entrada em vigor da alteração legislativa. A pena a ser imposta aos agentes do sequestro, neste caso, será: ( ) (D) a pena prevista pela nova legislação, pois a extorsão mediante sequestro é crime permanente. 2
3 De novo, portanto, a expressão lei promulgada. Duvido muito que o examinador tenha pensado, aqui, em lei vetada e em seguinte promulgada... A mesma VUNESP, na mesma prova, contudo, acertou Considerando o disposto na Carta Magna a respeito do processo legislativo, assinale a alternativa correta. (TJ-RJ ) D) Na hipótese de rejeição de veto pelo Congresso Nacional, se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, o Presidente do Senado a promulgará e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. Na prova de 2013, voltou a VUNESP: Com o objetivo de expandir a prestação jurisdicional e aperfeiçoar a legislação outrora em vigor, promulgou-se a Lei 9.099/95, criando os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A sentença proferida em processo seguindo este rito está sujeita a recurso ao próprio Juizado, sendo julgado por turma composta por 3 (três) juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição. No âmbito civil, o acórdão prolatado pela turma recursal está sujeito ( )... Na prova de 2012: Considerando o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro, é correto afirmar que (TJ-RJ ) B) o STF entende que a declaração de inconstitucionalidade impede o legislador de promulgar lei de conteúdo idêntico ao do texto anteriormente julgado e tido como inconstitucional. Impede o legislador de promulgar a lei... Ridículo o erro. A respeito das disposições constitucionais sobre o processo legislativo, assinale a opção correta. (TRF ) C) Nos casos em que o presidente da República, transcorrido o prazo de quinze dias úteis do recebimento de projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional, não se manifestar expressamente no sentido de sancionar ou de vetar o projeto, ocorrerá a sanção tácita, que terá como fase seguinte a promulgação da lei. Conforme comentei: se a lei for sancionada, não há como possa ser promulgada. Só há possibilidade de promulgação se houver veto (total ou parcial). A CESGRANRIO, na prova para Advogado da Petrobras, em 2007, afirmou: A hipótese de extinção da concessão através da retomada, pelo poder concedente, dos serviços públicos delegados à iniciativa privada, antes do vencimento do contrato e por motivo de interesse público, através da promulgação de lei autorizativa específica e mediante o prévio pagamento de indenização, consiste, nos termos da legislação vigente, em encampação. Na prova de 2011: Uma lei do Distrito Federal foi sancionada, promulgada e publicada em julho de 2011, mas só entrará em vigor em 180 dias a partir da data da publicação. Essa lei será objeto de... (Petrobras ) Na prova da FINEP, em 2011: A 1ª Turma do TRF da 2ª Região, ao julgar um recurso em mandado de segurança, não aplicou uma lei ordinária, promulgada em 1986, por considerá-la incompatível com a Constituição de Contra essa decisão, foi interposto Recurso Extraordinário, julgado pelo STF, que, todavia, manteve o mesmo entendimento. A respeito desse caso, considere as afirmativas abaixo. (FINEP )... DPE-BA, na prova de 2010: O chefe do Executivo de determinado município promulgou lei que institui nova taxa de serviço. O presidente do partido político de oposição pretende ajuizar ação, visando a não aplicação dessa lei aos contribuintes locais. (DPE-BA-2010)
4 Claro, nunca saberemos se a lei teria sido vetada e depois promulgada, mas não é isso que parece expressar a proposição da prova. A DPE-ES, na sua prova de 2009: Suponha que um estado-membro da Federação tenha legislado, de forma exaustiva, acerca de assistência jurídica e defensoria pública, dada a inexistência de legislação federal sobre o tema. Nesse caso, ao ser promulgada legislação federal a esse respeito, as normas estaduais incompatíveis com ela serão automaticamente revogadas. (DPE-ES-2009) A DPE-SE, em sua prova de 2012: A doutrina da situação irregular vigorou no ordenamento pátrio até a promulgação do ECA. DPE-SE-2012 A própria CRFB/88 contém vários dispositivos errados: Art. 167, 2 Os créditos especiais e extraordinários terão vigência no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente. ADCT, art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7, I, da Constituição:... ADCT, art. 29, 5 Cabe à atual Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, diretamente ou por delegação, que pode ser ao Ministério Público Estadual, representar judicialmente a União nas causas de natureza fiscal, na área da respectiva competência, até a promulgação das leis complementares previstas neste artigo. ADCT, art. 34, 10. Enquanto não entrar em vigor a lei prevista no art. 159, I, c, cuja promulgação se fará até 31 de dezembro de 1989, é assegurada a aplicação dos recursos previstos naquele dispositivo da seguinte maneira:... ADCT, art. 38. Até a promulgação da lei complementar referida no art. 169, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão despender com pessoal mais do que sessenta e cinco por cento do valor das respectivas receitas correntes. ADCT, art. 43. Na data da promulgação da lei que disciplinar a pesquisa e a lavra de recursos e jazidas minerais, ou no prazo de um ano, a contar da promulgação da Constituição, tornar-se-ão sem efeito as autorizações, concessões e demais títulos atributivos de direitos minerários, caso os trabalhos de pesquisa ou de lavra não hajam sido comprovadamente iniciados nos prazos legais ou estejam inativos. ADCT, art. 50. Lei agrícola a ser promulgada no prazo de um ano disporá, nos termos da Constituição, sobre os objetivos e instrumentos de política agrícola, prioridades, planejamento de safras, comercialização, abastecimento interno, mercado externo e instituição de crédito fundiário. A expressão promulgação foi claramente usada em substituição à vigência da lei. Só é correto falar em promulgação em relação à CRFB/88 às emendas constitucionais (CRFB/88, art. 60, 3 A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem) às leis orgânicas (CRFB/88, art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:... CRFB/88, art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, regerse-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição 4
5 CRFB/88 Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar. Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora. Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. 1 Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. 2 O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. 3 Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção. 4 O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. 5 Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República. 6 Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no 4, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. 7 Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos 3 e 5, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. 5
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