Peça prático-profissional
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- Giulia Galvão Delgado
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1 Comentários 2ª fase XXIII Exame de Ordem Prova Prático-Profissional Direito Civil Peça prático-profissional Como o ato do juiz a ser combatido é a sentença, o meio de impugnação cabível é o recurso de apelação (artigo 1.009/CPC). Tal recurso deve ser endereçado ao juízo a quo, aquele que proferiu a sentença combatida (Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de Canto Distante do Estado do Rio de Janeiro). Após qualificação do recorrente (Luiz) e recorrido (Ricardo), o candidato deveria manifestar o inconformismo do recorrente, pugnando pela intimação do recorrido para apresentação das contrarrazões. Em seguida, pugnar pela remessa dos autos ao juízo ad quem (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro), com as formalidades de estilo, para conhecimento e provimento do recurso interposto, consoante razões anexas. Ao final da folha de rosto do recurso, data, nome do advogado e número da OAB. Posteriormente, o candidato deveria apresentar suas razões recursais, no seguinte formato: primeiro o endereçamento ao Tribunal (Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro). Em seguida a informação Apelação Cível xxxxx, Recorrente: Luiz; Recorrido: Ricardo. Depois destas informações, um breve resumo dos fatos, conforme enunciado da questão, mostrando que a sentença foi desfavorável ao recorrente (demonstrando sua sucumbência e interesse recursal, bem como sua legitimidade para recorrer), seguindo-se a apresentação das causas de pedir recursais (errores in iudicando). A primeira tese de reforma do julgado diz respeito à primeira fundamentação utilizada pelo juiz: i) o inadimplemento contratual culposo foi confessado por Luiz, devendo ele arcar com perdas e danos, nos termos do Art. 475 do Código Civil, arbitrados no montante de cinco vezes o valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes; Acerca da responsabilidade civil contratual, preceituam os artigos 389, 402 e 475 do Código Civil, in verbis: Art Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Art Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Art A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. Assim, em que pese a vítima ter tal amparo normativo, deve ela provar o dano e sua extensão, ônus do qual não se desincumbiu (artigo 373, I, do CPC), razão pela qual a condenação no
2 montante de cinco vezes o valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes não possui qualquer razão de ser mantida, nem qualquer parâmetro legalmente aceitável e previsto. A segunda tese jurídica diz respeito à possibilidade da vítima ter diminuído seu próprio prejuízo, caso tivesse efetivado a viagem de ônibus, se houvesse linha disponível e horário compatível com o compromisso agendado. Acerca do dever de mitigar o próprio prejuízo, tal preceito é um corolário da boa-fé objetiva no Brasil, recebendo a nomenclatura do Duty to mitigate the loss (subprincípio da boa-fé objetiva). Neste contexto, quando a vítima contribui de alguma maneira para o evento danoso, aplicase a ponderação da culpa concorrente (artigo 945 do CC/02), insuficiente pra a quebra do nexo causal, mas utilizada para a redução do quantum indenizatório, o que não foi considerado pelo juiz na sentença, que atribuiu responsabilidade exclusiva do recorrente (reparação integral). Quanto à tese supra, também mencionada pelo gabarito da FGV, pugna-se pela concessão de pontuação àqueles que colocaram e não colocaram o item de culpa concorrente, uma vez que o enunciado não foi claro sobre a existência de serviço de transporte público e fácil para o destino considerado, nem os horários nos quais haveria transporte disponível por outro meio. Além disso, o enunciado não diz o horário no qual Luiz avisou que não poderia mais transportar Ricardo, muito menos o horário do evento perdido e o tempo de viagem da cidade onde a vítima estava e o local do destino, não podendo o candidato supor qualquer dado não informado na questão, motivo pelo qual a pontuação deve ser atribuída aos candidatos que apresentaram a suposição e os que não apresentaram. A última tese jurídica recursal possível é a inaplicabilidade da Teoria da Perda de uma Chance ao caso, uma vez que o enunciado narrou os seguintes fatos: pré-seleção de um concurso televisivo de talentos musicais, onde havia (vinte mil) inscritos, dos quais seriam selecionados os (mil) melhores para uma segunda e terceira etapa, restando ao final 20 (vinte) escolhidos para participar do programa, sendo o prêmio do vencedor final. Neste contexto, a referida teoria só tem incidência quando a chance é seria e real, não podendo ser aceito o dano hipotético. Assim, a decisão do magistrado não foi acertada ao afirmar que (iii) Ricardo sofreu evidente perda da chance de participar do concurso, motivo pelo qual deve ser indenizado em montante arbitrado pelo juízo em um quarto do prêmio final que seria pago ao vencedor do certame. Ademais, não há nem parâmetros dentro das regras de probabilidade que justificam o valor de ¼ fixado em primeira instância. Logo, a Teoria da Perda da Chance deve ser afastada, reformando a sentença neste ponto, para excluir tal condenação, julgando o Tribunal tal pedido improcedente. Na parte final o candidato deve organizar os pedidos, reiterando o pleito de conhecimento e provimento do recurso para reformar a sentença combatida, com a improcedência de todos os pedidos do autor/recorrido, bem como inversão dos ônus de sucumbência e sua majoração na esfera recursal (artigo 85 do CPC). Caso acolhida a tese de culpa concorrente da vítima, deve-se pedir a redução proporcional do valor da indenização. Aconselha-se também a inserção de afirmação de que a guia do preparo recursal segue anexa e devidamente adimplida, não havendo que se falar em deserção.
