OS LÁBIOS NO CONTEXTO DA ESTÉTICA FACIAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA LIPS IN THE CONTEXT OF FACIAL AESTHETICS: A LITERATURE REVIEW

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1 OS LÁBIOS NO CONTEXTO DA ESTÉTICA FACIAL: UMA Ana Carla de Souza Nascimento* Paula Paes Ferreira Marcos Alan Vieira Bittencourt** André Wilson Machado*** Unitermos Lábio, Face, Estética, Ortodontia. Uniterms Lip, Face, Esthetics, Orthodontics. Resumo A relevância que a aparência facial possui, na sociedade contemporânea, é percebida pelo aumento na demanda por tratamentos estéticos nas clínicas de saúde. O planejamento do tratamento ortodôntico deve ser criterioso e buscar, além da oclusão ideal, uma face bonita e harmônica. Os lábios desempenham um papel fundamental para a estética facial e, além disso, funcionam como uma moldura do sorriso. O objetivo desse trabalho é demonstrar a importância que os lábios exercem no contexto facial e os padrões propostos pela literatura como ideais. Abstract The importance that the facial appearance has, in contemporary society, is perceived by the increase in demand for aesthetic treatments at health clinics. The orthodontic treatment planning should exercise caution and look for, as well as an ideal occlusion, a beautiful and harmonious face. The lips play a key role in facial aesthetics and also have the function to be a frame smile. The aim of this work is to demonstrate the importance the lips exercise in the context of facial aesthetics and the ideal standards proposed by literature. * Especialista em Ortodontia pela UFBA ** Doutor e Mestre em Ortodontia pela UFRJ, Professor Adjunto de Ortodontia da UFBA, Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da UFBA e Diretor do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial *** Doutor em Ortodontia pela UNESP/Araraquara, Mestre em Ortodontia pela PUC/Minas e Professor Adjunto de Ortodontia da UFBA 53

2 OS LÁBIOS NO CONTEXTO DA ESTÉTICA FACIAL: UMA INTRODUÇÃO Os fundamentos de um sorriso envolve o relacionamento entre três componentes principais, os dentes, os lábios e a arquitetura gengival 1. Desta forma, os lábios desempenham papel fundamental na estética facial 2,3. Suguino et al. 4 (1996) afirmaram que o entusiasmo em se alcançar o correto relacionamento dentário pode comprometer o equilíbrio facial, constatando que isto pode acontecer, em parte, pela falta de atenção com a estética ou, simplesmente, pela falta de compreensão do que se pretende como objetivo estético. Como os profissionais de saúde têm aumentado, significativamente, a capacidade em mudar a face, tornou-se necessário desenvolver padrões estéticos para guiar os diversos procedimentos disponíveis 5-9. É importante que o tratamento ortodôntico seja conduzido com o intuito de proporcionar não apenas a oclusão normal, mas também estética satisfatória, tanto dentária quanto facial. Por este motivo, quando um plano de tratamento ortodôntico é desenvolvido, a avaliação do vermelhão do lábio é indispensável na decisão entre realizar um tratamento compensatório ou ortodôntico cirúrgico, visando a obter um pós- -tratamento com melhor aparência facial. Case (1922) apud Morihisa 7 (2006) foi um dos primeiros a se preocupar com o impacto do tratamento ortodôntico na estética facial. Realizou um estudo utilizando modelos de gesso da face de pacientes para analisar a relação entre a maloclusão e as alterações existentes na harmonia facial, e as possíveis mudanças após a terapia ortodôntica. Avaliou as diversas estruturas que compõem o perfil facial, como mento, proeminência do osso zigomático, testa e nariz, além da relação existente entre alguns deles, como mento com lábio inferior e lábio superior com o inferior, em repouso, e durante o sorriso e a fala. Del Santo et al. 10 (2009) afirmam que o perfil labial de um indivíduo é resultado de duas principais características