Revista de Direito das Faculdades Integradas de Jaú ISSN X
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1 Revista de Direito das Faculdades Integradas de Jaú ISSN X CONCEITO LEGAL E PREVENCIONISTA DO ACIDENTE DO TRABALHO FABIO EMPKE VIANNA RESUMO Analisando as relações trabalhistas verifica-se que a preocupação com os acidentes do trabalho e as doenças profissionais ainda é pequena face às grandes conseqüências que geram. Desde a revolução industrial, oportunidade em que as máquinas começaram a substituir o trabalho manufaturado, o índice de acidentes e doenças foi elevado, iniciando-se o tratamento diferenciado aos trabalhadores acidentados. É preciso prevenir os acidentes do trabalho e o surgimento das doenças profissionais e do trabalho, já que as consequências são consideravelmente onerosas para todas as partes envolvidas. PALAVRAS-CHAVE: Acidente. Doença. Trabalho. Conceito. Prevenção 1 INTRODUÇÃO. Sempre quando se discute a prestação de serviços, seja ela com ou sem vínculo de emprego, observa-se que a grande preocupação das partes envolvidas resume-se ao empréstimo da força de trabalho em troca de remuneração. No entanto, quando se fala em relação de trabalho sempre é necessário considerar o risco porventura existente na forma ou no local da atividade Pós-Graduado em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário de Araraquara; Mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto; Professor de Direito Civil e Direito Empresarial das Faculdades Integradas de Jaú; Professor de Relações Trabalhistas do MBA em Gestão de Pessoas da FAAG; Professor da Pós-Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho da Escola Superior de Advocacia (ESA) Núcleo Jaú; Advogado.
2 2 laboral, pois no caso de pouca atenção a este assunto, as conseqüências poderão ser graves e definitivas. É importante destacar que zelar pela segurança do trabalho não é responsabilidade somente do empregador, mas também do trabalhador e de todos os envolvidos no desenvolvimento do trabalho. Nesta oportunidade, estudaremos de forma direta o acidente do trabalho, a doença profissional e do trabalho, as possíveis formas de evitá-las, as conseqüências e os direitos assegurados aos trabalhadores debilitados. 2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO Não há como negar que o estudo da infortunística teve início com a Revolução Industrial, ocasião em que o trabalho manual foi substituído pela utilização de máquinas, as quais, seja pela precariedade, seja pela falta de habilidade do trabalhador, eram as causadoras de acidentes do trabalho. As primeiras preocupações com o tema surgiram na Alemanha, em 1884, cuja legislação estabelecia assistência médica e farmacêutica, determinava o pagamento de valor em dinheiro até o restabelecimento do acidentado, assim como assegurava o auxílio-funeral no caso de morte. Referida legislação era aplicada somente a indústrias que tinham atividades perigosas, assim consideradas as que envolviam trabalhos com tear e máquina a vapor. Neste mesmo sentido caminhou a legislação francesa a partir de 1898, a qual considerava como perigosas as atividades relacionadas às indústrias de construção, de manufatura, de transporte terrestre e fluvial, dentre outras.
3 3 No Brasil, a primeira legislação sobre o tema somente surgiu em 1919, com a edição do Decreto nº 3.724/19 que, no artigo 1º 1, tratava o acidente do trabalho como o infortúnio ocorrido de forma grave. Atualmente, a legislação que regulamenta os infortúnios laborais é a Lei nº 8.213/91, que ampliou consideravelmente o conceito do acidente do trabalho, assim como equiparou algumas ocorrências ao acidente para efeitos previdenciários e trabalhistas. 3 CONCEITO DE ACIDENTE DO TRABALHO. doutrinários. Para conceituar acidente do trabalho, utilizamos os ensinamentos No entender de Sérgio Pinto Martins: acidente do trabalho é a contingência que ocorre pelo exercício de trabalho a serviço do empregador ou pelo exercício de trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (MARTINS, 2002, P ) Para Cesarino Júnior, infortúnio do trabalho é o evento causal, nocivo para a capacidade laborativa e relacionado com o trabalho subordinado prestado à empresa. (CESARINO JÚNIOR, 1970, P. 299) Embora os doutrinadores desenvolvam sua própria interpretação acerca do conceito de acidente do trabalho, importante mencionar que todos consideram a previsão do artigo 19 da Lei nº 8.213/91, que assim dispõe: 1 Artigo 1. Consideram-se acidentes no trabalho, para os fins da presente lei: a) o produzido por uma causa súbita, violenta, externa e involuntária no exercício do trabalho, determinando lesões corporais ou perturbações funcionais que constituam a causa única da morte ou perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. b) a moléstia contraída exclusivamente pelo exercício do trabalho, quando este for de natureza a só por si causá-la, e desde que determine a morte do operário, ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária para o trabalho.