3 Ao fim, o pedido de conhecimento e provimento do recurso novamente, seguindo-se a data, nome do advogado e número da OAB). Questão 1 Prova Escrita Discursiva A) Na apuração da responsabilidade do hospital, dispensa-se a prova da culpa médica? (Valor: 0,75) Na verdade, não há responsabilidade do hospital, razão pela qual este item deve ser anulado, atribuindo sua pontuação para todos os candidatos. A responsabilidade civil é do médico e nesta hipótese é subjetiva, ou seja, composta pelos elementos: conduta culposa, dano e nexo causal, a serem demonstrados pelo autor/vítima, conforme previsão do Código de Defesa do Consumidor, artigo 14, 4º, in verbis: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (...) 4 A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Neste contexto, segundo a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça, se o dano experimentado pela vítima não decorre de nenhum serviço de atribuição da entidade hospitalar, sendo falha exclusiva do profissional, sem vínculo, que utiliza das instalações daquele, afastada está a responsabilidade do hospital, restando a responsabilidade civil subjetiva e exclusiva do médico. A fim de fundamentar tal conclusão, seguem os julgados abaixo colacionados: JULGADO 01 - RESPONSABILIDADE. CIRURGIA. Cuida-se de ação indenizatória ajuizada pela recorrida em desfavor de hospital e de dois médicos, sob o argumento de que foi submetida à cirurgia de varizes realizada pelos réus nas dependências do hospital, ante a negligência e imperícia do cirurgião. Foram lesionados nervos de sua perna esquerda, de forma que perdeu definitivamente os movimentos tanto da perna quanto do pé. A Min. Relatora não conheceu do recurso, considerando que o hospital não demonstrou nenhuma circunstância excludente de responsabilidade e que o fato de ter admitido, em seu estabelecimento, a atividade que se revelou lesiva é suficiente para demonstrar o liame com o hospital do resultado danoso advindo da cirurgia. O Min. João Otávio de Noronha, divergindo do entendimento da Relatora, entende não se poder dizer que o acórdão recorrido tenha ofendido as disposições do 1º do art. 14 do CDC, porquanto é inequívoco que a seqüela da autora não decorreu de nenhum serviço de atribuição da entidade hospitalar, razão pela qual não se lhe pode atribuir a condição de fornecedor a fim de
4 imputar-lhe a responsabilidade pelo dano. Aduz que, atualmente, tem-se remetido às disposições do 1º do art. 14 do CDC, como sendo a norma sustentadora de tal responsabilidade. Também ocorre que, na hipótese dos autos, não se está diante de falha de serviços de atribuição do hospital, tais como as indicadas (instrumentação cirúrgica, higienização adequada, vigilância, ministração de remédios etc.), mas diante de conseqüências atinentes a ato cirúrgico de responsabilidade exclusiva da área médica, de profissional sem nenhum vínculo com o hospital recorrente. Assim, não há por que falar em prestação de serviços defeituosos, a ensejar, por conseguinte, a reparação de danos pelo hospital. Quanto ao fato de inexistir vínculo de emprego entre o cirurgião e o hospital, não resta dúvida, nos autos, de que o médico cirurgião não tinha nenhum tipo de vínculo com o hospital, apenas se serviu de suas instalações para as cirurgias. Diante disso, a Seção, ao prosseguir o julgamento, por maioria, conheceu do recurso do hospital e deu-lhe provimento, a fim de julgar a ação improcedente quanto a ele.resp SC, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 27/8/2008. G.N. INFORMATIVO 365 DE JURISPRUDÊNCIA DO STJ. JULGADO 2 - CIVIL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. ERRO PRATICADO POR MÉDICO NÃO CONTRATADO PELO HOSPITAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ATRIBUIÇÃO AFETA EXCLUSIVAMENTE AO HOSPITAL. AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE O DANO MORAL E A CONDUTA INERENTE AO TRATAMENTO HOSPITALAR. 