do mesmo: os tecidos duros, arcabouço ósseo e dentes, que sustentam o lábio; e suas próprias características intrínsecas, como espessura, tonicidade, quantidade e distribuição do tecido adiposo, idade, gênero e hábitos. Scott et al. 9 (2006) observaram que, nos diversos estudos que avaliam a linha do sorriso, o grau de exposição gengival e o corredor bucal, pouca ou nenhuma referência é feita aos lábios. Portanto, desenvolveram um estudo para determinar a influência da variação no tamanho dos lábios superior e inferior sobre a percepção da atratividade de diferentes características oclusais. Após a avaliação de imagens com diferentes espessuras de lábios por ortodontistas, dentistas clínicos, leigos e cirurgiões plásticos, concluíram que lábios mais espessos, com maior exposição do vermelhão, são considerados mais estéticos quando associados a uma oclusão normal. Além disso, em qualquer situação oclusal, os lábios finos foram pior avaliados. Peck e Peck 11 (1970) consideraram que as faces caucasianas mais atraentes possuíam lábios mais cheios que o normal. Nguyen e Turley 12 (1998), ao estudar as mudanças no perfil facial de modelos, também observaram a preferência por lábios mais projetados e com maior exposição do vermelhão, atentando ainda para o aumento na demanda de queiloplastias na década de 90. Bisson e Grobbelaar 5 (2004) compararam fotografias de modelos e não-modelos caucasianas e confirmaram a preferência por lábios mais cheios. Berneburg et al. 13 (2010) estudaram as mudanças no padrão estético, por meio de fotografias, entre os anos de 1940 e 2008, e observaram a preferência mais atual por lábios mais volumosos e protruídos. Na literatura, existe relativa controvérsia em relação à proporção labial normal. Farkas et al. 14 (1984) afirmaram que o vermelhão do lábio superior deve possuir 90,4%, em mulheres, e 85,7%, em homens, da espessura do inferior. Em relação à altura, alguns autores consideram que a proporção ideal entre o vermelhão dos lábios superior e inferior é em torno de 40% e 60%, respectivamente 15,16. Outros, contudo, defendem que o ideal, em jovens com o perfil reto, é uma proporção de 1:2 8. Colombo et al. 17 (2004) verificaram que a extensão do vermelhão dos lábios superior e inferior, durante o sorriso, é de 5,35mm e 9,15mm, respectivamente. Comparando-se com sua extensão em repouso, houve redução de 0,8mm do vermelhão do lábio superior e de 1,58mm do inferior. Jacobs 18 (1978) estudou as alterações decorrentes do tratamento ortodôntico, com exodontia dos quatro primeiros pré-molares, de onze meninos e nove meninas que apresentavam maloclusão de Classe II, divisão 1 de Angle, e concluiu que a altura do vermelhão dos lábios superior e inferior diminuiu, em média, 1,6mm e 1,3mm, respectivamente, durante o tratamento. Em 1993, Perkins e Staley 19 realizaram estudo 54

3 OS LÁBIOS NO CONTEXTO DA ESTÉTICA FACIAL: UMA semelhante com registros cefalométricos pré e pós-tratamento ortodôntico de 40 mulheres leucodermas (20 Classe I e 20 Classe II de Angle). Demonstraram que, durante o tratamento ortodôntico envolvendo retração de incisivos, diminuição estatisticamente significante foi observada na dimensão vertical do vermelhão dos lábios, sendo suas alturas médias reduzidas 0,76mm, no lábio superior, e 0,78mm, no inferior. Portanto, os autores afirmaram que a redução na altura do vermelhão dos lábios pode se revelar esteticamente agradável para o paciente com excessiva exposição, embora seja desastrosa para aqueles que exibem pequenas alturas antes da terapia ortodôntica. É importante ressaltar que a resposta dos lábios à retração dos incisivos varia, consideravelmente, de acordo com o sexo, a modalidade de tratamento e a etnia 20,21. Santo et al. 22 (2004) concluíram que ocorrem alterações horizontais significativas no lábio superior quando a base maxilar é movimentada no sentido ântero-posterior, na proporção