Indenizações por. Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional
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- Sebastiana Rijo Beltrão
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1 Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional
2 1ª edição julho, ª edição 2ª tiragem setembro, ª edição 3ª tiragem dezembro, ª edição abril, ª edição 2ª tiragem agosto, ª edição 3ª tiragem novembro, ª edição março, ª edição 2ª tiragem agosto, ª edição fevereiro, ª edição 2ª tiragem outubro, ª edição maio, ª edição abril, ª edição fevereiro, ª edição 2ª tiragem julho, ª edição março, 2014
3 SEBASTIÃO GERALDO DE OLIVEIRA Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Mestre em Direito pela UFMG. Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho. Professor do Curso de Especialização em Direito do Trabalho da Faculdade de Direito Milton Campos MG. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional 8ª edição revista, ampliada e atualizada
4 R EDITORA LTDA. Todos os direitos reservados Rua Jaguaribe, 571 CEP São Paulo, SP Brasil Fone (11) Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: RLUX Capa: FABIO GIGLIO Impressão: ORGRAFIC LTr Março, 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Oliveira, Sebastião Geraldo de Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional / Sebastião Geraldo de Oliveira. 8. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo : LTr, Bibliografia. ISBN Acidentes do trabalho Brasil 2. Danos (Direito civil) Brasil 3. Doenças profissionais Brasil 4. Indenização Brasil I. Título CDU-34: : (81) Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Acidentes do trabalho : Indenizações : Direito do trabalho 34: : (81) 2. Brasil : Doenças ocupacionais : Indenizações : Direito do trabalho 34: : (81) 3. Brasil : Doenças profissionais : Indenizações : Direito do trabalho 34: : (81)
5 Dedico este livro a duas mulheres especiais: à Ana Maria, minha mãe, e à Sueli, minha mulher. Com a primeira, encontrei a vida; com a Sueli, a vida me encontrou.
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7 Aos ex-estagiários Marcus Vinícius de Almeida, Marius Fernando de Carvalho, Leonardo Nogueira de Oliveira, Cynthia Lessa da Costa, Henrique Fonseca Alves e Luciana Sifuentes Reis, que, em períodos distintos, colaboraram na pesquisa bibliográfica e jurisprudencial.
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9 SUMÁRIO Abreviaturas e siglas usadas Apresentação à 8ª edição Prefácio da primeira edição Humberto Theodoro Júnior Introdução Acidentes do trabalho no Brasil Importância do problema Os números dos acidentes Histórico das leis acidentárias Abrangência do conceito de acidente do trabalho Necessidade do enquadramento legal Espécies legais de acidentes do trabalho Acidente típico Doenças ocupacionais Concausas Acidente de trajeto Outras hipóteses Caracterização do acidente do trabalho Comunicação do Acidente do Trabalho CAT Enquadramento técnico do acidente pelo INSS Recurso administrativo contra o enquadramento Ação judicial contra o enquadramento Responsabilidade civil por acidente do trabalho Direitos acidentários e reparações civis Noção sobre responsabilidade civil... 79
10 10 Sebastião Geraldo de Oliveira 4.3. Evolução da responsabilidade civil por acidente do trabalho Cumulação com os benefícios acidentários Espécies de responsabilidade civil Responsabilidade civil subjetiva Responsabilidade civil objetiva Responsabilidade civil por atos dos empregados ou prepostos Responsabilidade civil nas terceirizações Acidente do trabalho e responsabilidade civil objetiva Desenvolvimento da teoria do risco Abrangência da responsabilidade civil objetiva A teoria do risco acolhida no novo Código Civil É aplicável a inovação do Código Civil no acidente do trabalho? Extensão da responsabilidade objetiva do novo Código Civil A mensuração do risco pelo Fator Acidentário de Prevenção O seguro acidentário e a indenização pela teoria do risco Perspectivas da responsabilidade civil por acidente do trabalho Nexo causal no acidente do trabalho Causalidade como pressuposto da indenização Enfoque acidentário e da responsabilidade civil Nexo nos acidentes e doenças ocupacionais Nexo concausal Conceito e abrangência A concausa nos acidentes do trabalho Gradação da concausa Repercussão jurídica do grau da concausa Excludentes do nexo causal Culpa exclusiva da vítima Caso fortuito ou de força maior Fato de terceiro Adoecimentos não ocupacionais Culpa do empregador no acidente do trabalho A culpa como pressuposto da indenização Distinção entre dolo e culpa