1. Ação de compensação por dano moral ajuizada em Agravo em Recurso especial concluso ao gabinete em Cinge-se a controvérsia a definir se o recorrente possui responsabilidade civil por erro médico cometido por profissional que não possui vínculo com o hospital, mas utiliza as dependências do estabelecimento para a realização de internação e exames. 3. Por ocasião do julgamento do REsp /SC, a Segunda Seção do STJ afastou a responsabilidade objetiva dos hospitais pela prestação de serviços defeituosos realizados por profissionais que nele atuam sem vínculo de emprego ou subordinação. Precedentes. 4. A responsabilidade do hospital somente tem espaço quando o dano decorrer de falha de serviços cuja atribuição é afeta única e exclusivamente à instituição de saúde. 5. Quando a falha técnica é restrita ao profissional médico sem vínculo com o hospital, não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar. 6. Recurso especial conhecido e provido. (REsp /SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/11/2016, DJe 14/11/2016) g.n. JULGADO 03 - PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ERRO MÉDICO. HOSPITAL. FALTA DE VÍNCULO.
5 RESPONSABILIDADE. AUSÊNCIA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO- PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. Conforme entendimento desta Corte Superior, "quando a falha técnica é restrita ao profissional médico sem vínculo com o hospital, não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar" (REsp n /SP, Relator Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/11/2016, DJe 14/11/2016). g.n. 2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a Súmula n. 7/STJ. 3. No caso, o Tribunal de origem, examinando a prova dos autos, concluiu ser o médico o responsável pelo erro no procedimento cirúrgico, causador de danos à recorrente. Alterar tal conclusão demandaria nova análise de elementos fáticos, inviável em recurso especial. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp /DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 19/06/2017) Por conseguinte, não há responsabilidade civil do hospital, sendo o enunciado da questão equivocado, sendo a responsabilidade civil exclusiva do médico (responsabilidade civil subjetiva decorrente da culpa médica). Logo, pugna-se pela anulação do item em questão, posto que formulado de maneira errônea, atribuindo sua pontuação a todos os candidatos. B) O procedimento do juizado especial cível é cabível? (Valor: 0,50) Não há cabimento para a demanda de Vinícius no âmbito dos Juizados Especiais Estaduais, uma vez que a Lei 9.99/95, em seu artigo 8º, caput, e 1º preceitua: Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil. 1 o Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: (Redação dada pela Lei nº , de 2009) I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas; (Incluído pela Lei nº , de 2009) g.n Logo, o menor deve propor a Ação Indenizatória na Vara Cível competente. Profª. Raquel Bueno Formada em Direito pela Universidade Católica de Brasília, Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes-RJ, Mestranda em Direito na Universidade Católica de Brasília, professora de Direito Civil da graduação da Universidade Católica de Brasília e IESB, da pós graduação em Direito Civil da UniEvangélica de Anápolis-GO e professora de Direito Civil e Processo Civil do Gran Cursos Online. Advogada.