4 4 Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Em outras palavras, podemos dizer que o acidente do trabalho é o que ocorre no decorrer do exercício do trabalho, havendo ou não relação de emprego. Importante esclarecer que o acidente do trabalho não é somente o que ocorre nas dependências da empresa, mas todos os que se relacionam com o trabalho. Dessa forma, a título exemplificativo, podemos dizer que pode ser considerado acidente do trabalho o ocorrido em viagem a serviço da empresa; no percurso entre a residência e o local de trabalho; ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiros ou de companheiro de trabalho; entre outros. 4 DISTINÇÃO ENTRE ACIDENTE DO TRABALHO E DOENÇA PROFISSIONAL E DO TRABALHO A norma jurídica vigente (Lei nº 8.213/91) equipara as doenças profissionais e do trabalho aos acidentes do trabalho para efeitos previdenciários, conforme previsão do artigo e doença do trabalho. Primeiramente, oportuna se faz a distinção entre doença profissional 2 Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.
5 5 Entende-se por doença profissional a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. São as causadas por agentes físicos, químicos ou biológicos, inerentes a certas funções ou atividades. Exemplificando a doença profissional, podemos mencionar o caso dos trabalhadores na mineração, os quais estão sujeitos ao pó de sílica e com riscos de contrair a silicose. Também são casos de doenças profissionais o saturnismo (causada pelo chumbo) e o hidragismo (causada pela exposição ao mercúrio). São também conhecidas por doenças profissionais típicas. Já as doenças do trabalho, ou moléstias profissionais atípicas são as desencadeadas em função das condições especiais de trabalho e necessitam de vistoria no ambiente de trabalho para comprovação, como, por exemplo, a lesão por esforço repetitivo (LER) e a perda auditiva induzida por ruído (PAIR). Assim, enquanto a doença profissional apresenta um risco direto, a doença do trabalho representa um risco indireto. Evidenciadas tais diferenças entre as doenças decorrentes do trabalho, vamos à pertinente distinção entre as doenças e o acidente. Enquanto as doenças são causadas diante da exposição do trabalhador a determinadas situações durante razoável tempo, o acidente é decorrente de evento único, imprevisto, bem configurado no espaço, no tempo e de conseqüências, geralmente, imediatas. Assim é clara a distinção entre a doença e o acidente, pois enquanto a primeira somente é desencadeada após um determinado tempo, o segundo ocorre por meio de ocorrência única, com conseqüências quase sempre imediatas.
6 6 5 CLASSIFICAÇÃO DOS ACIDENTES E A EMISSÃO DA COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO (CAT) ou não de afastamento. Podemos classificar os acidentes do trabalho quanto à necessidade Primeiramente, tratando-se do acidente típico, nos deparamos com ocorrências que não sugerem um afastamento do trabalho. Trata-se, por exemplo, do caso de um auxiliar de escritório sofrer uma torção no pé durante a jornada de trabalho. O tratamento da lesão não influenciará no desempenho do trabalho e este não prejudicará a cura do trauma. De outro lado, temos o acidente com lesões mais graves em que o trabalhador não consegue se locomover. Neste caso, o infortúnio recomenda o afastamento, seja porque o obreiro não conseguirá exercer sua função, seja para um melhor tratamento da lesão. De qualquer forma, a empresa estará obrigada a comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato a autoridade competente, sob pena de multa. Referida exigência está prevista no artigo 22 da Lei nº 8.213/91. 6 CONSEQUÊNCIAS DOS ACIDENTES DO TRABALHO E DAS DOENÇAS PROFISSIONAIS AOS EMPREGADORES A ocorrência de acidente do trabalho e/ou doenças profissionais e do trabalho gera algumas consequências aos empregadores. Como primeira conseqüência, podemos referir a obrigatoriedade do depósito de FGTS durante todo o período de afastamento, conforme previsão do artigo 15, 5º 3, da Lei nº 8.036/90. 3 Art. 15. Para os fins previstos nesta Lei, todos os empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia sete de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância correspondente a oito por cento da