11 Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional Abrangência do conceito de culpa Culpa contra a legalidade Culpa por violação do dever geral de cautela Graus de culpa: grave, leve e levíssima Culpa exclusiva da vítima Culpa concorrente da vítima Presunção de culpa do empregador Danos decorrentes do acidente do trabalho O dano como pressuposto da indenização Quando o acidente provoca danos Dano material Abrangência Dano emergente Lucro cessante Dano moral Evolução e abrangência Fundamentos constitucionais do dano moral Cumulação com o dano material Finalidade da indenização por dano moral Cabimento do dano moral no acidente do trabalho Prova do dano moral Critérios para arbitramento da indenização Controle do montante indenizatório pelo TST Dano moral na responsabilidade objetiva Dano estético Conceito e abrangência Cumulação com o dano moral Perda de uma chance Do risco ergonômico para o risco econômico Indenizações nos acidentes do trabalho com óbito Considerações iniciais Apuração e reparação dos danos
12 12 Sebastião Geraldo de Oliveira Danos emergentes Lucros cessantes ou pensão Danos morais Natureza jurídica da pensão Beneficiários da pensão Titulares do direito ao pensionamento Pensionamento do cônjuge ou companheiro Pensionamento dos filhos Pensionamento dos pais Pensionamento de outros beneficiários Base de cálculo da pensão Constituição de capital para garantia do pensionamento Termo final da pensão Direito de acrescer dos beneficiários remanescentes Legitimidade para postular a indenização por dano moral Transmissibilidade do dano moral Titulares do direito à indenização por dano moral Arbitramento da indenização quando há vários lesados Indenizações nos acidentes do trabalho sem óbito Danos quando a vítima sobrevive ao acidente Prova pericial para mensuração dos danos Indenizações no caso de invalidez permanente Indenizações no caso de redução da capacidade Possibilidade de revisão do pensionamento Opção do acidentado pelo pagamento integral Indenizações no caso de incapacidade temporária Indenizações no caso de acidente sem afastamento Prescrição Considerações iniciais Prazo prescricional: civil ou trabalhista? Regras de transição para a prescrição civil Prescrição nas ações ajuizadas antes da EC n. 45/
13 Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional Prescrição nas ações ajuizadas após a EC n. 45/ Início da fluência do prazo prescricional Prescrição nas ações ajuizadas por domésticos Prescrição nas ações do trabalhador não empregado Pronunciamento de ofício da prescrição Ação revisional nas indenizações por acidente do trabalho Considerações iniciais Cabimento da ação revisional Competência para julgamento Limites e efeitos da ação revisional Alteração ocorrida antes do trânsito em julgado Questões controvertidas sobre o cabimento da ação revisional Alteração ocorrida após a indenização paga de uma só vez Alteração ocorrida após a celebração de acordo Morte do acidentado Controvérsias sobre a competência Histórico das controvérsias sobre a competência Consolidação da competência da Justiça do Trabalho Processos em andamento na Justiça Comum Ação ajuizada por pessoa diversa do acidentado Ação do acidentado sem vínculo de emprego Ação rescisória de julgado da Justiça Comum Ação revisional do pensionamento Ação ajuizada pelo acidentado em face do INSS Acidente sofrido por trabalhador doméstico ou não empregado Considerações iniciais Acidente do trabalho e acidente no trabalho Acidente ocorrido no âmbito doméstico Competência para julgar a ação indenizatória Análise do cabimento de indenização Ajustamentos na apreciação da culpa
14 14 Sebastião Geraldo de Oliveira Fixação do valor da indenização Prescrição aplicável Liquidação da sentença nas ações indenizatórias Considerações iniciais Contribuição para a Previdência Social Correção monetária Juros de mora Retenção de imposto de renda na fonte Quadro sinóptico das incidências cabíveis Anexo I Agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no art. 20 da Lei n / Anexo II Lista A Agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e de outras doenças relacionadas com o trabalho Anexo III - Lista B Doenças e os respectivos agentes etiológicos Anexo IV Lista C Hipóteses em que se reconhece o Nexo Técnico Epidemiológico Relação entre CID e CNAE Anexo V Relação das situações que dão direito ao auxílio-acidente Anexo VI Tabela da SUSEP para cálculo da indenização em caso de invalidez permanente Anexo VII Tabela da Lei n /2009 para cálculo da indenização em caso de invalidez permanente das vítimas cobertas pelo Seguro DPVAT Anexo VIII Tabelas de expectativa de sobrevida no Brasil Ano Anexo IX Tabelas de expectativa de sobrevida no Brasil Ano Anexo X Tabelas de expectativa de sobrevida no Brasil Ano Anexo XI Tabelas de expectativa de sobrevida no Brasil Ano Anexo XII Íntegra do acórdão do Conflito de Competência n , julgado pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, no dia 29 de junho de Bibliografia Índice Alfabético e Remissivo