6 Questão 2 A) Roberto tem razão ao alegar que já usucapiu o imóvel? (Valor: 0.50) B) Está correta a sugestão feita pelo vizinho de Lorena? Por quê? Qual a ação judicial mais recomendável na hipótese? (Valor: 0.75) Tema: Propriedade Comentários: Trata do instituto da usucapião, forma de aquisição da propriedade que pode ser aplicada tanto ao bem móvel, quanto ao bem imóvel. O candidato deve observar que houve uma ocupação do bem, exercício da posse, por parte de estranhos, sem que houvesse interferência da proprietária, o que caracterizaria a posse mansa e pacífica. Ainda, deve-se atentar para o fato de que houve a transmissão do tempo da posse exercida pelos pais do atual possuidor, o que ocorre automaticamente com o princípio da saisine. A letra a indaga se Roberto teria razão em alegar a efetivação da usucapião. A resposta deve ser negativa, em virtude do prazo estabelecido no comando da questão, pois fala-se em 5 anos de posse. O referido prazo somente seria suficiente para alegar a modalidade de usucapião inserida no artigo e do Código Civil que dizem: Art Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Como a questão menciona que a área é urbana, aplica-se especificamente o estabelecido no artigo 1.240, mas a área deve ser de até 250 m². Assim, a resposta correta é que Roberto não tem razão em alegar usucapião do imóvel. A letra b questiona se está correta a sugestão feita pelo vizinho de Lorena. Neste ponto o candidato deve observar que não cabe ação de reintegração de posse, pois Lorena não entrou na posse para que pudesse haver esbulho e então o cabimento de possessória. Assim, há cabimento de duas possibilidades ação de imissão na posse ou ação reivindicatória. A ação de imissão na posse, modalidade de demanda petitória, para aquele sujeito que, apesar de ter propriedade, ainda não entrou na posse. Contudo essa demanda deve ser manejada em face de quem ocupa o bem, com uma relação jurídica ou de subordinação com o alienante, como ocorre com o detentor da coisa.
7 Por outro lado, se o ocupante do bem não detém relação jurídica com o alienante, deve-se observar o cabimento da ação reivindicatória. A banca considerou como resposta padrão os seguintes termos: Não, pois, considerando-se que Roberto não tem qualquer vínculo jurídico com Dalva, a imissão na posse é incabível. A medida recomendável é a ação pelo procedimento comum (Art. 318 do CPC/15), com pedido reivindicatório (Art do CC). A resposta padrão não pode prosperar como única forma de resposta. Cabe recurso. Aqui, deixo consignada minha decepção quanto à cobrança feita pela banca FGV nesta resposta, pois se trata de um tema extremamente específico que não vai verificar a aptidão do candidato em exercer a advocacia... Fundamento do Recurso: A ação de imissão na posse e ação reivindicatória são demandas petitórias e, por assim serem, é possível aplicação da fungibilidade entre as demandas, visto, inclusive, tênue diferença de requisitos. Ademais, há divergência acerca da aplicação de uma e de outra, havendo quem defenda a possibilidade de se referir à mesma situação. A banca considerou como resposta correta a ação reivindicatória, pois o ocupante do bem não teria relação jurídica com a alientante. O Tribunal de Justiça de São Paulo, TJSP, por meio da Apelação Cível n /5, entendeu ser cabível ação de imissão na posse mesmo quando o imóvel é ocupado por terceiro que não possui nenhum vínculo com os proprietários ou o antecessor. Ademais disso, o STJ, por meio do informativo de jurisprudência número 407, apresenta o Recurso Especial n /SP, no qual se consiga que a ação de imissão na posse, ao contrário do que o nomen iuris pode indicar, tem natureza petitória e é instrumento processual colocado à disposição daquele que, com fundamento no direito de propriedade e sem nunca ter exercido a posse, almeja obtê-la judicialmente. Dessa forma, o professor Cristiano Chaves, em suas lições, preleciona que diante de demandas petitórias imissão na posse e reivindicatória, deve o magistrado adotar postura de observar a fungibilidade entre as ações dominiais e receber a inicial, mesmo diante de nomenclaturas diversas. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: direitos reais 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Ed.JusPodivm, p. 249) Assim, diante dos termos, a banca deve considerar como resposta correta tanto que a indicação de cabimento de ação de imissão na posse, quanto a ação reivindicatória, seja pela divergência que se faz presente sobre as nomeclaturas, seja pela fungibilidade entre as demandas petitórias. A manutenção da resposta padrão como sendo a única forma correta insurge no cometimento de grave equívoco da banca. Questão 3 A) Qual medida judicial poderá ser utilizada por Joana para evitar que Jorge venha a suceder Luis? Há algum prazo-limite para isso? (Valor: 0,85) B) Qual o foro competente para processar e julgar o inventário de Luiz? (Valor: 0,40) Tema: Direito Sucessório Comentários: Questão dentro do esperado e trabalhada nas aulas ao longo do curso.
