mais obesos e comem cada vez menos fruta
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- Otávio Brunelli Philippi
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1 Jovens estão mais obesos e comem cada vez menos fruta Relatório da OMS mostra que entre 2002 e 2014 o país estagnou no combate à doença. Consumo de fruta é positivo, mas caiu muito nos últimos anos plo/11
2 Portugal é um dos cinco países com mais adolescentes obesos Relatório da OMS analisa 27 países e regiões. É apresentado hoje no Porto. Mostra que entre 2002 e 2014 o país estagnou no combate a esta doença. Consumo de fruta caiu nos últimos anos Saúde Romana Borja-Santos A luta contra a obesidade em Portugal não está a ter resultados significativos entre os mais novos. Em 2002 os dados não eram animadores e 12 anos depois o cenário continuava bastante preocupante: os adolescentes portugueses estão entre os mais obesos da Europa. Só a Grécia, a Macedónia, a Eslovénia e a Croácia apresentam valores mais negativos, revela um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), que será apresentado hoje no Congresso Europeu de Obesidade, no Porto, e que compara 27 países e regiões. O documento Adolescent obesity and related behaviours: trenas and inequalities in the WHO European Region, , aponta para que a prevalência da obesidade em Portugal, nos adolescentes aos 11, aos 13 e aos 15 anos, seja de 5%. Este número representa uma subida de 0,3 pontos percentuais desde 2002, quando o objectivo era travar esta doença. O valor mais elevado na região europeia é registado na Grécia, com 6,5% de adolescentes obesos. No caso de Portugal, a situação é pior entre os rapazes, com 6,9%. Já entre as raparigas a taxa é de 3%. "Os níveis de obesidade nos adolescentes são preocupantes, associados a uma má alimentação, pouca actividade física e comportamentos sedentários", sintetiza ao PÚBLICO a investigadora Margarida Gaspar de Matos, que coordena a parte portuguesa do trabalho da OMS. A psicóloga da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa lembra que "a obesidade está associada a problemas de saúde no futuro", dando como exemplo a diabetes, mas também problemas cardiovasculares, respiratórios ou até de sono e mentais. "Quanto mais cedo a obesidade se instala mais difícil é combatê-la e mais se acumulam os efeitos prejudiciais para a saúde física, mental e social", reitera. "É necessária uma acção política ambiciosa para atingir o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável de travar o aumento da obesidade infantil. Os governos devem direccionar esforços e quebrar este ciclo prejudicial da infância para a adolescência e para o futuro", reforça a directora regional da OMS para a Europa, Zsuzsannajakab, em comunicado. Também João Breda, coordenador do Programa de Nutrição, Actividade Física e Obesidade da OMS/Europa realça que "a maioria dos jovens não superará a obesidade: cerca de quatro em cada cinco adolescentes que se tornam obesos continuarão a ter problemas de peso na idade adulta". O trabalho da OMS olha também para outros indicadores que podem ajudar a explicar estes resultados, como alguns hábitos alimentares, mas também comportamentos sedentários e pouca actividade física regular. Por exemplo: Portugal não chega a ser dos países onde os adolescentes comem mais fruta diariamente, mas não está longe. O país com melhores resultados é a Bélgica (zona francesa), onde 49,1% dos adolescentes comem fruta todos os dias. Entre os portugueses o valor é de 40,9%, mas há uma nuance: o país está entre aqueles onde o consumo de fruta mais caiu entre 2002 e 2014, com uma descida de 6,8 pontos percentuais neste período. Gaspar de Matos lembra que o relatório da OMS não apresenta explicações para estas mudanças, mas avança hipóteses. Com a crise económica, diz, comer fruta ficou mais "caro do que um hambúrguer" e são reportados mais casos de crianças que se deitam sem comer. Ainda assim, sublinha, as escolas têm conseguido ter alguns programas de distribuição de fruta que talvez tenham travado uma descida ainda maior. A OMS analisa a relação entre a obesidade e o contexto socioeconómico em que os adolescentes vivem, percebendo-se que a má alimentação anda de mãos dadas com as dificuldades financeiras. No caso específico de Portugal, o relatório apenas consegue estabelecer uma relação entre o excesso de peso e o baixo estatuto socioeconómico nos rapazes de 11 anos. Ainda assim, Gaspar de Matos salienta que é precisamente nesta idade que o país tem o maior pico de obesidade nos adolescentes. Ainda nos hábitos alimentares, e no que diz respeito ao consumo de vegetais, só 28% dos adolescentes portugueses comem estes produtos diariamente. Os valores mais elevados encontram-se na Bélgica e Ucrânia, onde ultrapassam os 50%. Mesmo assim o valor subiu dois pontos percentuais em Portugal desde O que é positivo. Outra boa notícia é que nestes 12 anos registou-se uma queda significativa em Portugal no consumo de produtos como refrigerantes e doces, tanto em rapazes como em raparigas.