15 ABREVIATURAS E SIGLAS USADAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Ac. Acórdão AGREsp. Agravo no Recurso Especial AgRg no Ag. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento AI Agravo de Instrumento AIRR Agravo de Instrumento em Recurso de Revista ANAMATRA Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho APS Agência da Previdência Social Câm. Câmara CAT Comunicação de Acidente do Trabalho CC Conflito de Competência Cf. Confira CFM Conselho Federal de Medicina CID Classificação Internacional de Doenças CID Código Internacional de Doenças CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT Consolidação das Leis do Trabalho CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas Cód. Código CPC Código de Processo Civil CRPS Conselho de Recursos da Previdência Social Des. Desembargador DJ Diário da Justiça
16 16 Sebastião Geraldo de Oliveira DJe DPVAT EPI ERR FAP FGTS HC IBGE INPS INSS JRPS Diário da Justiça eletrônico Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres Equipamento de Proteção Individual Embargos em Recurso de Revista Fator Acidentário de Prevenção Fundo de Garantia do Tempo de Serviço Habeas corpus Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Nacional de Previdência Social Instituto Nacional do Seguro Social Junta de Recursos da Previdência Social LER/DORT Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho n. número NR NTEP OIT PAIR PPP RE Rel. REsp RO RR SAT SBDI-I SBDI-II STACivSP Norma Regulamentar Nexo Técnico Epidemiológico Organização Internacional do Trabalho Perda Auditiva Induzida por Ruído Perfil Profissiográfico Previdenciário Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal Relator Recurso Especial para o STJ Recurso Ordinário Recurso de Revista para o TST Seguro de Acidente do Trabalho Subseção I Especializada em Dissídios Individuais Subseção II Especializada em Dissídios Individuais Segundo Tribunal de Alçada Cível de São Paulo
17 Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional 17 STF Supremo Tribunal Federal SUS Sistema Único de Saúde SUSEP Superintendência de Seguros Privados T. Turma TAMG Tribunal de Alçada de Minas Gerais TJMS Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul TJRJ Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJRO Tribunal de Justiça de Rondônia TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho
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19 APRESENTAÇÃO À 8ª EDIÇÃO O rápido esgotamento da 7ª edição animou-nos a realizar, novamente, uma cuidadosa revisão de toda a obra, procedendo aos ajustes, acréscimos e atualizações necessários para que este livro continue sendo uma ferramenta útil, atual e confiável para todos os que atuam na área. Estamos conscientes de que a grande aceitação do livro implica, em contrapartida, muito compromisso e dedicação do autor. Com efeito, para tentar corresponder às legítimas expectativas do leitor, não medimos esforços para registrar a evolução ocorrida sobre o tema nos últimos anos e apontar as tendências atuais da jurisprudência, especialmente dos tribunais trabalhistas, sem deixar de expor nossa opinião devidamente fundamentada. Na atualização do livro, alguns tópicos foram reescritos, para mais bem retratar o pensamento atual sobre o tema, as inovações legislativas pertinentes ou mesmo a sedimentação da jurisprudência a respeito de determinadas controvérsias. Além disso, introduzimos um tópico novo no capítulo 6 a respeito da gradação das concausas. É inegável que a Justiça do Trabalho vive um momento histórico singular, rico em mudanças e com intensa renovação conceitual. Estamos ao mesmo tempo consolidando os avanços rumo ao Estado Democrático de Direito, de acordo com os princípios fundamentais da Constituição de 1988, assimilando os conceitos novos do Código