7 7 Ainda, são conseqüências dos infortúnios o direito a estabilidade provisória pelo período de 12 (doze) meses a contar da cessação do benefício 4 ; pagamento de complemento salarial (salário-enfermidade) conforme cláusula constante na maioria dos acordos, convenções e dissídios coletivos; possível ingresso de ação reparatória por dano em caso de seqüela ou prejuízo decorrente de enfermidade. 7 DIREITOS DOS TRABALHADORES ACIDENTADOS E PORTADORES DE DOENÇAS DO TRABALHO Em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, todo empregador deverá zelar pela segurança de seus trabalhadores, fornecendo-lhes métodos seguros de trabalho e equipamentos que reduzam ou eliminem possíveis agentes nocivos à saúde. De outro lado, o trabalhador doente do trabalho ou acidentado onera o empregador, já que tem direitos que deverão ser observados durante ou mesmo após o período de afastamento. Conforme já dito no tópico anterior, o trabalhador acidentado terá garantida a manutenção de seu contrato de trabalho pelo prazo de 12 (doze) meses, conforme previsão do artigo 118 da Lei nº 8.213/91. remuneração paga ou devida, no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os artigos 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de (...) 5º O depósito de que trata o caput deste artigo é obrigatório nos casos de afastamento para prestação do serviço militar obrigatório e licença por acidente do trabalho. 4 Lei 8.213/91 Art O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente.
8 8 No que tange aos benefícios previdenciários, o acidentado e seus dependentes têm direito, independentemente de carência, aos seguintes benefícios previdenciários: a) segurado: auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, auxílioacidente; b) dependentes: pensão por morte, se o caso. Em relação ao auxílio-acidente, o segurado somente fará jus ao recebimento se apresentar, após a consolidação das lesões decorrentes do trabalho de qualquer natureza, seqüela definitiva que resulte: - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia e exija maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exercia à época do acidente ou - impossibilidade de desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém permita o desempenho de outra, após o processo de reabilitação profissional nos casos indicados pela perícia médica do INSS. Por fim, cabe lembrar da indenização a que o empregador está sujeito quando incorrer em dolo ou culpa, ou seja, na hipótese de contribuir, ainda que indiretamente, pela ocorrência do acidente. Em outras palavras, cabe à empresa cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho, orientando os empregados para evitar acidentes. Referida indenização situa-se no campo da responsabilidade civil, conforme previsão dos artigos e do Código Civil. 5 Art Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
9 9 Dessa forma, nos casos de acidente do trabalho decorrentes de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva, a empresa estará obrigada a ressarcir o empregado pelos danos causados. Acrescente-se que a Previdência Social poderá propor ação regressiva contra os responsáveis, visando o ressarcimento dos benefícios pagos aos segurados acidentados. 8 CONCLUSÃO Ao final desse estudo, podemos concluir que, em uma relação de trabalho, todas as partes envolvidas precisam cumprir a missão de evitar acidentes e doenças. A legislação em vigor atribui ao empregador a responsabilidade pelo fornecimento de equipamento de proteção individual, pelo treinamento do empregado, além da necessidade de oferecer um ambiente de trabalho seguro. Já o empregado, que é a parte mais interessada na proteção à sua saúde, deverá observar as normas de segurança do trabalho e exigir do empregador o treinamento adequado para atividades em que não esteja suficientemente apto a desempenhar. Dessa forma, se todos observarem as normas e o respeito que devem existir em uma relação de trabalho, os acidentes do trabalho e as doenças profissionais certamente serão reduzidos. 6 Art Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a reparálo.
10 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CESARINO JÚNIOR, Antônio Ferreira. Direito Social Brasileiro. 6ª Edição. São Paulo: Saraiva, JULIÃO, Pedro Augusto Musa. Curso Básico de Direito Previdenciário. Rio de Janeiro: Revista Forense, MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 19ª Edição, São Paulo: Atlas, MONTEIRO, Antônio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais. São Paulo: Saraiva, VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Manual Prático das Relações Trabalhistas. 10ª Edição, São Paulo: LTr, 2009.
Denilson Cazuza dos Santos
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