aproximada de 0,6:1. Entretanto, alterações verticais ocorrem somente quando, além desta mudança da base óssea maxilar no sentido ântero-posterior, ocorre rotação do plano oclusal. Além disso, a movimentação ântero-inferior da maxila promove modificações significativas no lábio inferior, proporcionando melhor selamento labial. Segundo Ackerman e Proffit 23 (1997), o lábio inferior evertido não é atraente e ocorre, geralmente, em pacientes com trespasse horizontal excessivo, ficando o lábio inferior atrás dos incisivos superiores. Nesta situação, ainda segundo os autores, os incisivos superiores podem ser retraídos, se o ângulo nasolabial for agudo e o lábio superior estiver protruído. Porém, se o ângulo nasolabial for obtuso, está indicado o avanço da mandíbula. Tanikawa et al. 2 (2009), após realizarem um estudo com fotografias de perfil de 234 mulheres japonesas, sugeriram que os indivíduos com sobressaliência acentuada e padrão esquelético de Classe II tendem a mostram mais o vermelhão do lábio superior que o do inferior, enquanto os indivíduos que têm sobressaliência diminuída e/ou padrão esquelético de classe III, provavelmente, mostram mais o vermelhão do lábio inferior quando comparado com o superior. Sarnoff et al. 24 (2008) afirmam que, em praticamente todas as culturas, lábios cheios são associados à juventude, beleza e volúpia. Estudos demonstram que o envelhecimento causa atrofia, perda da arquitetura e alongamento do lábio. No lábio superior, este alongamento tende a diminuir a quantidade de exposição do vermelhão, produzindo aparência de lábios finos 3,15. O estudo de De Menezes et al. 25, em 2011, realizado com reproduções virtuais em terceira dimensão (3D) de 40 indivíduos, de ambos os sexos e diferentes idades, concluiu que os homens possuem lábios mais espessos que as mulheres, que lábios inferiores são mais espessos que os superiores e que ambos os lábios se tornam mais finos com o envelhecimento. Por isso, diversos métodos vêm sendo empregados, por dermatologistas e cirurgiões plásticos, com o intuito de rejuvenescer a face, por meio do aumento dos lábios, a exemplo da injeção de colágeno, ácido hialurônico, polimetilmetacrilato ou silicone líquido, além de algumas técnicas cirúrgicas 24, Em 2008, nos Estados Unidos, cerca de 1,6 milhões de procedimentos utilizando enchimentos de tecidos moles foram realizados, um aumento de 144% quando comparado ao ano Desses, mais de dois terços utilizaram ácido hialurônico, sendo, portanto, o terceiro procedimento estético mais realizado em Yehezkel e Turley 31 (2004) consideraram que houve aumento significativo na importância dada à estética facial no diagnóstico e plano de tratamento ortodônticos. Apesar disto, os critérios de avaliação facial ainda são arbitrários e embasados em parâmetros artísticos ou resultantes da avaliação de faces escolhidas por ortodontistas ou outros profissionais. Contudo, diversos estudos demonstraram que os leigos podem apresentar um conceito de beleza facial que difere dos ortodontistas 6,9, Por isso, faz-se necessário a realização de estudos que avaliem a proporção ideal entre o vermelhão dos lábios, no contexto da estética facial, avaliada tanto por ortodontistas quanto por pessoas leigas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como os lábios exercem forte influência na estética facial, os profissionais de saúde, a exemplo dos ortodontistas, devem ser criteriosos ao executar procedimentos que possam modificar os mesmos. A literatura mostra que lábios volumosos estão fortemente associados à beleza da face. Entretanto, é importante que novos estudos sejam realizados e submetidos à avaliação de leigos, além dos profissionais, para determinar a proporção ideal entre o vermelhão dos lábios superior e inferior, a fim de guiar os diversos procedimentos disponíveis. 55