3 Críticas às cantinas Margarida Gaspar de Matos lembra que já outro estudo da OMS, o Health Behaviour in School-aged Children, publicado no ano passado, e que serve de ponto de partida à avaliação que será divulgada hoje, indicava que os jovens portugueses teciam críticas à qualidade da alimentação das cantinas escolares. A psicóloga sublinha: uma alimentação saudável não implica servir refeições com pouco sabor. Outra conclusão: os hábitos alimentares e a actividade física vão piorando com a idade. E aumentam também alguns comportamentos sedentários, como utilizar a televisão ou o computador mais de duas horas por dia, ainda que se tenha registado uma queda nos últimos anos. O relatório não explica, mas a psicóloga lembra que estes hábitos podem estar a ser substituídos por outros, como o uso de tablets e smartphones - até porque nem por isso a actividade física tem aumentado entre os adolescentes portugueses. Aliás, as raparigas estão mais sedentárias. Os dados da OMS levam a investigadora a deixar algumas recomendações ao Governo. Mais do que políticas novas, defende a avaliação dos resultados do que já foi feito - criticando opções como as tomadas pelo ex-ministro da Educação, Nuno Crato, que desvalorizaram a importância de disciplinas como a Educação Física. romana.santos@publico.pt Raparigas sedentárias A prática regular de exercício físico está longe de ser um hábito entre as adolescentes portuguesas, que estão entre as mais inactivas da Europa. Aos 13 anos, não há nenhum outro país europeu onde as raparigas pratiquem tão pouco exercício. Nesta idade, só 6% das portuguesas dedicam uma hora por dia a uma actividade física moderada a intensa, indicam os dados da OMS, que incluem Israel. Aos 15 anos o valor desce para 5%, mas nessa altura as italianas conseguem praticar ainda menos desporto do que as portuguesas. Na idade mais baixa avaliada, os 11 anos, os dados não são animadores, mas mesmo assim são mais positivos: 16% das raparigas dedicam uma hora diária ao exercício, ficando à frente de dez países, como Itália, Dinamarca, Suécia ou Holanda. Para a investigadora Margarida Gaspar de Matos, estes resultados são preocupantes e mostram que é preciso procurar outras
4 formas de incentivar a prática de exercício até porque os valores nas raparigas estão praticamente estáveis desde 2002 e nos rapazes as subidas são ligeiras. "Para incentivar a prática é preciso começar cedo e na cultura familiar e com a família. Na escola é preciso que os jovens encontrem a 'sua actividade' e não se tenham de reduzir a 'ofertas Standard'", exemplifica a psicóloga. Os dados dos rapazes não são tão negativos, mas também estão longe de serem animadores. Aos 11 anos, 26% dos adolescentes praticam pelo menos uma hora diária de uma actividade física moderada a vigorosa. Aos 13 anos o valor desce ligeiramente para 25% e aos 15 anos cai para 18%. R.B.S. "A maioria dos jovens não superará a obesidade", diz João Breda, coordenador do Programa de Nutrição, Actividade Física e Obesidade da OMS/Europa "Estamos a criar uma geração de crianças que pode morrer antes dos pais" Os hospitais estão a abrir muito poucas vagas para novos doentes nas consultas de obesidade e a lista de espera para cirurgia continua a ser demasiado longa. O alerta é feito pelo presidente da Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (Adexo), Carlos Oliveira, que vai transmitir esta preocupação durante o Congresso Europeu de Obesidade, que começa hoje no Porto e se prolonga até sábado. Carlos Oliveira lembra que já tivemos 19 hospitais públicos a tratar os casos mais graves de obesidade, "mas hoje esse valor está reduzido a oito públicos e a fazer muito pouco". O representante da Adexo está preocupado com as consequências do atraso. "Estamos a falar de obesidade mórbida, em que as pessoas já têm outras doenças associadas e em que já estão em risco de vida. Muitos têm ficado pelo caminho", alertou, durante um seminário para jornalistas que decorreu ontem em Lisboa, com o apoio da Sociedade Doentes alertam para atrasos nas consultas e cirurgias Portuguesa para o Estudo da Obesidade, e onde foram apresentados dados sobre o impacto desta doença e os tratamentos disponíveis. O presidente da Adexo frisou que a espera por uma consulta pode ultrapassar um ou dois anos e que uma cirurgia pode chegar aos três anos de espera. Ao mesmo tempo, criticou a falta de aposta na prevenção dos casos de obesidade. "Estamos a criar uma geração de crianças que pode morrer antes dos pais. A obesidade mata e reduz a qualidade de vida." Por isso, no congresso no Porto, a Adexo vai também dinamizar algumas actividades destinadas às famílias e às crianças. Jovens saudáveis: mexam-se! Nos próximos dias, no congresso no Porto, serão apresentados estudos de investigadores de vários países. Um deles tem uma mensagem bem clara. Jovens saudáveis: mexam-se! É que bastam duas semanas de inactividade para reduzir a massa muscular e provocar alterações metabólicas que podem levar a um risco acrescido de desenvolver doenças crónicas, como a diabetes tipo 2, patologias cardiovasculares e, potencialmente, morte prematura, concluíram os autores do estudo, coordenado por Kelly Bowden Davies e Dan Cuthbertson, da Universidade de Liverpool (Reino Unido). A equipa investigou os factores de risco para o desenvolvimento de doenças após 14 dias de inactividade física. E concluiu que depois desse período, e sem mudanças na dieta, ocorrem alterações significativas, como perda de massa muscular e aumento da gordura corporal total. Os níveis da forma física cardiorespiratória diminuíram acentuadamente e os participantes no estudo - 28 jovens saudáveis e fisicamente activos que passaram de cerca de 10 mil passos por dia para apenas 1500, ou seja, menos 125 minutos diários de actividade vigorosa ou moderada -já não conseguiam correr durante tanto tempo e com a mesma inten-
5 sidade do que antes. Os investigadores destacam também que foi observada uma redução do índice de massa magra total (0,36 kg). "No grupo de jovens que seguiam as recomendações previstas nas normas orientadoras de actividade física, apenas 14 dias de sedentarismo provocaram pequenas mas significativas mudanças que foram acompanhadas por reduções da massa muscular e aumento da gordura corporal. Estas alterações podem provocar doenças crónicas metabólicas e mortalidade prematura", avisa Dan Cuthbertson. As pessoas, recomenda ainda, "devem evitar ficar sentadas longos períodos". Romana Borja-Santos e Alexandra Campos
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