Civil de 2002 e consolidando a jurisprudência a respeito das outras matérias decorrentes da ampliação de competência implementada pela Emenda Constitucional n. 45/2004, sem contar as frequentes mudanças legislativas. Parece que ingressamos numa era de reformas permanentes, na qual predomina a ideia de renovação continuada. Diante desse quadro de efervescência, é natural que haja muitas questões controvertidas, que geram substancioso debate doutrinário, antes que se firme o entendimento nos tribunais superiores. Para retratar essa realidade em movimento, indicamos as principais correntes e seus defensores, para que o leitor também possa vislumbrar os prováveis caminhos da doutrina e da jurisprudência. Na esperança de mais uma vez ter atingido o nosso propósito, submetemos esta 8ª edição ao julgamento do prezado leitor. Sebastião Geraldo de Oliveira
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21 PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO Desde que, nos primórdios do século XX, concebeu-se a necessidade, entre nós, de acobertar o trabalhador contra os riscos de lesões por acidente do trabalho, surgiu a ideia de que o seguro obrigatório, na espécie, teria duplo objetivo: garantir ao acidentado uma reparação de natureza objetiva, que o isentasse do ônus de provar a culpa do empregador, e, em contrapartida, dispensasse este da responsabilidade pelo risco decorrente da atividade empresarial, uma vez que, custeando o seguro previdenciário, ter-se-ia a transferência total da responsabilidade ressarcitória para a seguradora. Logo, no entanto, chegar-se-ia à conclusão de que a soma segurada quase nunca se mostrava suficiente para garantir todo o prejuízo suportado pelo acidentado e seus dependentes. Não seria justo, então, nos casos de culpa do empregador, que o obreiro suportasse sozinho o peso de seu infortúnio. Em nome principalmente da repressão ao dolo, passou-se a entender, na jurisprudência, que o patrão teria de responder civilmente pela complementação do ressarcimento, de modo que, além da verba do seguro obrigatório da infortunística, seria proporcionado ao lesado um suplemento por parte daquele que fora o direto causador da lesão. No início, a tese se lastreava na gravidade da conduta dolosa do empregador que conscientemente conduzia o empregado a sofrer o dano. Mais tarde, ao dolo se equipararia a culpa grave, por orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal. O passo seguinte consistiu em eliminar o caráter complementar da indenização a cargo do empregador, quando sujeito à responsabilidade civil concorrente com a reparação previdenciária, a pretexto de que cada uma das indenizações teria causa própria e independente. Se, pois, o patrão, por dolo ou culpa grave, fora o causador da lesão imposta a seu empregado, teria de indenizar por inteiro toda a extensão do mal injusto infligido à vítima. Pouco importava que esta tivesse sido beneficiada também pela reparação previdenciária. A Constituição de 1988 deu mais um grande passo na tutela dos acidentados no trabalho, dispondo que a reparação previdenciária não excluiria a responsabilidade civil comum na hipótese de culpa do patrão. Eliminando-se
22 22 Sebastião Geraldo de Oliveira a exigência de culpa grave, a concorrência das duas indenizações tornou-se completa. Qualquer que fosse o grau da culpa do empregador na causação do acidente do trabalho, estaria sujeito ao dever de proporcionar indenização comum completa. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça fixou-se no sentido de que duas modalidades de responsabilidade concorriam na espécie: uma objetiva, disciplinada pela legislação acidentária, e outra subjetiva, instituída pela regra constitucional e cujo montante haveria de ser apurado segundo as regras comuns de reparação do ato ilícito. Levando em conta os novos rumos que o Código Civil de 2002 traça para a responsabilidade civil, ao admiti-la em certas situações, como fundada apenas na teoria do risco, o estudo ora divulgado pelo juiz e professor Sebastião Geraldo de Oliveira avança e defende a possibilidade de estender a novidade normativa também à responsabilidade de direito comum do empregador, quando relacionada com dano oriundo do trabalho. Reconhece o autor a complexidade da controvérsia que envolve a polêmica suscitada pela tormentosa questão; e ressalva que, de qualquer forma, essas inovações somente estarão consolidadas e seus contornos melhor estabelecidos quando a jurisprudência