4 OS LÁBIOS NO CONTEXTO DA ESTÉTICA FACIAL: UMA REFERÊNCIAS 1. Garber DA, Salama MA. The aesthetic smile: diagnosis and treatment. Periodontol Jun; 11: Tanikawa C, Nakamura K, Yagi M, Takada K. Lip vermilion profile patterns and corresponding dentoskeletal forms in female adults. Angle Orthod 2009 Sep; 79(5): Sforza C, Grandi G, Binelli M, Dolci C, De Menezes M, Ferrario VF. Age- and sex-related changes in three-dimensional lip morphology. Forensic Science International 2010 Jul; 200(1-3):182.e Suguino R, Ramos AL, Terada HH, Furquim LZ, Maeda L, Silva Filho OG. Análise facial. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 1996 set./out.; 1(1): Bisson M, Grobbelaar A. The esthetic properties of lips: a comparison of models and nonmodels. Angle Orthod 2004 Apr; 74(2): Kokich VO, Kokich VG, Kiyak HA. Perceptions of dental professionals and laypersons to altered dental esthetics: assimetric and symmetric situations. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2006 Aug; 130(2): Morihisa O. Avaliação Comparativa entre Agradabilidade Facial, Proporção Áurea e Padrão Facial. São Bernardo do Campo; [Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo]. 8. Okuyama CC, Martins DR. Preferência do perfil facial tegumentar, em jovens leucodermas, melanodermas e xantodermas de ambos os sexos, avaliados por ortodontistas, leigos e artistas plásticos. Ortodontia 1997 jan/abr; 30(1): Scott CR, Goonewardene MS, Murray K. Influence of lips on the perception of malocclusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2006 Aug; 130(2): Del Santo L, Bachega MA, Del Santo JR. M. Inter-relação entre o perfil dos lábios superiores e a posição da maxila e dos incisivos superiores em pacientes adultos. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 2009 nov/dez; 14(6): Peck H, Peck S. A concept of facial esthetics. Angle Orthod 1970 Oct; 40(4): Nguyen DD, Turley PK. Changes in the Caucasian male facial profile as depicted in fashion magazines during the twentieth century. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1998 Aug; 114(2): Berneburg M, Dietz K, Niederle C, Göz G. Changes in esthetic standards since Am J Orthod Dentofacial Orthop 2010 Apr; 137(4):450.e Farkas LG, Katic MJ, Hreczko TA, Deutsch C, Munro IR. Anthropometric proportions in the upper lip-lower lip-chin area of the lower face in young white adults. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1984 Jul; 86(1): Perenack J. Treatment options to optimize display of anterior dental esthetics in the patient with the aged lip. J Oral Maxillofac Surg 2005 Nov; 63(11): Mandy S. Art of the lip. Dermatol Surg 2007 Apr; 33(4): Colombo VL, Moro A, Rech R, Verona J, Costa GC. A. Análise facial frontal em repouso e durante o sorriso em fotografias padronizadas. Parte II: Avaliação durante o sorriso. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 2004 jul/ago; 9(4): Jacobs JD. Vertical lip changes from maxillary incisor retraction. Am J Orthod 1978 Oct; 74(4): Perkins RA, Staley RN. Change in lip vermilion height during orthodontic treatment. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1993 Feb; 103(2): Brock RA, Taylor RW, Buschang PH, Behrents RG. Ethnic differences in upper lip response to incisor retraction. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2005 Jun; 127(6): Yasutomi H, Ioi H, Nakata S, Nakasima A, Counts AL. Effects of retraction of anterior teeth on horizontal and vertical lip positions in Japanese adults with the bimaxillary dentoalveolar protrusion. Orthod waves 2006 Dec; 65(4): Santo LMD, Souza RP, Santo Jr MD, Marcantonio E. Alterações no perfil dos lábios de pacientes submetidos a cirurgias ortognáticas maxilares do tipo Le Fort I. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 2004 maio/jun.; 9(3): Ackerman JL, Proffit WR. Soft tissue limitations in orthodontics: treatment planning guidelines. Angle Orthod 1997 Oct; 67(5):

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