8 A) Joana deve ajuizar demanda objetivando a declaração de indignidade de Jorge, utilizando como fundamento o artigo , inciso I, e artigo 1.815, do Código Civil, vejamos: Art São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; Art A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença. Parágrafo único. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão. B) O foro competente é o da cidade de Maceió, nos termos do Art. 48 do CPC/15, vejamos: Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente. Profª. Roberta Queiroz Graduada em Direito pela Universidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mestranda em Direito pela Universidade Católica de Brasília, com enfoque em direito público; docente nas disciplinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito Administrativo desde 2007; docente titular do curso de Direito da Universidade Católica de Brasília; professora de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito privado e direito administrativo desde Questão 4 A) O fundamento da decisão proferida pela Justiça Estadual está correto? Por quê? O art do Código Civil estabelece quais são os requisitos exigidos para o reconhecimento da união estável, que são: a convivência pública, contínua e duradoura com o objetivo de constituição de família, logo, em momento algum o legislador exigiu a coabitação como requisito necessário para o reconhecimento da união estável, não cabendo ao interprete fazê-lo, tendo, por esses motivos, equivocado-se o douto juiz em sua decisão, a qual está a merecer reforma. constituição Art É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de de família.
9 B) O reconhecimento da união estável pela Justiça Federal vincula a decisão a ser proferida pela Justiça Estadual? Por quê? (Valor: 0,75) A Ação ajuizada por Marcel em face da União, perante a Justiça Federal, buscava a concessão de pensão por morte, sob o fundamento da ocorrência de união estável com o falecido. Desta forma, a juíza federal da 6ª Vara, por ter entendido configurada a relação de companheirismo, julgou procedente o pedido, concedendo a pensão a Marcel. Analisando a referida situação verifica-se que o pedido julgado procedente pela douta juíza federal foi o de concessão da pensão por morte, tendo, o reconhecimento da união estável, sido utilizado como fundamento para decisão, mas não como questão principal, motivo pelo qual não constara do dispositivo da sentença. O inciso I, do art. 504 do CPC estabelece que não fazem coisa julgada os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença, desta forma a sentença proferida pela juíza federal da 6ª Vara fará coisa julgada apenas no que tange à concessão da pensão por morte - pedido julgado - e não em relação aos fundamentos nela utilizados - reconhecimento da união estável -. Art Não fazem coisa julgada: I os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Grifei Segundo a sistemática vigente no CPC/1973 as questões prejudiciais não eram alcançadas pela coisa julgada material apenas pela preclusão naquele processo específico, salvo a hipótese de ação declaratória incidental que era tratada nos arts. 5 e 325 do CPC/1973. De forma diversa disciplina o art. 503, 1o, do novo CPC, vejamos: Art A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I dessa resolução depender o julgamento do mérito; II a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. 2o A hipótese do 1o não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial. Dessa forma poderíamos afirmar que a o reconhecimento da união estável teria sido analisado pelo juíza federal como questão prejudicial, logo, para que se sujeitasse aos efeitos da coisa julgada, referida questão prejudicial exigiria o preenchimento dos requisitos previstos no 1o, do art. 503 do CPC, dentre eles o previsto o inciso III, qual seja: o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como principal, logo, como a competência para analisar o reconhecimento da união estável é da Vara de Família - Justiça Comum - e não da douta juíza federal, esta padece de incompetência absoluta para análise do
10 referido pedido como questão principal, não se aplicando, então, os efeitos da coisa julgada à referida questão prejudicial - existência de união estável. Prof. Rodrigo Costa Ribeiro Graduado em Direito pela Universidade Católica de Brasília (2001) e Especialista em Direito Processual Civil pela ICAT/AEUDF. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direitos Civil e Processual Civil. Professor titular das disciplinas Direito Civil II e V, Direito Processual Civil IV e Prática Processual Civil II e na Universidade Católica de Brasília (UCB), nas disciplinas de Direito Processual Civil II e V e Teoria Geral do Direito Privado Projeto Exame de Ordem A carteira é minha
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