firmar entendimento sobre o tema. Por enquanto, o estudo trabalha com perspectivas extraídas daquilo que o autor chama de um nítido deslocamento do pensamento jurídico em direção à responsabilidade objetiva, especialmente nas questões que envolvem maior alcance social. O autor se mostra, notoriamente, imbuído da consciência do papel criador que cabe a todo cientista, inclusive o dedicado à ciência do direito. Nesse mister, contestar, inovar e ousar são atitudes naturais e indispensáveis, pois, como adverte Carlos Ari Sundefeld, ao cientista cabe a angústia de criar (Direito administrativo ordenador. São Paulo: Malheiros, 1993). Tem-se no presente estudo o exemplo elogiável do jurista que não padece do hábito comum no meio doutrinário apontado por Edmond Picard, configurador de uma relativa preguiça mental e que o leva a evitar a quebra da segurança representada pela estabilidade de seus preconceitos e da paz estabelecida por suas efêmeras certezas. Como bom jurista, o autor não se contenta com a mansidão das ideias e conceitos assentes nem se conforma com a simples exegese das normas positivas da lei. Vai fundo na manifestação dos dados sociológicos, econômicos, morais e humanos em sentido muito amplo. Produz, nesse clima, obra de muita reflexão e estímulo à revisão de dogmas que entrevê como abalados pela nova ordem social implantada no atual Estado Democrático de Direito. Nessa visão criativa, o autor age como um pensador, que não se contenta em contemplar o que existe à sua volta e que se atreve a imaginar o
23 Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional 23 que ainda virá a existir, levando em conta a experiência já vivida e os rumos que ela permite divisar para o futuro. Não é, porém, um sonhador, nem um visionário. Tem consciência da gravidade da revolução por que passa a responsabilidade civil no processo lento e espinhoso do plano subjetivo para o objetivo, ou seja, da teoria da culpa para a teoria do risco. É certo que se faz mais justiça à vítima quando se lhe assegura a indenização em qualquer situação danosa, com ou sem culpa do agente ocasionador de seu prejuízo. É necessário, contudo, imaginar, também, a possibilidade de se fazer injustiça àquele de quem se exige uma indiscriminada e imprevisível responsabilidade indenizatória individual, quando o risco que se põe sobre suas costas decorre de uma verdadeira sujeição social. Numa sociedade de massas estruturada sobre a vida mecanizada, em todos os detalhes, o risco que cada um tem de enfrentar, para amoldar-se ao padrão que a sociedade determina, não pode ser visto como fruto da conveniência e alvedrio de cada indivíduo apenas. O grande problema é social e não individual. A sociedade moderna que o criou é quem, na verdade, tem de suportá-lo. É justo que o indivíduo aprisionado nas garras de um convívio perigoso, sem meios de evitá-lo, reclame responsabilidade para quem lhe impõe danos. Mas, sendo de dimensões sociais esse clima de risco inafastável, sua solução também tem de ser social. Como registra o autor, valendo-se da lição de Silvio Venosa, em sua obra, o fundamento da teoria da responsabilidade objetiva, que impõe o dever de indenizar apenas em função do nexo causal, sem cogitar da culpa do causador do dano, atende melhor à justiça social, mas não pode ser aplicado indiscriminadamente para que não se caia no outro extremo de injustiça. (1) Há de se ter em mente que nem sempre o agente dispõe de meios ou recursos para suportar toda a carga da responsabilidade objetiva generalizada, sem sacrificar sua própria subsistência e a de sua família. Daí porque a doutrina europeia e a nacional mais atualizada preconizam o encaminhamento da responsabilidade civil para as técnicas de socialização do dano para o fim de ser garantida pelo menos uma indenização básica para qualquer tipo de acidente pessoal. É o que anota Sérgio Cavalieri Filho a doutrina denomina de reparação coletiva, indenização autônoma ou social. (2) O dano, nessa nova perspectiva, deixa de ser apenas contra a vítima para ser contra a própria coletividade, passando a ser um problema de toda a sociedade. (3) (1) VENOSA, Silvio. Direito civil. Parte geral. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 570 (2) CAVALIERI FILHO, Sérgio Programa de responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p (3) MENEZES DIREITO, Carlos Alberto; CAVALIERI FILHO, Sérgio. Comentários ao novo Código Civil, Rio de Janeiro: Forense, v. XIII, p. 40.
24 24 Sebastião Geraldo de Oliveira Os princípios da solidariedade social e da justiça distributiva não podem ser enfrentados apenas com o achar alguém para indenizar o dano em qualquer situação em que ele ocorra, seguindo-se rigidamente a teoria da responsabilidade civil objetiva. Os novos contornos desta visão coletiva da responsabilidade apontam para uma linha de tendência que não se resume apenas à intensificação dos critérios objetivos de reparação, mas que recomendam, também, o desenvolvimento de novos mecanismos de seguro social. (4) O estudo do Dr. Sebastião Geraldo de Oliveira não descura desse preocupante aspecto da progressiva implantação da teoria do risco, em cujo nome se instituiu há um século a teoria do acidente do trabalho e se implantou o respectivo seguro obrigatório, à custa dos empregadores. Ao sugerir que se cumule ao seguro da infortunística a nova responsabilidade civil de Direito Comum na modalidade objetiva, o autor reconhece a possibilidade de se argumentar, com razão, que a indenização representará um custo elevado para o empregador, sendo que, em alguns casos, poderá até inviabilizar o prosseguimento de sua atividade. Sua tese, todavia, não se restringe tão apenas à implantação da responsabilidade patrimonial sem culpa. É provável a seu modo de ver que a técnica da socialização dos riscos, por intermédio do mecanismo inteligente do seguro da responsabilidade civil, venha a ser o ponto de equilíbrio para acomodar todos os interesses, sem ônus excessivos para ninguém. O que, enfim, se extrai do estudo é a preocupação do autor com a insuficiência do atual seguro de previdência social para cobrir todo o prejuízo ocasionado pelo acidente do trabalho, havendo, pois, necessidade de se buscarem novos remédios jurídicos para acobertar o acidentado e sua família, de maneira mais efetiva. Talvez não haja necessidade de se cogitar de duas responsabilidades civis objetivas na espécie, uma coberta pelo seguro acidentário e outra pelo seguro de responsabilidade civil. Tudo (quem sabe?) poderia ser enfrentado e solucionado por meio de uma reestruturação e ampliação do seguro de acidente do trabalho. Além do tema principal já referido, outras questões de alta relevância são inteligentemente tratadas pelo Dr. Sebastião Geraldo de Oliveira, merecendo destaque, por sua grande atualidade, as referentes à competência para as causas de responsabilidade civil comum derivadas de acidente do trabalho, ao tema da prescrição dessas mesmas ações e ao problema dos acidentes ocorridos com empregados de empresas terceirizadas. Merece, ainda, destaque o enfoque específico da obra sobre a teoria do acidente do trabalho em sentido estrito. Antes de ingressar no exame da (4) TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, p
25 Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional 25 responsabilidade civil de Direito Comum, o estudo dedica três capítulos, de real substância, ao histórico das leis acidentárias no Brasil, ao conceito de acidente do trabalho e à sua caracterização. Após abordar a possível concorrência entre a responsabilidade acidentária e a responsabilidade civil comum, outros capítulos importantes cuidam da caracterização das diversas modalidades de danos indenizáveis (dano material, moral e estético), do nexo causal e das respectivas excludentes (culpa da vítima, caso fortuito ou de força maior e fato de terceiro). A culpa do empregador merece, por sua vez, cuidadosa análise. Por fim, dois capítulos são dedicados às particularidades das indenizações nos casos de acidente com óbito e sem óbito. Pela riqueza e pertinência dos dados úteis aos procedimentos administrativos e judiciais referentes aos acidentes do trabalho, que a obra coligiu e analisou, seu valor se evidencia tanto no plano doutrinário como no plano prático da vida forense, onde, sem dúvida, haverá de ser muito bem acolhida. Humberto Theodoro Júnior Maio de 2005
INDENIZAÇÕES POR ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL
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